"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

domingo, 27 de abril de 2014

HOJE É UM DIA TIPICAMENTE ESTRANHO

            Não quero ser sozinha no mundo em que sou estranha, é sempre melhor achar algum estranho para conversar. Não sei dizer por que me tornei estranha, nem quando isso aconteceu, se foi um dia em que não me reconheceram porque havia mudado o cabelo ou quando não me reconheci porque mudei algo do lado de dentro. 
            Tem aqueles dias que fico cheia de tudo, tão cheia que tiro tudo de dentro de mim, as cartas de amores partidos, aqueles que estavam esquecidos, relembro dos amados e desalmados, escrevo para todos eles e depois mastigo cada folha para deixar tudo em seu devido lugar. A gente procura novidade e demora a acostumar com a nova visita, que quando se torna conhecida vai embora e deixa um vazio estranho e você se enche de saudades.
            Amigos vêm e vão com a mesma intensidade que ninguém nunca quis conselhos, sermões, eu disse isso e aquilo, a gente só quer um ombro amigo, ombros que não falem, ombros que enxuguem lágrimas. Eles sempre acabam falando em momentos que ficar quieto é a melhor opção, mas eles não são estranhos e falam porque são sinceros e diretos, amigos. Até parece estranho tanta intimidade, parece cruel tanta franqueza.
            Vamos para a rua procurar a indiferença que acontece no vai e vem da normalidade. Esperar o ônibus ao lado da senhora que não te dá bom dia, ser atropelada pelo ciclista que sai te xingando e logo é atropelado por um carro, desviar do mendigo que dorme com tranquilidade na calçada, enquanto você entra no prédio e o porteiro aperta o botão do elevador para você (que não sabe o nome do porteiro, nem ele o seu).
            Hoje é um dia tipicamente estranho, cheio de ideias, cheio de sonhos, cheio de amores e eu mais cheia de mim, enquanto quero que os amigos ignorem as lágrimas que caem em seus ombros, apenas se movam ao som da música de sábado à noite e sejamos todos estranhos de nós mesmos, sem precisar reconhecer os sentimentos que entram sem falar “podemos nos conhecer?”. 

sexta-feira, 18 de abril de 2014

AINDA TENTAMOS RESPONDER AQUELA PERGUNTA DO ORKUT: QUEM SOU EU?



Dizem que somos perdidos, que não sabemos para onde vamos, mas nós sabemos o caminho da casa dos nossos pais. Dizem que não sabemos dar valor as coisas, mas valorizamos muito uma internet banda larga. Sabemos como as coisas eram difíceis naquela época em que a internet era discada e todo mundo tinha o seu jeitinho para acessar o Orkut, escondido dos pais antes da meia noite.

Não somos nem um pouco perdidos só porque não temos a estabilidade de um cargo público, ainda não temos filhos e não precisamos saber cozinhar. Afinal, ficamos emocionados com uma bandeja de fast food.

Tem uma geração aí falando da nossa geração. Ela não tem os turcos da Nouvelle Vague e nem os brasileiros Tropicalistas do festival de 67. Temos o pessoal do Mumblecore. O encantador Frances Ha, em que Greta Gerwig, a musa do coletivo, interpreta uma jovem com 27 anos, que faz da vida uma bela música no clima de David Bowie e o melhor, Frances dança a música. De um lado a leveza dos sonhos e do outro a pressão das convenções sociais do século passado.


Também, temos Lena Dunham, a criadora e protagonista de Girls. Hanna sonha em ser escritora, mas diante das pressões sociais é sufocada pelos padrões, que limitam seu fluxo criativo. Antes do seriado, com Tiny Furniture, Dunham já havia exposto na tela, Aura, uma jovem recém-formada em Cinema que sem emprego e sem rumo volta para a casa da mãe. A personagem entra num conflito entre se adaptar a vida adulta e competir com a irmã adolescente.

Temos o Matheus Souza, todos citariam o premiado “Apenas um Fim”, mas prefiro Vendemos Cadeiras, seriado com Wagner Santisteban, Gregório Duviver e Clarice Falcão. Três jovens em conflito em meio aos sonhos e as vendas da loja de cadeiras. Eliézer escreveu seu primeiro livro aos doze anos para conquistar uma garota, dirigiu um filme e vive dessas lembranças, desejando que elas voltem a fazer parte de algum presente futuro. Fábio Jr nunca beijou uma mulher que estivesse acordada e é rejeitado pela família que tem uma loja de sucesso que vende sofás. Diana é uma órfã adotada por 63 famílias diferentes, devolvida ao orfanato 42 vezes por justa causa e finalmente adotada por Ferreira, o dono da loja de cadeiras. Elieser e Fábio Junior apaixonam-se por Diana, ela gosta de meninas e eles decidem ser amigos.


Somos um pouco instáveis, não nego, estar dentro de nossas cabeças não é para qualquer um, por isso às vezes ficamos melancólicos. Também temos tendências artísticas, queremos ter uma banda, escrever um livro, roteirizar, dirigir, produzir e atuar em um filme, deixar nossos nomes na calçada da fama da Rua Augusta. Somos a geração criada dentro de casa que é bombardeada pela tecnologia consumida pelos pais, para que os filhos não lhe causem preocupações. Então, criamos mundos virtuais, relacionamentos complicados como distrações e expomos nossas insatisfações nas redes sociais."

