"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

quarta-feira, 29 de junho de 2011

LITERATURA, CINEMA E INDÚSTRIA


As adaptações de obras literárias para o cinema surgiram com o intuito de atrair a platéia burguesa para a sétima arte. Desse modo ampliou-se a indústria que acolheu um público com poder aquisitivo maior, que poderia pagar mais pelas sessões e freqüentar o cinema com maior intensidade. Podemos dizer que funcionou. Mas, também, provocou certo questionamento no espectador, que facilmente julga a obra literária melhor do que a cinematográfica.
Esse julgamento é fácil de ser compreendido, o roteirista Jorge Furtado nos diz que o leitor pode criar suas próprias imagens, sem custos ou limites com a realidade. Já o roteirista tem limitações, deve pensar nas cores, nos objetos, na disposição de espaço, luz, etc. Outro elemento que existe na literatura é o uso de verbos, como pensar, lembrar, esquecer, que o roteirista não pode usar. Em outras palavras, o cinema tem limitações concretas que a literatura não tem por trabalhar com a imaginação.
Ao vermos uma adaptação literária nas telas devemos lembrar que o cinema tem a própria linguagem que, porém, abrange várias artes, fotografia, teatro, música, dança, pintura e literatura. É uma linguagem que consegue criar representações e percepções de mundos, usando elementos de outras artes para construir novos olhares dos espectadores.
Na atualidade, apesar dos conflitos criados pelas diferentes linguagens, podemos dizer que a relação entre a literatura e o cinema tornou-se amigável. Pois, havia muitos conflitos antes da invenção dos direitos autorais. Em 1910 as histórias dos livros eram simplesmente tomadas para o cinema. Mas, foi na Itália, em 1911, que Gabriele d'Annunzio, vendeu toda sua obra para uma empresa cinematográfica e deu origem ao mercado literário no cinema. Segundo Ely Azeredo, o ranking de adaptações literárias é liderado pelas incontáveis filmagens da Bíblia, seguido por mais de 200 versões de Sherlock Holmes e, finalmente, no terceiro lugar estão as adaptações de Drácula de Bram Stoker.
Mas não é só com suas adaptações que a sexta arte contribui para o cinema. A literatura surgiu aproximadamente 4 ou 5 mil anos antes que o cinema e colaborou para a existência dos procedimentos narrativos na sétima arte. Por exemplo, o livro "Mimesis", de Erich Auerbach, contribuiu para a representação da realidade; Homero cedeu ao cinema o flashbak; a subjetividade do discurso e o poder dramático da prosódia são heranças de Petrônio; Boccaccio nos dá a ideia de fábula como entretenimento; Shakespeare e Cervantes nos ensina o poder da corporalidade do personagem e da tragédia; Goethe nos mostra que podemos sentir prazer com o sofrimento alheio; o realismo, a narração off e o autor como personagem vem de Stendhal e Balzac; a imagem dramática e o roteiro considerado literatura tem como responsável Flaubert...
Eisenstein, em “A Forma do Filme” (1929), diz que nossas origens não são apenas as de Edison e seus companheiros inventores, mas se baseiam num enorme passado cultural; cada parte deste passado, em seu momento da história mundial, impulsionou a grande arte da cinematografia. Que este passado seja uma reprovação às pessoas inconscientes que trataram com arrogância a literatura, que contribuiu tanto para esta arte aparentemente sem precedentes e é, em primeiro lugar, e no mais importante: a arte de observar - não apenas ver, mas observar.
Além de tratar da importância da literatura no cinema, Eisenstein, chama a atenção para o ato de observar, o olhar critico e a arte de pensar, que existe tanto na literatura quanto no cinema. E como disse Stravisky: "arte requer comunhão", ou seja, é necessário o diálogo entre textos, nesse caso, entre a literatura e o cinema, a escrita e a imagem.
