"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

sábado, 28 de dezembro de 2013

Eu termino, VOCÊ TERMINA, nós terminamos



            Quando terminamos, prefiro dizer no plural, como se tivéssemos decidido juntos, mas a verdade é que ele terminou comigo e eu tive que aceitar terminar com ele, mesmo tendo sido um pouco difícil, na verdade não foi um pouco difícil, foi muito, foi bem, foi extremamente difícil e todos os advérbios que você queira incluir para enfatizar todas as dores que senti, não aquela coisa metafórica das canções que ouvimos quando estamos sentados no ônibus a caminho do trabalho, a dor foi física mesmo, adquiri algumas doenças depois que parei de comer, de sair, de conversar, de sorrir, de andar pelo parque de mãos dadas, de comprar presentes fora de datas especiais, de ver passarinho verde e achar que a vida era boa, mas ela nunca é boa, só que as vezes a gente se ilude.

            Como você deve prever ele tinha outra. Todo mundo sempre tem outro, me sentia deslocada por não ter ninguém no banco de reserva, mas me sentia com um resto de dignidade por não manter ninguém esperando, enquanto eu marcava alguns gols por aí. Tivemos algumas recaídas enquanto ele já estava com a outra e eu ficava mal, mas continuava recaindo só para ele trair aquela vaca loira, sim, ela era loira, era como se ele se esforçasse para deixar nossa história o mais clichê possível, só porque eu dizia que odiava os clichês e ele adorava me contrariar.

            No inicio, que durou um ano e sete meses eu rondava a sua casa e quando ele não estava lá eu rondava o seu trabalho, ele não costumava ir a outros lugares o que facilitava a minha ronda. Odiava quando ele estava em casa, quase sempre ela também estava, parecia a noiva do Chucky e o meu medo era que eles se casassem, mas aí eu pensava no tédio do casamento e que ele iria pedir a separação e olhar para o banco de reserva, eu estava lá segurando uma bandeirinha para chamar a atenção.

            Também pensei em mata-la, pensei naquele crime perfeito dos Engenheiros do Hawaii em que não existem suspeitos. Só não matei porque eles estavam sempre juntos e não queria que ele me visse matando alguém, com certeza eu não iria estar bonita enfiando uma faca no peito da vadia, como eu queria ver o peito dela sangrar mais do que o meu.

            Teve um dia que tentei me matar, eu queria morrer todos os dias desde que terminamos, ele terminou comigo, mas eu queria ter decidido isso com ele, iria doer menos, enfim, nesse dia eu quis morrer com mais vontade, me joguei na frente de um carro, uma morte cinematográfica daquelas em que o dublê rola no capô e cai no asfalto com cara de nada. Eu não morri, o carro freou antes e o motorista me xingou pra caralho, pior é que tinha bastante gente na rua, que vergonha, nem morrer eu conseguia e o pior, alguém gravou o quase acidente e mandou para um quadro do jornal local, com o irônico nome “Na Hora Certa”. Eles fizeram um alerta para os cuidados que devemos tomar ao atravessar a rua na faixa de pedestre.  

            Acho que a pior das coisas que me fez perder toda a dignidade foi compartilhar no Facebook cartas de amor sem destinatário, mas que todo mundo sabia para quem era. Fazia isso todos os dias, tinha aqueles que diziam que eu escrevia bem, esses deviam ter levado um pé na bunda também, e tinha aqueles que diziam, “esqueça esse cara”, esses deviam estar felizes, eu também achava besteira quando alguém estava chorando por alguém, enquanto eu estava no quarto do meu namorado fazendo coisas que os namorados fazem no quarto, assistir aos filmes da Nouvelle Vague.

            Há alguns dias me sinto melhor, é minha segunda consulta e acho que os remédios me acalmaram, estou menos ansiosa, consigo ficar até dez minutos sem stalkear o perfil dele na internet. Estou pensando em escrever um livro sobre isso, quem sabe ainda consigo tirar alguma coisa boa dessa história. Na verdade, vim aqui porque meus amigos não queriam mais me ouvir, me sugeriram um psicólogo e pelo menos com você eu consigo conversar sem intervenções.

 (...) 

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

RECEITA DO DIA: tire o caroço do abacate, amasse em um prato, coloque açucar e se preferir pode picar uma banana


 

            Levar numa boa é o mesmo que deixar pra lá e eu não era dessas. Eu tentei ir e depois tentei ficar, mas tive que ir mesmo sem querer. Foi como deixar pra lá sem estar numa boa.

            Eu fiquei sem respirar e achei que estava com asma, fiquei sem comer e achei que estava com anorexia ou bulimia, não sei a diferença, achei que estava com diabetes e achei que estava com AIDS, depois descobri que estava sofrendo de amor, achei patético.

            Eu não sabia curar a doença, queria te ligar sempre que olhava para o celular (e isso era a todo momento), queria ir para a sua casa sem precisar voltar para a minha, apesar da minha ser mais bonita e ter as minhas coisas que não cabiam no seu quarto, que parece um abacate, eu colocava mais açúcar para melhorar, até que passava do ponto.

            Você implicava com a porta do banheiro que eu deixava aberta, eu notava toda vez que você a fechava quando eu saia de lá, mesmo quando eu estava na sala só enrolada na toalha, você precisava fechar a tal porta com o trinco quebrado. Eu até pensava em ir embora, mas não conseguia descascar o abacaxi e ficava lá mesmo, acessando o instagram, enquanto você fazia umas coisas estranhas dizendo que era yoga, não era sensual, mas eu continuava amassando o seu lençol de algodão.

            Quando eu perguntava se já ia deitar, você ficava indeciso e perguntava se eu queria uma banana, eu dormia.

            Quando acordei, levei numa boa, você não era o caroço da minha azeitona, mesmo eu me sentindo o caroço do seu abacate. 
 

domingo, 1 de dezembro de 2013

A ESPERA DA LIGAÇÃO QUE NÃO ACONTECEU NO DIA SEGUINTE E NEM NOS ÚLTIMOS MESES


            Não precisa estagnar aqui no ‘somos nós’, só não diga para eu não sofrer, digo, para não amar, não me impeça de ser imprudente, sentir as borboletas no estômago ao encontrar o serzinho querido e chorar ao chegar sozinha em casa. Quantos sentimentos já sofridos, quantos amores pareciam ser os últimos e quantas cartas suicidas foram feitas. Tantas mensagens desesperadas foram enviadas, tantas desilusões afogadas no bar. E se o poeta é o fingidor da dor até poesia foi feita.

 
No tum-tum do coração
A cabeça ficou tam-tam
Podia pegar um avião da companhia aérea com desconto
A nuvem de algodão-doce
O dia azul que fica blue
Por um triz sem pingos nos is
O fim mais longo que o começo daquele filme feliz
Cantamos o ô-ô do chororô
Um show lindo de ver
Um amor sofrido de viver.
           

