Final da tarde, ele não tinha feito nada o dia todo,
para sentir-se mais útil assistiu três episódios de um seriado que todos estavam
comentando. Estava tão entediado e não sabia o que fazer, saiu no quintal,
entrou na garagem e viu a sua bicicleta em um canto sem uso há meses. Decidiu
pegar o carro e ir até a panificadora comprar pão, porque estava com preguiça
de cozinhar naquela noite.
No outro dia pela manhã pensou na bicicleta e decidiu
ir trabalhar com ela. Conversou com conhecidos que encontrou pelos pontos de ônibus
que passou, todos os dias via aqueles velhos colegas alí, mas de dentro do carro
não podia ao menos cumprimentá-los, no máximo uma buzinadinha, que fazia ele se
sentir arrogante do tipo “olha, estou dentro do meu luxuoso carro, enquanto vocês
esperam o ônibus que com sorte irão conseguir embarcar espremidos”. Pegou caminhos diferentes de todos os dias,
sentiu a brisa em seu rosto, passou a manhã pedalando, na hora do almoço parou
em um bar, chamou alguns amigos e passaram o dia conversando.
Final da tarde, seu carro havia estragado e não sabia
como voltar para casa, entrou em desespero. Ligou para alguns amigos, mas eles
não podiam buscá-la, um deles disse para pegar um ônibus. Ela não usava o
transporte coletivo há anos e imaginava que isso seria algo insuportável. Depois
do momentâneo pânico procurou um ponto de ônibus, pediu informações e embarcou
na linha que passava perto da sua casa. Na metade do caminho conseguiu sentar, usou
os fones que costumava usar no trabalho, olhou para a paisagem que a janela
mostrava e quando desceu percebeu que o caminho tinha sido muito mais agradável,
não se preocupou com o trânsito, ela se deixou levar e caminhou pela sua rua,
percebeu que há muito tempo não caminhava por alí, não observava as casas e não
cumprimentava os vizinhos.
(...)
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