Thomas Edison, um dos pioneiros da sétima arte, disse que sua invenção faria com que as crianças não precisassem mais ler nenhum livro. Isso não aconteceu. Temos a necessidade de percorrer pelas duas artes, pelas distintas linguagens, de imaginar as cenas em nossa mente quando lemos um livro e depois vermos se o filme pensou como nós, o que muitas vezes nos leva a decepção ou a novas visões. A decepção ocorre por acharmos nossos pensamentos melhores do que o exposto na tela, que na realidade são percepções distintas, nem melhor, nem pior, apenas linguagens que criam mundos diferentes.
Ganhamos com a intertextualidade existente no cinema e a indústria ganha mais ainda. O cinema tende a adaptar Best-sellers, obras de grandes autores consagrados, como Oscar Wilde, Shakespeare e Jane Austen, atingindo o público intelectualizado, e também novos escritores que atingem o grande público jovem, como Stephenie Meyer, Nicholas Sparks, J. K. Rowling e Meg Cabot. Não sabemos quem lucra mais com as adaptações, o mercado editorial, que passa a vender o livro por causa do filme, com capas atrativas, despertando a curiosidade do espectador, ou o mercado cinematográfico que atrai o já leitor que tem a oportunidade de ver seus personagens preferidos representados no cinema.
O filme “An Education” (2009) foi roteirizado por Nick Hornby (romancista) após ter lido o ensaio autobiográfico de Lynn Barber. Segundo o roteirista, o filme não tinha nenhum ator com apelo comercial, o que já o fazia ter uma visão pessimista diante do próprio roteiro. O fato de tratar-se de uma história biográfica, desperta o maior interesse do público que gosta de assistir histórias reais, a arte imitando a vida. Mas dificulta a vida do roteirista que precisa esquecer-se da pessoa real e passar a vê-la como uma personagem.
Mesmo diante das dificuldades apontadas por Hornb, no Festival de Cinema de Sundance, em 2009, o filme fez sucesso, ganhou o Prêmio do Público e Fotografia, e rendeu um contrato com a Sony Picture Classics. A obra acabou tendo três indicações ao Oscar, provando que conquistou a indústria. E revelou a atriz Carey Mulligan, que na sequência viria estrelar a também sucedida adaptação literária “Never Let Me Go” (2010).
O mercado ainda queria ter lucros maiores com “An Education”, mas como? Lançando um livro com o roteiro do filme. Outro recurso que tem se tornado mais comum na indústria para ganhar dinheiro com a arte. Se o público depois de assistir o filme corre para as livrarias para comprar a obra literária que deu origem à adaptação no cinema, é claro que o roteiro do filme despertará a curiosidade do leitor.
Assim, somos introduzidos em uma bola de neve, onde o mercado lucra de todas as maneiras com o nosso interesse em imaginar e observar. Esses são dois campos pelos quais passeamos de uma maneira tão natural e inata, que nem nos damos conta como o capitalismo usa da nossa necessidade de viver entre o real e o imaginário para acumular lucros.
Não vejam isso como algo negativo. Pois, a indústria na tentativa de lucrar contribui para a sociedade em termos de que passamos a caminhar entre as duas artes. A literatura que faz com que exercitemos nossa imaginação e o cinema que faz com que observemos as imagens. Não podemos desconhecer o livro que deu origem ao filme e nem o filme que foi sustentado pela obra literária. É como se uma arte complementasse a outra, tornando-se uma situação difícil de ser ignorada.
É impossível pensar em cinema sem relacioná-lo a indústria, que pode contribuir para a produção com arte sem necessariamente fazer arte. Mas, também, nos proporciona uma fonte inesgotável de sensações, prazeres e opções de reflexões, observações, leituras e releituras, inventando e transformando nosso poder de introspecção, assim como a literatura que desempenha a mesma função em cada leitor. Ou seja, faz todo sentido literatura e cinema unirem-se por uma mesma causa, a arte e suas representações e percepções.

