"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

segunda-feira, 23 de maio de 2011

GREENAWAY: HIBRIDISMO E INTERTEXTUALIDADE


O contexto sociocultural contemporâneo em que estamos inseridos é tão influenciado pelo passado e tão modificado pelo presente que em instantes o que é moderno logo deixa de ser, tornando-se necessário que se crie cada vez mais tecnologias, recursos visuais e uma arte cada vez mais atraente para que seja capaz de conquistar o fascínio de uma sociedade tão cheia de opções que a rodeia.
No cinema é possível encontrar muitos recursos tecnológicos e artísticos criados para que seja possível atrair o público que deseja mais do que o simples moderno, quer um moderno avançado, que vá além da capacidade de captar tantas sobreposições e ruptura de linguagens.
Para esse fenômeno que nos rodeia cada dia com maior intensidade, damos o nome de “hibridismo”, que começou a ser chamado de tal maneira na exposição Passages de l'Image, organizada em Paris, em 1990, por Raymond Bellour e outros, assumindo o papel de denominar a ruptura entre linguagens e a inovação nos matérias que habitavam os meios de comunicação.
Nesse contexto a obra é constituída por fotografia, cinema, desenho, vídeo, textos produzidos em geradores de caracteres e modelos gerados em computadores. As imagens sobrepõem-se, as vozes também, criando uma atmosférica que encanta o espectador que tenta identificar cada código e cada linguagem, que fez com que o fenômeno hibrido criasse forma.
Peter Greenaway, cineasta britânico radicado na Holanda, faz muito bem esse trabalho, pois em muitos de seus filmes manipula as imagens em movimento, insere múltiplos quadros e molduras na tela que se misturam, por meio de tecnologia eletrônica disponível na computação gráfica que contribui para uma finalização estética plausível.
O mesmo cineasta também usa de recursos intertextuais, que segundo Julia Kristeva “todo texto é absorção e transformação de outro texto. Em lugar da noção de intersubjetividade, se instala a de intertextualidade, e a linguagem poética se lê, pelo menos, como dupla”.
Podemos ver isso em cenas que parecem ser imitações de quadros como, por exemplo, no filme “Próspero´s Books” (1991), traduzido em português como “A Última Tempestade”, além do diálogo com o renascimento e o barroco podemos encontrar o diálogo com muitos quadros aclamados durante as épocas dentro da arte plástica. Há uma cena em que o cineasta nos remete ao Quadro de Botticelli, “O Nascimento de Vênus”, como se tivesse feito um recorte na lateral esquerda do quadro e levado para a tela do cinema. Podemos fazer essa observação em meio à tempestade que também nos remete a natureza exaltada no período renascentista.
Também em certo momento na obra quando Próspero segura Ariel no colo, no alto do templo reproduz a imagem que vemos na obra “Madona em uma guirlanda de flores” (1616), de Peter Paulus Rubens, que também dialoga com a religião.
“A intertextualidade se dá, pois, tanto na produção como na recepção da grande rede cultural, de que todos participam” (Kristeva 1974). Ou seja, o leitor/espectador faz parte da composição do texto, ele é quem dará concretude a obra através da leitura e de sua interpretação com base nos conhecimentos precedentes à essa leitura, e esses conhecimentos precedentes farão intertextualidade, com o que está sendo lido.
Outra definição do que é intertextualidade é a de Tânia Carvalhal que nos diz que “A invenção não está vinculada a idéia do "novo". E mais, que idéias e as formas não são elementos fixos e invariáveis. Ao contrário, elas se cruzam continuamente”, confirmando-nos essa busca por entender o que é a intertextualidade. E temos ainda a seguinte citação do autor m. Ondatje “I don´t belive stories are told from A to Z anymore”, esta citação nos dá a percepção de que não existe um texto original em sua essência, tudo o que lemos e também o que vemos em comerciais, imagens, novelas e filmes comunicam-se com outras obras, teorizando a prática de Greenaway.

