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terça-feira, 17 de maio de 2011

FOI APENAS UM SONHO


Podemos dizer que são coisas distintas imaginar uma vida e realizá-la. Nem sempre o que sonhamos acaba se tornando realidade, infelizmente. E quando isso acontece temos duas opções, erguer a cabeça e procurar algo novo para sonhar ou se jogar no abismo de frustrações que insiste em nos puxar cada vez mais para baixo.
A adaptação do livro homônimo de Richard Yates de 1961, para os cinemas “Foi Apenas um Sonho”, trata justamente dos sonhos não realizados, como a o próprio titulo em português nos mostra entrega. Mas esse tema, na realidade, serve de fundo para conflitos maiores. Vejamos que Frank e April, o casal principal da obra, vivem vidas que não sonharam. April sonhava em ser atriz, mas teve uma carreira fracassada e acabou dedicando o maior tempo de sua vida a manutenção do lar. Frank nunca soube qual era seu verdadeiro sonho, o que desejava “ser” e não “ter”, vivendo uma crise existencial em uma busca pela própria essência.
O filme mostra-nos como o casal se conheceu e depois já os vemos casados e com dois filhos, com poucos flashbacks mostrando o inicio do casamento. No matrimonio April sofre por se ver em uma posição passiva, não tendo realmente alguma motivação, a não ser cuidar dos filhos e da casa, vendo seu papel na sociedade ser anulado (como ocorria com a maioria das mulheres da época, que deviam viver como as modelos dos anúncios publicitários de eletrodomésticos). Olhando algumas fotos, encontra uma de Paris, lugar onde nunca estivera, e vê uma forma de fugir daquela realidade que não a pertencia, como uma chance de recomeçar, trabalhar fora e sentir-se útil, ajudando o marido a encontrar a verdadeira vocação e inserindo-se na sociedade.
Frank encontrou sua zona de conforto, não era feliz, mas se acomodou em um lugar que era “confortável”. Desempenhava o papel do homem de família, dava suas “escapadas” com as secretárias e quando chegava em casa encontrava uma família aparentemente bem estruturada. Mesmo diante da acomodação que o personagem se encontrava, decide compartilhar da ideia da mulher em ir para Paris começar uma nova vida. Porém, a estabilidade que o emprego lhe proporciona cada vez com maiores proporções e a gravidez inesperada de April, faz com que ele encontre desculpas para ofuscar o medo de ousar e continuar vivendo o “american way of life”.
Sabemos que com o fim da Segunda Guerra Mundial e a ascensão norte - americana o estilo de vida que os cidadãos da America do Norte viviam era o mais “perfeito” modelo a ser seguido. Pois, eles tinham uma obrigação de serem pessoas felizes em suas belas casas, com seus carros com design modernista, aparelhos eletrodomésticos, homens que trabalhavam em grandes empresas e mulheres que cuidavam de seus lares, tentando apagar o trabalho das mulheres nas fábricas durante a guerra. Mas sabemos que tudo isso é apenas um falso cartão de visita. Ser norte americano e seguir as convenções estabelecidas, que constroem pessoas em série, todas muito parecidas uma com as outras não torna as pessoas felizes, apenas passa uma imagem “saudável” aos olhos de quem esta longe. Nós mesmos temos a tola ideia de que tudo que vive em solo norte americano é maravilhoso, herança dessa época em que os EUA insistiam em introduzir no pensamento coletivo de que viviam em um mundo cor-de-rosa, onde tudo era bonito, harmonioso e amável.
A escolha pelo aborto mostra o desequilíbrio em que April se encontrava. Mesmo tendo o apoio do marido para que não cometesse tal ato e sabendo dos riscos que corria fazendo essa opção foi adiante, demonstrando que havia perdido o amor pela vida.
Outro tema tratado na obra é a loucura, que durante toda a história da humanidade foi usada para calar todo individuo que tentasse derrubar o muro da hipocrisia levantado pela parte da sociedade “lúcida”. Até mesmo April e Frank eram vistos pelos amigos como loucos por quererem ir atrás de um novo caminho, novas esperanças, emoções e se aventurarem em uma vida com mais sentido.
Enfim, estamos falando de um filme recheado de crise existencial, amores frustrados, sonhos desperdiçados, convenções e estabilidades que só servem para serem molduradas e finais tristes para quem desiste de sonhar ou é impedido de fazer o mesmo. E finalmente, April nos deixa a mensagem de que “é preciso ter força de caráter para viver a vida que se sonha”. Eles tiveram essa força? Talvez Frank sonhasse com a vida que tinha, mas não admitia (nem para si mesmo) e April, que sabia o que queria também soube que não teve e preferiu desistir diante dos obstáculos de que tentar vencer a batalha.

FICHA TÉCNICA


Título Original: Revolutionary Road.

Origem: Estados Unidos / Inglaterra, 2008.

Direção: Sam Mendes.

Roteiro: Justin Haythe, baseado em livro de Richard Yates.

Produção: Bobby Cohen, John Hart, Sam Mendes e Scott Rudin.

Fotografia: Roger Deakins.

Edição: Tariq Anwar.

Música: Thomas Newman.

2 comentários:

  1. Belissimo filme do Sam Mendes, com grandes atuações de Winslet e DiCaprio.

    http://cinelupinha.blogspot.com/

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  2. Lendo seu texto agora, me ocorreu que tenho que rever o filme "pra ontem"...

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