REFERÊNCIAS


AUERBACH, Erich. Mimesis: a representação da realidade na literatura universal. Ed. Perspectiva, 1992.

AZEREDO, Ely. A tentação da literatura na tela. Texto para o Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 2002.

EISENSTEIN, Sergei. A forma do filme. Jorge Zahar, 2002.

FURTADO, Jorge. A Adaptação Literária para Cinema e Televisão. Casa das Musas. Disponível em: http://www.casadasmusas.org.br/filosofia_Adaptacao_literaria_cinema_televisao.htm. Acesso em: 29 de abril de 2011.

HORNBY, Nick. Educação: O Roteiro. Ed. Rocco, Rio de Janeiro, 2010.

domingo, 26 de junho de 2011

POTICHE: ESPOSA TROFÉU


“Potiche: Esposa Troféu” é uma comédia francesa de François Ozon, que faz uma belíssima adaptação homonima da famosa peça teatral francesa da década de 70.
Deparamos-nos com uma esposa troféu, que ajuda na composição da casa junto dos luxuosos móveis e eletrodomésticos. No entanto, após uma greve na fábrica de guarda-chuvas da família o marido fica doente e ela assume a direção.
A França de 1977 é representada pelas causas sociais que devem ser reivindicadas constantemente, os direitos das mulheres, dos operários, das vocações, a liberdade de expressão e a guerra entre os partidos de direita e esquerda.
Ozon usa de elementos da comédia screwball para romper a hipocrisia existente na sociedade, tanto dos anos 70 quanto da atualidade. Vemos que Suzanne molda uma imagem de boa esposa e mantenedora do lar, imagem essa que o prefeito de “esquerda”, homem com quem ela teve relações sexuais, acredita ser verdadeira. Mas em certo momento ela confessa ter tido relações com vários outros homens e ele não esconde sua frustração, mostrando-se machista, pois amava a imagem da esposa troféu e não a verdadeira Suzanne com qualidades e defeitos.
Então, Suzanne que no inicio é a vitima, esposa traída, que não pode ocupar nenhum lugar se não o ambiente do lar e também não tem o direito de se expressar a não ser se for para concordar com o marido, deixa a “máscara cair”. No entanto, essa expressão deve ser interpretada de modo positivo, já que percebemos que ela nunca foi tão ingênua e infeliz como pensavamos. Esse desmascaramento pode ser visto como o processo de transformação que as mulheres passaram durante épocas (passaram de donas do lar para donas do “próprio nariz”).
Sem perder a elegância, mantendo-se sempre feminina, Suzanne torna-se dona do poder e mesmo quando é retirada do controle da empresa dá a volta por cima e entra para a política, representando o avanço que as mulheres conquistaram na sociedade, até o lugar na política, vitoria tão importante para as feministas.
A secretária no inicio é representada como o típico estereótipo da "secretaria amante do chefe". Mas quando passa a trabalhar com Suzanne encontra na figura destemida e independente, conquistada pela patroa, um modelo para seguir, libertando-se do chefe-amante, assim como a “rival” libertou-se da tirania do marido.
Podemos dizer que “Potiche: Esposa Troféu” é uma grande obra nos dada de presente e que deve ser apreciada com muito vigor e vontade de perceber todas as criticas políticas que imergem a diegese, desde a positiva representação da mulher, passando pelo homossexualismo, o adultério, a submissão ao casamento, até a visão política, direita e esquerda que em certo momento se encontram.

FICHA TÉCNICA


Potiche: Esposa Troféu (Potiche) – 103 min
França – 2010
Direção e Roteiro: François Ozon
Elenco: Gérard Depardieu, Catherine Deneuve, Fabrice Luchini, Jêrémie Renier