terça-feira, 17 de maio de 2011

FOI APENAS UM SONHO


Podemos dizer que são coisas distintas imaginar uma vida e realizá-la. Nem sempre o que sonhamos acaba se tornando realidade, infelizmente. E quando isso acontece temos duas opções, erguer a cabeça e procurar algo novo para sonhar ou se jogar no abismo de frustrações que insiste em nos puxar cada vez mais para baixo.
A adaptação do livro homônimo de Richard Yates de 1961, para os cinemas “Foi Apenas um Sonho”, trata justamente dos sonhos não realizados, como a o próprio titulo em português nos mostra entrega. Mas esse tema, na realidade, serve de fundo para conflitos maiores. Vejamos que Frank e April, o casal principal da obra, vivem vidas que não sonharam. April sonhava em ser atriz, mas teve uma carreira fracassada e acabou dedicando o maior tempo de sua vida a manutenção do lar. Frank nunca soube qual era seu verdadeiro sonho, o que desejava “ser” e não “ter”, vivendo uma crise existencial em uma busca pela própria essência.
O filme mostra-nos como o casal se conheceu e depois já os vemos casados e com dois filhos, com poucos flashbacks mostrando o inicio do casamento. No matrimonio April sofre por se ver em uma posição passiva, não tendo realmente alguma motivação, a não ser cuidar dos filhos e da casa, vendo seu papel na sociedade ser anulado (como ocorria com a maioria das mulheres da época, que deviam viver como as modelos dos anúncios publicitários de eletrodomésticos). Olhando algumas fotos, encontra uma de Paris, lugar onde nunca estivera, e vê uma forma de fugir daquela realidade que não a pertencia, como uma chance de recomeçar, trabalhar fora e sentir-se útil, ajudando o marido a encontrar a verdadeira vocação e inserindo-se na sociedade.
Frank encontrou sua zona de conforto, não era feliz, mas se acomodou em um lugar que era “confortável”. Desempenhava o papel do homem de família, dava suas “escapadas” com as secretárias e quando chegava em casa encontrava uma família aparentemente bem estruturada. Mesmo diante da acomodação que o personagem se encontrava, decide compartilhar da ideia da mulher em ir para Paris começar uma nova vida. Porém, a estabilidade que o emprego lhe proporciona cada vez com maiores proporções e a gravidez inesperada de April, faz com que ele encontre desculpas para ofuscar o medo de ousar e continuar vivendo o “american way of life”.
Sabemos que com o fim da Segunda Guerra Mundial e a ascensão norte - americana o estilo de vida que os cidadãos da America do Norte viviam era o mais “perfeito” modelo a ser seguido. Pois, eles tinham uma obrigação de serem pessoas felizes em suas belas casas, com seus carros com design modernista, aparelhos eletrodomésticos, homens que trabalhavam em grandes empresas e mulheres que cuidavam de seus lares, tentando apagar o trabalho das mulheres nas fábricas durante a guerra. Mas sabemos que tudo isso é apenas um falso cartão de visita. Ser norte americano e seguir as convenções estabelecidas, que constroem pessoas em série, todas muito parecidas uma com as outras não torna as pessoas felizes, apenas passa uma imagem “saudável” aos olhos de quem esta longe. Nós mesmos temos a tola ideia de que tudo que vive em solo norte americano é maravilhoso, herança dessa época em que os EUA insistiam em introduzir no pensamento coletivo de que viviam em um mundo cor-de-rosa, onde tudo era bonito, harmonioso e amável.
A escolha pelo aborto mostra o desequilíbrio em que April se encontrava. Mesmo tendo o apoio do marido para que não cometesse tal ato e sabendo dos riscos que corria fazendo essa opção foi adiante, demonstrando que havia perdido o amor pela vida.
Outro tema tratado na obra é a loucura, que durante toda a história da humanidade foi usada para calar todo individuo que tentasse derrubar o muro da hipocrisia levantado pela parte da sociedade “lúcida”. Até mesmo April e Frank eram vistos pelos amigos como loucos por quererem ir atrás de um novo caminho, novas esperanças, emoções e se aventurarem em uma vida com mais sentido.
Enfim, estamos falando de um filme recheado de crise existencial, amores frustrados, sonhos desperdiçados, convenções e estabilidades que só servem para serem molduradas e finais tristes para quem desiste de sonhar ou é impedido de fazer o mesmo. E finalmente, April nos deixa a mensagem de que “é preciso ter força de caráter para viver a vida que se sonha”. Eles tiveram essa força? Talvez Frank sonhasse com a vida que tinha, mas não admitia (nem para si mesmo) e April, que sabia o que queria também soube que não teve e preferiu desistir diante dos obstáculos de que tentar vencer a batalha.

FICHA TÉCNICA


Título Original: Revolutionary Road.

Origem: Estados Unidos / Inglaterra, 2008.

Direção: Sam Mendes.

