"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

domingo, 10 de março de 2013

PERSONIFICAÇÕES PERDIDAS EM RASCUNHOS


            Personagem é personificação, ou seja, a condensação de conceitos (valores) de uma época. A narrativa pós-moderna é fragmentada (cifrada) e ambígua, as histórias sofrem uma incompletude (porque realmente não sabemos como nossas histórias terminam) e os personagens geralmente encontram-se perdidos.
           Pressupondo que a alegoria encara a destruição, em um discurso cifrado (implícito), por meio de inferências mediadas pelos referentes, os personagens são alegorias de um comportamento paradigmático, que causa conflitos de interpretações ligados ao poder.
            O personagem contemporâneo sofre ao relacionar-se com a alteridade (com o outro), justamente por não saber a que ordem paradigmática pertence, em uma sociedade que rompe com a história ao seu redor e não sabe criar a própria.
            Podemos citar dois filmes em que os personagens perambulam entre histórias que criam e histórias que vivem, e que se entrelaçam. Em "Histórias de Amor duram apenas 90 minutos” e “Nome Próprio”, os personagens Zeca e Camila, respectivamente, sofrem por não conseguirem escrever um livro. A criação vem da experiência e o conflito estabelece-se na dificuldade em reconhecer-se no mundo. Na cena em que Zeca caminha pelas ruas, fazendo anotações sobre o que vê, ele é mero observador, sem inserir-se na experiência social.  
            Os personagens procuram a vida que gostariam de viver nas páginas dos livros, Zeca olha em volta e vê milhares de histórias, toda vez que começa a escrever fala dele, mas acredita que a sua vida é  tediosa demais para alguém ter interesse em lê-la.
            Camila escreve sobre suas frustrações amorosas, para isso tem que sentir o sofrimento ocasionado pelo amor rompido, desiludido e patológico. Sem perceber cria um circulo vicioso, onde deve apaixonar-se, viver intensamente o prazer e terminar sofrendo pelo o que acabou.
            Existe um tipo de individuo que não consegue ser feliz e sempre encontra algo errado para sofrer e/ou fazer sofrer. O conflito da história de Zeca é envolver suas paixões em seus dramas, o de Camila é ser a sofredora solitária, aquela que abandonam e que tenta chamar a atenção por meio do que escreve no blog.
            Zeca e Camila, na tentativa de criarem personagens, tornam-se a personificação pós-moderna. E quem não é personagem da própria história? Afinal, sem controlarmos os desfechos, somos escritores de nossas vidas, vivendo em uma sociedade perdida, que abriga as confusões e prazeres de autores e atores que se dissolvem em rascunhos autodestrutivos.   

Um comentário:

  1. Lindo texto! Gostei da aproximação que vc bolou entre os dois filmes! :D

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