            Foi tão ruim sentir o coração tremendo na batedeira, mas tão bom comer o bolo quentinho na sua mesa com a toalha que tem margaridas na barra. Barra foi o que passei depois daquele dia, barra é não lembrar da sua voz quando acordo, deixar o despertador fazer barulho para não ouvir as últimas palavras de adeus que fazem tic-tac constante aqui dentro.   

            O Natal está chegando, não iremos beber aquele vinho que eu guardei desde aquele ano que você sugeriu a hipótese (mas vinho melhora com o tempo, então, não tem problema). Na noite de ano novo vou continuar desejando a sua volta, enquanto pessoas se abraçam ao som dos fogos de artifícios. No aniversário não vou comemorar, você não iria responder o meu convite, envelhecer sozinha perdeu a graça depois daquele ano em que recebi o seu feliz aniversário.

            Os anos passam e vamos relembrar dos começos que acabaram. Talvez esse seja o último texto que faço sobre você, que talvez fale para você, talvez seja o penúltimo, ou o último antes dos próximos duzentos e quatorze.

(...)

            Ah, tem uma coisa importante, já estou ficando longe do seu caminho, mesmo caminhando devagar, parando para olhar os carros parecidos no trânsito, já não consigo ver a esquina da sua casa. Se demorar vai ter que correr, mas CORRE! CORRE! Que eu volto atropelando a saudade. 

terça-feira, 26 de novembro de 2013

ISSO NÃO É UMA MANCHETE DE JORNAL

 
            “Dona Sônia Pediu uma Arma para seu Vizinho Alcides” não é uma manchete, mas poderia ser, não é a toa que vários roteiros se inspiram em noticias que passam rapidamente ao olhar do leitor que consome sangue nas páginas de jornais, considerando esses eventos distantes de suas vidas, como vemos na cena em que o estranho da classe média entra na cozinha de dona Sonia. Em uma sociedade prisioneira do medo, um jovem assassinado durante a noite não é motivo para reflexão, é motivo para a afirmação do “óbvio”: não é certo sair à noite, se estava fora de casa é porque fazia coisa errada. Gabriel Martins usa o movimento da câmera para se relacionar com o mundo, há um afastamento da câmera em relação à dona Sônia quando a história é contada, e uma aproximação ao rosto cansado e sofrido da personagem, momento este em que reconhecemos a história criada pelo cineasta.
            Uma mãe com sede de vingança é a escolha do cineasta para a sua representação do caos natural do mundo enquadrado na cozinha da dona Sônia, bagunçada por louças quebradas pelo chão e plantas pelas paredes, que certamente crescem com o desejo de vingança da protagonista. A reação de dona Sônia quebra a rotina do sofrer calado.  Daí em diante o que poderia ter sido uma nota despercebida de qualquer noticiário policial, torna-se arte pelo olhar da câmera de Gabriel Martins.
            Já sabemos que as imagens em movimento proporcionam ao cinema a oportunidade de contar as mesmas histórias de maneiras diferentes. Karim Aïnouz produziu dois filmes partindo da mesma notícia de jornal: o curta-metragem, Rifa-me e o longa mais conhecido, O Céu de Suely. A história de uma mãe que procura superar a perda de um filho assassinado, provavelmente, já foi contada muitas vezes, mas a dona Sônia habita uma tela, cujos enquadramentos lhe dão peculiaridades tão intimas fazendo com que apertemos o gatilho da arma junto com a mãe sem filho.
            A personagem dialoga conosco por meio de imagens, ela lava a louça suja, mas a água não consegue levar o sangue da tragédia, ela vê vídeos caseiros do filho e nos coloca no tempo anterior ao conflito responsável pelo desfecho. O discurso linguístico se torna desnecessário até o momento de libertação de dona Sônia em que cumpre seu destino escrito pela câmera. Livre do sentimento de vingança ela já não deve satisfações a nós, agora ela vai acertar as contas com Deus, cantando uma canção religiosa. Trata-se de um filme que não abafa os sussurros com gritos, ele não espetaculariza e sim expressa a dor.
             A mesa vazia com um vaso de flores já no inicio do filme dando a ideia de um altar pronto para receber o morto é cenário para que dona Sônia finalize seu plano de justiça, feito isso estamos prontos para deixar a história, com as saudades de cada plano que se foi...

domingo, 24 de novembro de 2013

RECOMENDA-SE NÃO CONGELAR ALIMENTOS DESCONGELADOS


 
            Eu não queria casar, a sua indireta me arrepiou, depois não sei se gostei ou me acostumei com a ideia. Quando, só por curiosidade, procurava vestidos brancos no Google você disse que queria casar com outra pessoa. Eu quis morrer, quis matar, não fiz nada. Deixei o chocolate ao lado do computador e comecei a compor músicas sobre você, que eu fingia ser música de vanguarda, usei e inventei metáforas para sempre falar do pé na bunda.

            Quando desisti dessa história de compositora você voltou, pediu desculpas e eu nem deixei você terminar, já estava chegando na sua casa. Você pegou seu coração na geladeira. Naquela noite quebramos o gelo e pela manhã você disse que era melhor colocar de novo no freezer, que ia acabar estragando por aí.

            Mais uma vez eu me meti na mesma situação, dessa vez resolvi pintar algumas telas abstratas. Não tinha mais parede para os quadros, procurei os muros e sempre era vista pelas calçadas, viam que estava perdida e me davam informações, eu sabia qual era o caminho certo que não podia voltar.  

            Quando voltei para casa e liguei a TV, você me ligou, eu tinha tirado você de mim e me sentia vazia, aceitei o convite para comer uma lasanha, cheguei na sua casa e só tinha coca-cola, tomamos em uma taça, seus amigos chegaram e você me escondeu na geladeira, fiz amizade com o pote de sorvete, ele é bonito e enquanto não acaba deixa a gente feliz. 

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

O MEIO

 

            Eu gostei de você e se você voltasse eu ainda iria gostar, mas no meio disso tudo eu não gosto nem um pouco. Essa coisa de remendar o coração triturado é mais difícil do que andar de bicicleta, eu nunca consegui andar de bicicleta, vai ser difícil costurar o coração, também não tenho jeito com artesanato e as espetadas da agulha vão lembrar que dói.
 
            Eu lembro quando gostei de você pela primeira vez, eu já tinha te visto antes, mas de boca fechada e assim você é comum, diria que até sem graça, mas seu papo furado cola.

            Eu fiquei confusa desde quando comecei a gostar de você e não sei quando vou dizer que não gostei de você pela primeira vez. Eu acho que logo, se você não aparecer naquele deslugar e me chamar para uma conversa, eu sempre caio na sua lábia, todo mundo sabe que o seu papo convence, mesmo sendo furado.

            Sei lá se a gente se vê, mas de tanto desgosto e vou acabar dizendo que não gosto mais do seu corpo magro e esquisito que segura uma cabeça estranha, pequena e grande ao mesmo tempo, eu nunca consegui definir. 

