"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

sábado, 28 de dezembro de 2013

Eu termino, VOCÊ TERMINA, nós terminamos



            Quando terminamos, prefiro dizer no plural, como se tivéssemos decidido juntos, mas a verdade é que ele terminou comigo e eu tive que aceitar terminar com ele, mesmo tendo sido um pouco difícil, na verdade não foi um pouco difícil, foi muito, foi bem, foi extremamente difícil e todos os advérbios que você queira incluir para enfatizar todas as dores que senti, não aquela coisa metafórica das canções que ouvimos quando estamos sentados no ônibus a caminho do trabalho, a dor foi física mesmo, adquiri algumas doenças depois que parei de comer, de sair, de conversar, de sorrir, de andar pelo parque de mãos dadas, de comprar presentes fora de datas especiais, de ver passarinho verde e achar que a vida era boa, mas ela nunca é boa, só que as vezes a gente se ilude.

            Como você deve prever ele tinha outra. Todo mundo sempre tem outro, me sentia deslocada por não ter ninguém no banco de reserva, mas me sentia com um resto de dignidade por não manter ninguém esperando, enquanto eu marcava alguns gols por aí. Tivemos algumas recaídas enquanto ele já estava com a outra e eu ficava mal, mas continuava recaindo só para ele trair aquela vaca loira, sim, ela era loira, era como se ele se esforçasse para deixar nossa história o mais clichê possível, só porque eu dizia que odiava os clichês e ele adorava me contrariar.

            No inicio, que durou um ano e sete meses eu rondava a sua casa e quando ele não estava lá eu rondava o seu trabalho, ele não costumava ir a outros lugares o que facilitava a minha ronda. Odiava quando ele estava em casa, quase sempre ela também estava, parecia a noiva do Chucky e o meu medo era que eles se casassem, mas aí eu pensava no tédio do casamento e que ele iria pedir a separação e olhar para o banco de reserva, eu estava lá segurando uma bandeirinha para chamar a atenção.

            Também pensei em mata-la, pensei naquele crime perfeito dos Engenheiros do Hawaii em que não existem suspeitos. Só não matei porque eles estavam sempre juntos e não queria que ele me visse matando alguém, com certeza eu não iria estar bonita enfiando uma faca no peito da vadia, como eu queria ver o peito dela sangrar mais do que o meu.

            Teve um dia que tentei me matar, eu queria morrer todos os dias desde que terminamos, ele terminou comigo, mas eu queria ter decidido isso com ele, iria doer menos, enfim, nesse dia eu quis morrer com mais vontade, me joguei na frente de um carro, uma morte cinematográfica daquelas em que o dublê rola no capô e cai no asfalto com cara de nada. Eu não morri, o carro freou antes e o motorista me xingou pra caralho, pior é que tinha bastante gente na rua, que vergonha, nem morrer eu conseguia e o pior, alguém gravou o quase acidente e mandou para um quadro do jornal local, com o irônico nome “Na Hora Certa”. Eles fizeram um alerta para os cuidados que devemos tomar ao atravessar a rua na faixa de pedestre.  

            Acho que a pior das coisas que me fez perder toda a dignidade foi compartilhar no Facebook cartas de amor sem destinatário, mas que todo mundo sabia para quem era. Fazia isso todos os dias, tinha aqueles que diziam que eu escrevia bem, esses deviam ter levado um pé na bunda também, e tinha aqueles que diziam, “esqueça esse cara”, esses deviam estar felizes, eu também achava besteira quando alguém estava chorando por alguém, enquanto eu estava no quarto do meu namorado fazendo coisas que os namorados fazem no quarto, assistir aos filmes da Nouvelle Vague.

            Há alguns dias me sinto melhor, é minha segunda consulta e acho que os remédios me acalmaram, estou menos ansiosa, consigo ficar até dez minutos sem stalkear o perfil dele na internet. Estou pensando em escrever um livro sobre isso, quem sabe ainda consigo tirar alguma coisa boa dessa história. Na verdade, vim aqui porque meus amigos não queriam mais me ouvir, me sugeriram um psicólogo e pelo menos com você eu consigo conversar sem intervenções.

 (...) 

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

RECEITA DO DIA: tire o caroço do abacate, amasse em um prato, coloque açucar e se preferir pode picar uma banana


 

            Levar numa boa é o mesmo que deixar pra lá e eu não era dessas. Eu tentei ir e depois tentei ficar, mas tive que ir mesmo sem querer. Foi como deixar pra lá sem estar numa boa.

            Eu fiquei sem respirar e achei que estava com asma, fiquei sem comer e achei que estava com anorexia ou bulimia, não sei a diferença, achei que estava com diabetes e achei que estava com AIDS, depois descobri que estava sofrendo de amor, achei patético.

            Eu não sabia curar a doença, queria te ligar sempre que olhava para o celular (e isso era a todo momento), queria ir para a sua casa sem precisar voltar para a minha, apesar da minha ser mais bonita e ter as minhas coisas que não cabiam no seu quarto, que parece um abacate, eu colocava mais açúcar para melhorar, até que passava do ponto.

            Você implicava com a porta do banheiro que eu deixava aberta, eu notava toda vez que você a fechava quando eu saia de lá, mesmo quando eu estava na sala só enrolada na toalha, você precisava fechar a tal porta com o trinco quebrado. Eu até pensava em ir embora, mas não conseguia descascar o abacaxi e ficava lá mesmo, acessando o instagram, enquanto você fazia umas coisas estranhas dizendo que era yoga, não era sensual, mas eu continuava amassando o seu lençol de algodão.

            Quando eu perguntava se já ia deitar, você ficava indeciso e perguntava se eu queria uma banana, eu dormia.

            Quando acordei, levei numa boa, você não era o caroço da minha azeitona, mesmo eu me sentindo o caroço do seu abacate. 
 

domingo, 1 de dezembro de 2013

A ESPERA DA LIGAÇÃO QUE NÃO ACONTECEU NO DIA SEGUINTE E NEM NOS ÚLTIMOS MESES


            Não precisa estagnar aqui no ‘somos nós’, só não diga para eu não sofrer, digo, para não amar, não me impeça de ser imprudente, sentir as borboletas no estômago ao encontrar o serzinho querido e chorar ao chegar sozinha em casa. Quantos sentimentos já sofridos, quantos amores pareciam ser os últimos e quantas cartas suicidas foram feitas. Tantas mensagens desesperadas foram enviadas, tantas desilusões afogadas no bar. E se o poeta é o fingidor da dor até poesia foi feita.

 
No tum-tum do coração
A cabeça ficou tam-tam
Podia pegar um avião da companhia aérea com desconto
A nuvem de algodão-doce
O dia azul que fica blue
Por um triz sem pingos nos is
O fim mais longo que o começo daquele filme feliz
Cantamos o ô-ô do chororô
Um show lindo de ver
Um amor sofrido de viver.
           

            Foi tão ruim sentir o coração tremendo na batedeira, mas tão bom comer o bolo quentinho na sua mesa com a toalha que tem margaridas na barra. Barra foi o que passei depois daquele dia, barra é não lembrar da sua voz quando acordo, deixar o despertador fazer barulho para não ouvir as últimas palavras de adeus que fazem tic-tac constante aqui dentro.   

            O Natal está chegando, não iremos beber aquele vinho que eu guardei desde aquele ano que você sugeriu a hipótese (mas vinho melhora com o tempo, então, não tem problema). Na noite de ano novo vou continuar desejando a sua volta, enquanto pessoas se abraçam ao som dos fogos de artifícios. No aniversário não vou comemorar, você não iria responder o meu convite, envelhecer sozinha perdeu a graça depois daquele ano em que recebi o seu feliz aniversário.

            Os anos passam e vamos relembrar dos começos que acabaram. Talvez esse seja o último texto que faço sobre você, que talvez fale para você, talvez seja o penúltimo, ou o último antes dos próximos duzentos e quatorze.

(...)

            Ah, tem uma coisa importante, já estou ficando longe do seu caminho, mesmo caminhando devagar, parando para olhar os carros parecidos no trânsito, já não consigo ver a esquina da sua casa. Se demorar vai ter que correr, mas CORRE! CORRE! Que eu volto atropelando a saudade.