"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

sábado, 22 de junho de 2013

ANTI-HERÓI AMERICANO


“Só não deixe escapar das nossas mãos, os melhores momentos de um dia comum.” Isso é o que nos diz a banda curitibana, “Mordida”. A ideia de conviver com o comum da melhor maneira possível é o que nos motiva a viver, afinal, somos pessoas comuns, com vidas comuns.

American Splendor, adaptação cinematográfica da HQ autobiográfica de Harvey Pekar, narra a vida de mais um cara perdido no tédio da vida comum, que não sabe desenhar, mas decide escrever histórias para HQs, ilustradas por amigos.

A adaptação cinematográfica, que passeia entre o tom documentário e fictício, insere elementos da linguagem HQ, junto com todo o pessimismo e mau humor do personagem, que mesmo esforçando-se não consegue esconder sua simpatia.

O solitário protagonista tem o tipo de vida padrão, ele não se orgulha disso, reclama de continuar trabalhando em um hospital como arquivista e não conseguir viver apenas com a venda de suas HQs. Depois de casar-se com uma fã a vida não se transforma em um conto de fadas e ele se distrai colecionando e roteirizando gibis.

Reclamar é o primeiro passo para as possíveis melhorias. Pekar, não nega essa característica humana e faz isso muito bem. Ele frustra-se, mas vê as coisas comuns como parte de sua vida, sem as quais enlouqueceria, já que a vida não é só ter o nome na calçada da fama, é também ter uma casa com um belo quintal.  
 

FICHA TÉCNICA
 
 
Anti-herói americano
American Splendor
Direção: Shari Springer Berman, Robert Pulcini
Roteiro: Berman, Pulcini, Harvey Pekar (HQ)

quarta-feira, 19 de junho de 2013

INTENSAMENTE TENSA


 
Já imaginei um muro pichado com o seu nome em um coração. Também quis escrever no asfalto, igual vi em um filme brasileiro. O filme era de Recife, nunca vi isso em Curitiba, seria criativo. Sentei em frente ao computador, escrevi um poema, uma crônica, um texto auto-refexivo, um filme e por fim até um texto de auto-ajuda, estava precisando de uma terapia, por causa da rejeição, sabe como é, não é?

Pedi para o meu irmão tocar guitarra, para eu cantar uma letra que fiz. Ele achou esquisita. Achei que ele não tinha entendido o refrão, fiz umas alterações, mas ele disse que era inverossímil. Não importa, vou grava-la amanhã.

Amanhã também vou repassar todos os detalhes que eu poderia ter feito melhor. Se amanhã eu tiver uma nova chance vou tentar fazer diferente, talvez eu erre em outras coisas, mas aí na próxima vez eu posso dar um jeito para mudar essas outras coisas. Acho que sempre vou precisar de uma nova chance para arrumar uns errinhos humanamente cometidos. Os seus descuidos são engraçados e por mim você não precisa arrumar nada, desde que chegue cedo para o jantar.

Não ando com muita fome, pensei em consumir drogas, dizem que destroem os neurônios, sempre quis pensar menos, mas no fundo eu não queria te esquecer, talvez seja inevitável se na velhice eu desenvolver mal de Alzheimer. Então, não demore muito e perdoe esse meu possível esquecimento.

Putz, esse é mais um texto esquisito sobre a menina que gosta do menino. Notei que os parágrafos estão um pouco desconexos, mas o importante é que mesmo assim ele obedece a maior norma de toda produção literária, o escritor pensou em um leitor ideal. 

domingo, 16 de junho de 2013

OLHAR DE CINEMA – FESTIVAL INTERNACIONAL DE CURITIBA


Entre os dias 06 e 14/06 aconteceu a segunda edição do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba. O evento proporcionou exibições de filmes no Espaço Itaú de Cinema (Shopping Crystal) e na Cinemateca de Curitiba, com sessões de longas e curtas, além de oficinas, laboratórios, diálogos e seminários, por vários pontos da cidade.

As mostras que constituíram o evento foram: Competitiva Internacional de Curta Metragem, Competitiva Internacional de Longa Metragem, Competitiva Olhares Brasil de Curta Metragem, Competitiva Olhares Brasil de Longa Metragem, Foco Alemanha, Mirada Paranaense, Novos Olhares, Olhar Retrospectivo.

Dois filmes em análise fizeram parte do “Foco Alemanha”, selecionados pela Cinemateca da Alemanha para compor a mostra. Gespenster (Fantasmas, em português), do diretor Christian Petzold, teve sua estreia em 2005 e vem aos nossos olhos para dizer que tudo um dia sai da nossa visão e que o olhar solitário é que vaga por aí, desesperado por um foco, enxergar algo que motive uma paixão e uma busca, até que se torne uma procura tão cansativa, que seja melhor apenas fechar os olhos e seguir no escuro. Em síntese, um filme que trata de relações com início e fim.

Born In '45, dirigido por Jürgen Böttcher, foi financiado pelo partido socialista da Alemanha Oriental, em 1965, e censurado pelo mesmo que não se sentiu motivado pela exibição do filme, já que não reconheceu uma propaganda do governo. O filme foi exibido em 1990, quando Alfred e Lisa, são apresentados aos espectadores junto ao inevitável tédio de jovens sem motivações externas, que procuram no sentimento introspectivo a alegria da vida, entrando em crise consigo mesmo, muitas vezes responsabilizando tudo a sua volta, pelo o que de fato está dentro do individuo. O filme representa o tédio da sociedade pós-moderna que precisa se adaptar aos novos padrões de vida, com uma tranquilidade que entedia o ser inquieto, que vive em busca de uma emoção que nunca sentiu, por isso ao menos sabe se existe.