            (Está esquisito, não importa mais se eu gosto ou desgosto, tornou-se falta de assunto, falta de temática literária, sem nada melhor para criar eu recrio você nas páginas que precisam voltar a conhecer novas histórias, isso quando eu não gostar mais de você.)

(...)

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

RESSACA MORAL



            Queria que estivesse comigo para dividir a cerveja, enquanto esperávamos a porção de batata frita, sem bacon para você e sem queijo para mim. 
            Faz tempo que não te ligo. Faz tempo que não bebo. Eu te ligava porque bebia e bebia porque queria te ligar, bebia e ligava porque tinha saudades.
            Você disse que eu era muito doce e isso te enjoava, eu chupei vários limões, mesmo sentindo o sangue afinar e a língua ficar estranha.
            Logo você reclamou do gosto azedo da minha saliva. Eu joguei os limões e comprei uma jaca bem grande, na feira disseram que era uma fruta bem doce. Você riu quando cheguei segurando aquela coisa esquisita e disse que combinava comigo.
            Larguei a jaca e peguei uma cerveja na geladeira. Você sempre disse que meninas não deviam ficar embriagadas. Lembro quando me embriagou para tirar minha roupa.
            Agora eu consigo ver que a cor das paredes da sua casa não combinava com os meus olhos e era o seu lençol que irritava a minha pele. Eu nem gostava do seu cachorro e muito menos daquele toque do seu despertador que eu dizia alegrar o meu dia, devia estar louca.
             Seus amigos pareciam estar sempre apresentando uma tese de doutorado e eu tinha que me esforçar para não demonstrar cansaço com essa mania intelectual de ser culto o tempo todo.
            Você nunca assistiu o meu filme preferido, no último encontro eu usava a camiseta de (500) Dias com Ela e você perguntou se era uma nova marca de roupa estranha. Na hora eu expliquei e disse empolgada que você devia assistir, mas nos encontramos 42 vezes e você sempre escolheu os filmes, era sempre algum documentário e eu nunca gostei de documentários.
            O garçom trouxe a batata frita sem queijo (e sem bacon também), não posso culpa-lo, ele se acostumou, agora precisamos perder alguns costumes. Pedi outra marca de cerveja, nisso você tinha razão, a de sempre era melhor.
            Eu até poderia ficar bem nessa mesa, o problema é que todo mundo fica pensando que você tem um problema muito grande por estar bebendo sozinha. Você não tem amigos, é muito chata. Você tinha um encontro e o cara não apareceu, ele te odeia, nem para enviar um SMS desmarcando. Você é afim do garçom e vem todo dia sozinha para puxar papo com ele. Você levou um fora e está afogando as mágoas. Talvez seja uma alcoólatra.  É muito desconfortável e a cerveja já acabou.
             Pedi mais uma, agora a de sempre, o garçom comentou sobre uma promoção de baldinho com 6 garrafas, mandei trazer.

 
GLUB! GLUB! GLUB! BLUB! GLUG!

 
            Oi, tudo bem? Como vai o Ted? Tenho saudades de leva-lo para fazer xixi de manhã, não consegui baixar aquela sua música para despertar no meu celular, vi um novo documentário sobre eremitas modernos e lembrei de você, depois te mando o link. Podíamos sair qualquer dia, eu gostava tanto do papo dos seus amigos, aqui todo mundo só fala banalidades e isso me cansa. Você não pode conversar agora? Tudo bem, te ligo outra hora, beijos.

            Mais uma cerveja, por favor.

sábado, 19 de outubro de 2013

POST NO BLOG


- Oi, Aline, tá fazendo o que?

- O de sempre.

- Tá stalkeando quem?

- Eu não sou stalker o tempo todo.

- Isso eu sei, ninguém é a mesma coisa o tempo todo.

- Mas tá fazendo o que, então?

- Postando um texto no blog e olhando as fotos de balada desse final de semana.

- Porque você está fazendo isso?

- Preciso saber se o Pedro saiu sexta, sábado eu sei que ficou em casa, ele tava ouvindo música no last.fm.  

- Porque você está postando no blog?

- Eu sempre compartilho meus textos.

- Sempre compartilha suas desilusões amorosas.

- Não são minhas desilusões, é uma personagem melancólica. Você confunde porque escrevo em primeira pessoa.

- Uma personagem que levou um pé na bunda de um cara confuso e deprimido, talvez ele se chame Pedro, né? Porque a sua personagem melancólica por acaso tem o seu nome.

- Não sou boa para dar nomes aos personagens e ninguém sabe que levei um pé na bunda de um cara que confunde a crise dos 30 com síndrome do pânico.

- Todos os seus amigos sabem e só eles leem o seu blog.

- Será que o Pedro lê?

- Doido do jeito que é... Não tenho a mínima ideia.

- Não importa, pelo menos estou transformando tristeza em arte. Alguém já disse: Que vire canção e terá valido a pena.

- Que vire autoajuda e ganhará dinheiro.


Pedro Wotecoski curtiu o link de cultura esquizofrênica

 
- O Pedro curtiu meu link no blog.

- Parabéns, atingiu seu leitor ideal.
 

Pedro Wotecoski te convidou para uma conversa de vídeo.

 
- Vou dar uma saída do bate-papo, tchau, Fernanda.

 
Aline aceita a conversa de vídeo.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

GARRAFAS E PESSOAS QUEBRADAS, QUASE A MESMA COISA


            Tenho pensado em uma estrutura para falar da mesma coisa de um jeito diferente, a vida é sempre igual, vivida de um jeito diferente.
            E tem essa coisa de expor. Com o coração na concha das mãos ele é aquecido e também esmagado. Às vezes mastigam e devolvem como um chiclete sem açúcar, ninguém quer mascar chiclete para sempre, preferem as balas. 
            Eu penso no que andam pensando sobre mim, tenho medo que pensem diferente do que ando sendo.
            Terminamos semana passada, não sei o que ela achou sobre isso, ficou quieta, disse tudo bem e bateu a porta. Tínhamos objetivos diferentes, concordo que ela nunca disse o que pensava sobre isso, nunca perguntei, sempre ofereci mais um copo de vodca quando o silêncio dava espaço as afirmações. Ela gostava de mim, apesar de nunca ter dito, isso a gente sente, eu nunca me amei e ela fazia lembrar-me. Eu quebrei aquela menina com o mesmo impulso que joga-se uma garrafa de vidro no asfalto. Eu sempre achei bonito ver os cacos brilhando como pedras preciosas, tinha o seu valor, não nego.
            Penso porque ele terminou e não concluo, os pensamentos fragmentados vagam pelas ruas sem chão, distraindo-se com a sociedade que caminha apressada para lugares em que sobrevivem e que me recuso viver. Culpo-me por algumas coisas, como aquela vez em que disse que não gostava de salada e também quando não conhecia a banda que tocava enquanto conversávamos sobre o livro que eu não li. Será que foi a calça que eu vestia? Tirei rápido, talvez ele nem tenha reparado. Epifania! Foi o que eu não disse, eu devia ter falado umas bobeiras, só para deixar o clima mais espontâneo, correr pela casa cantando uma música da moda, talvez fizesse ele rir. É isso, eu não fiz ele rir, eu nunca gostei de palhaços, porque seria uma? Se tivesse uma nova chance iria perguntar como era para ser e se eu fosse assim poderia ser a pessoa com quem ele nunca termina.
            Talvez ela queira uma explicação, vou usar algum argumento clichê, talvez use alguns conceitos psicanalíticos e nunca mais nos veremos, não com a mesma percepção dos dias em que nos divertimos, ela me fez rir algumas vezes. Talvez ela não peça nenhuma explicação, ela nunca foi inconveniente, acho que ela não deve estar bem, sempre foi sensível, o que às vezes é pior do que não ser conveniente. Um dia ela aprende a não levar tão a sério.
            Um dia eu aprendo a não levar tão a sério. Um dia eu descubro o que faltou ou o que sobrou e reescrevo esse texto com uma nova estrutura, com um novo amor (Ops, não levar tão a sério, exclui os amores – ando tendo dificuldades de aprendizagem).

