"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

domingo, 1 de setembro de 2013

NA FILA PARA ENTRAR NA DANÇA

 
            23h20min, queríamos chegar antes das 23 horas, agora a fila está grande e perdemos o double drink. Passamos no shopping para comer alguma coisa, não é bom beber de estômago vazio. Na praça de alimentação chamamos a atenção, estava frio e não estávamos muito agasalhados, na pista de dança a coisa esquenta. Nas últimas noites não me libertei na pista, digo, não peguei ninguém. Estava muito presa em alguém, presa no sentido presidiário mesmo, aquela coisa ruim de estar aprisionada sozinha. Acho que os meus amigos desistiram de me desencalhar, eu nunca quero ninguém que eles apontam, já me veem como a amiga solitária, que aconselha e não ouve nenhum conselho afetivo, está muito focada em desastres amorosos, é o que sempre pensam.
            Essa fila está devagar, a guria que checa as identidades tem um cabelo estranho, mas é bonito, ela deve achar o meu sem graça, ter o cabelo castanho natural parece infantil. Tenho um vestido igual ao da menina que tem uma bolsa legal, ainda bem que não gosto muito do vestido. Minha saia é curta, o menino que passou olhou para as minhas pernas, a meia-calça é fio 40, pode estar vulgar.
            Estamos na pista, está tocando Florence + the Machine, todos dançam, devem me achar estabanada. Se eu tiver azar alguém vai derrubar cerveja em mim, vou ficar bêbada, com sorte não terei dor de cabeça. Não vou ficar com o cara de jaqueta de couro (será que é couro ecológico?), talvez ele não lave as mãos ao sair do banheiro. Não vou ficar com o cara que perguntou meu nome, ele disse que gostava de cinema e achou que Godard era marca de cigarro francês. Vou fugir do menino que buzinou quando chegou de carro, ele pode ser o filho da puta que ultrapassou o sinal vermelho semana passada e matou a velhinha que estava indo comprar remédio para o marido resfriado na cama.
            Lembrei-me de tudo sobre você que recebeu uma mensagem minha essa noite.            
            Acordei de ressaca cantando: “You are the moon that breaks the night for which I have to howl” (8)

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