"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

domingo, 24 de março de 2013

O CÉU DE SUELY



            O curta-metragem “Rifa-me” (http://vimeo.com/17199696), de Karim Aïnouz, baseado em uma notícia de jornal, foi o ponta pé inicial para a produção de “O Céu de Suely” (2006).
             Somos introduzidos na história do longa, por um monólogo apaixonado, na sequencia uma cena de amor embalada pela música “Tudo que eu tenho”, interpretada por Diana, que diz:
 
 
 “Que bom seria ter seu amor outra vez
 Você me fez sonhar
 Trouxe a fé que eu perdi
 E nem eu mesma sei porque
 Eu só quero amar você
Tudo que eu tenho meu bem é você
Sem seu carinho eu não sei viver
Tudo que eu tenho meu bem é você
Volte logo meu amor.” 
 

(Se tudo que ela tinha era ele, quando ele se foi ela deixou de ser, para tornar-se a espera do que um dia foi.)

            Em seguida, acompanhamos, Hermila (Suely), em um ônibus de viagem, voltando para Iguatu, pequena cidade do interior do Ceará. Com uma criança no colo, ela volta para a terra natal à espera de alguém que nunca chega.
            Segundo o diretor, quem saiu do Nordeste está voltando para casa. Hermila representa a volta do emigrante, que nesse processo perde-se de suas raízes. A mecha no cabelo, que é sempre notada pelos moradores da cidade, compõe a mudança estabelecida em sua partida.
            A protagonista sente-se sufocada e arquiteta um plano para sair do lugar que nada representa. Ela só quer ir para o lugar mais longe que puder. Esse é o típico sentimento de quem quer ficar longe dos próprios sentimentos e acaba culpando a geografia pelas lembranças doloridas.
            Quando Hermila deixa a cidade (e o filho, pois não pode leva-lo para lugar nenhum) passa pela placa “Aqui começa a saudade de Iguatu”, percebemos que mesmo sentindo a dor por deixar algo para trás, é preciso seguir em frente. Não adianta prender-se as coisas que nos pertencem se não pertencemos a elas. Isso explica o fato dela não se apegar ao amor de João, o amor dele a pertencia, mas o amor de Hermila nunca pertenceria a João.
            A locação de “O Céu de Suely” traduz as cenas em ação. O mais interessante é que a personagem de Hermila não diz e sim inclui o que sente. O que enriquece o filme e nos leva a comoção de uma personagem perdida em meio ao calor do Ceará e ao frio do coração.

FICHA TÉCNICA
 

O Céu de Suely
Brasil, 2006
Drama - 90 min.
Direção: Karim Aïnouz
Roteiro: Karim Aïnouz, Felipe
Bragança, Maurício Zacharias
http://vimeo.com/17199696

Nenhum comentário:

Postar um comentário