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quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

VINCERE



Inicialmente, temos a percepção de que o filme Vincere trata da vida de Benito Mussolini, porém no decorrer da obra percebemos que a representação vai além, já que podemos verificar a figura feminina tratada com o desdém da época e como o poder se coloca acima de tudo e de todos (ideologias, sentimentos, parentescos, contradições e personas).
Vincere retrata esses aspectos omitidos, destruídos e assassinados da biografia oficial do Duce, que por motivos alheios retira a Ida Dalser, sua primeira mulher, brutalmente, de sua vida e da história.
Podemos dividir o filme em duas partes, a primeira retratada pelo período em que o então socialista Mussolini vive uma relação com Dalser, e a segunda a ascensão do agora fascista Mussolini e a ruína dos renegados Ida e o filho.
Analisando a primeira parte é possível verificarmos que Dalser se entrega ao amor, acredita em Mussolini e acaba vendendo tudo o que tem para que ele pudesse se entregar aos ideais, por meio da fundação do Jornal “Popolo d'Italia”. No entanto, Mussolini muda seus idéias e junto com eles seus sentimentos, sofrendo a mutação do socialismo para o fascismo, o discurso contra a igreja para o cristão, o amor por Ida tornando-se uma fonte para a crueldade.
Na segunda parte podemos observar a luta de Ida em resposta ao desprezo de Mussolini. Ela não aceita perder o amor de sua vida e muito menos ter o filho, que um dia foi aceito, renegado. Então, Mussolini usa da prática usada há séculos de acusar as mulheres, que não se dobram as imposições da sociedade, de histeria e assim calá-las dentro de hospícios. Isso se torna revoltante e explícito, podendo ser comprovado na fala do médico que aconselha Ida Dalser “a ter uma vida normal, comportando-se como uma mulher obediente, cuidando da casa e do filho, sem manifestar seus sentimentos e suas verdades.”
Desse modo, enquanto Mussolini degusta sua ascensão, o filho cresce em um orfanato, sendo obrigado a não usar o sobrenome que o pai um dia lhe deu e sem a mãe que é torturada e silenciada.
Ao fim, Ida Dalser não veste a máscara teatral, ou seja, não se torna uma persona, terminando seus dias como louca. O filho que foi calado no orfanato, mais tarde vai para o hospício e morre aos vinte e tantos anos. Assim, Mussolini consegue “esconder” vidas e tornar-se uma persona.
O filme que foi exibido no Festival de Cannes não tem apenas um enredo fantástico, mas sim todo um conjunto artístico que reflete na tela. Podemos verificar que o cinema é sempre exaltado, por exemplo, podemos ver uma cena de “O Garoto” de Charles Chaplin, uma ironia no filme que retrata uma personalidade fascista, já que Chaplin trabalha com a crítica de certos ideais. Também, percebemos que alguns recursos cinematográficos insinuam que personagens são imagens que remetem a significantes e significados. A obra também retrata a tragédia maior existente no fascismo, a separação, pois os pares se completam, dois elementos diferentes que juntos tornam-se um só, no filme retratado, por Ida Dalser e Benito Mussolini, Ida Dalser e o filho, Benito Mussolini e o filho, que perdem a força quando separados. Além desses pontos a serem observados, o filme conta, ainda, com uma enorme riqueza de estudo e apreciação, que deve ser conferido e aplaudido.

3 comentários:

  1. ola

    siga ART MISTA

    cidadania ITALIANA [ VISÃO MULHER CINEMA ]

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  2. O primeiro tutor do Benito Albino foi Arnaldo Mussolini, irmão caçula do ditador morto no início da década de 30. Curiosamente ele é "deletado" do filme.

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