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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

ADORÁVEL PECADORA


“Let’s Make Love” (1960) poderia ter ganhado o título brasileiro de “Vamos fazer amor”, porém, previsivelmente, ganhou o nome de “Adorável Pecadora”. Esse título não tem referencia com a obra, mas sim com a imagem da mulher, que durante muito tempo foi vista como motivadora da destruição masculina. Já que o encanto feminino era visto como algo ligado ao mal, ou seja, ao pecado.
O enredo inicia-se com relatos de caráter histórico, da família Clément, que passa pela França, Nova York e Texas. Um dos membros da família aparece como patrocinador da Estátua da Liberdade e da Torre Eiffel. Prosseguindo a paixão por torres panorâmicas, outro Clément, teria construído várias delas no Texas. Em síntese, todos deixaram fortunas para seus descendentes, inclusive para Jean-Marc Clément, um grande empresário de NY.
Jean-Marc além de ter herdado muito dinheiro de seus antepassados, também, herdou o caráter boêmio e casual com as mulheres. Até que encontra Amanda, que não sabendo quem ele é de verdade o trata sem bajulações.
O homem rico que sempre teve tudo o que desejou e o que não desejou, também, passa a ter dificuldades. Quando na tentativa de impedir a apresentação de um musical, que tem como intuito ridicularizá-lo, é confundido com um ator, ganha o papel para interpretar a si mesmo e passa a ser criticado, o que nunca havia acontecido antes, devido aos seus status.
Ele nunca foi engraçado, mas as pessoas riam de suas piadas para satisfazê-lo. Porém, no teatro as pessoas não fingem e ele se frustra. Na tentativa de surpreender a todos e, principalmente, Amanda, ele compra uma piada (que acaba em uma grande confusão), contrata profissionais para ajudá-lo a ser cômico, aprender a cantar e dançar, características indispensáveis para um ator de teatro. Porém, nem tudo pode ser comprado, inclusive talento.
Também, o empresário manobra uma sociedade com a companhia de teatro, para que possa controlar os espetáculos e os papéis que deseja encenar. Mas, nada disso faz com que a personagem, vivida por Marilyn Monroe, apaixone-se por ele. Ela apenas entrega-se a Clément após descobrir sua verdadeira identidade. Onde percebemos que ela se rende a sua fortuna e não ao dono da mesma.
Podemos observar uma obra em que o garoto rico, traça como desafio conquistar a garota ingênua, como uma questão de honra, já que nunca lhe foi negado nada. E a personagem de Monroe que tanto crítica o dinheiro, a arrogância e insensibilidade de Clément faz amor com ele, justamente, quando descobre que Alexander Dumas na realidade é o milionário, mostrando como o dinheiro pode manipular os sentimentos da sociedade.
Em síntese, a obra em questão é composta pela linguagem metateatral que dá ao público a percepção dos bastidores dos musicais da off-broadway. Há a contribuição dos diálogos intertextuais com as artes plásticas (Van Gogh, Renoir e Matisse) e com a literatura (Shakespeare e Alexander Dumas). Além, da exaltação à França e a presença do sistema patriarcal. Na primeira música da obra, interpretada por Monroe ela diz: “Eu simplesmente não posso sair da linha, meu coração pertence ao papai”, introduzindo a idéia de que a mulher deve ser uma boa filha. Já que o papel da mulher em certo momento da história foi desempenhado apenas como o de filha e esposa, consecutivamente.
O filme termina com a frase de Amanda se perguntando se ainda deve tirar o diploma. Condizendo com a época em que a mulher não precisava estudar desde que fosse capaz de garantir a manutenção do lar.

FICHA TÉCNICA


Título original: Let's make Love

Outros Títulos: Vamo-nos amar (Portugal)
Le milliardaire (França, Canadá francês)
Facciamo l'amore (Itália)
Machen wir's in Liebe (Alemanha, Austria)
El multimillonario (Espanha)

Gênero: Comédia / Musical

Elenco: Marilyn Monroe, Yves Montand, Tony Randall, Wilfrid Hyde-White, Frankie Vaughn, Bing Crosby, Milton Berle, Gene Kelly Gênero: Comédia,

Direção: George Cukor

Roteiro: Norman Krasna

Produção: Jerry Wald

Música Original: Lionel Newman

Direção Musical: Lionel Newman

Fotografia: Daniel L. Fapp

Edição: David Bretherton

Direção de Arte: Gene Allen, Lyle R. Wheeler

Figurino: Dorothy Jeakins

Maquiagem: Ben Nye

Efeitos Sonoros: W.D. Flick, Warren B. Delaplain

Pais: Estados Unidos

Ano: 1960

Duração: 119 min

2 comentários:

  1. Ótima crítica Aline. Gosto disso, de apontar a essência que o filme possui. Algo que você faz muito bem D:

    Ainda não assisti, mas lendo agora,me lembrei bastante de "Os homens preferem as loiras". Comédia da Marilyn que também tem no contexto o valor da mulher e suas funções perante a sociedade.

    Abs :)

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  2. Muito obrigada. Fico feliz de estar atingindo meu objetivo, encontrando os subtextos das obras, como vc disse a essência.
    Os homens preferem as loiras é um ótimo filme tbm, ele nos dá mtos recursos de análises. Alias todos os filmes com a Marilyn eu considero belas obras de arte, sou suspeita.
    =*

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