"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

MANIC


Maníaco (Manic) foi lançado em 2001, pelo diretor Jordan Melamed. O elenco conta com o casal formado por Joseph Gordon-Levitt e Zooey Deschanel, que mais tarde ficariam conhecidos por Tom e Summer do filme 500 dias com Ela.
A história de Manic passa-se em um manicômio, onde o Dr. David Monroe tenta ajudar os pacientes ao mesmo tempo em que sofre com a impotência diante dos fatos e se vicia em remédios.
Percebemos que os problemas dos jovens que ali estão internados poderiam ser facilmente percebidos em qualquer ambiente de convívio social, como, por exemplo, uma escola, onde se rotulam os “tipos”, o valentão, a artista rebelde, a garota tímida que sobre com a falta de auto-estima e uma coisa em comum entre todos, o problema de relacionamento com os pais, a falta de diálogo e compreensão de ambos os lados.
Em certo momento da terapia em grupo, Sara (a artista) conta como foi parar naquele lugar, quando agrediu a mãe na seguinte discussão:
"Mãe - Jovenzinhas não saem na rua às 5 da manhã.
Sara - Que se dane! Eu vou sair."
Em outro momento ela conta como se tornou diferente das outras pessoas:

"- Sabe onde fica Calabasas? É cheio de japas e patricinhas. Eu não fiz exatamente uma festa de debutantes. Um dia estava no Mc Donald’s com aquela gente e tinha um lugar à mesa, então eu me sentei. A minha amiga virou os olhos e disse: Qual é! Você acha mesmo que é bonita? Porque você se acha, mas não é. A mesa inteira começou a rir. Eu chorei uns três dias e depois renasci. Sabe? Percebi que todos que eu conhecia eram uns babacas. Foi quando eu comecei a fazer o que eu queria sem dar a mínima para o que os outros pensam."
Vejamos que a personagem mostra uma ruptura das regras, quando a mãe apela para que não saia às 5 da manhã, tenta instituir uma regra de que “jovenzinhas” não saem naquele horário. E porque ela não poderia fazer diferente, porque ela teria que ser a regra e não a exceção? Quando ela tem um atrito com os amigos, ao invés de se esforçar para ser aceita, ela passa a não ligar para a opinião deles. E isso é errado? Ser e fazer o que você quer e não seguir as regras tão “bonitinhas” e convenientes para a sociedade?
Lyle agrediu um garoto que o zombava por apanhar do pai quando criança e ele revidou. Por isso foi parar na instituição, onde cria laços com algumas pessoas e com outras nem tanto. Como em qualquer outro lugar, com alguns nos identificamos e temos vontade de quebrar a cara de outros, mas nos controlamos.
Lyle é alguém com sonhos e vontade de viver. Ele quer viajar para fugir, vejamos o que ele nos diz a respeito disso:

"- Você acorda, faz o que quer, ninguém vem te encher. Você pode entrar num café na rua e comprar. A gente pode viver de verdade."
Não é com isso que passamos a vida inteira sonhando, em viver de verdade, fazer o que quisermos?
Ao serem indagados sobre o que os empolgam, surgem as seguintes repostas: Liberdade! Fazer o que você quiser sem se importar com o que os outros pensam; Jogar Playstation; Cuidar dos meus chegados e detonar quem se meter; Amor; Sexo; Não sei. Não é assim que nos sentimos? Até mesmo a resposta “não sei” cabe em nosso cotidiano, pois as vezes surge, realmente, a dúvida do que queremos, do que nos faz felizes.
O símbolo da anarquia, também, aparece algumas vezes durante o filme. O anarquismo para alguns simboliza a desordem e para outros a liberdade. É assim que os personagens são, para a sociedade seres perturbados que quebram regras e desorganizam o que está “certo”, mas eles idealizam poder viver da maneira que escolheram, livres para as próprias escolhas e atitudes.
Dessa forma que Manic funciona, como uma metáfora do que gostaríamos de ser, mas para termos aceitação da sociedade acabamos sufocando nossos sonhos e desejos, já que ao contrário poderemos ser considerados loucos por não querermos ter a vida padrão e decadente de todos.