sexta-feira, 24 de junho de 2011

A MENINA NO PAÍS DAS MARAVILHAS



A Menina no País das Maravilhas é um filme encantador, fascinante, introspectivo e apaixonante. Exagero? Apenas constatação de uma verdadeira obra-prima da sétima arte.
Entramos no mundo real e imaginário de Phoebe, uma menina sensível, madura, introspectiva, criativa e incompreendida. A menina sofre com os padrões da sociedade, ou melhor, os padrões de sua escola, que impedem que as regras sejam quebradas, essas que impedem qualquer questionamento dos alunos.
Ao fim da obra descobrimos junto com Phoebe e sua família que ela sofre de certo distúrbio que é responsável pela sua imaginação e ações incompreendidas, fazendo com que a garota sinta-se deslocada no mundo em que vive, buscando refúgio no país das maravilhas.
Não se trata de problemas infantis, mas sim de sentimentos universais, possíveis de serem identificados a qualquer idade: angústias, a própria cobrança em sermos perfeitos, os questionamentos que fazemos sobre nós mesmos e a típica pergunta que interfere em nossas vidas “Quem eu sou?”
Phoebe se sente diferente de todos e realmente é. Ela contexta suas atitudes, suas limitações e fantasias. Talvez não seja normal uma criança de nove anos passar por uma crise existencial. Mas isso na obra cria maior reflexão para o tema, já que os sentimentos perturbadores em uma criança tornam-se mais intensos e expressivos (até mesmo mais sinceros).
O menino que interpreta a rainha de copas na peça, também, desempenha o papel do “diferente” na sociedade. No entanto, ele e Phoebe são os que se destacam no mundo “normal” de todos.
Que fique claro que esse texto faz apenas a humilde tentativa de dar a leve idéia do que é “A menina no País das Maravilhas”, pois se trata de uma obra completa em sua proposta e que seria impossível analisar de maneira plausível nesse espaço.
O diálogo intertextual com Alice no País das Maravilhas é feito de maneira tão sublime e se encaixa tão bem ao texto que temos a sensação de que o mundo fantástico de Phoebe faz parte da realidade. E porque não faria? Naquele momento faz parte da realidade de Phoebe. A realidade pode sim ser subjetiva, já que o que eu vivo é real e a imaginação faz parte desse viver.
Uma obra mágica e reflexiva que fascina e perturba. Essa frase descreve muito bem o que sentimos ao observarmos o mundo de Phoebe, tão angustiante e incompreendido como os de muitos que buscam a essência da própria vida e que são excluídos da sociedade por quebrarem as “regras”.



FICHA TÉCNICA



Título original: (Phoebe in Wonderland)
Lançamento: 2008 (EUA)
Direção: Daniel Barnz
Atores: Felicity Huffman, Elle Fanning, Patricia Clarkson, Bill Pullman.
Duração: 96 min
Gênero: Drama

EU E AS MULHERES



“Eu e as Mulheres” é um filme de Jonathan Kasdan, protagonizado por Adam Brody. A obra trata de como a vida de cada um parece ser a mais caótica e complexa para si mesmo. Todos os personagens vivem conflitos e passam a entender as próprias vidas na base da convivência, ouvindo o outro e refletindo sobre a própria existência.
Carter, o protagonista, acaba de levar um fora da namorada, não está contente com o rumo profissional, decide visitar a avó que está doente e aproveitar o tempo recluso para escrever a obra de sua vida que nunca conseguiu produzir.
Chegando a nova cidade passa a cuidar da avó e conhece as mulheres da família Hardwicke. Então, ele que estava pensando em ficar só por um tempo, passa a agir como um terapeuta da mãe e da filha, que encontram alguém para dividir as angustias que estavam sendo sufocadas. Nada melhor do que um estranho para desabafar. Porém, ele logo passa de estranho a algo mais intimo.
Então, inicia-se um tratamento dos problemas interiores que habitam cada personagem, com exceção da filha mais nova, todos guardam segredos, ou acreditam guardar.
A avó que espera a morte como se fosse um evento, ensina a Carter que ele pode passar a vida toda pensando em como viver, mas nunca irá encontrar a resposta, pois ela já fez a tentativa e falhou, lembrando-o que o mais importante é estar vivo e viver está vida que lhe é concebida.
Mãe e filha se dispõem a se entender. Carter ajuda a dar um pouco de alivio a mãe e conduz a filha a perceber o seu verdadeiro amor, que não é ele nem o jogador da escola, mas sim um terceiro que ela ignorava. Além de tentar fazê-la perceber que os problemas não eram exclusivos dela e que muitos sofriam ao seu redor.
Os dramas não chegam aos seus extremos, afinal todos nós passamos por problemas e nem por isso chegamos à total melancolia. O importante é saber equilibrar as frustrações, os medos e as doenças (sociais, mentais, físicas) com os dias em que temos para viver e tentarmos de alguma forma alcançar os momentos felizes que nos são possíveis.

