"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

sexta-feira, 4 de abril de 2014

AGRADEÇO SUA AUSÊNCIA


             Sozinha! Nenhum ex-namorado para falar dos meus defeitos em uma mesa de bar. Nenhuma mágoa para ser jogada no ventilador. Nenhum dia perdido discutindo a relação.

            Deveria ser, mas... Essa coisa de andar sozinha, estar solitária, tem sempre conceitos distintos. Não estar acompanhada de um status de relacionamento não significa estar isolada e imune às relações. Certamente, já fui assunto em uma mesa de bar de alguém insatisfeito com minhas reações. Mágoas jogadas na cara, disso eu não lembro, alguém aí lembra? Quantos dias perdidos ou ganhados, discutindo um misto de complexidade sentimental. Discussões para nos ouvirmos com o anseio de nos entendermos.

               Uma noite sem destino! Estamos aqui sem dar satisfações para nós mesmos! Essa sensação eu sempre gostei, amei mais do que amei uma noite a dois. É o que eu acho, mas os gostos mudam, a gente troca de banda preferida com os anos.

               Uma noite epifânica! Aquela é a sua noite e você espera o que quiser dela. Ninguém pode esperar algo de você, você quer voar, na imagética mais clichê da subjetividade e foda-se ser clichê, sem sentido, sem rumo, sem destino.

                Agradeço a ausência daqueles que me deixam por aí. Gosto da brincadeira de esconde-esconde. Sempre há uma nova diversão no intervalo para nos encontrarmos. Topo continuar correndo, vem um vento gostoso no rosto e os pés saem do chão. Odeio sentir-me presa nos quadrados da cerâmica, não preciso conhecer a cozinha, não tenho hora para jantar, odeio dizer onde estou e para onde vou. Na sua ausência eu não digo nada.

               Gosto da sensação de estar onde ninguém sabe (minha cabeça ou uma rua). Caminho como se não existissem compromissos, eu vou e volto quando quero, distraída, me transportando para as lembranças, em que conversamos e vemos nossas cores nos olhos, predominando o vermelho e o azul. Sem ensaio a gente tem um ritmo que deixa a gente parecido. E a gente se parece, porque a gente se gosta e a gente gosta da ausência para provar que sabemos nos encontrar, mas hoje não queremos nos ver e tudo bem.

               Gosto de esbarrar em amigos e dizer: a gente se vê! É descompromissado, é livre, a gente se vê, a gente se esbarra, os caminhos se encontram e por acaso a gente tropeça em nossos encontros, improvisando para não cair com a cara no chão.

               Eu vivo sem você, mas nunca vivi sem amor! Vivo amando a sua ausência inacabada, esperando o “oi” depois do “até mais”, mas agradeço por me deixar viver em um mundo em que a saudade do que nunca vivi transforma-se em sonhos. Os sonhos embaixo do meu edredom esperam pelo dia em que seremos ausentes do mundo, para vivermos sozinhos em nossos corpos. Começamos a ouvir uma nova banda.

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