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domingo, 2 de janeiro de 2011

THE IMPORTANCE OF BEING EARNEST




A comédia “The Importance of Being Earnest”, de Oscar Wilde, foi escrita em 1895 com o intuito de criticar a sociedade vitoriana. A obra de Wilde é engraçada e inteligente. Desse modo, a comédia acabou ganhando algumas adaptações no cinema. A primeira adaptação cinematográfica ocorreu no ano de 1952, dirigida por Anthony Asquith. Em 1992 uma nova versão surgiu nas telas dos cinemas, agora dirigida por Kurt Baker. Finalmente, a mais recente, cujo título traduzido ganhou o nome de “Armadilhas do Coração”, foi produzida em 2002.
Acredito que a tradução do título da versão fílmica perdeu muito da essência (tornando-se até mesmo bobo), já que o título original da peça tem um duplo sentido. Podemos tanto concluir que o nome “The Importance of Being Earnest”, significa “A importância de ser honesto” e a “Importância de ser Earnest”. Na segunda tradução “Earnest” significa um nome e não um adjetivo como na primeira. Acredito que a escolha do título original não poderia ter sido mais inteligente e de acordo com a proposta da obra.
Partiremos, agora, para a análise do enredo do filme, que aborda a burguesia Inglesa, a importância das convenções, as personas criadas para se viver em uma sociedade hipócrita, a exaltação do “nome” para os burgueses e até mesmo os impactos da Revolução Francesa para a classe alta.
Uma cena muito interessante de ser avaliada é a que ocorre no cabaré. Nesse momento vemos as apresentações de dança (can can) e de uma mulher vestida de homem (comum na cultura dos cabarés com a intenção de quebrar paradigmas, assim como homens vestiam-se de mulheres). Porém, não é apenas isso que nos chama a atenção, mas também o discurso entre os personagens principais, onde um deles diz que foi para aquele lugar (cidade) atrás de prazer e em seguida diz que irá fazer um pedido de casamento. Então, o outro personagem discorda que ele esteja atrás de prazer, mas sim de negócio. Nesse momento a critica surge, pois sabemos que os casamentos da época eram tratados como negócios, gerados por trocas de interesses. Ainda, vale ressaltar um trecho do discurso verbalizado pelo personagem.

“O casamento não é romântico. Pois, depois da proposta acaba a excitação. A essência do romance é a incerteza.” (A palavra proposta ao invés de pedido já nos dá a idéia de tratar-se de um negócio.)
Outro objeto de análise são as personas construídas pelos personagens Jack e Algy. Jack constrói um irmão mais novo chamado Earnest, que mora na cidade. Assim, com o pretexto de visitar o irmão, Jack, consegue ausentar-se de sua casa no campo. Já na cidade ele vive esse personagem, enganando até mesmo sua noiva.
Algy constrói a figura do Sr. Raposo, um homem doente, que ele usa como desculpa para se ausentar dos compromissos com a tia.
A tia rica de Algy tem um dos papéis mais explícitos do tipo de persona criada pela alta sociedade. Ela é uma mulher de origem, totalmente, diferente da que representa e é dona dos discursos mais arrogantes e preconceituosos da obra.
Sobre a educação ela faz um discurso insano contra a tradução, exaltando a tradição que apenas valorizava as pessoas possuidoras de poder financeiro. Vejamos como ela enfatiza sua opinião:

"A educação moderna é, radicalmente, insana. Os processos de educação não fazem efeito na Inglaterra. Pois, afetariam a minoria e gerariam atos de violência."
Em seguida, ela ainda faz um discurso contra a Revolução Francesa, dizendo que o movimento é infeliz.
Já no final a tia de Algy conhece Cecily, noiva de seu sobrinho. Então, analisa o rosto da moça dizendo o seguinte:

"Há possibilidades sociais distintas em seu rosto."

O sobrinho responde que não liga para as possibilidades sociais dela. Sendo rebatido pela tia que diz:

"Nunca desrespeite a sociedade, só quem não consegue entrar nela fala assim."
Vejamos que os valores conservadores de uma sociedade preconceituosa são demonstrados explicitamente na obra. Ainda, depois que a tia descobre que a garota é rica, ela muda sua concepção, tendo uma brutal mudança em sua fala, dizendo que é contra casamentos por convenções.
Por fim, temos a questão da regeneração que por sua vez é citada por Cecily e sua professora. A primeira defende a fé e a segunda a descrença em transformar pessoas más em boas. Depois, ela aparece de maneira implícita. De forma que os personagens não foram regenerados, inclusive Jack, que mesmo depois de toda a confusão gerada pela sua mentira encontra uma maneira de continuar vivendo a persona criada anteriormente, o Earnest.

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