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

LETRAS IMPULSIVAS


            E sempre rolam aqueles debates filosóficos, existencialistas, reflexivos, não sei como você costuma chamar essas conversas feitas de coração sobre o coração, eu costumo falar que estou verbalizando emoções.
            Hoje não falávamos sobre aquele menino abstrato que faz a gente parar e ficar ali até as pernas tremerem, mas que a gente não desiste de entender. Pensavamos sobre nossas ações. Somos nossas ações. O triste é pensar que os verbos dependem dos sujeitos e sujeitos são seres sociais.
             Sou impulsiva e o que não poderia ser maior eu intensifico, sim, também sou intensa. Em uma entrevista de emprego eu poderia citar impulsividade e intensidade como qualidades, eu realmente, acho isso. Voltaria para casa desempregada. Uma pessoa organizada e adaptável ocupa a tal vaga.
            Me jogo no poço escuro e aprecio o tombo como se fosse Alice na toca do coelho. Durante a queda, encontro as consequências, a mente tem uma epifania ao contrário e por um momento penso que os pés deveriam sentir o chão, na língua de muitos, ressaca moral.
            Viver em uma cultura opressora faz com que sejamos inimigos de nós mesmos, que a consciência sinta-se mal quando o coração é o sujeito da ação (perdoem-me as rimas). Assim, caminhamos pelo gramado desviando de qualquer buraco que desestabilize nosso corpo e mexa com a nossa cabeça.
            Descobri que gosto da instabilidade.
            Fim da conversa e descobri que falava daquele menino abstrato, que me deixa parada observando cada traço e que me faz querer entender a arte, que no fundo é o que somos.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

A GENTE É DO SUL!

 
            Aqui não é São Paulo, não tem a Rua Augusta, para ser sincera eu não consegui me divertir do jeito esperado lá naquela rua, fiquei andando na chuva com uma long neck, o que não deixou de ser divertido. Aqui também não é o Rio de Janeiro, não tem as peças do Matheus Souza e Uma noite na Lua, teve uma única apresentação no Festival de Curitiba.
            Aqui a gente caminha do Centro Cívico ao Largo da Ordem e quando cansa senta no cavalo babão, faz amizade com o mendigo que te pede uma intera e vê uma briga, porque um ouve Ramones e outro Ska.
            Somos a cidade sorriso, mas temos a fama de antissociais, acreditamos que respeitar o espaço do outro, que divide o banco com a gente no ônibus, é questão de educação. Eu acho inconveniente ter que tirar o fone do ouvido, quando começa minha música preferida, para responder a senhora que reclama do clima. 
            O pessoal se encontra no shopping no domingo de sol, o ar condicionado não deixa ninguém suado. Se você quer mais sossego na praça de alimentação é melhor ir ao Crystal, mas se você é um adolescente, da região Norte, em busca de uma paquera, atrás do Mc Lanche Feliz, é melhor ir ao Mueller, se for da região Sul pode ser no Palladium.
            Aqui a gente faz picnic no Barigui e sente saudades de quando tinha banda aos sábados na Praça da Espanha, da época que frequentávamos a 92º e de quando o MON não era habitado por cachorros, nada contra os cachorros, mas a gente sente saudades daquele tempo, tanta coisa aconteceu naquela época, aiai...
            São pelas ruas do centro que a gente caminha esperando ver os conhecidos, é por aqui que eu caminho esperando te encontrar, apressado pelo calçadão da XV, nem que seja para falar que hoje vai chover. 

domingo, 29 de setembro de 2013

TRILOGIA DO TEMPO




(...)


            Ontem você ligou de madrugada, dirigiu distancias que eu dizia ser distantes e me levou para a sua cama. Ontem você cozinhou para a gente, conversamos sobre aquele filme que você não gostou e falamos daquele filme que eu não vi, a gente se completava, eu argumentava sobre os pontos positivos do filme ruim e você me contava como era bom o filme que eu não sabia como era.
            Ontem as ruas não sentiram nossos passos, ficamos no seu apartamento, eu gosto do seu chuveiro e você gosta de sentar no sofá e não fazer nada. Eu gosto de fazer tudo com você e sento ao seu lado no sofá.
            Ontem as nuvens estavam tristes, as paredes do seu apartamento impediam-me de compreendê-las, o sol morava no seu travesseiro e embaixo do seu edredom era quente, como uma praia, você a minha melhor onda.
            Ontem à tarde eu fui embora, você não me levou para casa, me abraçou e eu fiquei quieta, queria ouvir sua voz, só ouvi o barulho da obra ao lado, ninguém nunca soube o que pensamos naquele momento, mas eu queria ter dito: a gente se vê, amanhã. 
            No caminho senti os primeiros pingos da chuva e me comovi com as nuvens.
 
 
(...)
 
 
            Hoje eu pensei no meu ex-namorado que nunca tive, hoje eu pensei naquele cara que eu queria que fosse meu ex-namorado, pensando melhor eu não queria que ele fosse meu ex, mas se fosse significaria que tínhamos namorado e tomado aquele sorvete de flocos e assistido aquele desenho bobo, mas que era engraçado. A gente fez tudo isso e mais um pouco de coisas inapropriadas para o horário (não sei o horário da sua leitura, então, melhor garantir), só nunca fomos namorados.
            Hoje eu pensei que poderia te ligar, mas eu sempre fico tensa em ligações de voz, já a mensagem de texto é sempre o meu excesso. Eu já te enviei tantas que não soube o que escrever hoje, tantos pretextos usados, hoje entrei em crise de criatividade e pensei: Oh, meu Deus, será que o amor está acabando?
            Hoje me falaram que todos os homens estão prontos para sexo, sexo e sexo. Eu pensei, é isso, vou chama-lo para uma diversão casual, mas você é sempre tão diferente, disse que estava tomando um chá e logo iria dormir, isso me faz gostar mais de você, eu gosto mais de você até quando me deixa assistindo aquele programa feminino da manhã que eu não gosto.
            Hoje você disse para eu não ficar deprimida, eu disse que não estava, mas você estava certo, eu sempre fico triste quando sem nenhuma razão às vezes você decide acabar, mas é só às vezes e amanhã continuará sendo tudo sobre você.
 
