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domingo, 7 de outubro de 2012

SEAMS - O COSTURAR CINEMATOGRÁFICO

 
            O “média-metragem”, Seams, foi o primeiro trabalho cinematográfico do diretor e roteirista Karim Aïnouz, produzido entre o período de 1989 a 1993 e que faria um paralelo com seus filmes posteriores (principalmente, com "Viajo porque preciso, volto porque te amo"). Na época ele estava morando nos EUA e sentiu a necessidade de visitar a família (composta por mulheres) no Brasil, para colher imagens em Super 8 mm, com o receio de que não tivesse mais a chance de vê-las. 
            O que começou com uma coleta de dados, uma espécie de diário intimo motivado por uma relação de afeto, logo tornou-se um projeto audacioso. Karim que se encontrava em um contexto em que a política sexual (AIDS) estava sendo absurdamente debatida em Nova York, decidiu que as imagens das mulheres da sua família poderiam comunicar algo, e a partir das dificuldades, experiências e senso de humor dessas senhoras, criou um filme em que usa elementos típicos do documentário, como a voz over e os depoimentos que relatam três histórias e elementos ficcionais com imagens “roubadas” de contextos diversos.
            É interessante saber que a tradução de Seams em português entende-se como “Costurar”, uma homenagem a sua mãe que ao ser deixada pelo marido tornou-se costureira para ser a mantenedora absoluta do lar.
            A imagem do algodão vista na película, faz referência ao cabelo branco da avó, ao ciclo de algodão no Ceará e ao tear que também chama a atenção para a fofoca que ocorre entre elas durante os depoimentos. A imagem do tear, ainda, aparece de modo mais explicito nas imagens gravadas em uma instalação (de uma amiga de Aïnouz).
         Segundo Karim, Seams funciona como um documento da condição da mulher do século XX, podendo ser visto, claramente, nos depoimentos de mulheres que sofreram, enfrentaram e se adaptaram a um contexto em que ser mulher era especialmente conturbado.
            É relevante saber que as senhoras não viram o filme, por escolha de Aïnouz, que no momento acreditou ser desnecessário que elas tivessem consciência da exposição em que foram inseridas.

  • Texto produzido durante o Workshop com Karim Aïnouz - Ficção Viva II

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