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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

AUTONOMIA DO OLHAR


Pressupõe-se que Horkheimer empregou o termo “Indústria Cultural” pela primeira vez em 1947, no livro Dialektik der Aufklärung, referindo-se ao problema da cultura de massa.
Podemos tratar esse problema como o rompimento da aura, da livre expressão artística e dos produtos adaptados ao consumo de massas, ou seja, a arte não mais para ser apreciada de acordo com a percepção subjetiva, mas uma fabricação em série para iludir a sociedade, com uma “arte artificial”.
A indústria cultural violenta a união da arte superior e inferior. A arte superior é forçada a produzir um efeito pré-estabelecido. Já a arte inferior é domesticada a uma produção civilizada sem os elementos rudes que lhes eram característicos.
Devemos questionar o papel do “apreciador” nesse contexto. O espectador não é mais o dono do olhar, o julgador da obra, mas sim o objeto consumidor da indústria cultural. Não se cria obras para expressar sentimentos e indagar o público, mas sim se visa lucros. Ou seja, a autonomia das obras de arte é assassinada pela indústria.
Essa indústria cultural herdou a transformação da literatura em mercadoria, que ocorreu no romance comercial inglês do fim do século XVII e do início do XVIII, estabelecendo a todas as artes uma tradição de lucros.
A produção cinematográfica passou a se limitar a procedimentos técnicos, uma simples divisão de trabalhos, focada em resultados de produção. Desse modo, a obra deve ser desumanizada enquanto efeito de ação e conteúdo, valorizando as máquinas usadas na produção e introduzindo a propaganda de personalidades e recursos de tom meloso na ilusão estética. Em síntese, a técnica foca-se na distribuição e reprodução mecânica, permanecendo externa ao seu objeto, o observador, que perde a autonomia estética.
Walter Benjamim em seu ensaio “A obra de arte na época da sua reprodução mecanizada” fala sobre a aura e como a mesma foi perdida. Para ele, a indústria cultural não cria uma aura em suas obras, mas sim se serve dela em estado de decomposição.
Durante a formação de consciência de seus consumidores a indústria cultural reprime ou elimina as questões estéticas das obras, que nesse momento já não são obras de arte, pois produzir “com” arte, com técnica, não significa produzir a mesma.
Eis que surge uma idéia de que o mundo quer ser enganado, e baseada nessa idéia passa-se a produzir romances de folhetins, filmes de confecção, espetáculos televisionados, dirigidos as famílias em séries que fecham os olhos e se entretêm com aquilo que é fabricado com o propósito de ser vendido, com uma realidade lúdica no mundo caótico em que a massa está inserida.
Existe uma ordem que deve se fundamentar em si mesma e no confronto com os homens. É justamente essa ordem que a indústria cultural rejeita e a massa aceita essa “desordem” em uma espécie de conformismo que surge para substituir a consciência produzida pela arte.
Essa falta de aura, de consciência, de autonomia produz uma carência de mensagens transmitidas nas produções da indústria. Elas são apresentadas de maneira enganadora. Na tentativa de se aproximar da realidade do observador ela consegue enganá-lo em sua aparência oca. Eis a diferença entre arte e realidade empírica.
A indústria cultural usa da técnica e da cópia da vida real para despertar no público uma sensação confortável. O espectador passa a ver uma realidade harmoniosa, como se o mundo estive em ordem, o que o satisfaz, mas o impede de julgar e decidir conscientemente, pois seu olhar já não tem autonomia. Logo, se não há autonomia, não existe um julgamento estético, já que esse deve ser próprio de cada homem e isso é arte.

REFERÊNCIA
ADORNO, Theodor. Indústria Cultural. In: COHN, Gabriel (org.). Comunicação e Indústria Cultural. São Paulo, Nacional, 1977.

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