"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

RETRÔ


Vivemos em uma época que muitas lutas foram vencidas, muitas culturas aceitas, muitos paradigmas quebrados, muitas expressões artísticas compreendidas, muitas coisas criadas e recriadas. Não há mais como fugir das influências, não há como ser totalmente adepto da tradição ou tradução. Podemos perceber ao analisarmos as atitudes da atualidade, uma junção do moderno (tradução) com o antigo (tradição).
Em uma sociedade onde nenhuma tecnologia nos surpreende buscamos conhecer e compreender os costumes passados. Descobrindo culturas antigas entendemos melhor o processo histórico por qual o mundo passou e voltamos a determinado tempo por meio das roupas, dos ídolos que fizeram sucesso, escritores que sofreram com censura e repressão, movimentos que surgiram em determinados contextos. É claro que não podemos reviver essas experiências, até porque não seria coerente querer voltar a um passado que lutou para que os dias atuais fossem melhores. Realmente, se tornou melhor, pois vivemos dias menos conturbados, não precisamos nos preocupar com a Segunda Guerra Mundial e muito menos com a Ditadura Militar.
Porém, a nostalgia persegue jovens que encontram glamour em épocas passadas. Entre muitas coisas que podemos sugar do passado vamos destacar algumas. Sabemos que a sociedade se baseia em signos que são internalizados por meio da cultura que o individuo está inserido e que são representados pela moda, artes plásticas, música, meios de comunicação, etc. Para explicar um pouco do que foi dito peguemos como exemplo o revivalismo na moda, que nos proporciona perceber como o retrô se instala nos estilos, muitas vezes como homenagem a algum fenômeno vivido em determinado tempo, por ser saudoso ou como forma de protesto. A moda surge de heranças culturais e é por isso que ela está sempre confrontando novo X antigo.
As heranças culturais reativam em nós emoções que intensificam a imaginação e interpretação do sujeito por meio de expressões artísticas. No inicio do século XIX o romantismo na França valorizava o passado, resumindo os séculos XIV, XV e XVI. Lutando contra o Classicismo que seguiam pensamentos e formas estéticas deixadas pelos gregos, os românticos passaram a tornar-se figuras da Idade Média com as moças vestidas com mangas bufantes e os homens de gibão, parecendo terem saído de livros de história. Podemos classificar esse movimento, então, de um grande Revival ou uma fuga para um mundo imaginário, já que os adeptos chegavam a parecer personagens encantados.
Porém, não basta apenas adotar um vestuário, deve-se também expressar-se através de atitudes. Pois, esses movimentos trabalham com uma concepção de mundo e a moda é apenas um elemento de representação. Alguns jovens no período romântico iam além de viver a nostalgia no imaginário e passavam a recitar poemas e se entregar a bebida em um grito melancólico contra a burguesia.
Talvez os românticos não tivessem destaque na época e hoje em dia seja debatido por fazer parte do passado. Pois, só agora podemos ver o impacto que o Romantismo causou, pois além de ter afetado todas as percepções representadas em movimentos sociais do século XIX, ainda influenciou os dadaístas e surrealistas, os existencialistas pós-guerra da Coréia, os darks e góticos da moda inglesa, sendo o maior exemplo revivalista.
Na atualidade as tribos urbanas resgatam o passado contextualizando as atitudes dentro das necessidades contemporâneas. Sua atitude está resgatando qual movimento passado?


sábado, 18 de setembro de 2010

PERCEPÇÃO E REPRESENTAÇÃO ESTÉTICA




Mulher no século XIX -
a moda européia imposta
no Brasil
A imagem estética feminina sempre criou um mundo cruel para a mulher, onde ela se submete a sacrifícios para agradar uma sociedade masculina.
No início do século XX o corpo feminino passou por um período de desrespeito, pois as mulheres usavam espartilhos para acentuar a cintura e estufar os seios, deformando a forma natural do corpo. Com o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918, a moda européia custava muito cara e foi necessário adaptar- se a economia que não passava por bons momentos. Assim, as roupas tornaram-se mais leves e o espartilho abolido do guarda-roupa. Essa revolução na vida da mulher teve como colaboradora a estilista Coco Chanel, uma mulher que desafiava os paradigmas da época.