 
(...)
 
            Amanhã a página estará em branco, o rosto pálido, o celular mudo. O coração sem ritmo. Amanhã terei lembranças, sonâmbula de dia, insônia à noite, fome de amor, paixão revirando o estômago. Minha cama não terá o mesmo sono, os sonhos não reconhecerão meu travesseiro.
            Amanhã você não vai me deixar dormir na sua casa, não vai me deixar fechar a cortina, não vou usar seu creme dental nem deixar pingando a sua velha torneira. Amanhã não te acordo cedo, a sua camiseta não vai se perder em qualquer canto do quarto, você não vai dizer boa noite ao desligar o abajur.
            Amanhã não vai ter ousadia, ninguém vai sentir um abraço, ninguém vai sorrir, alguém vai chorar. 
            Amanhã será difícil aceitar que passou. Hoje eu tenho medo do amanhã.
 
(...)           

domingo, 22 de setembro de 2013

EVENTOS QUE ACABAM EM EMPADAS

DIALOGANDO COM http://brudancini.blogspot.com.br/2013/09/vem-ca-te-conheco.html (texto lindo, mesmo não gostando do meu, desse vocês vão gostar :P)


            8 horas da noite, sexta-feira, o trabalho sempre demora na sexta, quase ninguém vai trabalhar e fico com vontade de não estar lá também, mas tenho que ir, porque não tem quase ninguém lá. Eu não estou mais no trabalho, na verdade sai de lá antes das 5 horas, sempre saio com fome, peguei um ônibus e comi em um café aqui perto. Pedi uma empada do Caruso, até quem não gosta de empada gosta da empada do Caruso, eu não sei por que chamam de empada do Caruso, é uma marca, acho que o Caruso nem existe e agora estou fazendo publicidade de graça para a empada do Caruso, quem sabe um dia eu me torne famosa e ganhe empadas de graça do Caruso por ter feito publicidade de graça nesse texto. Não tinha mesas no interior do café, tive que ficar nas mesinhas da calçada, isso é muito bonito, parece cenário de filme europeu, mas aqui faz muito frio, dizem que Curitiba é uma cidade ‘europeia brasileira’, então ficar sentada na calçada faz a gente sentir muito frio e o vento deixa o nariz vermelho com a sensação de que estou gripada. Estou sozinha, estava sozinha no café, ao lado da minha mesa tinha um menino lendo um livro, tentei ver que livro era, mas não consegui, fiquei olhando por um tempo para a capa e ele me olhou com uma cara de quem não gostou que eu estivesse olhando para o livro, talvez tenha sido uma cara de nada, mas eu achei que ele não estivesse gostando de eu estar olhando para o seu livro. Fui para o caixa pagar meu suco e, claro, a empada do Caruso, quando saí olhei para o menino lendo o livro, dessa vez olhei para ele e não para a capa do livro, ele era bonito, mas eu nunca saberei nada dele, nem o título do livro que ele lê.
            Ainda bem que o café é aqui perto e consegui chegar antes da chuva, ainda bem que eu não fiquei mais tempo tentando ler a capa do livro do menino que tomava café. Aqui também não tem o vento da calçada do café, a porta fica fechada e quando alguém se aproxima ela abre automaticamente. Tenho medo dessas portas, sempre acho que vou parar perto delas, não vão abrir e eu vou ficar com cara de idiota. Elas sempre abrem, mas eu sempre penso que não vão abrir. Enfim, quando alguém se aproxima da porta meus olhos correm para olhar quem está entrando, nunca é você e penso: aaah, não é ninguém.
            Que raiva que eu tenho dessas páginas de eventos do Facebook, que raiva que eu tenho de pessoas que confirmam presença e não vão aos eventos, que raiva eu tenho de você que confirmou presença e não veio, mentira, eu não estou com raiva de você, estou com raiva de você não estar aqui, de não poder te convidar parar vir comigo e me obrigar a confiar na página do evento no Facebook.

TANTO SANGUE QUE PODERIA SER UM FILME DE TERROR, MAS É UM TEXTO DE AMOR


            E quem é que não teria desistido depois da segunda coisa estranha que fez doer até a alma? Eu não desistiria nem depois da quarta, quinta ou décima vez. Tem gente pensando que estou pirada, mas nem estou, fique calmo.
            Algumas pessoas teriam quebrado alguns copos, pratos, janelas, telhados, a sua cara, os seus dedos, os seus membros inferiores... Mas eu sou desajeitada e estou muito ocupada juntando os pedaços do meu coração quebrado. Não tenho certeza se foi você quem quebrou ele para mim ou se  derrubei sem querer no seu colo e você assustado jogou para cima, eu tentei pegá-lo, mas não tenho coordenação e voou sangue para todo lado. Fiquei com medo de pegar alguma doença sanguínea, mas depois me falaram que era paranoia minha, porque não existia nenhuma doença sanguínea que eu pudesse pegar, além de tudo o sangue era do meu coração. Mas é que ele anda tão doente, coitado, que vai saber, né?
            Eu não quero parecer muito ansiosa com o que vai acontecer, mas isso me deixa um pouco aflita e eu não consigo fazer nada além de ficar angustiada com todas essas coisas desajeitas que acontecem sem que eu queira ajeitar.  
            Às vezes escrevo coisas esquisitas que ninguém entende, também nunca me entendem nas conversas aleatórias, nas aulas de português, inglês e nos trabalhos acadêmicos. Talvez eu complique um pouco as coisas, ou talvez eu não diga nada de importante mesmo.
            Tudo isso para explicar que se sair alguma coisa desastrada no meio de tudo isso não é por mal, é por ingenuidade, ansiedade, nervosismo, dor de barriga, vontade de vomitar, dor de cabeça, no estômago, na unha, na raiz do cabelo, mas tudo isso é por alegria, porque quando eu estou triste fico quieta e pareço normal, só que agora estou triste e não pareço normal, sempre tem as exceções.

sábado, 21 de setembro de 2013

KINOFORUM CURITIBA 2013 - SESSÃO 2




            Jovem sofre preconceito, filme que retrata o sentimento juvenil também sofre preconceito, talvez seja culpa de Malhação e seus estereótipos, mas nem toda representação do universo jovem segue a formula global. Eu não sei se gosto do Matheus Souza porque ele fala da juventude ou se eu gosto da juventude porque o Matheus Souza fala dela. Talvez essa seja a sintonia entre a minha identificação com o diretor que tem se destacado no rejuvenescimento do cinema (se você ainda não conhece o trabalho do Matheus comece assistindo a série “Vendemos Cadeiras”, será inevitável não tornar-se fanático, como aqueles adolescentes que colecionam pôsteres e usam camisetas da banda favorita). 

