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quinta-feira, 3 de março de 2011

UM LUGAR QUALQUER


“Um Lugar Qualquer” é o novo filme de Sofia Coppola, que trata do vazio existencial e do tédio causado pela futilidade, como reflexo do esquecimento das coisas simples da vida.
Percebemos que Johnny Marco, protagonista, esquece de sua tristeza quando encontra a simplicidade, coisas que ele poderia conquistar com pouco dinheiro e sem ser um ator de Hollywood, como por exemplo, jogar Nintendo wii. Já quando está cercado do glamour passa a desempenhar o papel de uma pessoa calada, desmotivada, nitidamente, insatisfeita.
A maioria das críticas diz que a filha de Marco é a criatura que surge para salvá-lo. Porém, ela desempenha o mesmo papel que o vídeo game, já que depois ela vai embora e ele continua com o ar melancólico. Funcionando, talvez, como uma metáfora ao estado de espírito de toda a sociedade. Pois, temos momentos que parecemos satisfeitos e em outros percebemos que estamos frustrados.
Os poucos diálogos ajudam a percepção do espectador se construir com maior intensidade em detalhes, já que ficamos atentos a todos os sinais, tentando entender a representação de cada movimento de câmera, de cada expressão do personagem, etc.
O personagem participa de festas, tem relações com todas as mulheres que deseja e é atendido ao estalo de dedos. Mas não se dá conta de que conseguir tudo sem o menor esforço torna entediante todas suas atividades. Motivo de tantas pessoas ricas cultivarem a depressão.
A câmera focada em uma imagem se movendo, lentamente, dá tempo para que o público possa refletir sobre a obra e a rotina existencial. Além de mostrar como o interior do personagem se move, lentamente, sem ansiar a busca pela felicidade.
O enredo não tem um final surpreendente ou um feliz para sempre. Marco termina, justamente como iniciou. O espectador sabe desde o inicio que  o desfecho vai ser desse modo, já que o personagem não busca uma cura para o que sente, apenas sente. Por esse motivo trabalha-se com a Ferrari andando em círculos no início da obra e no fim, estando no mesmo lugar de antes, como se o personagem sempre voltasse ao mesmo ponto.
Ainda, Coppola usa muitos elementos para enriquecer uma obra que, inicialmente, não tem um enredo impressionante, mas que junto a todos os recursos torna-se elegante, encantador e reflexivo. Temos as strippers que dançam pole dance ao som de rock’n’roll, com a câmera funcionando como os olhos do protagonista. A apresentação de patinação no gelo, que é dada de presente ao público, ao som de Gwen Stefani, encanta nossos olhos. Sofia, também, recorre ao popular, com o intertexto, incluindo na fala da adolescente, interpretada por Elle Fanning, a narração da história de Crepúsculo, para seu pai, sem citar o nome do livro, mas que logo identificamos e por algum motivo torna-se cômico. Além da premiação em que Marco participa e você é tão surpreendido quanto ele.
Assim, se dá mais um belíssimo filme em que Sofia Coppola, consegue usar o mal do século para construir uma grande obra de arte. Porém, é importante advertir que algumas pessoas podem achar o filme chato e maçante, encontrando o tédio antes que a obra alcance seu fim.

FICHA TÉCNICA


Gênero: Comédia Dramática

País / Ano: EUA / 2010

Duração: 97 minutos

Direção: Sofia Coppola

Elenco: Stephen Dorff, Elle Fanning, Michelle Monaghan, Laura Ramsey

Censura: 14 anos

Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza.

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