O mundo me incomoda, mas não é o
mundo, eu me incomodo, mas não sou eu. Estou cheia, não sei se é felicidade ou
sofrimento. São dois sintomas invisíveis, indizíveis, analiso e me decomponho.
Olho antes de me reconhecer, percebo uma semantização, tudo implica um
denominar, que implica em um definir, que não me revela na própria essência.
Não sou palavra, sou o que me olha, o que me afeta, entre o mundo vivido e o
mundo imaginado, sou realidade. O mise-en-discours transforma o dito, discursa e
cria minhas ações no mundo. Exponho-me independente da finalidade, amplio os
significados, quando não digo, não faço, quando faço digo certo ou errado.
Passa, estou em fluxo, apreendo o mundo pelo sentir, pela cidade, no ônibus ou
em alguma fila de consumo, estou na presença de tantos, a atenção
é distraída, a consciência está no prazer vinculante do que não me pertence, o
desejo é a falta. Como me falta aquele dia todos os dias, como me falta morrer
de felicidade, ter certeza que não é sofrimento pela falta do sentir do
sentir, sentir em ato, perceber e ser presença. O mundo não é o que me revela
pela janela da casa, pela janela do meu vazio, não há realidade, é um deixar-se
levar, causa e efeito, fórmulas do sensível socializar e de socializar o
sensível, estetização da vida. O mundo é vinculante, presentificação, a maneira
que nos tornamos presentes em nós, nos tornamos próximos, um mundo bonito, distração
de quem sente, sensação de vida, performática, dinâmica, relacional e estética.
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