"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

VICKY CRISTINA BARCELONA


Vicky Cristina Barcelona é uma obra cinematográfica do consagrado Woody Allen, que após mudar-se para Paris passou a usar a Europa como cenário para os seus filmes, nesse caso a Espanha.
Podemos classificar esta obra como uma representação da felicidade liquida. Os personagens, principalmente Cristina, estão sempre atrás de uma nova oportunidade, um novo início, substituindo a felicidade pela busca da mesma, encerrando a vida em episódios. Desse modo Cristina transforma a viagem à Barcelona em um amor de verão. Então, o Triangulo amoroso vivido por Cristina, Juan Antonio e Maria Elena assume o que podemos denominar de compromissofobia, reduzindo-se ao tempo em que Cristina sente-se satisfeita. A partir do momento que a relação torna-se padrão, ela passa a desejar uma nova busca pela felicidade.
Enquanto, Cristina, faz da sua vida uma corrida interminável em busca da felicidade, Vicky, é totalmente passiva ao conceito da felicidade liquida. Ela não busca nada e sim planeja. Qualquer coisa que saia do controle do que foi previsto a deixa em pânico. É como se ela devesse ter o controle de tudo. Desse modo, ela chega a algum lugar. Porém, para ser feliz é necessário correr e não chegar.
As relações liquidas são focadas na obra. Ou seja, a vontade de consumir, absorver, devorar, ingerir e digerir até que a novidade acabe e inicie-se uma nova relação. Por exemplo, a sensação que Juan Antonio nos passa é de que ele desenvolve relações de bolso. Após separar-se de Maria Elena, mesmo dizendo que está apaixonado por Cristina, percebemos que ele cultiva as duas regras essências para a construção de uma relação liquida. A primeira é a de não se apaixonar. E a segunda que é manter o relacionamento do jeito que é, sem que tenha algum comando, conectando e se desconectando quando bem entender.
Um personagem que não tem grande função no enredo, mas desempenha um papel critico na obra, é o pai de Juan Antonio. O senhor é um poeta que acredita que nenhum escritor deveria ter suas palavras poluídas por outra língua, referindo-se a tradução (sabemos que esse recurso intertextual destrói a essência de qualquer poema). Também, o pai de Juan não expõe suas obras para o mundo, pois tem raiva do mesmo e, por isso, o priva da sua arte, como vingança.
A ex-mulher de Juan Antonio ao mesmo tempo em que o completa o abala. Maria Elena também se sente assim com a presença do ex-marido. Ela vive em um mundo sombrio e perturbado. Porém, com a presença de Cristina, eles passam a ter uma sintonia perfeita em uma relação a três, servindo como uma metáfora de que paradigmas podem ser quebrados e que o amor não pode ser explicado, apenas vivido, e que para o coração e convivência não existem regras.                                                       Uma das maiores mensagens que a personagem de Maria Elena nos deixa é de que “só um amor não realizado pode ser romântico”, voltando ao conceito da felicidade liquida de que para ser feliz temos que buscar e não encontrar.
Em síntese, todos os personagens sofrem com as angustias que acompanham a busca pela felicidade. Vicky, mesmo insatisfeita emocionalmente, sente a necessidade de ter tudo pré-estabelecido, ainda sabendo que isso não lhe fará feliz. Porém, o medo de arriscar é maior que a vontade de buscar a felicidade. Cristina vive inquieta com seus pensamentos sobre vida e amor. E, assim, os personagens vão se formando ao redor dessas duas amigas, que passam por provações que poderiam ter mudado suas vidas em uma viagem de verão para a Espanha, mas que o medo (no caso de Vicky) e a busca pela felicidade (no caso de Cristina) impediram.

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