"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

VIVER NA CIDADE


Final da tarde, ele não tinha feito nada o dia todo, para  sentir-se mais útil assistiu três episódios de um seriado que todos estavam comentando. Estava tão entediado e não sabia o que fazer, saiu no quintal, entrou na garagem e viu a sua bicicleta em um canto sem uso há meses. Decidiu pegar o carro e ir até a panificadora comprar pão, porque estava com preguiça de cozinhar naquela noite.
No outro dia pela manhã pensou na bicicleta e decidiu ir trabalhar com ela. Conversou com conhecidos que encontrou pelos pontos de ônibus que passou, todos os dias via aqueles velhos colegas alí, mas de dentro do carro não podia ao menos cumprimentá-los, no máximo uma buzinadinha, que fazia ele se sentir arrogante do tipo “olha, estou dentro do meu luxuoso carro, enquanto vocês esperam o ônibus que com sorte irão conseguir embarcar espremidos”.  Pegou caminhos diferentes de todos os dias, sentiu a brisa em seu rosto, passou a manhã pedalando, na hora do almoço parou em um bar, chamou alguns amigos e passaram o dia conversando.
Final da tarde, seu carro havia estragado e não sabia como voltar para casa, entrou em desespero. Ligou para alguns amigos, mas eles não podiam buscá-la, um deles disse para pegar um ônibus. Ela não usava o transporte coletivo há anos e imaginava que isso seria algo insuportável. Depois do momentâneo pânico procurou um ponto de ônibus, pediu informações e embarcou na linha que passava perto da sua casa. Na metade do caminho conseguiu sentar, usou os fones que costumava usar no trabalho, olhou para a paisagem que a janela mostrava e quando desceu percebeu que o caminho tinha sido muito mais agradável, não se preocupou com o trânsito, ela se deixou levar e caminhou pela sua rua, percebeu que há muito tempo não caminhava por alí, não observava as casas e não cumprimentava os vizinhos.

(...)

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

LEMBRAR É (RE)VIVER

 
Quando falamos de tempo, rapidamente, fazemos uma relação ao mundo exterior, às conquistas que nos direcionaram por caminhos que chamamos de passado, presente e futuro (Quem fomos, quem somos e quem seremos). Achamos que cada caminho é consequência de algum passo certo ou errado que em determinado “tempo” escolhemos dar.
Tempo é mais do que fatos externos, mais do que uma escolha, mais que uma consequência e uma linearidade envelhecedora. Nem sempre o que é passado no mundo externo, aquilo que deixou de existir aos olhos do coletivo, torna-se passado no mundo interno, pois ainda é memória, logo ainda existe.
Vivemos em um tempo de ordem social e um tempo subjetivo. Vivemos na angústia de caminhar por dois tempos que não dialogam em harmonia e são responsáveis por todas as inquietações, questionamentos e angústias que bagunçam a mente e a ordem externa das coisas e seres, ocasionando momentos confusos em que passamos da introspecção as responsabilidades do dia a dia sem que tenhamos “tempo suficiente” para harmonizar realidade e fantasia (que cria e perturba).
Emoção e razão habitam tempos diferentes: a razão sempre será presente e a emoção será presente misturado com passado e futuro, tempos que existem apenas no fluxo da consciência e por isso são incompreendidos pelos indivíduos ao nosso redor, pois estamos perdidos no tempo das lembranças.