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Woody Allen e Scarlett Johansson, atriz que atuou em Match Point, Scoop e Vick Cristina Barcelona, todos filmes de Allen. |
O estilo irreverente de Charles Chaplin, o pessimismo de Stanley Kubrick, o suspense de Alfred Hitchock e a originalidade de François Truffaut nos dão exemplos saudosos do que vem a ser cinema de autor, cineastas que construíram uma carreira e elaboraram um projeto que foi desenvolvido ao longo de seus trabalhos.
Em 1948, Alexandre Astruc iniciou o debate sobre cinema de autor no artigo publicado no seminário L’Écran Français intitulado “O nascimento de uma nova vanguarda: a câmera”. Astruc comparou a câmera com uma caneta. Pois, a câmera dá subsídios ao diretor para se expressar de maneira pessoal assim como a linguagem escrita.
A expressão “Cinema de autor” foi usada pelos jovens críticos da revista francesa Cahiers du Cinema, por meio da palavra auter (autor), para designar cineastas que produziram obras com a força de uma afirmação pessoal em relação à estilo e tema.
Truffaut em a teoria do autor, disse que apesar do filme ser o resultado de um trabalho coletivo ele leva a assinatura do diretor. Ainda ressaltou que o filme do futuro seria mais pessoal do que o romance individualista ou autobiográfico. Os diretores não seriam funcionários públicos, mas sim artistas. O filme seria semelhante à pessoa que o assinasse.
Com isso os diretores foram valorizados, inclusive os hollywoodianos que por trabalharem na indústria não eram vistos como artistas. Destacaram-se nesse período Howard Hawks, Raoul Walsh e Nicholas Ray e, obviamente, os franceses Jean Renoir e Robert Bresson, que foram analisados em termos de coerência estilística e temática, ou seja, em uma percepção autoral. Essa teoria permite-nos que possamos reconhecer o estilo único dos diretores. Impossível dizer que “A doce vida” (1960), tenha sido feito por outro diretor se não por Federico Fellini, assim como os filmes de Ingmar Bergman, que jamais poderiam ter sido criados por outro diretor.
Atualmente está cada fez mais escasso o cinema autoral, pois a produção e distribuição de materiais novos são restritas. A indústria quer vender e o público não quer pensar. Porém, ainda nos resta diretores com suas marcas pessoais tanto em estilo quanto temática, por exemplo, os temas de Woody Allen, família, sexo, adultério, crime, culpa e religião.
O diretor e roteirista nova-iorquino não apela para a comédia vulgar, mas sim a irônica, que faz o espectador refletir sobre a obra e sobre a vida. A obra de Allen é inteligente e reflexiva, o que não é surpresa já que ele deixa claro suas referencias, que não são fracas, pois fazem parte da lista os filósofos e autores da literatura mundial como Dostoievski, Flaubert, Kierkegaard, Kafka, Camus, entre outros.
Ele adotou em seu estilo as paródias e adaptações irônicas. Allen é o narrador de seus filmes, que já totalizam 40, aproximadamente, sendo lançado um por ano. A intensa produção se iniciou em 1969, com “Um Assaltante bem Trapalhão”, onde também participou como ator, interpretando o personagem Virgil Starkwell. O diretor surgir como um dos personagens de seus filmes também é uma marca de Allen, que sempre parece interpretar o mesmo personagem em lugares e histórias diversas. Vejamos que até a caracterização de seus personagens é a mesma, sempre usando calça, camisa e óculos, o estilo de Woody Allen na vida real. Deste modo, é como se estivéssemos vendo a persona criada por Allen e não apenas o personagem de um filme só.
A obra de Allen é chamada de pós moderna ou modernismo avançado, já que seus filmes vão desde adaptações literárias a recriações de períodos do cinema e paródias, atendendo a estética do movimento.
Podemos, aqui, abordar o conceito de intertextualidade que segundo Julia Kristeva, “todo texto é absorção e transformação de outro texto. Em lugar da noção de intersubjetividade, se instala a de intertextualidade, e a linguagem poética se lê, pelo menos, como dupla”.
Em “Sonhos Eróticos de uma Noite de Verão”, de 1982, Allen usa como base Sonhos de uma Noite de Verão, de William Shakespeare, e Sorrisos de uma Noite de Amor, de Ingmar Bergman, indo além de uma clássica adaptação. Ele usa elementos do mundo mágico para suavizar as neuroses provocadas pelo amor. Aliás, as neuroses fazem parte da temática usada pelo autor. A história do diretor não reproduz a de Shakespeare e a de Bergman, mas elas funcionam como referências para a mesma reflexão sobre o amor e o ser humano.
Ainda poderíamos dar exemplos de um diálogo com Crime e Castigo, de Fiódor Dostoievsky, uma versão literária da teoria de Nietzsche, que inventou o conceito de “super-homem”, nos filmes Crimes e Pecados, Match Point e O Sonho de Cassandra.
REFERÊNCIAS
BERGAN, Ronald. ... Ismos para entender o cinema. Ed. Globo.
GALINDO, Rogério Waldrigues. Um diretor cheio de idéias. Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?tl=1&id=1145336&tit=Um-diretor-cheio-de-ideias Acesso em: 29 de julho de 2011.
GOMES, Pedro Henrique. O Cinema de Autor, o Cinema Comercial e a Distribuição. Disponível em:
http://tudoecritica.blogspot.com/2008/11/o-cinema-de-autor-o-cinema-comercial-e.html Acesso em: 29 de julho de 2011.
WOLF, Alex. Isso é Bergman, é Shakespeare? Não, é Woody Allen. Disponível em:
http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?tl=1&id=1145337&tit=Isso-e-Bergman-e-Shakespeare-Nao-e-Woody-Allen Acesso em: 29 de julho de 2011.