Mulher no início do século XX -
busca de uma nova identidade
Infelizmente esses acontecimentos não libertaram as mulheres da escravidão estética, apenas os estereótipos foram substituídos. Na década de 20 iniciou-se uma batalha pela magreza, que se intensificou nos anos 60, acentuando-se na década de 70. As feministas acreditavam que sendo magras estavam indo contra ao padrão estabelecido de mulher objeto, com ancas largas e seios fartos para procriar e amamentar os filhos, porém estavam sendo as precursoras de um novo padrão estético escravizando-se em intermináveis dietas.
Na década de 80 a mídia se apropriou dessa nova tendência bombardeando as mulheres com imagens femininas com corpos perfeitos. Com isso o comércio se esbaldou com um verdadeiro surto de academias e cirurgias plásticas que crescem a cada dia.
Mulher na metade do século XX -
busca pela sensualidade
As mulheres passaram a atribuir como responsabilidade de seus problemas a sua aparência. Isso desencadeou um alto índice de baixa estima, que faz com que a mulher busque soluções doentias, como compulsão por compras e transtornos alimentares. Junto a essas doenças surge a depressão que faz a mulher novamente se refugiar no comercio, desta vez na indústria farmacêutica que já lucrava com remédios para diminuição de apetite, etc., e agora lucra também com remédios antidepressivos.
O ser humano busca ser feliz e o comércio nos faz pensarmos que podemos comprar até mesmo a felicidade por meio de produtos de beleza e remédios que mascaram nossas frustrações. Na realidade esses problemas não estão ligados a nossa aparência, mas sim com nossa essência sufocada entre tanta futilidade colocada em nossas mãos.


Mulher no início do século XXI -
busca pela representação retrô


terça-feira, 7 de setembro de 2010

RENASCIMENTO: HUMANISMO E RENOVAÇÃO


Entre os séculos XV e XVI surgiu na Europa Ocidental um movimento artístico e cientifico, chamado Renascimento, que provocou a ruptura da religiosidade medieval, passando a exaltar a valorização do homem, assim formando movimentos que pregavam a valorização da cultura. Assim, com o intuito de reformar os currículos universitários que se preocupavam apenas com disciplinas teológicas surge o Humanismo acrescentando estudos matemáticos, históricos, lingüísticos e filosóficos. A maior preocupação dos humanistas era retirar do confinamento os livros de mosteiros e clausuras para que pudessem estar ao alcance da população.
O Humanismo sofreu uma evolução que ampliou a concepção inicial, passando a criticar as condições sociais em que o povo era submetido a viver no período feudal, a partir de uma ideologia individualista do homem para impulsionar o progresso.
Como sabemos a arte é uma das formas de representar o mundo e, por isso, o Humanismo buscou curar a cegueira social imposta pela sociedade judaico-cristã, resgatando obras e autores da antiguidade clássica, como da cultura grego-latina, que haviam sido censuradas pela igreja Católica. Assim, a Europa renascentista atravessou um período sofrido com a Peste Bubônica, mas também um período de renovação nas artes, letras e ciências, destacando-se Leonardo da Vinci, Michelangelo, Rafael, Dante, Maquiavel, Shakespeare, Galileu, entre outros.
O Renascimento e o Humanismo tinham como filosófica principal a idéia de que todas as coisas teriam sido criadas por Deus para propiciar a vida humana. Se as novas idéias trouxeram benefícios ao povo, como maior liberdade de expressão, o homem visto como o centro do universo também trouxe o consumismo exagerado e a falta de respeito com o meio ambiente, causando um caos ambiental que reflete na atualidade.

