"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

sábado, 17 de dezembro de 2011

A CHAVE DE SARAH


SINOPSE
Julia (Kristin Scott Thomas) é uma jornalista que vê a sua vida envolvida com a de uma garota chamada Sarah: uma menina que teve a família destruída por nazistas, na maior perseguição de judeus na França. Às vezes o passado pode desvendar o futuro.
 

Elle s'appelait Sarah (2010), longa de Gilles Paquet-Brenner adaptado do best-seller de Tatiana de Rosnay, ilustra o episódio do Velódromo em Paris, que entre os dias 16 e 17 de julho de 1942, foi cenário do sofrimento de cerca de 13.000 judeus, que foram obrigados a sobreviverem em condições desumanas até serem conduzidos ao campo (em condições não menos piores).
“A Chave de Sarah” poderia ser mais um filme que retrata o sofrimento de uma sociedade causado pelos nazistas, mas existe um diferencial, uma chave. O sofrimento de Sarah que é enorme consegue se intensificar com a tentativa de salvar o irmão, que é frustrada por causa da chave que ela carrega e que deveria ter voltado para o seu lugar.
Nesse filme os vilões não são os alemães, mas os franceses que também perseguiram os judeus. Somos levados a uma suspensão da realidade tão grande que é necessária a alternância de momentos da história, transitando entre o período da Segunda Guerra Mundial e os dias atuais, usando como pretexto a história de uma jornalista que se torna obcecada pelo caso da família Starzynski.
A jornalista desempenha o papel de nos revelar fatos que a história desconhecia. Até o momento que Sarah busca colocar a chave em seu devido lugar a narrativa desvenda facilmente o que aconteceu com a menina e seus familiares, porém depois disso são as investigações de Julia que nos revelam o futuro da menina que foi condenada pelos nazistas e pelo o amor ao irmão.
Observamos que em dois momentos a seguinte frase é citada: “Somos produto de nossa história”. Ao fim do filme é isso que percebemos, o roteiro vai além das angustias de Sarah, revelando toda a angústia que herdamos de nossos antepassados. A melancolia da Segunda Guerra ainda assombra a sociedade "Mundial", brasileiros que tiveram seus antepassados forçados a deixar a polônia, americanos que são filhos e netos de judeus obrigados a deixar a Alemanha, etc. Assim vai sendo descoberto o rastro de uma atrocidade que não pode ser apagado da história de nossas vidas.

FICHA TÉCNICA


Gênero: Drama e Guerra
Duração: 111 min.
Origem: França
Direção: Gilles Paquet-Brenner
Roteiro: Gilles Paquet-Brenner e Serge Joncour
Distribuidora: Imagem Filmes
Censura: 14 anos
Ano: 2010

domingo, 4 de dezembro de 2011

OS NOMES DAS PESSOAS


SINOPSE
Bahia Benmahmoud (Sara Forestier) é uma jovem tão comprometida com seus ideais que não se importa nem um pouco de transar com seus opositores, no intuito de convertê-los à sua visão. Ela costuma ser bem sucedida em suas investidas, até o dia em que conhece Arthur Martin (Jacques Gamblin).


Le Nom des Gens, no Brasil chamado de Os Nomes do Amor, tem como tradução ao pé da letra, Os Nomes das Pessoas, que usa o nome do individuo para chamar a atenção para a identidade de cada um. Estamos falando do filme de Michel Leclerc, que participou do Festival Varilux de Cinema Francês no mês de junho desse ano (2011) e agora no mês de novembro tem estréia no circuito nacional.
Ao nos depararmos com a sinopse é possível imaginarmos uma simples comédia romântica regada a sexo. Existe romance e também existe sexo, mas nada que chegue a ser o clímax da história. De uma maneira diferente do que estamos habituados a ver nas telas dos cinemas e que vem se tornando até mesmo previsível para quem gosta de filmes que tratam de estudos culturais Le Nom des Gens mostra todos os conflitos políticos, todos os traumas de uma sociedade pós guerra e a crise de identidade de um povo que precisa criar sua própria história. Leclerc representa tudo isso de uma forma cômica, usando dos recursos desse gênero para introduzir o público em uma história um tanto maluca, mas que retrata o real.
O interessante é retratar o real por meio do recurso que o cinema tem, de iludir, de tirar o sujeito de sua zona de conforto, levando-o ao mundo criado. Desse modo, existem cenas insanas, como a protagonista esquecer-se de vestir-se para sair, mas tudo sendo representado de uma maneira inteligente usando de metáforas.
Vemos um cinema francês contemporâneo, não mais com aquele clima denso que também encanta, mas algo leve que pode sair do círculo de intelectuais e atingir o público em geral, que não deixa de ter uma reflexão sobre a sociedade, a situação atual da França, a critica aos preconceitos, ao atual presidente francês Sarkozy e as crises existenciais de franceses que tiveram avôs e pais que sofreram e morreram no cenário da Segunda Guerra Mundial e que podem optar por duas escolhas: livrar-se da herança histórica (que muitas vezes é apenas sufocada) ou tornar-se um defensor de sua história.
Leclerc usa do exagero (recurso cômico) para nos proporcionar uma obra que encanta e nos faz pensar. Deixa a mensagem de paz resgatando o lema dos anos 60: “Não faça guerra, faça amor”, por meio da personagem principal que vive o lema de uma forma radical, mas que deixa sua mensagem, deixando de lado o conservadorismo e nos fazendo pensar até que ponto obedecer à ordem é necessário.
É cogente entender a atual situação política da França para não deixar passar batida a presença do candidato socialista à presidência da República Lionel Jospin e a indignação da protagonista com a eleição de Sarkozy.

FICHA TÉCNICA



Título Original: Le Nom des Gens
Gênero: Comédia
Duração: 1:45
Direção: Michel Leclerc
Elenco (Protagonistas): Jacques Gamblin (Arthur Martin) e Sara Forestier (Bahia Benmahmoud)