Aos 26 começo a me preocupar com os próximos anos, não será muito diferente de hoje. Por um lado gosto da ideia. Tem muitas coisas que não quero mudar, mas tenho aquele medo de estar com a síndrome de Peter Pan. Deve ser a minha crise da idade, os mais velhos sempre falavam que estavam na crise da idade, acho que eles não são mais velhos do que eu agora.

Entre tantas dúvidas, lá no fundo tenho consciência de que estamos certos de nossas incertezas. Depois que consumimos cultura pop pesada durante toda a adolescência, somos forçados a entender que a vida não é um filme com fórmula hollywoodiana. É difícil, mas é bom, não precisamos seguir um roteiro. Precisamos viver o imediato, mesmo que eu, você e o Matheus Souza não tenhamos a menor ideia do que estamos fazendo com nossas vidas.

sábado, 12 de abril de 2014

E SE EU FOSSE FAMOSA?

 
Você poderia falar sobre o seu processo criativo?
É um processo que exige criatividade.
 
E como você escreve?
Eu digito o que penso e sinto (sinto muito por quem não pensa o que digita).
 
Sobre o que você pensa?
Penso coisas que vem na minha cabeça.

No que você se inspira?
No que eu conheço.
 
 
Quais são suas obras preferidas da literatura brasileira?
A coluna da Folha de São Paulo do Gregorio Duvivier, o roteiro de Vendemos Cadeiras do Matheus Souza e o site Ornitorrinco.  

Tem algum cânone para colocar nessa lista?
Sim, mas não preciso falar deles, já são cânones, é claro que todo mundo vai dizer que gosta, é claro que isso não significa que realmente gostem.  

O que você acha da facilidade de publicações na internet, como os blogs?
Acho uma pós-modernidade híbrida de fácil publicação.  

Como você descreveria a sua produção?
Produzida por mim.  

O que você gostaria que estivesse escrito em sua lápide?
Não fui Camões, mas ele foi Vaz.  

Como você quer terminar isso aqui?
O link abaixo é melhor do que isso que você está lendo:

sexta-feira, 4 de abril de 2014

AGRADEÇO SUA AUSÊNCIA


             Sozinha! Nenhum ex-namorado para falar dos meus defeitos em uma mesa de bar. Nenhuma mágoa para ser jogada no ventilador. Nenhum dia perdido discutindo a relação.

            Deveria ser, mas... Essa coisa de andar sozinha, estar solitária, tem sempre conceitos distintos. Não estar acompanhada de um status de relacionamento não significa estar isolada e imune às relações. Certamente, já fui assunto em uma mesa de bar de alguém insatisfeito com minhas reações. Mágoas jogadas na cara, disso eu não lembro, alguém aí lembra? Quantos dias perdidos ou ganhados, discutindo um misto de complexidade sentimental. Discussões para nos ouvirmos com o anseio de nos entendermos.

               Uma noite sem destino! Estamos aqui sem dar satisfações para nós mesmos! Essa sensação eu sempre gostei, amei mais do que amei uma noite a dois. É o que eu acho, mas os gostos mudam, a gente troca de banda preferida com os anos.

               Uma noite epifânica! Aquela é a sua noite e você espera o que quiser dela. Ninguém pode esperar algo de você, você quer voar, na imagética mais clichê da subjetividade e foda-se ser clichê, sem sentido, sem rumo, sem destino.

                Agradeço a ausência daqueles que me deixam por aí. Gosto da brincadeira de esconde-esconde. Sempre há uma nova diversão no intervalo para nos encontrarmos. Topo continuar correndo, vem um vento gostoso no rosto e os pés saem do chão. Odeio sentir-me presa nos quadrados da cerâmica, não preciso conhecer a cozinha, não tenho hora para jantar, odeio dizer onde estou e para onde vou. Na sua ausência eu não digo nada.

               Gosto da sensação de estar onde ninguém sabe (minha cabeça ou uma rua). Caminho como se não existissem compromissos, eu vou e volto quando quero, distraída, me transportando para as lembranças, em que conversamos e vemos nossas cores nos olhos, predominando o vermelho e o azul. Sem ensaio a gente tem um ritmo que deixa a gente parecido. E a gente se parece, porque a gente se gosta e a gente gosta da ausência para provar que sabemos nos encontrar, mas hoje não queremos nos ver e tudo bem.

               Gosto de esbarrar em amigos e dizer: a gente se vê! É descompromissado, é livre, a gente se vê, a gente se esbarra, os caminhos se encontram e por acaso a gente tropeça em nossos encontros, improvisando para não cair com a cara no chão.

               Eu vivo sem você, mas nunca vivi sem amor! Vivo amando a sua ausência inacabada, esperando o “oi” depois do “até mais”, mas agradeço por me deixar viver em um mundo em que a saudade do que nunca vivi transforma-se em sonhos. Os sonhos embaixo do meu edredom esperam pelo dia em que seremos ausentes do mundo, para vivermos sozinhos em nossos corpos. Começamos a ouvir uma nova banda.