"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

domingo, 26 de janeiro de 2014

DE CORAÇÃO


            Uma vez li a história de uma menina que não queria ter coração. Ela tomava muita limonada sem açúcar e dizia que era para azedar o amor. Gostava de bebidas fortes, o álcool era um pretexto para ser lúdica.

            Já não tinha um coração bom. Havia sido mastigado, triturado. Era um bagaço. 

            Quando alguém estava apaixonado ela era dura, dizia que era bobagem e falava em assassinato. Deixaram de ter paciência, ninguém mais queria experimentar o gosto amargo de suas conversas. Aos poucos suas festas ficaram vazias e seu corpo imergiu.

            Não tinha quem amar e seu coração ficou naquele morre não morre. Fazia de conta que estava bem, mas as olheiras entregavam a sua escuridão.

            Na fila do supermercado alguém inicia uma conversa, daquelas inúteis de como o caixa é lento e está muito calor, mas o frio também é ruim. Vestindo pijama e comprando vodca essa pessoa começa um desabafo. Amava sempre os desalmados, gente que trocou o coração por entretenimento. Era difícil. Mesmo assim continuava amando, mesmo com a pulsação cansada queria que o coração continuasse a bater. Estava viva e amava isso.      

            A menina ouviu atenta e agora sentia um vento fresco, no buraco do coração, saiu da fila, deixou os limões e o pote de pepino azedo e foi procurar a prateleira com chocolates.