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

35ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SP - HABEMUS PAPAM


Nanni Moretti é um diretor italiano que já causou muita polêmica em sua obra, como, por exemplo, em “A Missa Acabou” em que causou um mal estar na Igreja Católica em 1985. Desta vez, o cineasta, que se declara contra o catolicismo e o atual governo italiano, pregou uma peça no público que esperava uma critica as denuncias de pedofilia na Igreja e afins e se deparou com uma narrativa cômica que usa o Vaticano como cenário para ilustrar as angústias existências de um homem, que nesse caso é o escolhido para substituir o Papa João Paulo II.
Em Habemus Papam os cardeais não são apenas sujeitos que constituem um sistema, eles são humanizados, vemos homens com conflitos e responsabilidades como de qualquer individuo, independente do papel desempenhado na sociedade.
O Vaticano de Moretti, que também atua no filme, é simplificado, aproximado de nós. Melville, o Papa escolhido, entre tantos que se sentem aliviados por não serem nomeados, entra em uma crise existencial. Ele queria ser ator, mas teve seu sonho frustrado. Quando se vê diante de uma responsabilidade que irá aprisioná-lo completamente se depara com o momento de fugir do mundo em que se escondeu indo diretamente para o mundo em que ele deixara seu sonho, a dramaturgia.
O Papa fica angustiado pela falta de vocação e ao mesmo tempo sente medo de estar renunciando sua fé, assim como todos nós ficamos entre a razão e a emoção, o certo e o errado (que é subjetivo). Tudo isso é representado em um clima trágico, porém cômico, assim como a vida é, uma comédia triste, mas apaixonante.
Além de tratar desse mal social, as crises existenciais, a busca pela cura nos psicanalistas e os momentos epifanicos que temos ao longo da vida, Habemus Papam funciona como uma metáfora que critica o sistema das instituições, onde tudo é tão padronizado, tão bem moldado que a vontade do individuo, os amores e a coragem são sufocados pelas obrigações, pelo o que é melhor para o grupo. Vale a pena ser infeliz por um bem maior? O que seria o bem maior? O mais importante é o que você sente ou o que você demonstra sentir?

FICHA TÉCNICA


Diretor Nanni Moretti

Roteiro Nanni Moretti, Francesco Piccolo, Federica Pontremoli, Jerzy Stuhr

Fotografia Alessandro Pesci

Montagem Esmeralda Calabria

Música Franco Piersanti

Elenco Michel Piccoli, Nanni Moretti, Jerzy Stuhr

Produtor Jean Labadie, Nanni Moretti, Domenico Procacci

Produção Fandango, Sacher Film, Le Pacte

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

35ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SP - SE NÃO NÓS, QUEM?


 UMA HISTÓRIA DE AMOR PASSIONAL

“Wer Wenn Nicht Wir” intitulado em português de “Se Não Nós, Quem?” é o primeiro filme de ficção do documentarista alemão Andres Veiel, que mesmo em uma narrativa ficcional usou elementos da história para construir uma obra que transborda sentimentos de uma Alemanha influenciada pelo nazismo, que mesmo com o fim da Segunda Guerra Mundial ainda vive com os fantasmas de um passado impossível de ser enterrado.
Mais uma vez passeando entre a realidade e a ficção os personagens principais são Gudrun Ensslin, uma idealista do grupo radical Baader-Meinhof e Bernward Vesper, filho do romancista oficial do regime nazista, um casal real da história alemã.
Por meio desses personagens expressa-se um sentimento comum entre os jovens pós-nazismo, o medo do que estava por vir, a necessidade de se expressar após anos de silencio e as inquietações introspectivas de jovens pensantes, os questionamentos entre o dizer e o fazer, o pensar e o agir.
“Se Não Nós, Quem?” conta uma história já narrada na tela da sétima arte muitas vezes, fato corriqueiro no cinema, a arte de contar a mesma história de maneiras distintas. O fato a se discutir é a maneira que a história é contata. Jovens universitários, que passam a viver uma vida juntos sem regras, mas que a falta da mesma se confronta muitas vezes com os padrões da sociedade que assombram os quais as negam.
O modo como as escolhas políticas podem transformar, criar e destruir os sujeitos são expostos nessa história. Observamos ativistas filhos de colaboradores de Hitler que sofrem com essa marca em suas descendências e que por tornarem-se tão radicais também irão traçar o futuro do filho criado por outra família.
O filme nos faz refletir sobre o que é correto, tornar-se um revolucionário que se joga no meio do tiroteio ou caminhar conforme seus pés permitem sem data para chegar, mas sem tropeçar. Até que ponto o amor pela causa não se torna doentio? E até que ponto é possível reprimir o sentimento de luta sem enlouquecer em seus pensamentos?


FICHA TÉCNICA


Diretor: Andres Veiel

Elenco: August Diehl, Lena Lauzemis, Alexander Fehling, Thomas Thieme, Imogen Kogge, Michael Wittenborn, Susanne Lothar, Maria-Victoria Dragus

Produção: Thomas Kufus

Roteiro: Andres Veiel

Fotografia: Judith Kaufmann

Trilha Sonora: Annette Focks

Duração: 124 min.

