Ela
era uma lagarta conformada, tinha uma vida divertida e como todas as suas
amigas sonhava com o dia em que iria se tornar uma borboleta, com belas asas
coloridas, absorvendo o néctar das flores.
O
dia chegou e ela ficou fechadinha no casulo, só esperando para que a sua vida
ganhasse um tom mais alegre com suas asas batendo para lá e para cá.
Quando
saiu do casulo não era a borboleta mais bonita, tinha uma beleza exótica, que
ninguém compreendia, suas amigas faziam mais sucesso e logo estavam sendo flertadas.
A
borboleta ficou triste e decidiu esperar pelo seu fim, que com sorte
aconteceria em duas semanas. Passaram-se as duas semanas e ela estava viva e
forte. Algumas das suas amigas haviam falecido e os namorados choravam por suas
amadas. Ela continuava sozinha, sem ninguém para chorar quando deixasse o
paradoxo, chamado mundo.
Então,
encontrou um pássaro atencioso, eles conversaram durante horas e no fim da
noite ela só queria encontrá-lo no outro dia para continuar a conversa. Todos
os dias eles se encontravam e a cada dia ela descobria o quanto ele era
indispensável para o fim do seu tédio.
Ela
já tinha um mês de vida e com sorte viveria mais dois, que seriam vividos ao
lado do pássaro. Ele não apareceu naquela tarde e ela achou estranho, preocupou-se,
e se algum menino malvado o tivesse acertado com uma pedra enorme? Passou o dia
em pânico e ansiosa para que o amanhã chegasse, ele aparecesse e explicasse que
havia tido qualquer imprevisto bobo.
Ele não apareceu no dia seguinte e nem nos próximos.
Aquela
criatura tão miúda, tão frágil, ficou adoecida, permaneceu enrolada durante
dias, não sugava mais o néctar e não via graça em voar. Aliás, pensou em voar e
colidir em algum tronco.
Enfim,
decidiu estender as asas e se distrair em meio à natureza. Saiu sem
direção e reencontrou o pássaro. Ela tinha no máximo mais um mês de vida e já
começou a fantasiar coisas que poderiam fazer durante esse tempo. Eles se
encontraram durante uma semana e novamente o pássaro voou para longe.
A
triste borboleta não se enrolou nas próprias asas. Dessa vez ela já não estava
iludida e sabia que o pássaro voava mais rápido do que ela, que nunca poderiam
seguir o mesmo ritmo e que seu modo de vida não se adaptava ao dela (tudo
porque ele não a amava).
A borboleta permaneceu triste até o seu fim, viveu exatamente três meses, nos últimos
tempos calada e introspectiva em seu próprio mundo devastado por um amor limitado a
cicatrizes.
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