 
            Essa introdução é para falar da sessão de hoje no Kinoforum, que não teve Matheus Souza, mas abordou na exibição de cinco curtas (Solecito – Colômbia; Entre Gotas – França/Bélgica; Meu Amigo Virtual – Brasil; Vale da Baleia – Dinamarca/Islândia; 9 Vacinas – Argentina), velhos conflitos de jovens personagens. É obvio que chamarei a atenção para “Meu Amigo Virtual”, filme da produtora curitibana “O Quadro”. O diretor e roteirista Christopher Faust, que esteve presente na sessão, comentou que as referências usadas para a criação do curta foram filmes de gosto pessoal do fim dos anos 80/início dos anos 90. Usando elementos da linguagem de videoclipe e games, o filme tem um ritmo ágil, próprio do universo jovem e diáloga com a realidade virtual que criamos nas telas de nossos aparelhos eletrônicos. Não nos deparamos com um avatar saindo de nossas telas, mas a influência online em nosso cotidiano não fica distante do impacto que o amigo virtual de André causa em sua realidade até então monótona.
             Filmes jovens, com muitos diálogos e realidade motivada pela cultura pop é uma representação real de muitas vidas, talvez da sua aí sentado em frente a uma tela a espera de um amigo virtual na sua vida real.
            Amanhã tem mais Festival de Curtas, ainda dá para aproveitar e quem sabe encontrar um amigo cinematográfico.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

KINOFORUM CURITIBA 2013 - SESSÃO DE ABERTURA


 
            A terceira edição do KINOFORUM CURITIBA, itinerância do 24º Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo, ocorre entre os dias 20 e 22 de setembro. Com entrada franca, a primeira sessão aconteceu hoje, às 19h, com duração de 67 minutos, foram exibidos quatro curtas metragens: A Vala (Santul), Adrian Silisteanu (Romênia, 2012, 18’); Café com Geleia (Kava sa Dzemom), Filip Peruzovic (Croácia, 2013, 5’); Até Acontecer com Você (Until it Hits You), Jan Van Dyck (Bélgica, 2013, 18’); Bem Vindos e... Nossos Pêsames (Bruchim Habaim ve... Mishtatfim Betzaarchkem), Leon Prudovsky (Israel, 2012, 25’).
            De todos os filmes belíssimos em suas propostas, do cômico A Vala ao suspense de Até Acontecer com Você, focarei em um deles, o mais simples, que você poderia ter gravado na cozinha de casa, mas não fez e Peruzovic nos traz lá da Croácia para o Teatro da Caixa. Café com Geleia, representa um relacionamento que em suficientes cinco minutos descreve na tela a sintonia de um casal e o castelo de cartas construído pelo comodismo das relações estáveis. A percepção do espectador ocorre aos poucos, assim como para um casal que percebe vagarosamente o declínio do relacionamento.
            Amanhã e domingo acontecem mais duas sessões, às 15:30 e às 19h, participem, pensem e divirtam-se.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

AMÉLIAS E MARGARIDAS

 
Na casa da Amélia está tudo organizado para o chá com as amigas do curso de costura. Ela me chamou para animar a conversa, eu disse que estava procurando frutas vermelhas para o meu amor. Ela disse que viu tangerinas no mercado municipal e se lembrou de quando eu estava procurando chiclete de tangerina para te impressionar. Comprei margaridas para enfeitar a casa, a Amélia falou do perfume bom de outra flor, mas eu esqueci e comprei as amarelas, uma vez você disse que gostava do sol e ele é amarelo. Ela diz que não tenho jeito com a casa e que você pode não gostar de lavar a louça. Você não se importa em fazer o jantar e diz que tenho jeito para gostar de você. Ainda bem que não fui ao chá da Amélia, agora seu beijo tem o gosto dos morangos que comprei hoje à tarde. Enquanto a gente faz amor, a Amélia faz uma torta para o marido que vai chegar com dor de cabeça e dormir sem dar-lhe boa noite.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

MINHA MAIOR AVENTURA ERA GOSTAR DE VOCÊ


            Minha maior aventura era gostar de você, agora eu subo montanhas e vou deixando um pouco de você em cada cume e desço mais leve. Na primeira subida eu desenhei um coração em uma árvore, precisei voltar lá para riscar nossos nomes, depois pensei melhor e voltei para transformar o coração em uma caveira mexicana. Ontem notei que a árvore havia sido cortada.
            Eu até pensei em descer o barranco na sua companhia, mas você teria me jogado lá do alto, como aquela vez que me atirou das nuvens, também, teve aquela vez que tentei voar segurando meia dúzia de balões e você esperou eu tirar os pés do chão para estoura-los com uma agulha de tricô.
            Sempre te carreguei aqui comigo, agora você está por aí e eu não quero saber se tem lanterna para se encontrar na escuridão da noite e companhia para ver a beleza da manhã.
           Qualquer hora os bombeiros te resgatam no cume em que te esqueci e me ligam para te buscar no hospital. Vou mandar um taxi te pegar e não se esqueça de dar gorjeta para o motorista, vou pedir para ele abrir a porta para você.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

A PRAÇA


Eu fiz um projeto para uma nova praça na cidade. O prefeito perguntou se eu era engenheira, arquiteta, urbanista, eu disse que só gostava de praças. Para um administrador isso não bastava. Caminhei pensando em como seria bom se um engenheiro, um arquiteto ou urbanista planejasse uma praça em frente a sua casa. Eu iria chamar os amigos para fazer um picnic no gramado em frente ao seu portão. Eu iria conversar com os seus vizinhos, dividiríamos o milho para alimentar os pombos e eles me contariam sobre a música que você ouviu num volume alto. Se tivesse uma letra de saudade eu bateria na sua porta. Eu iria dormir no banco em frente a sua janela só para observar a sua sombra a noite. Certamente, eu iria precisar que me dessem comida e umas roupas velhas. Sempre quis morar em frente a uma praça, você poderia me chamar para entrar pelo menos nos dias chuvosos e me dar alguma bebida quente.
É uma pena nunca ser ouvida pelos governantes, talvez você gostasse de ter uma praça em frente a sua casa.  

terça-feira, 3 de setembro de 2013

AGRIDOCE

 
         Você disse que eu era muito doce e isso te enjoava, eu chupei vários limões, mesmo sentindo o sangue afinar e a língua ficar estranha.
            Logo você reclamou do gosto azedo da minha saliva. Joguei os limões e comprei uma jaca bem grande, na feira disseram que era uma fruta bem doce. Você riu quando cheguei segurando aquela coisa esquisita e disse que tinha combinado comigo.
            Larguei a jaca e peguei uma cerveja na geladeira. Você sempre disse que meninas não deviam ficar embriagadas. Lembro quando me embriagou para tirar minha roupa.
            Agora eu vivo de ressaca, sorrio toda noite e sinto dor de cabeça pela manhã. Costumo dizer que você é meu Burger King e você diz que devo me alimentar melhor. Nunca ouço bons conselhos e continuo te esperando na mesa de um fast food qualquer.
            Se você aparecer vamos para a sua casa, quero te mostrar aquele filme... O casal parece com a gente e eles têm doces bastões de doces. Se você não aparecer vou para a minha casa assistir aquele filme... O casal parece com a gente e eles têm tristes lembranças felizes.

