"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

sábado, 24 de março de 2012

O SOFRIMENTO DA MÁQUINA


É tudo muito organizado no mundo exterior, os caminhos são ruas retas que levam sempre a um bosque harmonioso, com pássaros cantantes e flores perfumadas.  
Realmente, se sua vida fosse uma exposição de fotos, seria muito bonita, muito colorida e com muitos sorrisos, qualquer um iria sentir vontade de se transportar para dentro daquelas imagens congeladas. Nas fotos tudo é fascinante, uma bela montagem para os momentos de observação da lente (olho) que observa.
Nos preocupamos com o trabalho, com a convivência, com os bens que iremos possuir. Possessão. Queremos ter tudo e quando conseguimos uma grande quantidade desse “tudo”, todos aplaudem e se deslumbram com tanta capacidade de ser bem sucedida. Ela tem de tudo, que pessoa admirável, invejável, pessoa sortuda.
Não trata-se de sorte. Ela é muito empenhada. Se tem tudo o que tem é porque batalhou. Que batalha é essa? Uma batalha insaciável por mais. Mais o que? Uma casa, um carro e móveis bonitos. Ah, claro, um emprego estável. Ela vai trabalhar no mesmo lugar a vida inteira, vai desempenhar a mesma função até o fim de sua "vida útil". Que bela máquina, quanto custa? Pouco, perto do lucro que nos dá. Uma grande sorte ela não pensar, poderia se revoltar contra nós, mas tomamos todo o cuidado, para que isso não venha a ocorrer.
Todos a invejaram, competiram e quiseram ser como ela. Ela só queria não ser quem foi. Suas inquietações, sofrimentos, momentos epifanicos frustrados, isso ninguém nunca enxergou.  Ninguém vê o que você sente (óbvio), mas sim o que você representa para a sociedade.  
Um dia você acaba, a sociedade permanece. O que vale a pena?

P.S E hoje resolvi criar e não analisar a criação. Mesmo que seja dificil mudar e admitir a triste verdade, é digno ter consciencia do "funcionamento" humano.

sexta-feira, 16 de março de 2012

LES AMOURS IMAGINAIRES




Les Amours Imaginaires (Amores Imaginários), com roteiro e direção do jovem canadense Xavier Dolan, inicia-se com depoimentos de pessoas comuns, que sofrem de um mesmo mal, o amor, como é comum acontecer entre os habitantes da Terra. Os depoimentos já cativam o público que certamente se identificará com algum dos relatos. Uma moça que implora pela atenção do ser idealizado e aguarda em um mix de adrenalina e angústia. Uma jovem que foi abandonada pelo namorado e sente saudades do conceito do relacionamento.
Apenas com os depoimentos desses personagens seria possível analisarmos a arte de amar (e se machucar), mas existe muito mais. Tornamos-nos íntimos de Marie e Francis, dois amigos que se apaixonam pelo mesmo objeto. O objeto é Nicolas, convém o chamarmos de objeto, pois é assim que ele se coloca, flerta com ambos, curte ser admirado, mas permanece intacto. Enquanto os amigos se consomem pelos sentimentos direcionados ao objeto ele permanece inalcançável, exposto apenas para admiração, como uma obra de arte, bela e encantadora, sem passar disso.
“Amores imaginários” ilustra o momento que Marie e Francis idealizam Nicolas, brigam por ele, elaboram estratégias de conquistas, enquanto Nico, o agente principal da história de amor imaginada, encontra-se indiferente ao conflito.
Esteticamente o filme é apaixonante, com um visual retrô – moderno ele transmite uma simplicidade refinada. A trilha sonora conta com a versão italiana de "Bang Bang", de Dalida, que ao término do filme permanece na mente do espectador junto a sequencia de imagens, que se bastam sem nenhum diálogo.
Os diálogos surgem nos momentos certos, inteligentes e reflexivos. Tudo é nos apresentado no local e momento exato. Um grande acerto de Dolan.
Um filme que fala sobre o amor, sobre a idealização, sobre idolatrar a imagem criada pelo “amador”, você cria, logo ama. Porém, o amor verdadeiro sempre volta. O amor presente na amizade de Marie e Francis que superam os sentimentos projetados em Nicolas. Juntos eles vão se iludir e desiludir algumas vezes durante todo o tempo em que permanecerem vivos.


FICHA TÉCNICA


País / Ano: Canadá / 2010
Duração: 95 minutos
Direção: Xavier Dolan
Elenco: Niels Schneider, Monia Chokri, Xavier Dolan