Ano: 2011

País: Alemanha

Gênero: Drama

Cor: Colorido

Distribuidora: Imovision

terça-feira, 27 de setembro de 2011

NOIVO NEURÓTICO, NOIVA NERVOSA


 “Duas velhinhas em um hotel fazenda em Catskill. Uma diz: “A comida aqui é um horror.” A outra diz: “Eu sei, porções minúsculas”. É assim que eu vejo a vida: cheia de solidão, miséria, sofrimento e tristeza... e acaba rápido demais.”
“Não quero ser sócio de nenhum clube que aceita alguém como eu de sócio. É a minha piada-chave em se tratando de mulheres.”
É desse modo que inicia o filme “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”. Um monólogo do personagem interpretado por Woody Allen, que desde o inicio já demonstra ao espectador uma crise existencial, uma reflexão sobre a vida que só os mais introspectivos conseguem atingir.
Nesse momento, Allen conversa com a câmera, ou seja, conosco. Essa é uma característica presente em sua obra. Seus filmes iniciam com uma narração em off, um monólogo do protagonista ou uma conversa com o público.
Alvy, o noivo neurótico, demonstra estar passando pela crise da meia idade. Para ilustrar isso cita os tipos de homens na velhice: o careca viril (o que ele acredita estar caminhando para ser); o distinto grisalho; e o que vive babando e vaga pelas cafeterias com saco de mercado falando de socialismo (o qual nós acreditamos que ele está caminhando para ser).
Porém, diante de todos os conflitos psicológicos existentes no personagem, ele ironiza dizendo que não é rabugento, nem depressivo e que até foi uma criança feliz, surgindo um flashback que nos prova o contrário. É preciso que saibamos o que Freud nos diz sobre a construção da personalidade do individuo, a infância como responsável. Logo percebemos que a criança que Alvy foi reflete na vida adulta.
Alvy sempre achou os colegas idiotas, uma característica que Allen sempre dá a seus personagens inquietos, intelectualizados e questionadores, como no filme “Tudo Pode dar Certo”. Voltando a Alvy, a mãe lhe diz: Você sempre pensou o pior das pessoas. Nunca se deu bem com ninguém na escola. Sempre esteve fora de sintonia com o mundo. Mesmo quando ficou famoso, ainda desconfiava do mundo.
O fato de ter crescido em meio a Segunda Guerra Mundial também contribui para as neuroses do personagem. Existe uma significativa paranóia com a perseguição aos judeus, assiste a um documentário nazista de duas horas, além da obsessão pela morte. Essa neurose de que os judeus continuam sendo perseguidos é muito vista em sua obra, como no filme “Igual a Tudo na Vida”, em que o personagem interpretado, também por Woody Allen, “ouve” pessoas falando mal de judeus e tem várias armas em casa para sua segurança.
Voltando ao filme em análise, no relacionamento com Annie Hall ele tenta intelectualizá-la, fazê-la refletir sobre a vida, ou ainda, sobre a morte. Em uma livraria ela está escolhendo livros de gatos, então, Alvy chega com uma pilha de livros e diz que vai comprar para ela. Questionado pela namorada, que acha estranho os livros serem apenas sobre morte, ele responde: “É um assunto que gosto. Tenho uma visão pessimista da vida. Se vamos sair juntos você precisa saber. A vida é dividida em horrível e miserável. Duas categorias. Horrível seriam casos terminais, gente cega, inválidos. Não sei como eles vivem. Acho incrível. E miserável é todo o resto. Quando passa pela vida, agradeça por ser miserável.” Uma visão pessimista comum entre as pessoas que vivenciaram uma guerra.
Esse seu olhar sombrio está lado a lado com sua profissão de comediante de stand up, pois sabemos que a comédia ironiza a tragédia, tornando-a patética ao ponto das pessoas rirem da desgraça alheia.
Sua má vontade em conviver com as pessoas é explicita, por exemplo: quando convidado para ir a uma festa com a namorada, ele prefere ir para casa e assistir um documentário. Ou quando na fila do cinema se irrita com o sujeito que faz comentários, julgando serem completamente idiotas, mostrando sua intolerância com o outro.
O homem da fila também representa a critica ao pseudo-intelectual que Allen critica em sua obra. Podemos também citar como exemplo “Meia Noite em Paris”, em que a figura do pseudo é representada de maneira insuportável.
O personagem de Allen mostra ser sempre a “pessoa do contra”. Desde pequeno gostava da mulher errada. Todos amavam a Branca de Neve e ele adorava a rainha malvada. Mais uma vez ressaltando os impactos da infância na vida adulta.
A contrariedade do personagem não para por aí. Quando todos apreciam a Beverly Hills ele aponta pontos negativos. Quando falam mal de Nova York apontando o lixo da cidade, ele diz que gosta de lixo.
As neuroses de Alvy nunca acabam, quando precisa ir atrás de seu amor em Los Angeles ele diz ter enjôo crônico da cidade. Ele, enfim, vai até Annie, mas ela já está com outro, com quem conhece novas pessoas, vai às festas, joga tennis, curte mais as pessoas, ressaltando que Alvy é incapaz de curtir algo. Diz que Nova York é uma cidade morta. Ele é como a cidade, uma ilha em si mesma. A resposta dele é que não curte nada se todos não curtirem, se alguém passa fome estraga sua noite. Uma resposta de quem pensa demais, questiona demais, e vive de menos.
Depois desse dialogo com Annie Hall, ele pega seu carro e reproduz a cena de quando criança no parque no carrinho de bate-bate, desta vez adulto com um carro de verdade, mas a mesma atitude. Aliás, muitos dos seus personagens não dirigem muito bem, como em Scoop, em que seu personagem acaba morrendo em um acidente de carro.
É importante chamar a atenção para as citações intertextuais, como por exemplo, o diálogo em que Alvy usa Henry James e sua obra “A Volta do Parafuso” no discurso. O recurso que citamos inicialmente de falar diretamente com o público nos lembra o estilo machadiano. E por fim, as legendas que expressam pensamentos, usadas para mostrar nossa capacidade em pensar e falar algo totalmente diferente.
Deste modo percebemos que a obra de Woody Allen é única, é impossível assistir a um de seus filmes e não identificá-lo como diretor. O inicio com a tela preta, os créditos brancos com a mesma tipografia e o som de Jazz, já entrega de imediato a sua assinatura. Allen conseguiu criar um estilo próprio com temáticas próprias que produz um belíssimo cinema de autor.

FICHA TÉCNICA


Annie Hall - 1977, 93 min.

Diretor: Woody Allen.

Com: Woody Allen, Diane Keaton, Christopher Walken e Truman Capote.

sábado, 24 de setembro de 2011

SINGULARIDADES DE UMA RAPARIGA LOURA


Singularidades de uma Rapariga Loura é um filme português dirigido por Manoel de Oliveira e baseado no conto homônimo de Eça de Queirós. Como um conto ele narra a história em uma sentada, ou seja, em um tempo curto de aproximadamente 60 minutos.
A fotografia fascina com uma técnica impecável, que chama a atenção até mesmo dos mais desatentos, como por exemplo, o enquadramento da janela que expressa uma das singularidades da rapariga loura.
A obra inicia jogando-nos na cara a facilidade em relatarmos fatos de nossas vidas a estranhos, que não sendo nossos amigos e familiares não terão intimidade suficiente para nos julgar.
É desse modo que descobrimos o que ocorreu com Macário, um homem viajando em um trem que relata a uma estranha que viaja ao seu lado, ter dito suas idealizações amorosas frustradas.
Após se apaixonar pela menina da janela, Macário se esforça para aproximar-se de Luiza. Porém, como dissemos, ele se apaixona por alguém que via na janela, ambos em prédios separados por uma rua e como ele poderia conhecê-la? Uma metáfora ao que ocorre com as idealizações que fazemos antes mesmo de conhecermos realmente o ser amado, o abismo que separa o que gostaríamos que fosse e o que passamos a conhecer.
Lutando pelo amor idealizado, Macário, passa a se dedicar tanto a essa luta que nem sabe mais pelo o que realmente está lutando (por uma idealização). Quando ele vence e consegue a estabilidade de um amor sereno, passa a conhecer a noiva de verdade e na primeira decepção não suporta a realidade de conhecer a verdadeira menina fora da janela, não agüenta os problemas que Luiza leva consigo fora do quadro que ele havia pintado da amada.