domingo, 1 de setembro de 2013

NA FILA PARA ENTRAR NA DANÇA

 
            23h20min, queríamos chegar antes das 23 horas, agora a fila está grande e perdemos o double drink. Passamos no shopping para comer alguma coisa, não é bom beber de estômago vazio. Na praça de alimentação chamamos a atenção, estava frio e não estávamos muito agasalhados, na pista de dança a coisa esquenta. Nas últimas noites não me libertei na pista, digo, não peguei ninguém. Estava muito presa em alguém, presa no sentido presidiário mesmo, aquela coisa ruim de estar aprisionada sozinha. Acho que os meus amigos desistiram de me desencalhar, eu nunca quero ninguém que eles apontam, já me veem como a amiga solitária, que aconselha e não ouve nenhum conselho afetivo, está muito focada em desastres amorosos, é o que sempre pensam.
            Essa fila está devagar, a guria que checa as identidades tem um cabelo estranho, mas é bonito, ela deve achar o meu sem graça, ter o cabelo castanho natural parece infantil. Tenho um vestido igual ao da menina que tem uma bolsa legal, ainda bem que não gosto muito do vestido. Minha saia é curta, o menino que passou olhou para as minhas pernas, a meia-calça é fio 40, pode estar vulgar.
            Estamos na pista, está tocando Florence + the Machine, todos dançam, devem me achar estabanada. Se eu tiver azar alguém vai derrubar cerveja em mim, vou ficar bêbada, com sorte não terei dor de cabeça. Não vou ficar com o cara de jaqueta de couro (será que é couro ecológico?), talvez ele não lave as mãos ao sair do banheiro. Não vou ficar com o cara que perguntou meu nome, ele disse que gostava de cinema e achou que Godard era marca de cigarro francês. Vou fugir do menino que buzinou quando chegou de carro, ele pode ser o filho da puta que ultrapassou o sinal vermelho semana passada e matou a velhinha que estava indo comprar remédio para o marido resfriado na cama.
            Lembrei-me de tudo sobre você que recebeu uma mensagem minha essa noite.            
            Acordei de ressaca cantando: “You are the moon that breaks the night for which I have to howl” (8)

PENSAMENTOS ALINHADOS


Odeio filas, normalmente, peço para o meu pai buscar meu salário no banco, mesmo tendo 25 anos prefiro assim, quando chego em casa o dinheiro está na escrivaninha. Hoje resolvi fazer isso por mim, péssima ideia (Próximo) Com tanto trabalho na obra, eu parado aqui, preciso depositar a mesada das crianças hoje, escolhi a mãe errada para elas, espero que me perdoem um dia (Próximo) Nossa, que menino bonito, com certeza tem uma namorada bonita, nem vou tentar conquista-lo com o meu olhar 43. Ninguém pensa em paquerar na fila do banco, tenho que frequentar mais baladas para treinar meu poder de sedução (Próximo) Banco não combina com desempregado, estou sempre no lugar errado, se tivesse ouvido meu pai seria um funcionário público (Próximo) Mas que tortura, agora o caixa 2 empacou, não tenho paciência com gente lenta, eu sou desajeitada, mas sempre rápida (Próximo) Que menina bonita se ela olhasse para mim, iria puxar papo (Próximo)  Estou tentando parar de fumar, ficar em filas não ajuda no processo, se eu não tivesse traído minha mulher, se não tivéssemos nos separado, eu não seria um fumante, isso vai acabar me matando (Próximo) Quando mamãe me chamou para sair pensei que iríamos tomar sorvete, agora ela fica dizendo para eu ficar quieto e fico olhando para esses pés que as vezes dão lentos passos (Próximo) Será que dá tempo de pegar a sessão das 15 horas? Hoje é o último dia que do filme em cartaz, não acredito que vou perder de vê-lo no cinema, esperei tanto pela estreia. Vou desistir dessa fila. Amanhã peço para o meu pai fazer isso. Ainda tenho que comprar chocolate (Próximo) Mais um desistiu, com sorte mais gente desiste e eu chego mais rápido na boca do caixa, não que eu esteja com pressa, mas não gosto de filas, sempre faço pagamentos online, nem sei por que estou aqui hoje, talvez seja um dia diferente em que coisas diferentes irão acontecer, espero que sejam boas noticias.
            (Próximo)   

terça-feira, 20 de agosto de 2013

A VOLTA PARA CASA


Ela sumiu durante um longo tempo, o suficiente para me viciar em tarja preta e começar a fumar. Tudo que eu fazia era para aliviar a ansiedade pelo fim dos dias. Não comia muita coisa além de chocolate e o único exercício que praticava era andar sem rumo, a metáfora, é claro, porque passava os dias deitado na cama e quando me levantava era para sentar na cadeira da escrivaninha, escrever algumas cartas suicidas e depois arquivar tudo com a esperança de que fossem encontradas e alguém mostrasse alguma preocupação. Ninguém se preocupou em encontra-las.
Um dia ela ligou, pediu para que eu fosse encontra-la. É claro que fui, passei tanto tempo procurando-a em redes sociais, perguntando para os amigos como ela ia, se falava de mim, se ainda tinha alguma foto minha em casa... Quando levantei senti algo tão bom, estava vivo, naquele momento era bom estar vivo, só para vê-la novamente. Estava nervoso, mas consegui escolher uma roupa rápido, tinha uma camisa nova que estava guardada para o dia que fosse encontra-la, achava que esse dia seria um encontro “por acaso”, mas foi melhor, ela queria me ver, nossos objetivos enfim conectados.
Na frente do portão bati palma sem parar, estava ansioso. Engraçado, como agora a ansiedade me deixava satisfeito, ela abriu a porta, estava com o cabelo diferente, igualmente lindo, o vestido que usava era tão bonito e me fazia querer tira-lo. Amava todo o seu corpo, nos últimos tempos me masturbei bastante pensando em todas as vezes que meus dedos a tocaram.
Pediu que eu entrasse, entreguei a garrafa de vinho e ela disse que não bebia mais. A ansiedade voltou a se tornar algo ruim, não tinha coragem de perguntar qual era o motivo da minha visita, mas precisava saber se poderia despi-la.
Entrou no quarto, quis que ela voltasse com a sua nova camisola transparente que comprou para hoje, ela sempre gostou de usar lingerie bonita, queria me deixar com tesão, mas ficava braba quando eventualmente eu rasgava o babydoll, porque ela me excitava.
Saiu do quarto com uma caixa de papelão, entregou-me, disse que Marcos iria mudar-se para lá e que não queria que o namorado encontrasse coisas do seu ex pela casa.
Daqui para frente não tenho mais o que narrar, voltei para casa, nunca mais vivi, mas continuei vivo para quem quisesse ver. 

