Não! Não era assim que havia pensado
sua vida, talvez nunca tivesse pensado a sua vida e isso deixava confuso, será
que teria chego onde pensou? Nunca saberia, não tinha planejado, deixava a vida
levar, deixava os sentimentos levar para aquele momento. Bagunça! Como chegou a
quebrar todos os copos? Agora a cozinha estava perigosa, cacos por toda a
cerâmica e não podia se acalmar, não podia servir água com açúcar. Como dizia a
música, todo copo vazio é cheio de ar, acho que é mais ou menos isso ou
exatamente isso, algo assim com ritmo de poesia. Tanto fazia, não tinha mais
copos, perdeu o ar. Sufocou!
Planejou o suicídio,
havia planejado todas as vezes que havia acabado. Se acabava! Os amigos não
tinham contato, achavam que tinha morrido mesmo, procuravam o seu nome nas
notícias sangrentas, tinha sangue na toalha de banho. Desastre com a lâmina de
barbear. Não gostava de fazer a barba. Sempre cortava o rosto quando chegava no
bigode, pena que não tinha nenhuma veia por ali, pelo menos não sabia se tinha,
sempre péssimo em se localizar.
Onde estava a autoestima? No mar, no
mar sentia alguma alegria, mesmo imaginando-se com pedras nos bolsos caminhando
para o fundo, as ondas empurravam para a areia e podia tomar uma água de coco,
pensando que a vida seria boa, se soubesse nadar. Nada! Dizia o pai ao lado
para o filho que aprendia a respirar na água, nada, menino. Nada! Dizia para si
mesmo, nada, foi o que restou, menos que um copo vazio. Sufocou!