FICHA TÉCNICA


Título original: (In the Land of the Women)
Lançamento: 2007 (EUA)
Direção: Jon Kasdan
Duração: 97 min
Gênero: Drama

quinta-feira, 23 de junho de 2011

ELE NÃO ESTÁ TÃO AFIM DE VOCÊ



Ele não está TÃO afim de você é uma comédia romântica, adaptada do livro de “auto-ajuda” “Ele simplesmente não está a fim de você”. O filme trata de como as mulheres são levadas a acreditar que quando os homens agem como idiotas estão a fim delas. E como esse processo de encorajamento existe em todos os universos femininos, uma ajudando a outra a fazer de simples atitudes masculinas, grandes sinais de que o homem realmente está apaixonado.
Parece loucura? Na verdade, nos identificamos com cada ato insano que é representado na obra. Pois, sabemos que quando estamos apaixonados (ou pensamos que estamos) podemos perder tudo (dignidade, vergonha na cara, auto-estima...), mas a esperança permanece ali, viva, intacta.
Mas não pense que o filme é machista e que ridiculariza a atitude diante dos relacionamentos na percepção feminina. Temos o personagem de Conor que sofre com a amizade colorida com Anna, tendo surtos neuróticos. Alex que toma a posição mais racional do filme e ajuda a entender a alma masculina, ao fim da obra entrega-se a teorias que ele considerava absurdas, por exemplo, agir impulsivamente e descobrir que isso faz parte do processo de estar apaixonado.
Conhecemos a vida amorosa de cinco mulheres, além das que depõem na diegese. Anna se relaciona com um homem casado e tem a esperança de que ele se separe por causa dela, pois conheceu alguém que lhe contou que alguém viveu uma história semelhante. Janine é a esposa traída que no fim percebe que seu final feliz pode ser ficar sozinha, ao invés de viver em uma relação fracassada. Mary tem relações virtuais e sofre por ter que checar todo dia sete tecnologias diferentes para ver se tem alguma mensagem. Beth vive com o namorado há anos se angustia com a dúvida de que um dia chegará a se casar, mas tem esperanças por que conheceu alguém que lhe contou que alguém viveu uma história semelhante. Por fim, Gigi é a que mais nos chama a atenção para a ansiedade em que vivemos no dia a dia de encontrar o amor de nossas vidas, sempre achando que aquele cara é o certo, enquanto ele nem se lembra do seu nome.
Enquanto Gigi tenta encontrar respostas para Conor não ter ligado, como perder o seu número ou ter sido atropelado e uma amiga ter vivido uma história em que o cara não ligou, mas deu certo, Alex tenta dizer que a amiga é a exceção e que devemos sempre nos ver como a regra.
Alex ressalta que se parece que o homem não está afim é porque ele não está afim. Ou seja, não se iluda. Gigi leva os conselhos de Alex a sério e passa a pedi-los sempre que está prestes a se relacionar com alguém, relacionamentos sem nenhum futuro, que Alex a faz enxergar de fato como são (sem expectativas).
Um dos conselhos que Gigi recebe é o de que se um cara quiser vê-la irá dar um jeito, em outras palavras, quando um homem está afim ele faz acontecer. Porém, a garota depois de um tempo, passa a acreditar que Alex está fazendo acontecer, analisa sinais que para ela são nítidos e inquestionáveis (será?).
Enfim, Alex se rende ao amor que sente por Gigi e que nem ele mesmo havia se dado conta até então. Vai até a sua casa e diz que já havia feito aquilo outras vezes, ligado e desligado e que estava se transformando no que ela era quando o conheceu. Então, ela reluta, pois relembra que ele mesmo disse que ela era a regra e que tinha que parar de achar que os homens iriam mudar. E o filme termina com Alex dizendo que ela é a sua exceção.
As feministas podem achar as palavras acima horríveis, como se as mulheres não pudessem tomar a frente de um relacionamento. Mas a realidade é que vivemos em uma sociedade patriarcal em que o homem acostumou-se a cortejar a mulher. Se ele ainda não tomou essa iniciativa de nada adianta correr atrás, se desgastar, se iludir e criar fantasias que quando desfeitas vão apenas deixar mágoas, corações partidos, sentimentos de decepção e dor.
A mensagem é a de que não devemos viver ansiosos a procura de um amor, forçando situações e sentimentos que não existem, mas que para cumprir a convenção de que “toda panela tem sua tampa” tentamos a todo custo encontrar a pessoa certa o mais rápido possível, esquecendo-se de que não depende de nós, mas sim da magia do amor acontecer. Nesse momento, não é a mulher que tomará uma atitude nem o homem, pois existirá uma sintonia para que isso aconteça de forma sutil e feliz para ambos os sexos.
Como diria Vinicius de Moraes, “para se apaixonar bastar estar distraído”.