domingo, 18 de agosto de 2013

TODO MUNDO ACHA SARNA PRA SE COÇAR, QUANDO NÃO TEM DO QUE RECLAMAR


 
Eu gostava do barulho, por algum motivo óbvio ninguém se diverte em paz, festa boa tem bagunça.
Por um momento achei que buscasse o silêncio, mas gosto da música alta sem ritmo na minha cabeça, faz o coração dançar.
Meu quarto bagunçado, os livros fora da estante, as roupas em cima da cama, refletem a vontade de sair do lugar, ir para outro mundo fora de mim.
Sem planejar fiquei com vontade de tira-lo do seu lugar longe de mim. Sem organizar um plano confortável, só quero bagunçar esse coração que se entedia com o tédio e bagunça as ideias só para criar uma coisa boa de confundir.
Essa vontade de criar desorganiza. Sabendo que vai terminar em ressaca, quero beber mais uma dose. A sensação de loucura é combustível para saber amar sem prudência, com diversão, arranhões, o melhor, intenso.
Entre a paz e o amor, fiquei com a paixão. Entre o conforto de se encontrar e a ousadia de se perder, fiquei aqui.
Amanhã tem festa, não sei como começa, mas termina com a dor de cabeça de quem aproveitou a noite e descansou de dia.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

EU GOSTO TANTO DE RIMAR, SÓ NÃO TANTO QUANTO AMAR


 
 
A dor não é pequena, tá lá na alma, pra valer a pena. Eu sou à flor da pele, o eco de intensa me deixa tensa. Eu queria ser legal, você me achou sempre exagerada e nem ao menos gostava de Cazuza. Fui errada, queria ser música gostosa para ouvir todo dia, fui música de balada. Você dançou até cansar, foi para casa e acordou de ressaca, disse que não gostava de sentir-se embriagado. Eu disse que podia ser devagar, amar devagarinho, mas eu não sabia quando parar e quando me dava conta o passo tava acelerado, era para te encontrar mais rápido e você dizia, quem anda muito ligeiro se atrapalha e eu tropeçava, rapidinho eu caia aos seus pés. Você chutou a minha cabeça e eu fui para longe, tão zonza que só pensava em você, doía pensar.
Eu não acho que a culpa seja tua, eu que sou muito pequena para caber tanto amor, eu que não tenho muita sorte, eu que não sei ser forte e amo até a morte.
Vou sentindo toda a insatisfação de não acomodar tanta paixão, fazendo canção, sentindo amor, correndo para te encontrar, registrando que o meu amor é teu, só para constar e todo mundo saber que sou pequena com um coração grande, deformação que eu gosto de carregar, só porque gosto de te amar.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

TRIM TRIM


 
Aquela ida ao cinema, depois um lanche em algum lugar que você gosta, com você eu gosto de todos os lugares e até das comidas que eu costumo dizer que não gosto, com você tudo tem um gosto melhor. Assistir um filme na sua cama, comendo pipoca, ela pula no chão e me deixa preocupada, a preocupação dura pouco, logo sou distraída por algo que me faz esquecer de tudo, você. Café da manhã improvisado com algumas sobras do dia anterior, caminhada no parque, olhares carinhosos no banco em frente ao lago, sinos tocando, fazendo o estômago dançar. Almoço com seus amigos, eu tentando ser engraçada sem esforço, quando estou nervosa fico engraçada sem querer, eles gostam de mim. Seus pais falam dos netos, talvez voltemos a ser crianças trocando as fraudas do menino e contando histórias para a menina dormir. Nas férias algum país distante e pouco visitado conhece nosso sotaque desajeitado. Fazer o jantar para dois, entrelaçar os pés nas noites de inverno e tirar a roupa nas tardes de verão.
Se você tivesse me ligado hoje...

quinta-feira, 25 de julho de 2013

O INVERNO DA TARDE


Colocou água para esquentar, com as pernas cobertas por um velho cobertor, sentindo o chão gelado, ouvindo o silêncio interior que inundava a casa, tomou seu chimarrão, era sempre a sua vez para o próximo gole. Ligou a TV e deixou em uma programação qualquer. Divagou. Lembrou-se de quando escolheu seus esconderijos e arrependeu-se de não ter guardado um amor, teve preguiça de cuidar, na impaciência juvenil não cultivou um jardim.  

A casa é triste, tanta gente por ali passou, tantas quiseram permanecer, mas ninguém vai voltar. Muita gente morreu há tanto tempo, muita gente mora longe e quem ficou por perto terminou indo também.

Nunca soube voar, desistia antes de sentir o vento, soube que muita gente conheceu as nuvens, visitou o fim do arco-íris, riu com os pássaros e pousou com os aviões. Sonhou em ir, não pode pedir para alguém ficar, acabou afastando todos e permanecendo ali.

Fez sentimentos, deixou saudade. Ah, se pudesse encontrar tudo que esqueceu de procurar. Poderia estar em lugares que não quis entrar.

Eram tantos impulsos importunos que não teve paciência para permanecer com nada, permaneceu ali. Deixou as brincadeiras pelo caminho e esqueceu do tempo que brincava de criança feliz.

A água já estava fria, a devolveu para a boca do fogão, fechou os olhos para descansar e decidiu nunca mais sentir cansaço.  

O chiado da chaleira cantava o fim daquela tarde.

sábado, 22 de junho de 2013

ANTI-HERÓI AMERICANO


“Só não deixe escapar das nossas mãos, os melhores momentos de um dia comum.” Isso é o que nos diz a banda curitibana, “Mordida”. A ideia de conviver com o comum da melhor maneira possível é o que nos motiva a viver, afinal, somos pessoas comuns, com vidas comuns.

American Splendor, adaptação cinematográfica da HQ autobiográfica de Harvey Pekar, narra a vida de mais um cara perdido no tédio da vida comum, que não sabe desenhar, mas decide escrever histórias para HQs, ilustradas por amigos.

A adaptação cinematográfica, que passeia entre o tom documentário e fictício, insere elementos da linguagem HQ, junto com todo o pessimismo e mau humor do personagem, que mesmo esforçando-se não consegue esconder sua simpatia.

O solitário protagonista tem o tipo de vida padrão, ele não se orgulha disso, reclama de continuar trabalhando em um hospital como arquivista e não conseguir viver apenas com a venda de suas HQs. Depois de casar-se com uma fã a vida não se transforma em um conto de fadas e ele se distrai colecionando e roteirizando gibis.

Reclamar é o primeiro passo para as possíveis melhorias. Pekar, não nega essa característica humana e faz isso muito bem. Ele frustra-se, mas vê as coisas comuns como parte de sua vida, sem as quais enlouqueceria, já que a vida não é só ter o nome na calçada da fama, é também ter uma casa com um belo quintal.  
 

FICHA TÉCNICA
 
 
Anti-herói americano
American Splendor
Direção: Shari Springer Berman, Robert Pulcini
Roteiro: Berman, Pulcini, Harvey Pekar (HQ)