FICHA TÉCNICA


Diretor: Manoel de Oliveira 
Elenco: Diogo Dória, Leonor Silveira, Júlia Buisel, Rogério Samora, Luís Miguel Cintra, Catarina Wallenstein, Ricardo Trêpa. 
Estreia Mundial: 2009
Estreia em Portugal: 30 de Abril de 2009

domingo, 18 de setembro de 2011

KINOFORUM - ANÁLISE


O Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, o Kinoforum, já está na sua 22ª edição. Por meio da Coordenadora da Pós Graduação em Cinema e criadora do Centro de Cultura Contemporânea, Denize Araujo, este ano o Festival foi estendido à Curitiba, cidade com grande público interessado na arte e cultura, pois o sucesso do evento pode comprovar.
O evento disponibilizou ao público a Mostra de Curtas Latino-Americanos, Mostra de Curtas Internacionais e os Curtas Brasileiros, incluindo o documentário paranaense “Xetá” de Fernando Severo e a animação “Meu Medo” do também paranaense Murilo Hauser.
As comédias conquistaram o público que demonstrou satisfação com as propostas apresentadas, destacando-se “Cesár!”, que de uma maneira divertida mostra a dificuldade dos jovens de se adequarem aos padrões e dificuldades da sociedade que eles estão descobrindo, se decepcionando e se adequando.
Assim como as comédias, os dramas também chamaram a atenção como o também brasileiro “Cores e Botas” que conseguiu abordar o preconceito racial de uma maneira menos estereotipada, mostrando a superação de quem sofre com a diferença e como a mídia impõe os padrões que a sociedade alienada acata sem contestação.
Os dramas que arrancavam risos da platéia foram um dos pontos fortes do Festival. Percebemos o humor sarcástico que mostrava o drama vivido por personagens riquíssimos em suas temáticas, comprovando mais uma vez o conceito de que a comédia é o patético, que o riso é o caminho para o choro. Essa característica do riso no drama foi comprovada no curta da Nova Zelândia “Blue”, exibido na sessão de abertura e que merece uma análise detalhada do conteúdo.
O curta-metragem Azul (Blue) tem como temática o diferente, o “exótico”, que funciona como “atração” em uma sociedade vazia e egoísta. O personagem principal é um trabalhador que não se encaixa no padrão estético dos demais. Esses indivíduos “normais” passam a tratá-lo como parte de um espetáculo, como na cena em que dá um autógrafo. No entanto, em outros momentos ele é ignorado, justamente quando precisa dessa sociedade que o utiliza, representado pela cena em que ele precisa acender o cigarro e o colega de trabalho trata o fato com indiferença.
A única pessoa igual a ele era um membro da família, que pressupomos ser sua esposa. Porém, a mulher morre e ele é obrigado a voltar para a casa vazia. Nesse momento somos premiados com uma cena em que a casa do personagem se transforma em um cenário, mostrando como vivemos em um mundo todo certinho, montado para encenarmos em um ambiente que a qualquer momento pode ser desmontado, para dar espaço a outro mais conveniente para o sistema em que estamos inseridos.
Para que sejamos úteis para o sistema é necessário que dancemos a música que eles tocam, ao contrário, eles escalam outro personagem que se encaixe na história de corrupção, escravidão e hipocrisia que estão sendo moldados, como se fossemos parte de um set de filmagem, onde tudo é de mentira, menos o sofrimento que nós, as “marionetes humanas”, sentimos e agonizamos por instinto de sobrevivência.
A cena em que vemos o cenário montado e Blue com a mulher dançando ao seu lado, é bem elaborada, pois é nesse momento que descobrimos que o “boneco” reconhecido no Instituto Médico Legal morava com o personagem. É importante, também, dizermos que esta cena é um pesadelo que Blue está tendo após chegar a sua casa de luto. O que antecipa a angústia do personagem que ao fim desiste da tentativa de se encaixar na sociedade que tanto o usou, mas nunca foi capaz de ajudá-lo, de olhar de verdade para toda a melancolia que existia naquele ser estereotipado pelos indivíduos fabricados em série e satisfeitos com a normalidade estabelecida a eles.
Desse modo o Kinoforum foi bem recebido em Curitiba. Nos dias 2, 3 e 4 de setembro, o shopping Novo Batel recebeu um grande público desde o dia de abertura, que contou com a cobertura da imprensa, como a Rede Paranaense de Comunicação (RPC), filiada da TV GLOBO, até a sessão de encerramento junto aos debates, que tiveram a participação de William Hinestrosa, do Kinoforum-SP, Paulo Camargo da Gazeta Do Povo, Paulo Munhoz (Produtora Tecnokena) e Denize Araujo (Mediadora, UTP).
O público que esteve presente pode conferir a seguinte programação:

SESSÃO 1 - ABERTURA

Calle Ultima/ Rua Última (Paraguai 20min)
Blue (Nova Zelândia / 14min)
Dimanche / Domingos (Belgica / 16min)
Alexis Ivanovitch Vous Êtes Mon Héros / Alexis Ivanovitch Você É Meu Herói (França / 20min)
Suiker / Açúcar (Holanda / 8min)

SESSÃO 2

Ela Morava Na Frente Do Cinema (Brasil – PE / 30min)
Un Juego De Niños / Brincadeira De Criança (Colômbia / 18min)
A Simple Love / Um Simples Amor (Alemanha / 18min)
Contagem (MG / 18min)

SESSÃO 3

Un Nuevo Baile/ Uma Nova Dança (Chile 24min)
Cão (SP / 19min)
Las Palmas (Suécia / 13min)
Tijereto (Colômbia / 22min)

SESSÃO 4

Cores E Botas (SP / 15min)
Happy Now / Feliz Agora (Dinamarca / 18min)
Cesar (SP / 15min)
Vannliljer I Blomst / Ninféias Em Flor (Noruega / 16min)
Ratão (DF / 20min)

SESSÃO 5

Xetá (Brasil – PR / 20min)
Ebony Society / Sociedade De Ébano (Nova Zelândia / 13min)
Roma (México / 25min)
Meu Medo (PR / 11min)

ENCERRAMENTO

domingo, 11 de setembro de 2011

CINEMA DE AUTOR E WOODY ALLEN

Woody Allen e Scarlett Johansson, atriz que atuou em Match Point, Scoop e Vick Cristina Barcelona, todos filmes de Allen.

