Dizem que somos perdidos, que não sabemos para onde
vamos, mas nós sabemos o caminho da casa dos nossos pais. Dizem que não sabemos
dar valor as coisas, mas valorizamos muito uma internet banda larga. Sabemos
como as coisas eram difíceis naquela época em que a internet era discada e todo
mundo tinha o seu jeitinho para acessar o Orkut, escondido dos pais antes da
meia noite.
Não somos nem um pouco perdidos só
porque não temos a estabilidade de um cargo público, ainda não temos filhos e
não precisamos saber cozinhar. Afinal, ficamos emocionados com uma bandeja de
fast food.
Tem uma geração aí falando da nossa
geração. Ela não tem os turcos da Nouvelle Vague e nem os brasileiros
Tropicalistas do festival de 67. Temos o pessoal do Mumblecore. O encantador
Frances Ha, em que Greta Gerwig, a musa do coletivo, interpreta uma jovem com 27
anos, que faz da vida uma bela música no clima de David Bowie e o melhor,
Frances dança a música. De um lado a leveza dos sonhos e do outro a pressão das
convenções sociais do século passado.
Também, temos Lena Dunham, a
criadora e protagonista de Girls. Hanna sonha em ser escritora, mas diante das
pressões sociais é sufocada pelos padrões, que limitam seu fluxo criativo. Antes
do seriado, com Tiny Furniture, Dunham já havia exposto na tela, Aura, uma jovem
recém-formada em Cinema que sem emprego e sem rumo volta para a casa da mãe. A
personagem entra num conflito entre se adaptar a vida adulta e competir com a
irmã adolescente.
Temos o Matheus Souza, todos
citariam o premiado “Apenas um Fim”, mas prefiro Vendemos Cadeiras, seriado com
Wagner Santisteban, Gregório Duviver e Clarice Falcão. Três jovens em conflito
em meio aos sonhos e as vendas da loja de cadeiras. Eliézer escreveu seu
primeiro livro aos doze anos para conquistar uma garota, dirigiu um filme e vive
dessas lembranças, desejando que elas voltem a fazer parte de algum presente
futuro. Fábio Jr nunca beijou uma mulher que estivesse acordada e é rejeitado
pela família que tem uma loja de sucesso que vende sofás. Diana é uma órfã
adotada por 63 famílias diferentes, devolvida ao orfanato 42 vezes por justa
causa e finalmente adotada por Ferreira, o dono da loja de cadeiras. Elieser e
Fábio Junior apaixonam-se por Diana, ela gosta de meninas e eles decidem ser
amigos.
Somos um pouco instáveis, não nego,
estar dentro de nossas cabeças não é para qualquer um, por isso às vezes ficamos
melancólicos. Também temos tendências artísticas, queremos ter uma banda,
escrever um livro, roteirizar, dirigir, produzir e atuar em um filme, deixar
nossos nomes na calçada da fama da Rua Augusta. Somos a geração criada dentro de
casa que é bombardeada pela tecnologia consumida pelos pais, para que os filhos
não lhe causem preocupações. Então, criamos mundos virtuais, relacionamentos
complicados como distrações e expomos nossas insatisfações nas redes
sociais."
Aos 26 começo a me preocupar com os
próximos anos, não será muito diferente de hoje. Por um lado gosto da ideia. Tem
muitas coisas que não quero mudar, mas tenho aquele medo de estar com a síndrome
de Peter Pan. Deve ser a minha crise da idade, os mais velhos sempre falavam que
estavam na crise da idade, acho que eles não são mais velhos do que eu agora.
Entre tantas dúvidas, lá no fundo
tenho consciência de que estamos certos de nossas incertezas. Depois que
consumimos cultura pop pesada durante toda a adolescência, somos forçados a
entender que a vida não é um filme com fórmula hollywoodiana. É difícil, mas é
bom, não precisamos seguir um roteiro. Precisamos viver o imediato, mesmo que
eu, você e o Matheus Souza não tenhamos a menor ideia do que estamos fazendo com
nossas vidas.
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