FICHA TÉCNICA


Título no Brasil: Maníaco
Título Original: Manic
País de Origem: EUA
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 102 minutos
Ano de Lançamento: 2001
Estúdio/Distrib.: Europa Filmes
Direção: Jordan Melamed

1º KINOFORUM - CURITIBA 2011


O 1º. KINOFORUM-Curitiba 2011, com entrada franca, será nos dias 2, 3 e 4 de setembro de 2011, na Sala 5 do Shopping Novo Batel. O evento é uma itinerância do Kinoforum-SP – Festival Internacional de Curtas-Metragens, que já está em sua 22ª. edição. Em Curitiba, porém, o evento é inédito.
A iniciativa para a itinerância foi da pesquisadora de cinema Denize Araujo, que entrou em contato com a Diretora Executiva do Kinoforum-SP, Zita Carvalhosa, para dialogar sobre a possibilidade. Criada em 1995, a Associação Cultural Kinoforum-SP, entidade sem fins lucrativos, realiza atividades e projetos e apóia o desenvolvimento da linguagem e da produção cinematográfica. Em intercâmbio com associações e eventos nacionais e internacionais, promove a divulgação do audiovisual brasileiro, latino-americano e internacional.
O 1º. KINOFORUM-Curitiba 2011 conta com as seguintes atividades: Mostra de Curtas Latino-Americanos, Mostra de Curtas Internacionais, Programas Especiais e debates. A Sessão de Abertura será no dia 2 de setembro à 19 hs, e haverá 1 sessão às 16:30 e 1 sessão às 19:30 nos dias 3 e 4 de setembro. As 5 sessões serão seguidas por debates.
A Mesa de Debates contará com pesquisadores e críticos de cinema de São Paulo e Curitiba, objetivando a formação de platéia crítica. Alguns dos debatedores serão: WILLIAM HINESTROSA, DO KINOFORUM-SP, PAULO CAMARGO, DA GAZETA DO POVO, FERNANDO SEVERO, DO MIS, CAMILA MORAES, DA SESLEÇÃO DA MOSTRA LATINA, PAULO MUNHOZ, DA TECNOKENA, E DENIZE ARAUJO (Mediadora, da Pós-UTP).
O 1º. KINOFORUM-Curitiba 2011 será mais uma etapa do Projeto de Cultura Visual, de autoria de Denize Araujo, iniciado em 1997, que tem por objetivo a formação de platéia crítica. Os participantes que quiserem fazer a inscrição terão certificado de extensão, de atividade complementar, emitido pelo MIS. A ficha de inscrição está no site: http://clipagemcuritiba.blogspot.com/
O 22º. KINOFORUM-SP conta com o patrocínio do Ministério da Cultura, da Petrobrás, do SESC, SAV, AVON e das Secretarias Municipal e Estadual de SP. O 1º. KINOFORUM-Curitiba 2011 será patrocinado e realizado pelo CLIPAGEM-Centro de Cultura Contemporânea, tendo o apoio cultural do Shopping Novo Batel, da Secretaria de Cultura, do MIS-Museu da Imagem e do Som de Curitiba, do Centro Europeu, da Pós-UTP, da Larus Viagens, das Livrarias Curitiba, da Casa di Bel, do Restaurante Patanegra, do Cuore di Cação Chocolateria, e de Bolinelli Eventos e Produções Artísticas.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

AUTONOMIA DO OLHAR


Pressupõe-se que Horkheimer empregou o termo “Indústria Cultural” pela primeira vez em 1947, no livro Dialektik der Aufklärung, referindo-se ao problema da cultura de massa.
Podemos tratar esse problema como o rompimento da aura, da livre expressão artística e dos produtos adaptados ao consumo de massas, ou seja, a arte não mais para ser apreciada de acordo com a percepção subjetiva, mas uma fabricação em série para iludir a sociedade, com uma “arte artificial”.
A indústria cultural violenta a união da arte superior e inferior. A arte superior é forçada a produzir um efeito pré-estabelecido. Já a arte inferior é domesticada a uma produção civilizada sem os elementos rudes que lhes eram característicos.
Devemos questionar o papel do “apreciador” nesse contexto. O espectador não é mais o dono do olhar, o julgador da obra, mas sim o objeto consumidor da indústria cultural. Não se cria obras para expressar sentimentos e indagar o público, mas sim se visa lucros. Ou seja, a autonomia das obras de arte é assassinada pela indústria.
Essa indústria cultural herdou a transformação da literatura em mercadoria, que ocorreu no romance comercial inglês do fim do século XVII e do início do XVIII, estabelecendo a todas as artes uma tradição de lucros.
A produção cinematográfica passou a se limitar a procedimentos técnicos, uma simples divisão de trabalhos, focada em resultados de produção. Desse modo, a obra deve ser desumanizada enquanto efeito de ação e conteúdo, valorizando as máquinas usadas na produção e introduzindo a propaganda de personalidades e recursos de tom meloso na ilusão estética. Em síntese, a técnica foca-se na distribuição e reprodução mecânica, permanecendo externa ao seu objeto, o observador, que perde a autonomia estética.
Walter Benjamim em seu ensaio “A obra de arte na época da sua reprodução mecanizada” fala sobre a aura e como a mesma foi perdida. Para ele, a indústria cultural não cria uma aura em suas obras, mas sim se serve dela em estado de decomposição.
Durante a formação de consciência de seus consumidores a indústria cultural reprime ou elimina as questões estéticas das obras, que nesse momento já não são obras de arte, pois produzir “com” arte, com técnica, não significa produzir a mesma.
Eis que surge uma idéia de que o mundo quer ser enganado, e baseada nessa idéia passa-se a produzir romances de folhetins, filmes de confecção, espetáculos televisionados, dirigidos as famílias em séries que fecham os olhos e se entretêm com aquilo que é fabricado com o propósito de ser vendido, com uma realidade lúdica no mundo caótico em que a massa está inserida.
Existe uma ordem que deve se fundamentar em si mesma e no confronto com os homens. É justamente essa ordem que a indústria cultural rejeita e a massa aceita essa “desordem” em uma espécie de conformismo que surge para substituir a consciência produzida pela arte.
Essa falta de aura, de consciência, de autonomia produz uma carência de mensagens transmitidas nas produções da indústria. Elas são apresentadas de maneira enganadora. Na tentativa de se aproximar da realidade do observador ela consegue enganá-lo em sua aparência oca. Eis a diferença entre arte e realidade empírica.
A indústria cultural usa da técnica e da cópia da vida real para despertar no público uma sensação confortável. O espectador passa a ver uma realidade harmoniosa, como se o mundo estive em ordem, o que o satisfaz, mas o impede de julgar e decidir conscientemente, pois seu olhar já não tem autonomia. Logo, se não há autonomia, não existe um julgamento estético, já que esse deve ser próprio de cada homem e isso é arte.

