Colocou água
para esquentar, com as pernas cobertas por um velho cobertor, sentindo o chão
gelado, ouvindo o silêncio interior que inundava a casa, tomou seu chimarrão,
era sempre a sua vez para o próximo gole. Ligou a TV e deixou em uma
programação qualquer. Divagou. Lembrou-se de quando escolheu seus esconderijos e
arrependeu-se de não ter guardado um amor, teve preguiça de cuidar, na impaciência
juvenil não cultivou um jardim.
A casa é triste,
tanta gente por ali passou, tantas quiseram permanecer, mas ninguém vai voltar.
Muita gente morreu há tanto tempo, muita gente mora longe e quem ficou por
perto terminou indo também.
Nunca soube
voar, desistia antes de sentir o vento, soube que
muita gente conheceu as nuvens, visitou o fim do arco-íris, riu com os pássaros
e pousou com os aviões. Sonhou em ir, não pode pedir para alguém ficar, acabou
afastando todos e permanecendo ali.
Fez sentimentos,
deixou saudade. Ah, se pudesse encontrar tudo que esqueceu de procurar. Poderia
estar em lugares que não quis entrar.
Eram tantos
impulsos importunos que não teve paciência para permanecer com nada, permaneceu
ali. Deixou as brincadeiras pelo caminho e esqueceu do tempo que brincava de
criança feliz.
A água já estava
fria, a devolveu para a boca do fogão, fechou os olhos para descansar e decidiu
nunca mais sentir cansaço.
O chiado da chaleira
cantava o fim daquela tarde.
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