FICHA TÉCNICA


Título original: (He's Just Not That Into You)
Lançamento: 2009 (EUA)
Direção: Ken Kwapis
Atores: Scarlett Johansson, Bradley Cooper, Ben Affleck, Jennifer Aniston.
Duração: 129 min
Gênero: Comédia

terça-feira, 21 de junho de 2011

MEIA NOITE EM PARIS


Em Meia Noite em Paris, Woody Allen nos dá de presente mais um filme belíssimo, cuja protagonista não poderia ser mais linda: ela é Paris, a Cidade Luz. Um filme em que não são os personagens que mais nos encantam, mas sim a capital francesa e as paixões artísticas que ela inspira. Allen representa uma Paris que acolhe artistas de uma maneira tão peculiar que qualquer outro lugar torna-se inabitável para as almas sensíveis e inquietas que vivem a arte.
O filme usa do realismo fantástico para nos “jogar na cara” como somos ingratos com o presente. A negação que há do tempo em que vivemos sempre exaltando o sentimento nostalgico de um passado em que não vivenciamos. Gil que vive em 2010 sonha com a Paris dos anos 20, já Adriana que vive nessa época sonha com a Belle Époque, onde encontra Degas e Gauguin, que sonham com a Renascença como a Época de Ouro. Levando-nos a seguinte questão: “A Época de Ouro existiu em algum momento ou é sempre uma idealização?”
A verdade é que sempre há um fascínio no desconhecido, nos sentimos atraídos pelo o que não vivemos. Então, como temos medo do futuro incerto preferimos nos refugiar nas histórias passadas, pois já sabemos como elas vão acabar.
O diálogo intertextual com os artistas de Paris da década de 20 é fabuloso. Os escritores F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway, o músico Cole Porter, os pintores Picasso e Dali e o cineasta Luis Buñuel, são alguns dos artistas que surgem depois da meia noite em Paris e que nos deixam cada vez mais apaixonados. Os artistas são humanizados, os vícios e virtudes fazem com que Gil sinta-se próximo deles, sem as barreiras construídas pela admiração e canonização estabelecida durante os tempos.
As badaladas da meia noite e o carro que chega para buscar o protagonista nos lembram Cinderela, o que pode soar como cômico. Porém, percebemos a metáfora do personagem que vive um conto de fadas (na década de 20), mas que uma hora tem que voltar a sua realidade, assim como a Gata Borralheira.
A personagem de Marion Cotillard, Adriana, que Gil encontra nos anos 20, é sedutora ao ponto de nos seduzir em sua primeira aparição. Ela exala o clima que imaginamos que seria Paris naquela época. Podemos dizer que Adriana é a personificação do charme e encantamento da Idade de Ouro deslumbrada por Gil.
Inez, a noiva contemporânea de Gil, e sua família são uma verdadeira critica aos americanos. Republicanos, capitalistas que tratam a Guerra do Iraque como motivo de orgulho e só se preocupam com status, compras e prepotência. Até a arte serve de pretexto para a ostentação americana. Porém, Gil sente-se deslocado nesse contexto e se deixa ser adotado por Paris e sentir a arte, viver seus sonhos ao invés de sufocá-los no contexto hipócrita americano.
A Paris preferida de Gil é a chuvosa, representando a melancolia do personagem, típica dos mais sensíveis, aqueles que conseguem sentir as emoções. De roteirista de Hollywood frustrado ele passa a ser um escritor incerto realizado. Desse modo, captamos muitas mensagens sobre negações que podem nos levar a lugares e sentimentos melhores. Não importa em que época vivamos, o importante é viver e não ver a vida passar. Para que tenhamos um belo passado é preciso que vivamos o presente. Clichê? Talvez, mas importante  ser ressaltado, já que muitos acabam esquecendo-se disso.



