"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

domingo, 17 de agosto de 2014

Copos e Corpos

 
            Não! Não era assim que havia pensado sua vida, talvez nunca tivesse pensado a sua vida e isso deixava confuso, será que teria chego onde pensou? Nunca saberia, não tinha planejado, deixava a vida levar, deixava os sentimentos levar para aquele momento. Bagunça! Como chegou a quebrar todos os copos? Agora a cozinha estava perigosa, cacos por toda a cerâmica e não podia se acalmar, não podia servir água com açúcar. Como dizia a música, todo copo vazio é cheio de ar, acho que é mais ou menos isso ou exatamente isso, algo assim com ritmo de poesia. Tanto fazia, não tinha mais copos, perdeu o ar. Sufocou!

            Planejou o suicídio, havia planejado todas as vezes que havia acabado. Se acabava! Os amigos não tinham contato, achavam que tinha morrido mesmo, procuravam o seu nome nas notícias sangrentas, tinha sangue na toalha de banho. Desastre com a lâmina de barbear. Não gostava de fazer a barba. Sempre cortava o rosto quando chegava no bigode, pena que não tinha nenhuma veia por ali, pelo menos não sabia se tinha, sempre péssimo em se localizar.
 
            Onde estava a autoestima? No mar, no mar sentia alguma alegria, mesmo imaginando-se com pedras nos bolsos caminhando para o fundo, as ondas empurravam para a areia e podia tomar uma água de coco, pensando que a vida seria boa, se soubesse nadar. Nada! Dizia o pai ao lado para o filho que aprendia a respirar na água, nada, menino. Nada! Dizia para si mesmo, nada, foi o que restou, menos que um copo vazio. Sufocou!