"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

35ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SP - HABEMUS PAPAM


Nanni Moretti é um diretor italiano que já causou muita polêmica em sua obra, como, por exemplo, em “A Missa Acabou” em que causou um mal estar na Igreja Católica em 1985. Desta vez, o cineasta, que se declara contra o catolicismo e o atual governo italiano, pregou uma peça no público que esperava uma critica as denuncias de pedofilia na Igreja e afins e se deparou com uma narrativa cômica que usa o Vaticano como cenário para ilustrar as angústias existências de um homem, que nesse caso é o escolhido para substituir o Papa João Paulo II.
Em Habemus Papam os cardeais não são apenas sujeitos que constituem um sistema, eles são humanizados, vemos homens com conflitos e responsabilidades como de qualquer individuo, independente do papel desempenhado na sociedade.
O Vaticano de Moretti, que também atua no filme, é simplificado, aproximado de nós. Melville, o Papa escolhido, entre tantos que se sentem aliviados por não serem nomeados, entra em uma crise existencial. Ele queria ser ator, mas teve seu sonho frustrado. Quando se vê diante de uma responsabilidade que irá aprisioná-lo completamente se depara com o momento de fugir do mundo em que se escondeu indo diretamente para o mundo em que ele deixara seu sonho, a dramaturgia.
O Papa fica angustiado pela falta de vocação e ao mesmo tempo sente medo de estar renunciando sua fé, assim como todos nós ficamos entre a razão e a emoção, o certo e o errado (que é subjetivo). Tudo isso é representado em um clima trágico, porém cômico, assim como a vida é, uma comédia triste, mas apaixonante.
Além de tratar desse mal social, as crises existenciais, a busca pela cura nos psicanalistas e os momentos epifanicos que temos ao longo da vida, Habemus Papam funciona como uma metáfora que critica o sistema das instituições, onde tudo é tão padronizado, tão bem moldado que a vontade do individuo, os amores e a coragem são sufocados pelas obrigações, pelo o que é melhor para o grupo. Vale a pena ser infeliz por um bem maior? O que seria o bem maior? O mais importante é o que você sente ou o que você demonstra sentir?

FICHA TÉCNICA


Diretor Nanni Moretti

Roteiro Nanni Moretti, Francesco Piccolo, Federica Pontremoli, Jerzy Stuhr

Fotografia Alessandro Pesci

Montagem Esmeralda Calabria

Música Franco Piersanti

Elenco Michel Piccoli, Nanni Moretti, Jerzy Stuhr

Produtor Jean Labadie, Nanni Moretti, Domenico Procacci

Produção Fandango, Sacher Film, Le Pacte

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

35ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SP - SE NÃO NÓS, QUEM?


 UMA HISTÓRIA DE AMOR PASSIONAL

“Wer Wenn Nicht Wir” intitulado em português de “Se Não Nós, Quem?” é o primeiro filme de ficção do documentarista alemão Andres Veiel, que mesmo em uma narrativa ficcional usou elementos da história para construir uma obra que transborda sentimentos de uma Alemanha influenciada pelo nazismo, que mesmo com o fim da Segunda Guerra Mundial ainda vive com os fantasmas de um passado impossível de ser enterrado.
Mais uma vez passeando entre a realidade e a ficção os personagens principais são Gudrun Ensslin, uma idealista do grupo radical Baader-Meinhof e Bernward Vesper, filho do romancista oficial do regime nazista, um casal real da história alemã.
Por meio desses personagens expressa-se um sentimento comum entre os jovens pós-nazismo, o medo do que estava por vir, a necessidade de se expressar após anos de silencio e as inquietações introspectivas de jovens pensantes, os questionamentos entre o dizer e o fazer, o pensar e o agir.
“Se Não Nós, Quem?” conta uma história já narrada na tela da sétima arte muitas vezes, fato corriqueiro no cinema, a arte de contar a mesma história de maneiras distintas. O fato a se discutir é a maneira que a história é contata. Jovens universitários, que passam a viver uma vida juntos sem regras, mas que a falta da mesma se confronta muitas vezes com os padrões da sociedade que assombram os quais as negam.
O modo como as escolhas políticas podem transformar, criar e destruir os sujeitos são expostos nessa história. Observamos ativistas filhos de colaboradores de Hitler que sofrem com essa marca em suas descendências e que por tornarem-se tão radicais também irão traçar o futuro do filho criado por outra família.
O filme nos faz refletir sobre o que é correto, tornar-se um revolucionário que se joga no meio do tiroteio ou caminhar conforme seus pés permitem sem data para chegar, mas sem tropeçar. Até que ponto o amor pela causa não se torna doentio? E até que ponto é possível reprimir o sentimento de luta sem enlouquecer em seus pensamentos?


FICHA TÉCNICA


Diretor: Andres Veiel

Elenco: August Diehl, Lena Lauzemis, Alexander Fehling, Thomas Thieme, Imogen Kogge, Michael Wittenborn, Susanne Lothar, Maria-Victoria Dragus

Produção: Thomas Kufus

Roteiro: Andres Veiel

Fotografia: Judith Kaufmann

Trilha Sonora: Annette Focks

Duração: 124 min.

Ano: 2011

País: Alemanha

Gênero: Drama

Cor: Colorido

Distribuidora: Imovision