E para finalizar, devo falar do curta-metragem brasileiro “Menino do Cinco”, produção baiana, dirigido por Marcelo Matos de Oliveira e Wallace Nogueira, que retrata questões raciais e de classes sociais, os personagens sem nomes são arquétipos. Focando no conflito entre classes percebemos semelhanças com o filme “O Som ao Redor” (Recife), que retrata a classe média presa atrás de grades de segurança. Ambos os filmes retratam o pesadelo da classe média de ser invadida por pobres. O menino do prédio é o burguês que vive no quinto andar, acima do menino que vive na praça (nível do chão). A história é motivada pelo cachorro tratado como mercadoria e que passa a representar a luta pelo poder entre as classes. O curta tem apenas personagens masculinos, sem uma mãe na narrativa, é possível afirmar que a ideia de pátria perdeu-se para o individualismo, onde quem tem mais, pode mais.  

sábado, 15 de junho de 2013

STOKER - SEGREDOS DE SANGUE



Stoker, é a estreia hollywoodiana do diretor coreano Park Chan-wook. Conhecido por relacionar sexo e violência como consequências/dependências, não desvia seu foco no roteiro de Wentworth Miller e Erin Cressida Wilson.
 
India Stoker (Mia Wasikowska) perde o pai em um aparente acidente de carro no dia em que completa 18 anos. Perante os padrões sociais, após os 18 anos ela se torna adulta e perante as circunstâncias ela deve se tornar independente.

Na cena que introduz Segredos de Sangue, título brasileiro, sabemos que India anseia ser resgatada, completada, é como se a saia que veste e que voa ao vento falasse as palavras proferidas pela protagonista, que usa o cinto do pai, a blusa da mãe, os sapatos do tio e a saia que pressupõe-se ser dela. Ela tem muito de sua família, mas a sexualidade a pertence.

A personagem de Wasikowska encontra-se deslocada, o seu mundo (sua casa) é representado como se existisse em outra época. Sentimos certo estranhamento quando o tio da moça diz que 1994 foi o ano em que ela nasceu, pois até, então, não tínhamos referência de datas e também estavamos temporalmente deslocados. O cenário da escola de India apresenta explicitamente uma personagem em deslugar, que é perseguida por não fazer parte da representação comum de sujeitos.  

Presa em um lugar que não a pertence, ela acredita encontrar a liberdade no mundo adulto, durante toda a narrativa a personagem vai despindo-se de ingenuidade e conhecendo o prazer, que nem sempre se encaixa aos padrões paradigmáticos.

India conhece o prazer e a dor, paradoxos que acompanham a vida dos adultos, que não escolhem ser bons e maus, apenas são o que precisam ser.

Park Chan-wook, toca na ferida em que desejo é pecado, logo a prática do mesmo leva a punição, uma crítica a cultura puritana, em que opressão e hipocrisia caminham com os bons costumes.

“Assim como a flor não escolhe a sua cor, não somos responsáveis pelo que viemos a ser. Quando se dá conta disso, você se liberta. E se tornar adulto é ser livre.” Não somos responsáveis pelos nossos desejos, mas assumi-los é ter maturidade para ser livre.
 

P.S Um filme rico de significados semióticos, introduzidos em uma estética bem construída, que nos deixa sem saída a não ser usar um adjetivo para defini-la: encantadora. Vejam, interpretem e, também, encontrem referências aos filmes de Alfred Hitchcock.


FICHA TÉCNICA
 
 
Original: Stoker

Direção: Chan-wook Park

Roteiro: Erin Cressida Wilson, Wentworth Miller

Produtores: Bergen Swanson, Michael Costigan, Ridley Scott

Elenco: Matthew Goode (Uncle Charlie Stoker)

Mia Wasikowska (India Stoker)

Nicole Kidman (Evelyn 'Evie' Stoker)

Alden Ehrenreich (Whip Taylor)

Dermot Mulroney (Richard Stoker)

Jacki Weaver (Aunt Gwendolyn 'Gin' Stoker)

Judith Godrèche

Lucas Till (Chris Pitts)

Phyllis Somerville (Mrs. McGarrick)

Ralph Brown (Sheriff Howard)

domingo, 2 de junho de 2013

UM PONTO COLORIDO


 
            Saí sem histórias para contar, sem sentimentos para dar e sem visão para te ver. Era apenas rua e eu. Era a dança na pista e o movimento dos meus cabelos, que diziam que a cabeça queria voar, alcançar uma nuvem e deitar. As asas foram cortadas e não podia chegar ao céu.

            Falta espaço, o mundo tem muita gente. Estou enjoando de pessoas. Queria o mundo meu, nada para gostar, sem conhecer, sem precisar esquecer. Espaço para sonhar e deixar de lembrar (isso é só lamento).

            Lembrei dos meios de transportes, escolhi um balão, no meio das nuvens eu seria um ponto colorido para quem lembra de olhar para o ar, sempre tive a impressão de que o ar vem do céu, porque lá tem espaço e deve ser bom respirar longe de gente que te deixa sem ar.

            A música parou, suspirei, vi que permanecia rodeada de estranhos, frustrei-me, não era possível fugir da estranheza do mundo.

            Voltei para casa, dormi na cama que era fofa como deve ser uma nuvem em um quarto que era vazio como o céu.