O estilo irreverente de Charles Chaplin, o pessimismo de Stanley Kubrick, o suspense de Alfred Hitchock e a originalidade de François Truffaut nos dão exemplos saudosos do que vem a ser cinema de autor, cineastas que construíram uma carreira e elaboraram um projeto que foi desenvolvido ao longo de seus trabalhos.
Em 1948, Alexandre Astruc iniciou o debate sobre cinema de autor no artigo publicado no seminário L’Écran Français intitulado “O nascimento de uma nova vanguarda: a câmera”. Astruc comparou a câmera com uma caneta. Pois, a câmera dá subsídios ao diretor para se expressar de maneira pessoal assim como a linguagem escrita.
A expressão “Cinema de autor” foi usada pelos jovens críticos da revista francesa Cahiers du Cinema, por meio da palavra auter (autor), para designar cineastas que produziram obras com a força de uma afirmação pessoal em relação à estilo e tema.
Truffaut em a teoria do autor, disse que apesar do filme ser o resultado de um trabalho coletivo ele leva a assinatura do diretor. Ainda ressaltou que o filme do futuro seria mais pessoal do que o romance individualista ou autobiográfico. Os diretores não seriam funcionários públicos, mas sim artistas. O filme seria semelhante à pessoa que o assinasse.
Com isso os diretores foram valorizados, inclusive os hollywoodianos que por trabalharem na indústria não eram vistos como artistas. Destacaram-se nesse período Howard Hawks, Raoul Walsh e Nicholas Ray e, obviamente, os franceses Jean Renoir e Robert Bresson, que foram analisados em termos de coerência estilística e temática, ou seja, em uma percepção autoral. Essa teoria permite-nos que possamos reconhecer o estilo único dos diretores. Impossível dizer que “A doce vida” (1960), tenha sido feito por outro diretor se não por Federico Fellini, assim como os filmes de Ingmar Bergman, que jamais poderiam ter sido criados por outro diretor.
Atualmente está cada fez mais escasso o cinema autoral, pois a produção e distribuição de materiais novos são restritas. A indústria quer vender e o público não quer pensar. Porém, ainda nos resta diretores com suas marcas pessoais tanto em estilo quanto temática, por exemplo, os temas de Woody Allen, família, sexo, adultério, crime, culpa e religião.
O diretor e roteirista nova-iorquino não apela para a comédia vulgar, mas sim a irônica, que faz o espectador refletir sobre a obra e sobre a vida. A obra de Allen é inteligente e reflexiva, o que não é surpresa já que ele deixa claro suas referencias, que não são fracas, pois fazem parte da lista os filósofos e autores da literatura mundial como Dostoievski, Flaubert, Kierkegaard, Kafka, Camus, entre outros.
Ele adotou em seu estilo as paródias e adaptações irônicas. Allen é o narrador de seus filmes, que já totalizam 40, aproximadamente, sendo lançado um por ano. A intensa produção se iniciou em 1969, com “Um Assaltante bem Trapalhão”, onde também participou como ator, interpretando o personagem Virgil Starkwell. O diretor surgir como um dos personagens de seus filmes também é uma marca de Allen, que sempre parece interpretar o mesmo personagem em lugares e histórias diversas. Vejamos que até a caracterização de seus personagens é a mesma, sempre usando calça, camisa e óculos, o estilo de Woody Allen na vida real. Deste modo, é como se estivéssemos vendo a persona criada por Allen e não apenas o personagem de um filme só.
A obra de Allen é chamada de pós moderna ou modernismo avançado, já que seus filmes vão desde adaptações literárias a recriações de períodos do cinema e paródias, atendendo a estética do movimento.
Podemos, aqui, abordar o conceito de intertextualidade que segundo Julia Kristeva, “todo texto é absorção e transformação de outro texto. Em lugar da noção de intersubjetividade, se instala a de intertextualidade, e a linguagem poética se lê, pelo menos, como dupla”.
Em “Sonhos Eróticos de uma Noite de Verão”, de 1982, Allen usa como base Sonhos de uma Noite de Verão, de William Shakespeare, e Sorrisos de uma Noite de Amor, de Ingmar Bergman, indo além de uma clássica adaptação. Ele usa elementos do mundo mágico para suavizar as neuroses provocadas pelo amor. Aliás, as neuroses fazem parte da temática usada pelo autor. A história do diretor não reproduz a de Shakespeare e a de Bergman, mas elas funcionam como referências para a mesma reflexão sobre o amor e o ser humano.
Ainda poderíamos dar exemplos de um diálogo com Crime e Castigo, de Fiódor Dostoievsky, uma versão literária da teoria de Nietzsche, que inventou o conceito de “super-homem”, nos filmes Crimes e Pecados, Match Point e O Sonho de Cassandra.
 
REFERÊNCIAS

BERGAN, Ronald. ... Ismos para entender o cinema. Ed. Globo.

GALINDO, Rogério Waldrigues. Um diretor cheio de idéias. Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?tl=1&id=1145336&tit=Um-diretor-cheio-de-ideias Acesso em: 29 de julho de 2011.

GOMES, Pedro Henrique. O Cinema de Autor, o Cinema Comercial e a Distribuição. Disponível em:

http://tudoecritica.blogspot.com/2008/11/o-cinema-de-autor-o-cinema-comercial-e.html Acesso em: 29 de julho de 2011.

WOLF, Alex. Isso é Bergman, é Shakespeare? Não, é Woody Allen. Disponível em:

http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?tl=1&id=1145337&tit=Isso-e-Bergman-e-Shakespeare-Nao-e-Woody-Allen Acesso em: 29 de julho de 2011.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

MANIC


Maníaco (Manic) foi lançado em 2001, pelo diretor Jordan Melamed. O elenco conta com o casal formado por Joseph Gordon-Levitt e Zooey Deschanel, que mais tarde ficariam conhecidos por Tom e Summer do filme 500 dias com Ela.
A história de Manic passa-se em um manicômio, onde o Dr. David Monroe tenta ajudar os pacientes ao mesmo tempo em que sofre com a impotência diante dos fatos e se vicia em remédios.
Percebemos que os problemas dos jovens que ali estão internados poderiam ser facilmente percebidos em qualquer ambiente de convívio social, como, por exemplo, uma escola, onde se rotulam os “tipos”, o valentão, a artista rebelde, a garota tímida que sobre com a falta de auto-estima e uma coisa em comum entre todos, o problema de relacionamento com os pais, a falta de diálogo e compreensão de ambos os lados.
Em certo momento da terapia em grupo, Sara (a artista) conta como foi parar naquele lugar, quando agrediu a mãe na seguinte discussão:
"Mãe - Jovenzinhas não saem na rua às 5 da manhã.
Sara - Que se dane! Eu vou sair."
Em outro momento ela conta como se tornou diferente das outras pessoas:

"- Sabe onde fica Calabasas? É cheio de japas e patricinhas. Eu não fiz exatamente uma festa de debutantes. Um dia estava no Mc Donald’s com aquela gente e tinha um lugar à mesa, então eu me sentei. A minha amiga virou os olhos e disse: Qual é! Você acha mesmo que é bonita? Porque você se acha, mas não é. A mesa inteira começou a rir. Eu chorei uns três dias e depois renasci. Sabe? Percebi que todos que eu conhecia eram uns babacas. Foi quando eu comecei a fazer o que eu queria sem dar a mínima para o que os outros pensam."
Vejamos que a personagem mostra uma ruptura das regras, quando a mãe apela para que não saia às 5 da manhã, tenta instituir uma regra de que “jovenzinhas” não saem naquele horário. E porque ela não poderia fazer diferente, porque ela teria que ser a regra e não a exceção? Quando ela tem um atrito com os amigos, ao invés de se esforçar para ser aceita, ela passa a não ligar para a opinião deles. E isso é errado? Ser e fazer o que você quer e não seguir as regras tão “bonitinhas” e convenientes para a sociedade?
Lyle agrediu um garoto que o zombava por apanhar do pai quando criança e ele revidou. Por isso foi parar na instituição, onde cria laços com algumas pessoas e com outras nem tanto. Como em qualquer outro lugar, com alguns nos identificamos e temos vontade de quebrar a cara de outros, mas nos controlamos.
Lyle é alguém com sonhos e vontade de viver. Ele quer viajar para fugir, vejamos o que ele nos diz a respeito disso:

"- Você acorda, faz o que quer, ninguém vem te encher. Você pode entrar num café na rua e comprar. A gente pode viver de verdade."
Não é com isso que passamos a vida inteira sonhando, em viver de verdade, fazer o que quisermos?
Ao serem indagados sobre o que os empolgam, surgem as seguintes repostas: Liberdade! Fazer o que você quiser sem se importar com o que os outros pensam; Jogar Playstation; Cuidar dos meus chegados e detonar quem se meter; Amor; Sexo; Não sei. Não é assim que nos sentimos? Até mesmo a resposta “não sei” cabe em nosso cotidiano, pois as vezes surge, realmente, a dúvida do que queremos, do que nos faz felizes.
O símbolo da anarquia, também, aparece algumas vezes durante o filme. O anarquismo para alguns simboliza a desordem e para outros a liberdade. É assim que os personagens são, para a sociedade seres perturbados que quebram regras e desorganizam o que está “certo”, mas eles idealizam poder viver da maneira que escolheram, livres para as próprias escolhas e atitudes.
Dessa forma que Manic funciona, como uma metáfora do que gostaríamos de ser, mas para termos aceitação da sociedade acabamos sufocando nossos sonhos e desejos, já que ao contrário poderemos ser considerados loucos por não querermos ter a vida padrão e decadente de todos.

FICHA TÉCNICA


Título no Brasil: Maníaco
Título Original: Manic
País de Origem: EUA
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 102 minutos
Ano de Lançamento: 2001
Estúdio/Distrib.: Europa Filmes
Direção: Jordan Melamed

1º KINOFORUM - CURITIBA 2011


O 1º. KINOFORUM-Curitiba 2011, com entrada franca, será nos dias 2, 3 e 4 de setembro de 2011, na Sala 5 do Shopping Novo Batel. O evento é uma itinerância do Kinoforum-SP – Festival Internacional de Curtas-Metragens, que já está em sua 22ª. edição. Em Curitiba, porém, o evento é inédito.
A iniciativa para a itinerância foi da pesquisadora de cinema Denize Araujo, que entrou em contato com a Diretora Executiva do Kinoforum-SP, Zita Carvalhosa, para dialogar sobre a possibilidade. Criada em 1995, a Associação Cultural Kinoforum-SP, entidade sem fins lucrativos, realiza atividades e projetos e apóia o desenvolvimento da linguagem e da produção cinematográfica. Em intercâmbio com associações e eventos nacionais e internacionais, promove a divulgação do audiovisual brasileiro, latino-americano e internacional.
O 1º. KINOFORUM-Curitiba 2011 conta com as seguintes atividades: Mostra de Curtas Latino-Americanos, Mostra de Curtas Internacionais, Programas Especiais e debates. A Sessão de Abertura será no dia 2 de setembro à 19 hs, e haverá 1 sessão às 16:30 e 1 sessão às 19:30 nos dias 3 e 4 de setembro. As 5 sessões serão seguidas por debates.
A Mesa de Debates contará com pesquisadores e críticos de cinema de São Paulo e Curitiba, objetivando a formação de platéia crítica. Alguns dos debatedores serão: WILLIAM HINESTROSA, DO KINOFORUM-SP, PAULO CAMARGO, DA GAZETA DO POVO, FERNANDO SEVERO, DO MIS, CAMILA MORAES, DA SESLEÇÃO DA MOSTRA LATINA, PAULO MUNHOZ, DA TECNOKENA, E DENIZE ARAUJO (Mediadora, da Pós-UTP).
O 1º. KINOFORUM-Curitiba 2011 será mais uma etapa do Projeto de Cultura Visual, de autoria de Denize Araujo, iniciado em 1997, que tem por objetivo a formação de platéia crítica. Os participantes que quiserem fazer a inscrição terão certificado de extensão, de atividade complementar, emitido pelo MIS. A ficha de inscrição está no site: http://clipagemcuritiba.blogspot.com/
O 22º. KINOFORUM-SP conta com o patrocínio do Ministério da Cultura, da Petrobrás, do SESC, SAV, AVON e das Secretarias Municipal e Estadual de SP. O 1º. KINOFORUM-Curitiba 2011 será patrocinado e realizado pelo CLIPAGEM-Centro de Cultura Contemporânea, tendo o apoio cultural do Shopping Novo Batel, da Secretaria de Cultura, do MIS-Museu da Imagem e do Som de Curitiba, do Centro Europeu, da Pós-UTP, da Larus Viagens, das Livrarias Curitiba, da Casa di Bel, do Restaurante Patanegra, do Cuore di Cação Chocolateria, e de Bolinelli Eventos e Produções Artísticas.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

AUTONOMIA DO OLHAR


Pressupõe-se que Horkheimer empregou o termo “Indústria Cultural” pela primeira vez em 1947, no livro Dialektik der Aufklärung, referindo-se ao problema da cultura de massa.
Podemos tratar esse problema como o rompimento da aura, da livre expressão artística e dos produtos adaptados ao consumo de massas, ou seja, a arte não mais para ser apreciada de acordo com a percepção subjetiva, mas uma fabricação em série para iludir a sociedade, com uma “arte artificial”.
A indústria cultural violenta a união da arte superior e inferior. A arte superior é forçada a produzir um efeito pré-estabelecido. Já a arte inferior é domesticada a uma produção civilizada sem os elementos rudes que lhes eram característicos.
Devemos questionar o papel do “apreciador” nesse contexto. O espectador não é mais o dono do olhar, o julgador da obra, mas sim o objeto consumidor da indústria cultural. Não se cria obras para expressar sentimentos e indagar o público, mas sim se visa lucros. Ou seja, a autonomia das obras de arte é assassinada pela indústria.
Essa indústria cultural herdou a transformação da literatura em mercadoria, que ocorreu no romance comercial inglês do fim do século XVII e do início do XVIII, estabelecendo a todas as artes uma tradição de lucros.
A produção cinematográfica passou a se limitar a procedimentos técnicos, uma simples divisão de trabalhos, focada em resultados de produção. Desse modo, a obra deve ser desumanizada enquanto efeito de ação e conteúdo, valorizando as máquinas usadas na produção e introduzindo a propaganda de personalidades e recursos de tom meloso na ilusão estética. Em síntese, a técnica foca-se na distribuição e reprodução mecânica, permanecendo externa ao seu objeto, o observador, que perde a autonomia estética.
Walter Benjamim em seu ensaio “A obra de arte na época da sua reprodução mecanizada” fala sobre a aura e como a mesma foi perdida. Para ele, a indústria cultural não cria uma aura em suas obras, mas sim se serve dela em estado de decomposição.
Durante a formação de consciência de seus consumidores a indústria cultural reprime ou elimina as questões estéticas das obras, que nesse momento já não são obras de arte, pois produzir “com” arte, com técnica, não significa produzir a mesma.
Eis que surge uma idéia de que o mundo quer ser enganado, e baseada nessa idéia passa-se a produzir romances de folhetins, filmes de confecção, espetáculos televisionados, dirigidos as famílias em séries que fecham os olhos e se entretêm com aquilo que é fabricado com o propósito de ser vendido, com uma realidade lúdica no mundo caótico em que a massa está inserida.
Existe uma ordem que deve se fundamentar em si mesma e no confronto com os homens. É justamente essa ordem que a indústria cultural rejeita e a massa aceita essa “desordem” em uma espécie de conformismo que surge para substituir a consciência produzida pela arte.
Essa falta de aura, de consciência, de autonomia produz uma carência de mensagens transmitidas nas produções da indústria. Elas são apresentadas de maneira enganadora. Na tentativa de se aproximar da realidade do observador ela consegue enganá-lo em sua aparência oca. Eis a diferença entre arte e realidade empírica.
A indústria cultural usa da técnica e da cópia da vida real para despertar no público uma sensação confortável. O espectador passa a ver uma realidade harmoniosa, como se o mundo estive em ordem, o que o satisfaz, mas o impede de julgar e decidir conscientemente, pois seu olhar já não tem autonomia. Logo, se não há autonomia, não existe um julgamento estético, já que esse deve ser próprio de cada homem e isso é arte.

