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terça-feira, 21 de junho de 2011

MEIA NOITE EM PARIS


Em Meia Noite em Paris, Woody Allen nos dá de presente mais um filme belíssimo, cuja protagonista não poderia ser mais linda: ela é Paris, a Cidade Luz. Um filme em que não são os personagens que mais nos encantam, mas sim a capital francesa e as paixões artísticas que ela inspira. Allen representa uma Paris que acolhe artistas de uma maneira tão peculiar que qualquer outro lugar torna-se inabitável para as almas sensíveis e inquietas que vivem a arte.
O filme usa do realismo fantástico para nos “jogar na cara” como somos ingratos com o presente. A negação que há do tempo em que vivemos sempre exaltando o sentimento nostalgico de um passado em que não vivenciamos. Gil que vive em 2010 sonha com a Paris dos anos 20, já Adriana que vive nessa época sonha com a Belle Époque, onde encontra Degas e Gauguin, que sonham com a Renascença como a Época de Ouro. Levando-nos a seguinte questão: “A Época de Ouro existiu em algum momento ou é sempre uma idealização?”
A verdade é que sempre há um fascínio no desconhecido, nos sentimos atraídos pelo o que não vivemos. Então, como temos medo do futuro incerto preferimos nos refugiar nas histórias passadas, pois já sabemos como elas vão acabar.
O diálogo intertextual com os artistas de Paris da década de 20 é fabuloso. Os escritores F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway, o músico Cole Porter, os pintores Picasso e Dali e o cineasta Luis Buñuel, são alguns dos artistas que surgem depois da meia noite em Paris e que nos deixam cada vez mais apaixonados. Os artistas são humanizados, os vícios e virtudes fazem com que Gil sinta-se próximo deles, sem as barreiras construídas pela admiração e canonização estabelecida durante os tempos.
As badaladas da meia noite e o carro que chega para buscar o protagonista nos lembram Cinderela, o que pode soar como cômico. Porém, percebemos a metáfora do personagem que vive um conto de fadas (na década de 20), mas que uma hora tem que voltar a sua realidade, assim como a Gata Borralheira.
A personagem de Marion Cotillard, Adriana, que Gil encontra nos anos 20, é sedutora ao ponto de nos seduzir em sua primeira aparição. Ela exala o clima que imaginamos que seria Paris naquela época. Podemos dizer que Adriana é a personificação do charme e encantamento da Idade de Ouro deslumbrada por Gil.
Inez, a noiva contemporânea de Gil, e sua família são uma verdadeira critica aos americanos. Republicanos, capitalistas que tratam a Guerra do Iraque como motivo de orgulho e só se preocupam com status, compras e prepotência. Até a arte serve de pretexto para a ostentação americana. Porém, Gil sente-se deslocado nesse contexto e se deixa ser adotado por Paris e sentir a arte, viver seus sonhos ao invés de sufocá-los no contexto hipócrita americano.
A Paris preferida de Gil é a chuvosa, representando a melancolia do personagem, típica dos mais sensíveis, aqueles que conseguem sentir as emoções. De roteirista de Hollywood frustrado ele passa a ser um escritor incerto realizado. Desse modo, captamos muitas mensagens sobre negações que podem nos levar a lugares e sentimentos melhores. Não importa em que época vivamos, o importante é viver e não ver a vida passar. Para que tenhamos um belo passado é preciso que vivamos o presente. Clichê? Talvez, mas importante  ser ressaltado, já que muitos acabam esquecendo-se disso.



FICHA TÉCNICA


Título original: (Midnight in Paris)
Lançamento: 2011
Direção: Woody Allen
Duração: 100 min
Gênero: Comédia Romântica

3 comentários:

  1. Pocha vida, e esse filme não estreia logo por aqui... Como sempre: texto impecável!

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  2. Eita, mas logo estreia e vc vai assistir sem falta, é mto bom...
    Obrigada *---*

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