"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

quinta-feira, 21 de março de 2013

O SOM AO REDOR


 
            O Som ao Redor, dirigido e roteirizado por Kleber Mendonça Filho, retrata Recife na percepção urbana. Apesar de termos pouco acesso as produções de Recife, sabemos que, involuntariamente, elas saíram dos espaços rurais e passaram a representar o caos que se instalou com o crescimento arquitetônico da cidade.
            O filme, gravado em tela larga, é uma critica a classe média e retrata as invasões de espaços e as fronteiras estabelecidas com o exagero de grades que separam todos de tudo. O plano do menino com a bola que ultrapassa uma fronteira estabelece essas linhas divisórias.
            O tio de João que permanece com a casa sem estruturas gigantescas de grades, em meio aos prédios de classe média, que mais se parecem com presídios do que com lares, nos indica uma nostalgia do que era a cidade antes do caos social arquitetônico, explicitando-se quando o personagem olha para a rua e resgata a memória do que um dia aquele espaço já foi.
            Existem duas cenas de sonhos: a primeira é percebida pelos mais atentos, que é o sonho de João visitando o antigo engenho da família com a namorada; e a segunda é o sonho da filha de Bia que explicita o pesadelo da classe média: ter a casa invadida por pobres.
            Já que adentramos a casa de Bia, podemos comentar um pouco sobre a única personagem que não está ligada a família de Francisco (o dono da rua). Mais uma invasão de espaço é a personagem que sai do curta-metragem “Eletrodoméstica”, que levou nove anos para ganhar um edital, e invade o “O Som ao Redor”. O curta critica a loucura consumista que se iniciou nos anos 90, as pessoas passam a ter dinheiro para comprar e só consomem a mesma coisa. As políticas públicas trabalham com a ideia de que a vida mecânica faz com que a vida funcione. A Bia do longa-metragem é filmada como um passarinho preso na gaiola, a câmera esta fora e a observamos dentro das grades. No curta-metragem, as grades já haviam surgido dizendo: “eu não confio em você”.    
            A imagem final em que a família de Bia explode bombinhas para protegerem-se do cachorro e eles mesmos acabam por ficarem assustados com a explosão, simboliza a atitude da classe média que vive a cerca do medo de ter medo.
            Enfim, os engenhos de Recife vivem uma versão urbana, em um espaço caótico, entre patrões e empregados que convivem em uma ordem de faz de conta: fazemos de conta que convivemos em harmonia, mas cada um em seu mundo socialmente organizado e humanamente confrontado.

- Material produzido durante o Workshop com Kleber Mendonça Filho - Ficção Viva II

FICHA TÉCNICA

 
Diretor: Kleber Mendonça Filho
Gênero: Drama
Produção: Brasil
Distribuição: Vitrine Filmes
Classificação Indicativa: 16 anos
Duração: 131 min.

Nenhum comentário:

Postar um comentário