REFERÊNCIA
ADORNO, Theodor. Indústria Cultural. In: COHN, Gabriel (org.). Comunicação e Indústria Cultural. São Paulo, Nacional, 1977.

domingo, 14 de agosto de 2011

WELCOME TO THE RILEYS



Welcome to the Rileys é um filme indie norte-americano de 2009, que teve sua estréia no Festival de Sundance 2010 e agora (agosto de 2011) surge no Brasil.
O filme que foi dirigido por Jake Scott, conta com grandes personagens interpretados por James Gandolfini, Kristen Stewart e Melissa Leo. Os personagens poderiam ser classificados como “a dona de casa”, “o empresário” e “a stripper”. Mas não é a abordagem que Scott faz. Os personagens são sofredores e como o titulo em português nos apresenta, eles estão com os “corações perdidos”.
Porém, não é a jovem de 16 anos que se prostitui a mais perdida da história, mas sim Doug e Lois. O casal que perdera a única filha, aos 15 anos, em um acidente de carro, passam a viver individualmente a dor da perda. A esposa mergulhada em uma depressão que a impede até mesmo de sair de casa e o marido que se afasta dessa melancolia do lar, buscando conforto no jogo e na amante.
Ao encontrar Mallory, Doug, vê uma maneira de ajudar alguém, ser presente na vida de uma jovem, que poderia ser sua filha (mas não é). O mais importante é perceber que não é Mallory que precisa de ajuda, já que ela não demonstra estar insatisfeita com sua vida ou querendo mudar a situação.
Desse modo, o casal, mesmo que inconscientemente, percebe que a vida daquela garota, que perdeu a mãe, também, em um acidente de carro, é muito mais árdua do que a deles, mas ela levantou a cabeça e seguiu em frente.
O final decepciona o espectador que já produz em sua mente possíveis finais felizes e/ou conclusivos. Mas não é esse o ponto que se quer chegar. Scott quer nos levar às reflexões sobre perdas e como lidarmos com isso. Você pode seguir em frente ou continuar preso a um sofrimento que não te levará a lugar algum.
É relevante, ainda, comentar sobre a atuação de Kristen Stewart, que por ter vivido a Bella na Saga Crepúsculo, poderá causar algum preconceito no público alternativo, o que é realmente irrelevante, pois seu desempenho em filmes não comerciais surpreende muito.
Em síntese, Corações Perdidos, é um filme que usa o silêncio como discurso, com poucos diálogos, já que é o interior dos personagens que importa. Um dos grandes pontos positivos do filme é conseguir expressar sentimentos na tela do cinema, enriquecendo uma simples história que poderia ser analisada em seu exterior, mas fazendo o inverso consegue ir além do que esperamos dos Rileys.

FICHA TÉCNICA


Corações Perdidos
Titulo Original: Welcome to the Rileys
Gênero: Drama
Duração: 110 min.
Origem: Reino Unido e Estados Unidos
Direção: Jake Scott
Roteiro: Ken Hixon
Distribuidora: Imagem Filmes
Censura: 16 anos

quinta-feira, 21 de julho de 2011

JUNO - TIC TAC DE LARANJA

 

Juno é um filme independente que chamou a atenção pelo roteiro de Diablo Coby premiado no Oscar de 2008. Logo, pressupomos que o filme não passa de mais um filme “teen”, uma propaganda com elementos coloridos e atores adolescentes, nenhuma novidade. Além de tudo, o gênero é rotulado de comédia, o que nos faz pensarmos em comédia romântica e seus clichês. Porém, trata-se de uma comédia carregada de drama que se expressa de uma maneira “fofa” para os jovens e não tão jovens assim. Acredito que filmes “fofos” tornaram-se uma marca positiva dentro de um mercado cinematográfico que quando trabalha com comédia não sabe fugir do mal gosto de cenas que ao invés de te fazer sorrir te leva a mais profunda irritação, com personagens bobos em uma história mais boba ainda.
O filme que estamos tratando tem bons atores do universo jovem, digamos que jovens do mundo alternativo como Michael Cera (de Scott Pilgrim). Esse universo também está presente em Juno, pessoas que gostam de rock, quadrinhos, que fazem música para ganhar dinheiro ou para se divertir. Juno, a personagem que dá nome ao filme, não chega a ser uma nerd, mas poderia ser. Porém, é justamente isso que ela está buscando, o que ela é em um mundo teen onde todos se rotulam de alguma coisa para poderem estar inseridos em alguma tribo.  
A gravidez da garota chega de uma maneira precoce a sua vida, fato que a leva optar pela doação do filho a uma família que deseja adotar um bebê. Essa é uma cultura norte-americana que deveria ser adotada em outros países, já que existem tantos jovens sem maturidade para serem pais e que acabam tento filhos e abandonando em latas de lixo ou dando uma educação sem nenhuma estrutura, criando indivíduos perdidos em uma sociedade em que eles chegaram de maneira indesejada.
A personagem de Juno é bem construída, já o personagem de Cera, Bleeker, deixa o questionamento no público de que deveria desempenhar uma função maior na obra, até pelo fato de ser o pai do bebê. Porém, a proposta é focar-se em Juno, que quebra a reação moralista que a sociedade tem diante de uma gravidez na adolescência. A família lhe dá total apoio, mostrando como os pais reagem aos tropeços dos filhos, que mesmo estando errados recebem o amor dos pais em qualquer circunstancia. A garota decide entregar o filho para outra família sem passar por nenhum conflito gerado pela duvida da decisão. É claro que tudo isso é muito utópico, já que na vida real os problemas não seriam enfrentados de maneira tão objetiva. Mas é cinema e podemos colorir um pouco as coisas, quando a proposta é, justamente, criar uma atmosfera agradável, diante de um fato que é sempre tratado de um modo negativo e “pesado” nas mídias e no cotidiano em que nos vemos inseridos.