O SONHO NÃO ACABOU


A década de 60 foi marcada pelo rock e suas bandas imortalizadas através das músicas e estilos que fizeram história. Ao nos lembrarmos do rock dessa época podemos destacar duas bandas muito importantes para representar uma geração que até hoje influência muitas bandas: The Beach Boys e The Beatles. Ambas são apenas exemplos de uma verdadeira explosão de bandas que vestidos de ternos faziam rock que levavam as garotas ao delirio e os caras a sonharem com uma banda.
É justamente nesse contexto (anos 60) que Tom Hanks, em 1996, produziu o filme “The Wonders”. A obra cinematográfica ilustra uma banda (fictícia) que surgiu paralelamente a loucura que The Beatles vinha causando, porém, eles não alcançam o mesmo sucesso, tendo apenas um single emplacado.
O que podemos perceber é uma banda independente com garotos que tocavam para se divertir. Mas de repente eles se vêem fazendo sucesso e obrigados a fazer da música um negócio, a arte sendo comercializada.
Outro ponto importante no mundo da música dos anos 60 eram as groupies, representadas por mulheres que perseguiam músicos e se relacionavam com eles, tornando-se assim famosas também. É muito interessante como o filme retrata a figura da groupie. Liv Tyler (filha de uma groupie com um roqueiro) dá vida à personagem Faye de uma maneira não vulgarizada como se costuma fazer.
Faye não corre atrás de nenhum músico, mas sim namora o vocalista da “The Wonders”, desde quando o sucesso ainda não existia para o grupo. Ela se interessa pela banda, pela música e está sempre presente para apoiar e ajudar. Faye não acompanha a banda por motivos alheios ao amor que sente pelo namorado e a música. Porém, o namorado larga ela e a banda, e quem acaba conquistando o coração da garota é o baterista que sempre se mostrou o mais maduro e talvez mais profissional de todos.
Toda essa narração serve para mostrar que assim com a “The Wonders” muitas bandas nasceram e acabaram na década de 60. Nem toda banda underground está preparada para comercializar sua matéria prima, assim como nem todo poeta publica seus poemas. Nem todas as groupies queriam apenas dizer que transavam com lideres de bandas. Fatos esses que ocorrem até os dias atuais, pois, temos bandas undergrounds que não suportariam mudar sua arte por dinheiro e fama. Temos garotas que correm atrás de músicos para serem populares e outras que realmente são apaixonadas por música e músicos sem interesse diverso ao amor que sentem.
“The Wonders – O sonho não acabou” é tão magnífico que chega a ser impossível acreditar que se trata apenas de uma banda montada para passar nas telas de cinemas. Realmente a “The Wonders” existiu e existe até hoje na figura de garotos movidos pela música e por isso “o sonho não acabou e nunca irá acabar”.



sexta-feira, 3 de setembro de 2010

AMÉLIE

“O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, o título não é proposital, pois tal obra cinematográfica não poderia receber outro adjetivo senão “fabuloso”. Estamos falando de um filme que te encanta do inicio ao fim e que quando termina o telespectador tenta buscar o que dizer no mundo introspectivo que Amelie Poulain leva-o a visitar.
A querida Amélie tem uma infância como muitas crianças que têm pais super protetores são levadas a viver. Ela não tem contato com outras crianças, além do pai acreditar que ela tem problemas cardíacos (um equivoco) a família é anti-social.
O filme tem o cuidado em mostrar as manias dos personagens, que não são excentricidades, mas coisas simples que ajudam as pessoas a suportarem os problemas maiores.
Como uma fuga de suas fraquezas Amélie passa a resolver a vida alheia, porém ela não consegue escapar por muito tempo de seus sentimentos. Como seu maior problema sempre foi se relacionar com as pessoas desde a infância, quando ela cresce seu ponto fraco continua sendo esse. Ela conquista sua independência, como uma mulher moderna, tem um emprego e mora sozinha, porém em certo momento ela se dá conta de que está mais sozinha do que gostaria.
Como ela não tem coragem de encarar as situações de frente passa a elaborar planos formando um jogo, para que assim ela possa alimentar esperanças amorosas sem ter que partir para o tudo ou nada.
Mesmo no momento em que ela tem um momento epifânico não sabemos se duraria muito tempo a ponto dela correr até encontrar seu amor, pois ele já está em sua porta esperando-a. Nesse momento, percebemos um tom romântico na obra, já que na vida real nem sempre seu amor estará esperando apenas você abrir a porta.
O filme europeu de grande sucesso tem todos os ingredientes para uma reflexão minuciosa de nossas atitudes, falhas e oportunidades que agarramos ou perdemos. Alguns diálogos merecem ser gravados na memória, além do cenário é claro, que é fabuloso.

