Somos filhos de pais que ascenderam
socialmente e hoje fazem parte da classe média. Homens e mulheres que já na infância
trabalhavam. Minha mãe ajudava seu pai no trabalho da roça, meu pai trabalhou
na roça, depois na venda da família, até ser aprovado em um concurso público e
atingir a tão sonhada estabilidade.
E nós somos filhos dessa nova classe
média, que com pouco estudo, apenas a educação básica, conseguiu dar uma vida ‘melhor’
para nós.
Atingimos um nível cultural altíssimo,
temos profissões adquiridas com o ensino superior e especializações, mas temos medo de encarar a maturidade. Temos dinheiro
para gastar em besteiras, para fazer uma poupança, pagar uma viagem, fazer mais
um novo curso, morarmos sozinhos e continuamos infantilizados, frágeis a
cada instabilidade que acontece na nossa rotina.
Em casa os pais preocupam-se com
nossos empregos, se estamos bem na empresa, se vamos investir em novos
conhecimentos por meio de um mestrado, doutorado, pós-doutorado, se vamos
prestar um concurso, porque temos que ter estabilidade profissional, mesmo não
tento nenhuma emocional.
Podemos sair e chegar em casa sem
que perguntem para onde e com quem saímos. Compramos coisas que não precisamos,
mas que ninguém fala nada, afinal, pagamos todas as nossas contas. Nos
apaixonamos, sofremos e nos curamos sem que nossos pais saibam.
Aparentemente somos livres. A prisão
está além de poder ir e vir. Está no nosso medo de encarar o mundo. Não importa
se moramos com nossos pais ou pagamos nosso aluguel, queremos ser gênios,
viver em uma comédia romântica (os sonhadores) ou em um drama (os
intensos), queremos ser o protagonista de um clássico da literatura, porque
somos uma geração que não encara a realidade e se refugia desde a infância na
ficção que nos é dada, inicialmente, como distração, que com o tempo passa a ser o
meio de identificação mais próximo as nossas vidas.
Somos apenas filhos, perdidos em um
turbilhão de rejeições que faz com que nossas atitudes sejam a de uma criança
que teve o brinquedo quebrado e corre para o pai consertar, porque ele é o
único que vai passar a mão na sua cabeça e dizer que vai te dar outro mais
bonito e legal.
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