Era uma manhã de domingo, ela sempre
achou que os domingos eram melancólicos. Às vezes ela tinha dúvidas, eles eram
realmente tristes ou era ela que os tornavam deprimidos. Ela preferiu culpar o
sétimo dia da semana. Ou seria o primeiro? Sempre a dúvida, sempre duas opções.
O mau humor era inevitável. O dia não
havia nem começado, ela tinha apenas ido ao banheiro e agora estava tomando o
seu café. A primeira palavra que se dirigiu a ela foi a da sua mãe, que logo
percebeu que a filha não queria papo.
Porque ela iria querer falar de alguma
coisa banal, sem valor para a sua vida? Talvez para amenizar a dor da falta do
que tinha valor. Valor? Uma palavra tão capitalista. Qual é o valor que pagamos
para viver? Não, é nisso que ela estava pensando. Talvez fosse. Pagamos o valor
da saudade, o valor da amizade, daqueles que ficaram, daqueles que foram, o
valor da paciência e da impaciência, o valor do amor e do ódio, talvez não seja
ódio, apenas raiva. O valor da dicotomia. O valor da dúvida e da escolha. O
preço que pagamos por escolhermos errado sem ao menos termos a possibilidade de
sabermos se a outra opção seria a correta. Por isso, passamos a vida lamentando,
por não termos conhecido a outra opção. Passamos a vida lamentando por algo que
não conhecemos, mas idealizamos, sonhamos e nos iludimos.
Desiludida ela passa a manhã em frente ao
seu computador, ela observa a vida virtual de todos. Personas. Alguns não são
bons nisso, realmente, não são. Outros enganam direitinho, tornam-se
interessantes, extremamente, interessantes.
Ela se cansa, percebe que se permanecer
ali sentada, pensando em tudo e em todos poderia não suportar a dor, os
pensamentos, o sofrimento. Arruma-se, ainda tem forças para sair dignamente na
rua.
Ela caminha, tenta abafar os pensamentos
com o som do MP4 no volume máximo que seus ouvidos podem suportar, tenta se
concentrar na paisagem da cidade, sempre achou a arquitetura fascinante, tenta
sentir a brisa, que sempre a acalmou. Em vão. O mal é maior. O mal está na
inquietude da alma. Ela havia perdido a paz interior. Ou lhe teriam roubado?
Roubado para que? Para deixá-la vagando sem destino, sem esperanças, sem
ninguém para encontrar no meio do caminho?
Sim, ela estava apaixonada.
Fantástico, muito bom!!!!
ResponderExcluirValeu.
ExcluirObrigada por dedicar seu tempo a essa leitura :)