"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

MISE-EN-SCÈNE


            O mundo me incomoda, mas não é o mundo, eu me incomodo, mas não sou eu. Estou cheia, não sei se é felicidade ou sofrimento. São dois sintomas invisíveis, indizíveis, analiso e me decomponho. Olho antes de me reconhecer, percebo uma semantização, tudo implica um denominar, que implica em um definir, que não me revela na própria essência. Não sou palavra, sou o que me olha, o que me afeta, entre o mundo vivido e o mundo imaginado, sou realidade. O mise-en-discours transforma o dito, discursa e cria minhas ações no mundo. Exponho-me independente da finalidade, amplio os significados, quando não digo, não faço, quando faço digo certo ou errado. Passa, estou em fluxo, apreendo o mundo pelo sentir, pela cidade, no ônibus ou em alguma fila de consumo, estou na presença de tantos, a atenção é distraída, a consciência está no prazer vinculante do que não me pertence, o desejo é a falta. Como me falta aquele dia todos os dias, como me falta morrer de felicidade, ter certeza que não é sofrimento pela falta do sentir do sentir, sentir em ato, perceber e ser presença. O mundo não é o que me revela pela janela da casa, pela janela do meu vazio, não há realidade, é um deixar-se levar, causa e efeito, fórmulas do sensível socializar e de socializar o sensível, estetização da vida. O mundo é vinculante, presentificação, a maneira que nos tornamos presentes em nós, nos tornamos próximos, um mundo bonito, distração de quem sente, sensação de vida, performática, dinâmica, relacional e estética.

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