Personagem é personificação, ou
seja, a condensação de conceitos (valores) de uma época. A narrativa
pós-moderna é fragmentada (cifrada) e ambígua, as histórias sofrem uma
incompletude (porque realmente não sabemos como nossas histórias terminam) e os
personagens geralmente encontram-se perdidos.
O personagem contemporâneo sofre ao relacionar-se
com a alteridade (com o outro), justamente por não saber a que ordem
paradigmática pertence, em uma sociedade que rompe com a história ao seu redor
e não sabe criar a própria.
Podemos citar dois filmes em que os
personagens perambulam entre histórias que criam e histórias que vivem, e que se
entrelaçam. Em "Histórias de Amor duram apenas 90 minutos” e “Nome Próprio”, os
personagens Zeca e Camila, respectivamente, sofrem por não conseguirem escrever
um livro. A criação vem da experiência e o conflito estabelece-se na
dificuldade em reconhecer-se no mundo. Na cena em que Zeca caminha pelas ruas,
fazendo anotações sobre o que vê, ele é mero observador, sem inserir-se na experiência
social.
Os personagens procuram a vida que
gostariam de viver nas páginas dos livros, Zeca olha em volta e vê milhares de
histórias, toda vez que começa a escrever fala dele, mas acredita que a sua
vida é tediosa demais para alguém ter interesse
em lê-la.
Camila escreve sobre suas frustrações
amorosas, para isso tem que sentir o sofrimento ocasionado pelo amor rompido,
desiludido e patológico. Sem perceber cria um circulo vicioso, onde deve
apaixonar-se, viver intensamente o prazer e terminar sofrendo pelo o que
acabou.
Existe um tipo de individuo que não
consegue ser feliz e sempre encontra algo errado para sofrer e/ou fazer sofrer.
O conflito da história de Zeca é envolver suas paixões em seus dramas, o de Camila
é ser a sofredora solitária, aquela que abandonam e que tenta chamar a
atenção por meio do que escreve no blog.
Zeca e Camila, na tentativa de
criarem personagens, tornam-se a personificação pós-moderna. E quem não
é personagem da própria história? Afinal, sem controlarmos os desfechos, somos escritores de nossas vidas, vivendo
em uma sociedade perdida, que abriga as confusões e prazeres de autores e atores que se dissolvem em rascunhos autodestrutivos.
Lindo texto! Gostei da aproximação que vc bolou entre os dois filmes! :D
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