"- Ela parece distante... talvez seja porque está pensando em alguém.
- Em alguém do quadro?
- Não, um garoto com quem cruzou em algum lugar, e sentiu que eram parecidos.
- Em outros termos, prefere imaginar uma relação com alguém ausente que criar laços com os que estão presentes.
- Ao contrário, talvez tente arrumar a bagunça da vida dos outros.
- E ela? E a bagunça na vida dela? Quem vai pôr ordem?"

O CONTO DE FADAS FEMININO

A representação da figura feminina produzida pela América nos anos 50 vem se arrastando até os dias atuais. Aquela campanha de mulher ideal que deveria manter-se sempre bem arrumada e conservar os afazeres domésticos em ordem (na época até mesmo as pin ups vestiram a camisa de dona de casa para estimularem as mulheres a voltarem das fabricas para a vida do lar) é o que vemos na atualidade. O sexo feminino não abriu mão do que havia conquistado, o lugar no mercado de trabalho. Porém se viu obrigada a conciliar a estética, a responsabilidade pela manutenção do lar e a carreira.
Devemos nos orgulhar das conquistas alcançadas, pois ao contrário seriamos infelizes, mas ainda não nos livramos de algumas algemas do passado. Para que possamos entender melhor como nossas conquistas e representações passadas caminham juntas vejamos os contos de fadas: ainda nos colocam e às vezes até nós nos vemos como uma “Cinderela”, muitas vezes passivas, românticas e desprotegidas a espera do que idealizamos, o príncipe perfeito.
A representação do amor para a mulher é diferente do que é para o homem, enquanto partimos do amor para o sexo os homens partem do sexo para o amor e assim passamos a colocar o amor em primeiro lugar em todos os contextos nos tornando vulneráveis, já o homem torna-se racional.
É inegável que a mulher é assombrada pela inferioridade que foi imposta a suportar durante os séculos. Mesmo que tenhamos conquistado espaço na sociedade acabamos por muitas vezes nos colocando como inferiores. Muitas mulheres ainda acreditam que devem ter um modelo de família perfeito aos olhos dos outros, pois se acontecer o contrário a vergonha será dela que foi incapaz de manter um lar paradigmático.
E porque o homem não detém pensamentos inferiores de si mesmo? Simples, porque ele nunca foi inferiorizado na história. O homem sempre foi visto como símbolo de poder, sem sofrer críticas e repressões, ao contrário da mulher que sempre foi excluída da sociedade, vista como mera reprodutora e mantida como uma espécie de governanta da própria casa.
Cabe as mulheres tomarem consciência de que não precisam ser o novo modelo da mulher elástica representada através da Sra. Incrível da Disney, tendo que dentro do manequim 38 tomar conta da casa, dos filhos, do marido e da vida profissional.
Como nem todas as mulheres têm super poderes algumas abrem mão da emancipação para se dedicar ao que acreditam ser dever delas: o lar. Não é nossa obrigação sermos cinderelas, nem mulheres incríveis. Seja você e não um paradigma.