"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

sexta-feira, 10 de maio de 2013

2016


Tinha 14 anos, treinava há 8 e não sabia dizer quantas horas isso dava, mas eram muitas por dia. Chegava as 8 da manhã e saia as 7 da noite. Durante um período da tarde deixava as paralelas descansarem e ia para a sala ao lado, toda criança precisa dedicar algumas horas aos estudos, até mesmo aquelas que representam o país de um jeito diferente das outras.
Típico dia de inverno, quando chegou ao ginásio, ainda sonolenta, ficou desanimada ao pensar que teria que tirar seu casaco fofo e quentinho, para colocar a roupa de treino. A única coisa que continuou lhe aquecendo foram as polainas listradas. Demorou tanto para trocar-se que as colegas não a esperaram. Chegou um pouco atrasada para o aquecimento e recebeu uma advertência. Era a segunda naquela semana e ela não aguentava mais levar bronca em russo do técnico que a ajudava na nova série. 
Na hora do almoço foi para o restaurante que ficava há algumas quadras do ginásio. Era bom sair e sentir o sol que amenizava o frio, ver pessoas que não vestiam agasalhos e pensar em outras coisas que a ajudava a esquecer a dor no punho. Quando estava servindo-se reparou no prato do senhor que estava a sua frente, ele fez uma grande montanha de comida, se ela pudesse comer tudo aquilo iria ficar muito feliz, mas pensou que se comesse daquele jeito iria sentir o peso na lentidão dos seus movimentos. Então, se limitou a uma pequena porção de comida saudável, afinal, a sua próxima competição não seria para ver quem come mais hambúrgueres. Na hora da sobremesa não aguentou e pediu um sorvete bem colorido para alegrar o seu dia, que ainda tinha muito tempo para terminar. Estava na hora de ir para a aula. Hoje teria todas as matérias, era quarta e todos os professores iriam estar lá. Ela não gostava de português, nem de matemática, história, geografia, ciências... De inglês ela gostava, porque achava útil para as competições internacionais. Reclamava sempre quando iria começar uma nova aula, mas no fundo ela gostava dos professores e sabia que podia reclamar, porque eles eram bondosos e pacientes, mesmo que às vezes devessem ser mais severos só para que ela não fizesse tanto corpo mole.
Durante a aula saiu para fazer fisioterapia, massagem, terapia e até deu entrevista para a maior emissora de TV local.
O treino recomeçou e ela chorou porque estava sentindo dores. Lembrou-se da primeira medalha que ganhou, de como ela ficou orgulhosa, como a lustrava todos os dias só para ver o brilho em seus olhos. Até que ganhou muitas outras e começou a engaveta-las. Mas tinha uma que ela sonhava com emoção e guardava um lugar especial para que pudesse olha-la todos os dias com o mesmo orgulho que sentiu ao ganhar a primeira. Era a Medalha Olímpica.
Lembrou-se disso e treinou com muita garra, ela era uma ginasta e tinha um objetivo.
2016: Estamos nas Olimpíadas no Rio de Janeiro, a nossa conhecida brasileira torna-se a nova Campeã Olímpica.

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