"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

sábado, 18 de outubro de 2014

SEMANA CURITIBA LÊ (Produção)

 


Percepção e Representação

 
            Busquei em todas as minhas referências, o que eu sabia, nas ciências e até nas lendas curitibanas. Ele não existia. Havia desconstruído o meu olhar, não nos identificávamos. Tinha olhos grandes, eram verdes, mas quase não se via, havia muita água.       
            Perguntei seu nome, disse que não importava, não queria semantizar nosso contato. Perguntei se queria conversar, achava inútil. Eu queria respostas, queria entende-lo e encontrar seu lugar no mundo, eu saberia qual era o lugar em que nunca estive.
            Ele não me disse nada, teria que pesquisar. O Google me deu algumas imagens semelhantes, sempre faltava alguma coisa, faltava a corcunda, faltavam os dedos nervosos e faltava a necessidade de vida. Os livros descreviam seres mitológicos que até lembravam, mas nunca teriam o encanto de tornar-se real em meu mundo.
            Desisti de saber como ele era e conclui o que ele se tornou no lugar em que vivia em mim.

  
Instruções para amar
 

            Encontre a pessoa certa, aquela que você acha que é certa e todo mundo vai achar que é errada, mas o que importa é a sua opinião.
            Tenha momentos felizes, leve a pessoa certa a todos os seus lugares favoritos, quando a pessoa certa terminar com você, seus lugares favoritos vão ser os lugares mais tristes sem a pessoa certa.
            Conte tudo para a pessoa certa, ouça tudo que ela tem a dizer. Quando estiver sem ela escreva todas as histórias que não deram certo, ouça a música que mais poderia ter dado certo como trilha sonora do seu romance que deu errado e morra de amor, só para perceber que a pessoa certa sempre foi errada.


 Lista de seres 

Incríveis (concordam comigo)
Insuportáveis (não concordam comigo)
Outras (nunca falei com elas)
Eu (insuportável).

 

Exercícios elaborados na Minioficina de Criação Literária, ministrada por Monica Berger, na Semana Curitiba Lê. 

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

MISE-EN-SCÈNE


            O mundo me incomoda, mas não é o mundo, eu me incomodo, mas não sou eu. Estou cheia, não sei se é felicidade ou sofrimento. São dois sintomas invisíveis, indizíveis, analiso e me decomponho. Olho antes de me reconhecer, percebo uma semantização, tudo implica um denominar, que implica em um definir, que não me revela na própria essência. Não sou palavra, sou o que me olha, o que me afeta, entre o mundo vivido e o mundo imaginado, sou realidade. O mise-en-discours transforma o dito, discursa e cria minhas ações no mundo. Exponho-me independente da finalidade, amplio os significados, quando não digo, não faço, quando faço digo certo ou errado. Passa, estou em fluxo, apreendo o mundo pelo sentir, pela cidade, no ônibus ou em alguma fila de consumo, estou na presença de tantos, a atenção é distraída, a consciência está no prazer vinculante do que não me pertence, o desejo é a falta. Como me falta aquele dia todos os dias, como me falta morrer de felicidade, ter certeza que não é sofrimento pela falta do sentir do sentir, sentir em ato, perceber e ser presença. O mundo não é o que me revela pela janela da casa, pela janela do meu vazio, não há realidade, é um deixar-se levar, causa e efeito, fórmulas do sensível socializar e de socializar o sensível, estetização da vida. O mundo é vinculante, presentificação, a maneira que nos tornamos presentes em nós, nos tornamos próximos, um mundo bonito, distração de quem sente, sensação de vida, performática, dinâmica, relacional e estética.