"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

segunda-feira, 4 de abril de 2011

CINEMA: HISTÓRIA E INDÚSTRIA



 O cinema teve inicio na França, com a invenção dos irmãos Lumière, o cinematógrafo, em 1895, sendo mais tarde aperfeiçoado pelo ilusionista Méliès, que morreu, miseravelmente, pobre.
Inicialmente, as salas de cinema eram habitadas pela classe desfavorecida, incluindo muitos imigrantes. Porém, para que se obtivesse lucro era necessário chamar a classe alta para frente dos telões. O recurso utilizado para atrair esse público foi adaptar peças de teatro e obras literárias para o cinema, paraísos culturais exaltados pelos ricos.
No fim do século XIX formou-se um modelo de cinema inspirado no romance realista. A forma desse cinema incluía verossimilhança com a vida real, inicio, meio e fim constituíam a estrutura da obra cinematográfica, protagonistas e o detalhamento dos romances realistas se assemelhavam ao roteiro que se transformou em um livro de seqüência de cenas. Ou seja, as maneiras de narrar a literatura foram apropriadas para as telas.
O advento do longa-metragem ocorreu entre 1914 e 1915. Foi nesse período que os grandes estúdios surgiram, a linha de montagem, transformação das salas de cinema e arte em alto nível.
Os Estados Unidos cresce com a Primeira Guerra Mundial e o cinema Norte-Americano acompanha esse crescimento. Nesse período inicia-se a relação que existe até os dias atuais de arte e indústria, padrão e inovação, vinculada aos brancos, bolsa de valores e produtores executivos (que devem evitar prejuízos e fiscalizar metas na indústria cinematográfica).
Com a Era dos Estúdios (1928-1948), nos EUA, a inocência do cinema foi corrompida. Pois, os estúdios dominavam desde a produção até a exibição dos filmes, sempre pensando nos lucros. A influência dos filmes Norte-Americanos era tanta que na década de 30 as secretárias francesas fizeram uma greve, reivindicando as mesmas condições de trabalho das profissionais dos filmes americanos. Podemos classificar isso como uma colonização mental americana.
Em 1928 surge um prêmio para o cinema, conhecido como Oscar. A premiação acontece como uma jogada comercial, com regras que privilegiam o mercado Norte-Americano, que fazem com arte, porém não produzem obras primas. Já que a indústria ao contrário da arte dá a resposta ao invés de perguntar ao espectador, tornando-se pragmático. Os filmes de Hollywood são muito bons tecnicamente, eles fazem, mas não pensam.
A academia surgiu com o objetivo de ser um sindicato, mas como ele mesmo era o patrão não funcionou e para não ir a falência deixou de ser sindicato e dedicar-se somente ao prêmio.
Assim como o Oscar pertence à Hollywood o Naturalismo é a narrativa clássica Hollywoodiana. Os filmes são narrados a partir da seguinte forma: personagens bem delineados; identificação do espectador com o herói; roteiros, inicialmente, estáveis, seguido da quebra de estabilidade, luta, eliminação do problema, retorno da estabilidade, linearidade, sem ambigüidade, final feliz ou conclusivo e satisfatório, o texto ilustra a imagem, circularidade da narrativa, romance heterossexual e um pano de fundo que pode ser uma guerra, um país distante ou um ambiente de trabalho. Deste modo, a história fica tão previsível que se assistirmos o inicio e o fim da obra é possível saber o que ocorreu no meio da diegese.
Nesse contexto o espectador não questiona o que vê por vários fatores, como por exemplo, clareza, câmera estável, constituição de época perfeita, preocupação com a continuidade e os atores agem como “macacos de imitação”.
Fazendo uma linha de evolução no cinema Norte-Americano, podemos iniciar com o filme “A Felicidade não se Compra” (1946). Esse filme ilustra muito bem as regras ditadas pelo Código Hays Code, onde as obras deviam mostrar o otimismo, não podiam causar ofensas e quase sempre demonstrar que a felicidade podia ser alcançada por meio do dinheiro.
Em controvérsia com o Código o “Cidadão Keane” rompe a linearidade, a presença do dinheiro como o caminho para a felicidade, mostrando um pessimismo ao American Way of Life, estilo de vida exaltado nas outras obras. O Cidadão Keane tem um vínculo com o Expressionismo Alemão, usando o tema (pessimismo) e a estética. O filme também pertence à platéia, já que apenas o espectador fica sabendo quem é Rosebud.
Esse filme tem elementos que antecedem o Cinema Noir, que tinha características do Expressionismo Alemão, abstração, deformação, estilização e simbolismo, ao contrário da indústria que deve, obrigatoriamente, valorizar a objetividade, realismo e neutralismo.
O termo Cinema Noir foi denominado pelos franceses, que foram impedidos, pelo nazismo, de receber filmes americanos e quando, finalmente, conheceram as obras deram o nome Noir pelo fato de que as histórias lembravam muito as obras literárias de capas pretas que fazia muito sucesso na França.
O movimento Noir tem duas fases, que podemos ilustrar com os filmes Falcão Maltês (1941) – 1ª fase – Quando Fala o Coração (1945) e Crepúsculo dos Deuses (1949) – 2ª fase.
Em 1948 os estúdios perdem a estabilidade, devido ao Decreto Paramount, que proibia a participação dos mesmos na exibição dos filmes. Aproveitando a corda bamba que os estúdios percorriam os filmes independentes ganharam força. Com a Novelle Vague de 58 o diretor passa a ter sua vida refletida nas obras e não mais os estúdios produtores. Também, quem fazia cinema deixou de ser operário para tornar-se estudioso, pois surge a Universidade de Cinema.
Com a Novelle Vague o cinema passa a se referenciar, pensa-se cinema dentro da própria obra, já que ele é o tema e não mais a vida como anteriormente.
Na década de 50, para combater o surgimento da televisão, aparece o Cinema 3D nos telões.
Finalmente, em 1962, ocorre a libertação da censura, que vinha perdendo o poder de ditar suas regras. Podemos verificar isso em Psicose (1960), onde Hitchcock mostra insinuações de sexo e um banheiro que eram proibidos de aparecer pela censura, entre outros elementos que protestavam contra a ditadura da indústria cinematográfica.
Na década de 70 surgem os filmes- evento. Com o lançamento de Star Wars iniciou-se uma grande comercialização de produtos, levando a população a um verdadeiro bombardeio de mercadorias dos filmes, perdurando até os dias atuais.
O cinema que vemos nas salas de exibições da atualização são um reflexo da forma clássica hollywoodiana, para entreter o público sem correr riscos de rejeição da massa, para que assim os estúdios possam lucrar, fazendo que seus atores funcionem como mais um dos produtos lançados pela marca. Assim, os filmes feitos com arte sufocam os que são a arte e que não se tornam conhecidos pela maioria, que se contenta em assistir o “mesmo” filme toda vez que senta em frente a uma tela de cinema.

2 comentários:

  1. Ual Aline, excelente texto. Muito bacana abordar o início do cinema e suas transformações. Eu, sinceramente, nunca parei pra pensar as grandes mudanças que hou desde o início até agora... Muito bom mesmo, parabéns :D

    abs.

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir