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domingo, 18 de setembro de 2011

KINOFORUM - ANÁLISE


O Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, o Kinoforum, já está na sua 22ª edição. Por meio da Coordenadora da Pós Graduação em Cinema e criadora do Centro de Cultura Contemporânea, Denize Araujo, este ano o Festival foi estendido à Curitiba, cidade com grande público interessado na arte e cultura, pois o sucesso do evento pode comprovar.
O evento disponibilizou ao público a Mostra de Curtas Latino-Americanos, Mostra de Curtas Internacionais e os Curtas Brasileiros, incluindo o documentário paranaense “Xetá” de Fernando Severo e a animação “Meu Medo” do também paranaense Murilo Hauser.
As comédias conquistaram o público que demonstrou satisfação com as propostas apresentadas, destacando-se “Cesár!”, que de uma maneira divertida mostra a dificuldade dos jovens de se adequarem aos padrões e dificuldades da sociedade que eles estão descobrindo, se decepcionando e se adequando.
Assim como as comédias, os dramas também chamaram a atenção como o também brasileiro “Cores e Botas” que conseguiu abordar o preconceito racial de uma maneira menos estereotipada, mostrando a superação de quem sofre com a diferença e como a mídia impõe os padrões que a sociedade alienada acata sem contestação.
Os dramas que arrancavam risos da platéia foram um dos pontos fortes do Festival. Percebemos o humor sarcástico que mostrava o drama vivido por personagens riquíssimos em suas temáticas, comprovando mais uma vez o conceito de que a comédia é o patético, que o riso é o caminho para o choro. Essa característica do riso no drama foi comprovada no curta da Nova Zelândia “Blue”, exibido na sessão de abertura e que merece uma análise detalhada do conteúdo.
O curta-metragem Azul (Blue) tem como temática o diferente, o “exótico”, que funciona como “atração” em uma sociedade vazia e egoísta. O personagem principal é um trabalhador que não se encaixa no padrão estético dos demais. Esses indivíduos “normais” passam a tratá-lo como parte de um espetáculo, como na cena em que dá um autógrafo. No entanto, em outros momentos ele é ignorado, justamente quando precisa dessa sociedade que o utiliza, representado pela cena em que ele precisa acender o cigarro e o colega de trabalho trata o fato com indiferença.
A única pessoa igual a ele era um membro da família, que pressupomos ser sua esposa. Porém, a mulher morre e ele é obrigado a voltar para a casa vazia. Nesse momento somos premiados com uma cena em que a casa do personagem se transforma em um cenário, mostrando como vivemos em um mundo todo certinho, montado para encenarmos em um ambiente que a qualquer momento pode ser desmontado, para dar espaço a outro mais conveniente para o sistema em que estamos inseridos.
Para que sejamos úteis para o sistema é necessário que dancemos a música que eles tocam, ao contrário, eles escalam outro personagem que se encaixe na história de corrupção, escravidão e hipocrisia que estão sendo moldados, como se fossemos parte de um set de filmagem, onde tudo é de mentira, menos o sofrimento que nós, as “marionetes humanas”, sentimos e agonizamos por instinto de sobrevivência.
A cena em que vemos o cenário montado e Blue com a mulher dançando ao seu lado, é bem elaborada, pois é nesse momento que descobrimos que o “boneco” reconhecido no Instituto Médico Legal morava com o personagem. É importante, também, dizermos que esta cena é um pesadelo que Blue está tendo após chegar a sua casa de luto. O que antecipa a angústia do personagem que ao fim desiste da tentativa de se encaixar na sociedade que tanto o usou, mas nunca foi capaz de ajudá-lo, de olhar de verdade para toda a melancolia que existia naquele ser estereotipado pelos indivíduos fabricados em série e satisfeitos com a normalidade estabelecida a eles.
Desse modo o Kinoforum foi bem recebido em Curitiba. Nos dias 2, 3 e 4 de setembro, o shopping Novo Batel recebeu um grande público desde o dia de abertura, que contou com a cobertura da imprensa, como a Rede Paranaense de Comunicação (RPC), filiada da TV GLOBO, até a sessão de encerramento junto aos debates, que tiveram a participação de William Hinestrosa, do Kinoforum-SP, Paulo Camargo da Gazeta Do Povo, Paulo Munhoz (Produtora Tecnokena) e Denize Araujo (Mediadora, UTP).
O público que esteve presente pode conferir a seguinte programação:

SESSÃO 1 - ABERTURA

Calle Ultima/ Rua Última (Paraguai 20min)
Blue (Nova Zelândia / 14min)
Dimanche / Domingos (Belgica / 16min)
Alexis Ivanovitch Vous Êtes Mon Héros / Alexis Ivanovitch Você É Meu Herói (França / 20min)
Suiker / Açúcar (Holanda / 8min)

SESSÃO 2

Ela Morava Na Frente Do Cinema (Brasil – PE / 30min)
Un Juego De Niños / Brincadeira De Criança (Colômbia / 18min)
A Simple Love / Um Simples Amor (Alemanha / 18min)
Contagem (MG / 18min)

SESSÃO 3

Un Nuevo Baile/ Uma Nova Dança (Chile 24min)
Cão (SP / 19min)
Las Palmas (Suécia / 13min)
Tijereto (Colômbia / 22min)

SESSÃO 4

Cores E Botas (SP / 15min)
Happy Now / Feliz Agora (Dinamarca / 18min)
Cesar (SP / 15min)
Vannliljer I Blomst / Ninféias Em Flor (Noruega / 16min)
Ratão (DF / 20min)

SESSÃO 5

Xetá (Brasil – PR / 20min)
Ebony Society / Sociedade De Ébano (Nova Zelândia / 13min)
Roma (México / 25min)
Meu Medo (PR / 11min)

ENCERRAMENTO

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