"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

BRUISES


E para esquecer ela foi escrever, mas ela não queria rimar, só queria desabafar sobre qualquer coisa banal que a distraísse, que a deixasse longe daquela rua em que se beijaram pela primeira vez, daquela praça em que brigaram pela segunda vez e daquela página da internet que ela tinha vasculhado pela terceira vez nos últimos vinte e dois minutos, só para saber se ele havia compartilhado algum link inútil em que ela tentaria encontrar uma relação entre o que aconteceu com eles.
Não era um texto para ele, não era sobre ele, era sobre os seus desejos secretos, seus prazeres ocultos, seus sonhos simplórios, seus pensamentos travessos, era egocentrismo em palavras, era sobre ela e sobre o que ela mais queria naquele momento, que ele cuidasse das suas cicatrizes.
Ela se lembrou do dia em que rolou em uma descida e foi parar no hospital toda ensanguentada, mas não ligou, porque tinha mais sangue no seu coração do que no joelho que levava pontos na mesa de operação. Ficou uma cicatriz, seu joelho nunca mais seria o mesmo, teria aquela marca escura, que a faria lembrar-se daquele dia, como se lembraria de todos os seus amores, que deixaram cicatrizes em seu coração.
Muitos garotos haviam marcado a sua vida, muitos amores desfeitos e muita torta de amora para curar a bad. O último doía mais, só porque ainda sangrava, mas logo ficaria só a marca do soco que levou no peito.
Não importa, há sempre um amigo para te levar para o hospital ou para ouvir seu chororô sem sentido.
Ela não queria ficar insistindo em assuntos amorosos que sempre levam a remorsos: como deveria ter sido, como deveria ter feito, como deveria ter esquecido. Desse jeito ia parecer uma menina chorona, deveria manter a sua fama de durona, amores são descartáveis, usamos e jogamos fora, era como ela sempre dizia, mas não se convencia.
Percebeu que não falava de coisas banais e que os sentimentos estavam sempre presentes, aquele texto mais uma vez falou sobre o tal amor, o clichê que todo mundo critica, mas todo mundo vive, compram balões coloridos e buquês gigantes e caminham orgulhosos pelas metrópoles, atrapalhando os cidadãos que andam apressados para logo chegarem em casa e encontrarem seus companheiros, para contar sobre o dia e pegarem no sono abraçados com um leve sorriso de contentamento, de bobo apaixonado.

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