Blue Valentine é uma das atuais obras-primas da sétima arte. Guiado pela direção de Derek Cianfrance, cada cena (incluindo flashbacks) desabrocha uma reflexão, com um passo para o futuro preso ao passado que não reflete no presente, nos dando a percepção de como a relação se construiu e chegou a sua destruição.
Para que essa colocação tenha sentido para todos, vejamos como a obra trabalha em seus discursos explícitos e implícitos. Alguns pontos que devem ser analisados pelo espectador, certamente, são: o amor real, sem o ideal romântico de que o “felizes para sempre” é algo concreto; como a rotina pode desgastar o encanto de uma relação; a prisão do casamento, como se existisse uma obrigação de permanecer em certo estado, por que um dia, em outras circunstancias jurou-se amor eterno, mas como diz a música, “que seja eterno enquanto dure”; a mudança dos indivíduos, já que ninguém é imutável; como um casal deve caminhar junto, o que não acontece no filme, onde a sintonia está distorcida e ninguém consegue afinar a música que toca a todo tempo de uma maneira irritante; a visão romantizada dos jovens que mais tarde ganha lentes para o mundo real (muitas vezes, insuportável); entre outros pontos que iremos discutir.
Diante desses aspectos podemos analisar a proposta da obra em mostrar um casal real, um relacionamento em seu todo e não apenas um recorte de uma história de amor, com aqueles momentos felizes, que convêm mostrar ao espectador. O filme poderia transforma-se, facilmente, em dois. Estranho? Não. Poderíamos nos deparar com uma obra que trataria de um casal se conhecendo e se descobrindo até o dia do casamento e o “felizes para sempre”. Já o segundo filme mostraria um casal em crise, infelizes, sem forças para sair do abismo em que caíram.
Os personagens mostram suas fragilidades, sonhos e esperanças frustradas. É como se Cindy culpasse Dean por seus planos não concretizados e/ou interrompidos. A garota que sonhava ser médica, tornou-se uma enfermeira, casada com um homem que reproduz a má relação de seus pais. Ela mostra-se insatisfeita, sem nenhum vestígio do brilho, que tinha no inicio do relacionamento, ofuscado pelas responsabilidades de uma mantenedora do lar.
Dean nunca teve grandes planos, contentava-se com a vida que tinha, mas era doce, carinhoso, compreensível e fazia valer o amor que dizia sentir. Tudo perdido com o tempo. Talvez a insatisfação da mulher tenha-o feito assim, já que com a filha ele permanece o Dean com as mesmas qualidades da juventude.
A relação desde o inicio baseada no sexo, com o tempo passa a não funcionar, como todo o resto, representando o distanciamento e a dificuldade de se redescobrirem como um só.
Enfim, podemos dizer que Blue Valentine é um filme que conta a história real do amor, um amor que nasce intensamente, enche os corações de alegrias e faz que com tanta empolgação cegue o casal para o essencial. Inevitavelmente, a novidade se tornará banal e somente a compreensão, a capacidade de ceder e a vontade de permanecer unido fará com que o casal possa lembrar, saudosamente, do tempo em que tudo era sonho, já que quando passa a ser real sempre fica menos encantador. Afinal, o amor romântico existe apenas quando não concretizado.
P.S um breve resumo de uma obra que guarda muito mais subtextos do que essas palavras foram capazes de desvendar.
Aline, melhorando cada vez mais em seus textos. Demais mesmo. Eu já tinha vontade de ver o filme, preciso ressaltar que essa vontade aumetou??! Virou necessidade!
ResponderExcluirMuito obrigada msm, fico mto feliz. Eu estava com vontade de assistir desde o ano passado, fiz de tudo para esperar a estreia no cinema, mas cheguei no meu limite e assisti antes hahaha. E vc, vai esperar a estreia ou vai assistir na net? Depois me conte o que achou :D
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