"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

segunda-feira, 16 de maio de 2011

BELEZA AMERICANA



Rir de si mesmo pode ser divertido, ou melhor, patético, mas ninguém pensa muito no que vem a ser patético, cultivamos o riso e não sabemos a origem dele, que é a verdadeira tragédia. Podemos perceber que a comédia, geralmente, trabalha com a pimenta nos olhos do outro. Porém, em “Beleza Americana” o riso é da própria tragédia, dos “tipos” construídos pelo “american way of life”. O riso que me refiro não quer dizer que o filme trata-se de uma comédia, ele serve como uma metáfora para falar da boa recepção que a obra teve no país de origem, inclusive destacando-se no Oscar.
As taras sociais e os tipos americanos são os temas trabalhados na obra. De longe as famílias são aparentemente normais, bem estruturadas, caricatas. Mas quando olhamos de perto, cada um tem um problema, esses que desestruturam todos que estão em volta. Os personagens que iniciam mascarados no decorrer da diegese vão mostrando-se cada vez mais decadentes, enquanto o personagem principal vai se humanizando.
O protagonista no inicio da trama mostra-se um pai insensível, que deseja ter relações sexuais com a amiga da filha, que ainda está no colegial. Sua personalidade piora quando se vicia em drogas. Mas melhoram quando larga o emprego e, finalmente, pode se sentir livre de algo frustrante e destrutivo, a sua carreira profissional. Diante de uma atitude irresponsável ele passa a descobrir seu interior que estava morto até o momento. Também ele se redime de certo modo ao saber que a amiga da filha ao contrário do que dizia era virgem e, então, nega-se a tirar a sua virgindade. Porém, nesse momento já não importa tanto sua humanização, já que a morte logo vai lhe encontrar novamente, desta vez, definitivamente.
Como falamos da amiga da filha do protagonista devemos citar o tipo americano ilustrado pela personagem. Uma típica patricinha do colegial, líder de torcida e que se diz desejada por todos os homens, mostra-se segura, dona de uma auto estima elevada e experiente sexualmente. No entanto, sua mascara cai quando o vizinho da amiga não a deseja. E, por fim, quando confessa sua virgindade e insegurança ao pai da amiga no momento em que está prestes a ter uma relação sexual com o homem.
Já a filha é uma rebelde americana, com lápis preto no olho e tom melancólico. Culpa os pais pela sua condição e não faz nada para mudar as circunstancias em que se encontra. Droga-se com a amiga e envolve-se com um tipo de garoto com histórico conturbado.
O garoto filma a vizinha escondido, até que ela descobre e não o repreende, mas sim inicia um relacionamento com o rapaz. Ele é o tipo tímido que na verdade esconde muita coisa em seu silencio: vende drogas, fala com o pai como um soldado e acha interessante que o mesmo tenha a louça usada por Hitler, mostrando para a garota na tentativa de impressioná-la.
O pai do jovem é o tipo de americano que serviu no exército e se orgulha em deixar claro o seu passado a todos. Trata o filho como se fosse um subordinado e ignora a loucura da esposa. Além de destruir a própria família com seu autoritarismo e preconceito. Tudo isso por esconder a atração pelo mesmo sexo.
As esposas são nitidamente perturbadas. A esposa do protagonista preocupasse em mostrar uma boa imagem, independente da realidade vivida, o que importa é a farsa feliz mostrada aos outros. Tem um amante e critica o marido por ser distante da filha, não vendo que também está na mesma condição. Já a esposa do vizinho é totalmente perturbada mentalmente, como se preferisse se refugiar na própria loucura de que enfrentar a tirania do marido e defender a si mesma e o filho.
Os únicos personagens que não demonstram vestir máscaras são os que dão vida ao casal gay da vizinhança e que sofre preconceito do ex-militar homofóbico. Afinal, para aquela sociedade “conservadora” não usar uma máscara da típica família feliz no porta-retrato chega a ser uma doença social.
E, finalmente, sabe aquela casa branca com jardim cultivado pela dona do lar, o jantar em família todas as noites sem exceções...? Os personagens de “Beleza Americana” até podiam ilustrar e quem sabe protagonizar algum comercial de margarina. Mas quando olhamos de perto, a percepção torna-se muito mais complexa com aspectos extremamente preocupantes, em uma sociedade que vive de aparências, sufocando uma verdade que deveria estar sendo tratada e não camuflada.

FICHA TÉCNICA
 
 
Título original: American Beauty

Lançamento: 1999 (EUA)

Direção: Sam Mendes

Atores: Kevin Spacey, Annette Bening, Thora Birch, Wes Bentley.

Duração: 121 min

5 comentários:

  1. Ou seja... todo mundo é louco! rs O último parágrafo resume muito bem todo o sentido do filme. São apenas pessoas que vivem de aparências e julgam os outros sem se perguntarem se estão ou não aptos para fazer tal coisa.

    Adoro este filme e sempre dá uma boa discussão :D

    Ótimo texto Aline!

    p.s.: Ah, acabei de ver o teu comentário em meu blog... É, eu não curti muito "A Garota da Capa Vermelha", achei beeem fraquinho! rs

    p.s.: Assista "Por um sentido na vida". Tenhocerteza que irá gostar!

    []s

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  2. Esta dentro do meu livro-A fraude de Freud e o dr Cinema- em que as vezes o Cinema é tanto ciencia como a Psicanalise.E a Beleza Americana -é a propria Caverna de Platao-outro livro -O filosofo de Jatai e a Caverna de Platao.

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  3. É uma ótimo filme com ctz. Vou assistir "Por um sentido na vida", fiquei bem curiosa...
    Vou procurar esses livros, para analisar um filme é sempre indispensavel dominar um pouco da psicanalise e confesso que estou em falta :(
    Mais uma vez meu mto obrigado pelos comentarios =*

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  4. FILME MUITO BOM. PENA QUE JA ASSISTI MUITAS VEZES E NAO CONSIGO ASSISTIR MAIS DIREITO. ACHO QUE FORAM MAIS DE 20. SERIO MESMO.

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  5. E no que essa realidade é diferente do Brasil, Artigo imbecil

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