"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

sábado, 21 de janeiro de 2012

2 COELHOS



Não costumo escrever em primeira pessoa, mas dessa vez vou abrir uma exceção, pois acredito que a análise pede algo mais pessoal, algo que debata o sentimento do espectador e não o sentimento que a critica anda construindo diante do filme “2 Coelhos”, de Afonso Poyart.
“Ele não é uma história de amor, não é só ação. Se pudesse classificá-lo, seria como um filme nerd”, explica a atriz Alessandra Negrini. “A gente queria fazer um videogame de verdade", completa o ator Fernando Alves Pinto.
Diante desses comentários é possível perceber o conceito que deveria aparecer na tela do cinema, mas o que vemos é apenas uma tentativa, não que isso seja ruim, pois é experimentando que podemos evoluir. Andam dizendo por aí que se trata de um filme diferente de tudo o que é feito no Brasil, Negrini, que interpreta Julia, fez uma afirmação do gênero em uma entrevista. O que me parece é que o roteirista e, também, diretor, teve a idéia de fazer um filme hibrido e acabou optando por uma narrativa igual a muitas que vemos no cinema brasileiro, corrupção e assassinato, ou o inverso, fez um roteiro igual a muita coisa que já vimos por aí e para dar um ar pós-moderno inseriu um grafismo aqui, um universo paralelo ali.
Confesso que quando o filme terminou fiz o seguinte questionamento: “E agora, eu gostei ou não do filme?” Até agora estou inquieta com essa questão que não sei responder com exatidão. Odeio ver alguma publicidade, ler alguma critica ou ter contato com qualquer coisa que me dê algum repertório do filme que irei assistir, pois isso acaba causando frustração, você começa a imaginar a obra na sua mente que não é a real, já que você não pode criar imagem e semelhança do filme que irá assistir. Infelizmente, vi muita coisa de “2 Coelhos”, o que causou uma quebra na expectativa.
Acredito que seja interessante citar as falhas que existem no roteiro, uma apresentação longuíssima de cada personagem, tudo com narração em off. Vamos combinar que isso fica chato depois dos 5 minutos. Mas, também, tem o ponto forte de não entregar toda a situação e aos poucos fazer ligações entre os personagens.
Falta uma proximidade dos personagens com o espectador, não temos a chance de criar vínculos com os mesmos, já que não há um convívio com o interior deles, até para não nos dar pistas do que está por vir. A construção do personagem Edgar é feita de tal maneira que nos dá a impressão de que se trata de um playboy atrás de sexo e grana. Quando ele tem seu trágico fim não comove muito o público, que só depois descobre que o seu plano era heróico (assistam ao filme e descubram porque o personagem tem o conceito de herói).
A personagem Luiza deve ganhar uma atenção especial, inicia como uma mulher poderosa, promotora de justiça, corrupta e calculista. Depois que a conhecemos no mundo de Edgar ela se transforma (a transformação, inclusive, surge em seu figurino, despojado, diferente do anterior) em uma menina apaixonada, que arquitetou todo um plano para viver o seu amor, livre, em um lugar em que fosse possível encontrar a felicidade, uma personagem redonda, que representa o lado forte e sonhador da mulher pós moderna. As feministas mais radicais podem dizer que ela é representada com preconceito, uma mulher fraca, já que no final dá vazão aos sentimentos, mas porque a mulher tem que sempre demonstrar-se fria para ter seu lugar? Amamos sim, até aquelas que parecem extremamente racionais.
Enfim, não fui ao cinema com a pretensão de ver um filme filosófico, ao contrário, estava disposta a ver muita ação, efeitos especiais, algo muito hibrido, com tiroteios e universos paralelos. Mas acho que camuflaram o filme com uma cena de vídeo-game e uma síndrome do pânico que levava Luiza a um mundo surreal, nada além disso.
O filme vale pela tentativa, não foi ousado e assim vai conquistar um público comercial, com certeza. Até eu gostei depois dos primeiros quarenta minutos.


FICHA TÉCNICA


Brasil , 2011 - 106 min.
Ação / Policial
Direção: Afonso Poyart

Roteiro: Afonso Poyart

Elenco: Alessandra Negrini, Caco Ciocler, Fernando Alves Pinto, Marat Descartes, Neco Vila Lobos, Roberto Marchese, Norival Rizzo, Thogun, Thaíde, Yoram Blaschkauer, Robson Nunes, Aldine Muller

3 comentários:

  1. Gostei dos seus comentarios, mas acho que vc pegou um pouco pesado...
    Ta bom, o filme nao e um Snatch, Porcos e Diamantes nem um Natural Born Killers, mas o considerei muito bacana por ser um filme de um ainda um pouco desconhecido Afonso Poyart. Quem sabe nao vem ai uma versão moderna de Oliver Stone ou ate de Tarantino ?
    Abs, Fernando

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  2. Universo paralelo onde? Não entendi essa.

    E acho que você confundiu o nome da personagem (Júlia em vez de Luiza).

    Afonso Poyart ousou em trazer pro main stream do cinema nacional algo um pouco diferente do que estamos acostumados a ver (in terra brasilis!). Achei muito bom o trabalho e estou ancioso pra ver o próximo.

    Quanto à sua análise, achei um pouco leviana. Deixou de levar em conta vários e vários fatores. Soou mais como um grito de uma réles leiga em técnicas cinematográficas querendo ser notada pelo professor de Áudio Visual do que uma crítica propriamente dita.

    No mais parabéns pelo espaço, vez ou outra dou uma conferida nas suas postagens.

    Abraço

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  3. Eu gostei! Vi de novo e entendi melhor coisas que me passaram batidas na primeira vez. É legal ter um filme brasileiro com uma trama mais complicada. Acho que os autores tiveram todo o direito de fazer um final absurdamente surpreendente sem nenhum ônus para eles, porque a história deixou uma brecha para aquilo acontecer. Achei um filme muito bem bolado e que não faltou nada.

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