FICHA TÉCNICA


Título original: (Midnight in Paris)
Lançamento: 2011
Direção: Woody Allen
Duração: 100 min
Gênero: Comédia Romântica

segunda-feira, 13 de junho de 2011

SIMON WERNER DESAPARECEU


Simon Werner a Disparu (Simon Werner Desapareceu) é um filme francês de 2010, do diretor e roteirista Fabrice Gobert, com participação no Festival de Cannes e estréia no Brasil, em junho de 2011, no Festival Varilux de Cinema Francês.
A obra pode ganhar uma classificação de gênero entre o drama e o suspense. Porém, percebe-se que tende mais a satirizar os gêneros do que ser um drama ou um suspense, propriamente dito. Podemos chegar a essa conclusão pelo fato de que o drama e o suspense da obra são sempre rompidos pelos flashbacks, nos levando a rotina de jovens colegiais. Essa ruptura com os gêneros também ocorre quando nós, acostumados com a narração clássica de Hollywood, passamos o filme todo procurando um desfecho para a obra ligando as causas dos desaparecimentos a apenas uma ocorrência, quando, no entanto, ocorre apenas um verdadeiro desaparecimento, cujo responsável não está presente na diegese até o momento do desfecho da história, desfazendo nossas expectativas de que o culpado seja alguém do grupo.
Mais uma sátira na obra é o modelo de suspense adotado em dado momento pela indústria cinematográfica norte americana, em filmes que jovens desaparecem, misteriosamente, e o enredo se baseia em descobrir os motivos do desaparecimento. O responsável é sempre um serial killer que mata as pessoas de um mesmo grupo por determinado motivo que as ligam. A condução do nosso psicológico para que pensemos que o filme francês é mais um suspense desse tipo é perfeita e quando descobrimos a peça que nos é pregada paramos para refletir sobre o que o cinema americano fez com nossas mentes pré-programadas.
Passamos o filme todo assistindo os mesmos dias vividos por diferentes pessoas do mesmo grupo. É muito interessante como os mesmos dias, nos mesmos lugares mudam (e se completam) de acordo com a percepção e vivência de cada personagem.
É possível dizer que o tempo diegetico da obra passa-se entre os anos 80 e 90, mas também é aceitável dizer que é atual. O figurino é clássico, jaquetas de couro, jeans e bombers. Os cenários também são neutros e as neuroses são típicas de todos que estão ou já passaram pela idade do descobrimento de si mesmo, a adolescência.
Podemos dizer que “Simon Werner Desapareceu” é uma obra jovial do Cinema Francês, com um elenco jovem e reflexões mais leves do que costumamos ver nas telas francesas. Ainda temos “Sonic Youth” na trilha sonora e produtores de “Persépolis” (2007) na construção da obra.
O filme é uma deliciosa brincadeira de detetive onde nossa mente "hollywoodiana" nos prega uma peça “bem bonita”.

FICHA TÉCNICA


Título original: Simon Werner a Disparu...

Lançamento: 2010 (França)

Direção: Fabrice Gobert

Atores: Jules Pélissier, Ana Girardot, Audrey Bastien, Selma El Mouissi.

