"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

quinta-feira, 4 de abril de 2013

UMA GERAÇÃO DE FILHOS


            Somos filhos de pais que ascenderam socialmente e hoje fazem parte da classe média. Homens e mulheres que já na infância trabalhavam. Minha mãe ajudava seu pai no trabalho da roça, meu pai trabalhou na roça, depois na venda da família, até ser aprovado em um concurso público e atingir a tão sonhada estabilidade.             
            E nós somos filhos dessa nova classe média, que com pouco estudo, apenas a educação básica, conseguiu dar uma vida ‘melhor’ para nós.
            Atingimos um nível cultural altíssimo, temos profissões adquiridas com o ensino superior e especializações, mas temos medo de encarar a maturidade. Temos dinheiro para gastar em besteiras, para fazer uma poupança, pagar uma viagem, fazer mais um novo curso, morarmos sozinhos e continuamos infantilizados, frágeis a cada instabilidade que acontece na nossa rotina.
            Em casa os pais preocupam-se com nossos empregos, se estamos bem na empresa, se vamos investir em novos conhecimentos por meio de um mestrado, doutorado, pós-doutorado, se vamos prestar um concurso, porque temos que ter estabilidade profissional, mesmo não tento nenhuma emocional.
            Podemos sair e chegar em casa sem que perguntem para onde e com quem saímos. Compramos coisas que não precisamos, mas que ninguém fala nada, afinal, pagamos todas as nossas contas. Nos apaixonamos, sofremos e nos curamos sem que nossos pais saibam.
            Aparentemente somos livres. A prisão está além de poder ir e vir. Está no nosso medo de encarar o mundo. Não importa se moramos com nossos pais ou pagamos nosso aluguel, queremos ser gênios, viver em uma comédia romântica (os sonhadores) ou em um drama (os intensos), queremos ser o protagonista de um clássico da literatura, porque somos uma geração que não encara a realidade e se refugia desde a infância na ficção que nos é dada, inicialmente, como distração, que com o tempo passa a ser o meio de identificação mais próximo as nossas vidas.
            Somos apenas filhos, perdidos em um turbilhão de rejeições que faz com que nossas atitudes sejam a de uma criança que teve o brinquedo quebrado e corre para o pai consertar, porque ele é o único que vai passar a mão na sua cabeça e dizer que vai te dar outro mais bonito e legal.

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