"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

domingo, 29 de setembro de 2013

TRILOGIA DO TEMPO




(...)


            Ontem você ligou de madrugada, dirigiu distancias que eu dizia ser distantes e me levou para a sua cama. Ontem você cozinhou para a gente, conversamos sobre aquele filme que você não gostou e falamos daquele filme que eu não vi, a gente se completava, eu argumentava sobre os pontos positivos do filme ruim e você me contava como era bom o filme que eu não sabia como era.
            Ontem as ruas não sentiram nossos passos, ficamos no seu apartamento, eu gosto do seu chuveiro e você gosta de sentar no sofá e não fazer nada. Eu gosto de fazer tudo com você e sento ao seu lado no sofá.
            Ontem as nuvens estavam tristes, as paredes do seu apartamento impediam-me de compreendê-las, o sol morava no seu travesseiro e embaixo do seu edredom era quente, como uma praia, você a minha melhor onda.
            Ontem à tarde eu fui embora, você não me levou para casa, me abraçou e eu fiquei quieta, queria ouvir sua voz, só ouvi o barulho da obra ao lado, ninguém nunca soube o que pensamos naquele momento, mas eu queria ter dito: a gente se vê, amanhã. 
            No caminho senti os primeiros pingos da chuva e me comovi com as nuvens.
 
 
(...)
 
 
            Hoje eu pensei no meu ex-namorado que nunca tive, hoje eu pensei naquele cara que eu queria que fosse meu ex-namorado, pensando melhor eu não queria que ele fosse meu ex, mas se fosse significaria que tínhamos namorado e tomado aquele sorvete de flocos e assistido aquele desenho bobo, mas que era engraçado. A gente fez tudo isso e mais um pouco de coisas inapropriadas para o horário (não sei o horário da sua leitura, então, melhor garantir), só nunca fomos namorados.
            Hoje eu pensei que poderia te ligar, mas eu sempre fico tensa em ligações de voz, já a mensagem de texto é sempre o meu excesso. Eu já te enviei tantas que não soube o que escrever hoje, tantos pretextos usados, hoje entrei em crise de criatividade e pensei: Oh, meu Deus, será que o amor está acabando?
            Hoje me falaram que todos os homens estão prontos para sexo, sexo e sexo. Eu pensei, é isso, vou chama-lo para uma diversão casual, mas você é sempre tão diferente, disse que estava tomando um chá e logo iria dormir, isso me faz gostar mais de você, eu gosto mais de você até quando me deixa assistindo aquele programa feminino da manhã que eu não gosto.
            Hoje você disse para eu não ficar deprimida, eu disse que não estava, mas você estava certo, eu sempre fico triste quando sem nenhuma razão às vezes você decide acabar, mas é só às vezes e amanhã continuará sendo tudo sobre você.
 
 
(...)
 
            Amanhã a página estará em branco, o rosto pálido, o celular mudo. O coração sem ritmo. Amanhã terei lembranças, sonâmbula de dia, insônia à noite, fome de amor, paixão revirando o estômago. Minha cama não terá o mesmo sono, os sonhos não reconhecerão meu travesseiro.
            Amanhã você não vai me deixar dormir na sua casa, não vai me deixar fechar a cortina, não vou usar seu creme dental nem deixar pingando a sua velha torneira. Amanhã não te acordo cedo, a sua camiseta não vai se perder em qualquer canto do quarto, você não vai dizer boa noite ao desligar o abajur.
            Amanhã não vai ter ousadia, ninguém vai sentir um abraço, ninguém vai sorrir, alguém vai chorar. 
            Amanhã será difícil aceitar que passou. Hoje eu tenho medo do amanhã.
 
(...)           

Nenhum comentário:

Postar um comentário