FICHA TÉCNICA


Título original: Juno
Lançamento: 2007 (Canadá, Hungria, EUA)
Direção: Jason Reitman
Atores: Ellen Page, Michael Cera, Jennifer Garner, Jason Bateman.
Duração: 96 min
Gênero: Comédia

ESTRANHOS NORMAIS


Estranhos Normais (Happy Family) é uma adaptação para o cinema da peça italiana de Alessandro Genovesi e do também diretor do filme Gabriele Salvatores.
A partir de um roteiro que o protagonista está escrevendo surgem os personagens que em uma metalinguagem conversam com o criador, dando sugestões para os caminhos que irão seguir na história e se rebelando com decisões do roteirista.
Podemos dizer que a obra lembra muitas características existentes na produção de Woody Allen, este que produz cinema de autor, meta que o personagem quer alcançar (produzir um cinema de arte). Com esse intuído ele acredita que deve deixar sua obra aberta, trabalhando com o conceito de que uma obra de arte deve deixar a reflexão para o espectador, dar o direito do final ao público.
Voltando as características de Happy Family que podem ser comparadas as de Allen, percebemos a conversa do personagem com a câmera, ou seja, conosco, ocorrendo isso ainda no inicio da obra, como geralmente acontece nas obras de Allen. O personagem não está em seu melhor estado psicológico, passando por algumas dificuldades amorosas entre outras. Os personagens que conhecemos durante a diegese são construídos por neuroses compartilhadas dentro de instituições familiares falidas. Também há o momento em que Caterina e Ezio estão conversando (flertando) na varanda em um cenário parecido com o de Annie Hall e os pensamentos dos personagens nos são revelados assim como no filme de Allen que usa legendas para tal feito.
Podemos dizer que o tema principal é a própria reflexão sobre a obra, desde o processo criativo do roteirista até o resultado final, que nem sempre obedece a ideia inicial do mesmo, modificada pelo diretor e atuação dos atores, que nesse caso são representados pelos personagens.
O protagonista nos chama a atenção para os medos que sentimos e que o filme é dedicado aos que cultivam essa fraqueza, ou seja, a todos nós, já que esse sentimento existe para que possamos viver seguros (ou deixarmos de viver para que os riscos sejam excluídos).
Enfim, os personagens são belíssimos, carismáticos e fascinantes. Personagens que estão se descobrindo e redescobrindo-se. Eles descobrem o amor ou a falta dele. O amor entre casados, o amor entre amigos, o amor de pai e de mãe, o amor pelo mar, o amor homossexual, o primeiro amor (que não será o último) e o amor de namorados, aquele que te deixa nervoso, te faz ver o mundo mais colorido e que deve ser cultivado para sempre para não cair no tédio da vida a dois.


FICHA TÉCNICA


Título no Brasil: Estranhos Normais
Título Original: Happy Family
País de Origem: Itália
Gênero: Comédia
Classificação etária: 14 anos
Tempo de Duração: 90 minutos
Ano de Lançamento: 2010
Estréia no Brasil: 01/07/2011
Estúdio/Distrib.: Pandora Filmes
Direção: Gabriele Salvatores

sexta-feira, 15 de julho de 2011

SCOOP


Scoop – O Grande Furo é mais um grande acerto de Wood Allen, diretor de cinema autoral. É impossível assistir um filme de Allen sem fazer referencia as outras obras, é como se ele usasse o mesmo tempero, mas com um novo segredo que nos faz ter uma ansiedade em ver suas obras, sempre inteligentes com uma ironia própria do autor.
Scoop é um termo usado no jornalismo para designar um grande furo de reportagem, como o titulo em português nos explica (O Grande Furo). Pois, o público brasileiro é sempre menosprezado em sua inteligência, talvez pela rotina que temos em fazer os blockbusters lucrarem com nossa falta de consciência em dizer não a certos enlatados importados.
Mais uma vez Allen acerta em nos presentear com a atuação de Scarlatt Johansson em sua produção, que atualmente está sendo mal usada em filmes como A Viúva Negra e coisas horríveis do gênero. Mas Allen sabe do seu talento, usado também em Match Point e Vick Cristina Barcelona. Tanto que escreveu a sua versão feminina para a atriz em questão nesse filme.
Sondra é muito parecida com o alter ego de Wood Allen interpretado no decorrer de seus filmes, inclusive em Scoop, onde o seu personagem, Sidney, e Sondra se parecem muito. Tanto que Peter, o anti-herói da trama, menciona a semelhança entre eles (Sondra e Sidney). Podemos perceber que é nítida essa tentativa, até na aparência física, Johansson encarna o estilo de Allen, roupas simples, óculos...
O filme foi lançado em 2006 e volta muito ao estilo de comédias dirigidas por Wood Allen no século passado e também em O Escorpião de Jade. No segundo caso, o estilo investigativo toma conta da tela, também, adaptado em Scoop.
A comédia, realmente, consegue arrancar risos, não é um drama intitulado de comédia para dar mais lucros à indústria. O tom melancólico de Scarlatt desaparece dando lugar a uma desajeitada e apaixonada estudante de jornalismo. As neuroses de Wood Allen e reflexões sobre a mediocridade humana dão um pouco de espaço ao simpático mágico, um tanto desastrado e muito carismático.
O fantasma está presente na obra, assim como é possível vê-lo em outros filmes do diretor, como em Match Point, onde Scarlett mesmo surge como um fantasma no fim da diegese.
Finalmente, Scoop tem seus fãs e inimigos. Ver o lado positivo do filme é muito mais sensato, pois as criticas positivas estão pedindo para surgirem na obra ao contrário das negativas que seus adeptos terão muito trabalho para construí-las.
E a mensagem é: sempre confie no seu amigo, ele nunca vai te abandonar ou mentir, já o seu namorado pode te decepcionar e querer te matar, não literalmente como no filme, mas o seu coração com certeza pode sofrer sérios atentados.


FICHA TÉCNICA
 
 
Título original: (Scoop)
Lançamento: 2006 (EUA, Inglaterra)
Direção: Woody Allen
Atores: Woody Allen, Hugh Jackman, Scarlett Johansson, Fenella Woolgar, Kevin McNally.
Duração: 96 min
Gênero: Comédia