Duração: 87 min

segunda-feira, 6 de junho de 2011

ERA DOS ESTÚDIOS


A chegada de judeus nos Estados Unidos, em 1910, que se instalaram no subúrbio de Hollywood, no oeste de Los Angeles, impulsionou várias produtoras cinematográficas.
Do inicio da década de 20 ao fim dos anos 50 a Era dos Estúdios dominou a indústria do cinema. As produções eram dominadas pelas fábricas dos sonhos que comandavam desde a produção até a exibição dos filmes. O poder era tanto que os norte-americanos passaram a controlar o mundo cinematográfico, pois eram também donos de salas de exibição, inclusive no exterior.
Esse monopólio visava lucros, então, passou-se a pensar no custo-benefício da obra e não exatamente na arte. Eis, que surge o Código Hays para impor o conservadorismo puritano cultivado pelos americanos. Mesmo com o rompimento do Código na década de 60 os estadunidenses, ainda, não se acostumaram com a liberdade de expressão e o anti-consevadorismo da atualidade. Podemos observar clipes sendo censurados com freqüência, como o mais novo da cantora Rihana, “Man Down”, que mostra um estuprador sendo assassinado, censura influenciada pelo Código Hays.
Cada estúdio desenvolveu seu próprio estilo (dentro da limitação estabelecida pelo Código Hays). Vejamos algumas características dos maiores estúdios hollywoodianos:

• MGM: Liderado por Louis B. Mayer e Irving Thalberg, foi o mais glamouroso entre seus concorrentes. O estúdio especializou-se em filmes para a família, por exemplo, o filme “Cantando na Chuva” (1952). Orgulhosamente dizia ter mais estrelas do que o céu, que brilharam em produção como “Grande Hotel” (1932).

• PARAMOUNT: Adolph Zukor comandou o estúdio mais “europeu” de Hollywood, empregando muitos diretores estrangeiros. Uma das grandes produções cinematográficas da época foi “Crepúsculo dos Deuses” (1950).

• WARNER BROS: Jack Warner focou as produções de seu estúdio na Grande Depressão da classe trabalhadora, tanto na estética quanto no conteúdo. Em suas produções estão memoráveis filmes de gangsteres e dramas sociais. “Casablanca” é uma das inesquecíveis obras em que todos os elementos virtuosos são evidenciados.

• UNIVERSAL PICTURES: Filmes de terror foram marcados pela direção de Carl Laemmle.

• COLUMBIA: Estava entre os estúdios menores, mas liderado pelo tirano Harry Cohn e tendo Frank Capra na equipe conseguiu tornar-se uma grande concorrente na indústria cinematográfica. Capra foi o cineasta que mais exaltou os ideais norte-americanos, o otimismo que tentavam impor em uma sociedade pós-guerra, tentando a qualquer custo dizer a eles mesmos o quanto eram felizes.

• TWENTIETH CENTURY FOX: Fundado em 1935, foi um dos últimos grandes estúdios a surgir. A fortuna do estúdio se dá a produções de leves musicais (estrelado muitas vezes por Marilyn Monroe) e reconstituições da história recente dos Estados Unidos. 
Douglas Fairbanks, Mary Pickford, Charlie Chaplin e D.W. Griffith, insatisfeitos com a falta de liberdade artística dos estúdios, fundaram a United Artistis (UA). Ela atuava como patrocinadora e distribuidora de produtores independentes.
Marilyn Monroe também cansou dos estúdios, saiu de Hollywood e foi para Nova York, pois estava frustrada com os papeis que mostravam o estereótipo de loira burra sensual. Em 1956, ela lança sua própria produtora “Marilyn Monroe Productions”.
Assim, a Era dos Estúdios passava a ter seus dias contados, já que aqueles que faziam parte do negócio já não suportavam o monopólio estabelecido pelos estúdios, assim como o Código Hays que na década de 60 já não era respeitado por muitos, como Alfred Hitchcock, que ousava em suas obras.