História de bêbado é chata ou
engraçada. Bêbado não tem meio termo, ele dorme no botequim ou quebra tudo de
uma vez, tem aquele que quebra e dorme. A vida de um bêbado é empolgante,
porque é uma rotina impulsiva, todo mundo faz de conta que não quer ser
impulsivo, mas todo mundo fica bêbado.
Bebi uma garrafa. Já dá para ser
impulsiva? Eu nunca sei a hora certa e às vezes começo a ouvir minha vontade no
primeiro copo. Lá vem a repressão: você não está tão bêbada para fazer isso. Eu
não preciso estar sempre bêbada para quebrar coisas ou dormir na mesa do bar.
Sempre tem alguém que manda você
parar de beber e também tem alguém que manda você desligar o celular. O celular
é uma bomba na mão de um bêbado. Ele liga chorando, brigando, implorando,
cobrando a divida do irmão e a atenção do ex. Você tem que parar de beber ou
desligar o celular.
É quando surge o discurso de bêbado
rejeitado. É quando ele se lembra do primeiro beijo e até da mãe o mandando
comer brócolis. O brócolis o faz correr para o bidê. E o primeiro beijo também.
O fígado sente as dores do coração e do arrependimento do dia seguinte.
Estou na quinta garrafa. Já posso
dizer que peguei o seu melhor amigo quando você chegou atrasado à festa da Julia?
Eu já estava bêbada, eu só bebi bastante porque você se atrasou, mas não foi
sua culpa, você sempre esteve atrasado, lembra quando te amei adiantado?
Já bebemos bastante, amanhã podemos
dizer que não nos lembramos de nada por causa da cachaça. Vamos de saideira?
(O traído começa
a quebrar garrafas)
Alguém lembra de
um poema:
no dia
seguinte ao big bang
uma
dor de cabeça titânica
tomou
conta dos astros que
então
perceberam que era
preciso
inventar algo para
prosseguir
nessa luta: foi aí
que
surgiram os primeiros
analgésicos
que obviamente
não
deram conta da ressaca
universal
como tampouco
deram
certo as bolsas de água
quente
o omelete o banho frio
a
glicose na veia e todos tiveram
que
admitir que a única saída
era
mesmo continuar bebendo
(Gregorio
Duviviver)
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