Uma vez li a história de uma menina
que não queria ter coração. Ela tomava muita limonada sem açúcar e dizia que
era para azedar o amor. Gostava de bebidas fortes, o álcool era um pretexto
para ser lúdica.
Já não tinha um coração bom. Havia
sido mastigado, triturado. Era um bagaço.
Quando alguém estava apaixonado ela
era dura, dizia que era bobagem e falava em assassinato. Deixaram de ter
paciência, ninguém mais queria experimentar o gosto amargo de suas conversas.
Aos poucos suas festas ficaram vazias e seu corpo imergiu.
Não tinha quem amar e seu coração
ficou naquele morre não morre. Fazia de conta que estava bem, mas as olheiras
entregavam a sua escuridão.
Na fila do supermercado alguém
inicia uma conversa, daquelas inúteis de como o caixa é lento e está muito
calor, mas o frio também é ruim. Vestindo pijama e comprando vodca essa pessoa
começa um desabafo. Amava sempre os desalmados, gente que trocou o coração por
entretenimento. Era difícil. Mesmo assim continuava amando, mesmo com a
pulsação cansada queria que o coração continuasse a bater. Estava viva e amava
isso.
A menina ouviu atenta e agora sentia
um vento fresco, no buraco do coração, saiu da fila, deixou os limões e o pote
de pepino azedo e foi procurar a prateleira com chocolates.
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