REFERÊNCIA
ADORNO, Theodor. Indústria Cultural. In: COHN, Gabriel (org.). Comunicação e Indústria Cultural. São Paulo, Nacional, 1977.

domingo, 14 de agosto de 2011

WELCOME TO THE RILEYS



Welcome to the Rileys é um filme indie norte-americano de 2009, que teve sua estréia no Festival de Sundance 2010 e agora (agosto de 2011) surge no Brasil.
O filme que foi dirigido por Jake Scott, conta com grandes personagens interpretados por James Gandolfini, Kristen Stewart e Melissa Leo. Os personagens poderiam ser classificados como “a dona de casa”, “o empresário” e “a stripper”. Mas não é a abordagem que Scott faz. Os personagens são sofredores e como o titulo em português nos apresenta, eles estão com os “corações perdidos”.
Porém, não é a jovem de 16 anos que se prostitui a mais perdida da história, mas sim Doug e Lois. O casal que perdera a única filha, aos 15 anos, em um acidente de carro, passam a viver individualmente a dor da perda. A esposa mergulhada em uma depressão que a impede até mesmo de sair de casa e o marido que se afasta dessa melancolia do lar, buscando conforto no jogo e na amante.
Ao encontrar Mallory, Doug, vê uma maneira de ajudar alguém, ser presente na vida de uma jovem, que poderia ser sua filha (mas não é). O mais importante é perceber que não é Mallory que precisa de ajuda, já que ela não demonstra estar insatisfeita com sua vida ou querendo mudar a situação.
Desse modo, o casal, mesmo que inconscientemente, percebe que a vida daquela garota, que perdeu a mãe, também, em um acidente de carro, é muito mais árdua do que a deles, mas ela levantou a cabeça e seguiu em frente.
O final decepciona o espectador que já produz em sua mente possíveis finais felizes e/ou conclusivos. Mas não é esse o ponto que se quer chegar. Scott quer nos levar às reflexões sobre perdas e como lidarmos com isso. Você pode seguir em frente ou continuar preso a um sofrimento que não te levará a lugar algum.
É relevante, ainda, comentar sobre a atuação de Kristen Stewart, que por ter vivido a Bella na Saga Crepúsculo, poderá causar algum preconceito no público alternativo, o que é realmente irrelevante, pois seu desempenho em filmes não comerciais surpreende muito.
Em síntese, Corações Perdidos, é um filme que usa o silêncio como discurso, com poucos diálogos, já que é o interior dos personagens que importa. Um dos grandes pontos positivos do filme é conseguir expressar sentimentos na tela do cinema, enriquecendo uma simples história que poderia ser analisada em seu exterior, mas fazendo o inverso consegue ir além do que esperamos dos Rileys.

FICHA TÉCNICA


Corações Perdidos
Titulo Original: Welcome to the Rileys
Gênero: Drama
Duração: 110 min.
Origem: Reino Unido e Estados Unidos
Direção: Jake Scott
Roteiro: Ken Hixon
Distribuidora: Imagem Filmes
Censura: 16 anos