"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

quarta-feira, 11 de junho de 2014

CURTINDO A FOSSA


                Se eu responder a mulher que bate na porra da porta será que ela vai estar bêbada o suficiente para me entender? Eu vou ter que voltar para aquela mesa. Será que ele foi embora? Será que deixou a conta para eu pagar? Será que ele está esperando para conversarmos melhor? Será que ele mudou de idéia e vamos continuar a beber ou será que ele vai continuar com aquela história de que eu tenho que seguir em frente?
                Aqui ninguém invade a minha privacidade, a não ser a mulher bêbada que não para de bater. Será que faz tempo que estou aqui? Perdi a noção de vida desde quando ele sentou naquela mesa, 20 minutos atrasado e disse que não queria beber nada comigo. Não queria beber nunca mais comigo, nem comer, nem conversar, sair, assistir filmes que a gente nunca assistia até o fim, ligar de madrugada e responder minhas mensagens pela manhã.
                Estou um pouco tonta, se eu desmaiar aqui posso bater a cabeça, com sorte morrer ou pelo menos ficar com amnésia e esquecer aquele idiota. Quem é que usa a palavra idiota? Os meus palavrões não amadureceram, talvez ele tenha razão quando diz que preciso amadurecer e descobrir que o amor não existe.
                Vou abrir a porta, preciso conversar com alguém, essa mulher está desesperada para entrar aqui, certamente, vai me entender.