Roteiro: Justin Haythe, baseado em livro de Richard Yates.

Produção: Bobby Cohen, John Hart, Sam Mendes e Scott Rudin.

Fotografia: Roger Deakins.

Edição: Tariq Anwar.

Música: Thomas Newman.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

BELEZA AMERICANA



Rir de si mesmo pode ser divertido, ou melhor, patético, mas ninguém pensa muito no que vem a ser patético, cultivamos o riso e não sabemos a origem dele, que é a verdadeira tragédia. Podemos perceber que a comédia, geralmente, trabalha com a pimenta nos olhos do outro. Porém, em “Beleza Americana” o riso é da própria tragédia, dos “tipos” construídos pelo “american way of life”. O riso que me refiro não quer dizer que o filme trata-se de uma comédia, ele serve como uma metáfora para falar da boa recepção que a obra teve no país de origem, inclusive destacando-se no Oscar.
As taras sociais e os tipos americanos são os temas trabalhados na obra. De longe as famílias são aparentemente normais, bem estruturadas, caricatas. Mas quando olhamos de perto, cada um tem um problema, esses que desestruturam todos que estão em volta. Os personagens que iniciam mascarados no decorrer da diegese vão mostrando-se cada vez mais decadentes, enquanto o personagem principal vai se humanizando.
O protagonista no inicio da trama mostra-se um pai insensível, que deseja ter relações sexuais com a amiga da filha, que ainda está no colegial. Sua personalidade piora quando se vicia em drogas. Mas melhoram quando larga o emprego e, finalmente, pode se sentir livre de algo frustrante e destrutivo, a sua carreira profissional. Diante de uma atitude irresponsável ele passa a descobrir seu interior que estava morto até o momento. Também ele se redime de certo modo ao saber que a amiga da filha ao contrário do que dizia era virgem e, então, nega-se a tirar a sua virgindade. Porém, nesse momento já não importa tanto sua humanização, já que a morte logo vai lhe encontrar novamente, desta vez, definitivamente.
Como falamos da amiga da filha do protagonista devemos citar o tipo americano ilustrado pela personagem. Uma típica patricinha do colegial, líder de torcida e que se diz desejada por todos os homens, mostra-se segura, dona de uma auto estima elevada e experiente sexualmente. No entanto, sua mascara cai quando o vizinho da amiga não a deseja. E, por fim, quando confessa sua virgindade e insegurança ao pai da amiga no momento em que está prestes a ter uma relação sexual com o homem.
Já a filha é uma rebelde americana, com lápis preto no olho e tom melancólico. Culpa os pais pela sua condição e não faz nada para mudar as circunstancias em que se encontra. Droga-se com a amiga e envolve-se com um tipo de garoto com histórico conturbado.
O garoto filma a vizinha escondido, até que ela descobre e não o repreende, mas sim inicia um relacionamento com o rapaz. Ele é o tipo tímido que na verdade esconde muita coisa em seu silencio: vende drogas, fala com o pai como um soldado e acha interessante que o mesmo tenha a louça usada por Hitler, mostrando para a garota na tentativa de impressioná-la.
O pai do jovem é o tipo de americano que serviu no exército e se orgulha em deixar claro o seu passado a todos. Trata o filho como se fosse um subordinado e ignora a loucura da esposa. Além de destruir a própria família com seu autoritarismo e preconceito. Tudo isso por esconder a atração pelo mesmo sexo.
As esposas são nitidamente perturbadas. A esposa do protagonista preocupasse em mostrar uma boa imagem, independente da realidade vivida, o que importa é a farsa feliz mostrada aos outros. Tem um amante e critica o marido por ser distante da filha, não vendo que também está na mesma condição. Já a esposa do vizinho é totalmente perturbada mentalmente, como se preferisse se refugiar na própria loucura de que enfrentar a tirania do marido e defender a si mesma e o filho.
Os únicos personagens que não demonstram vestir máscaras são os que dão vida ao casal gay da vizinhança e que sofre preconceito do ex-militar homofóbico. Afinal, para aquela sociedade “conservadora” não usar uma máscara da típica família feliz no porta-retrato chega a ser uma doença social.
E, finalmente, sabe aquela casa branca com jardim cultivado pela dona do lar, o jantar em família todas as noites sem exceções...? Os personagens de “Beleza Americana” até podiam ilustrar e quem sabe protagonizar algum comercial de margarina. Mas quando olhamos de perto, a percepção torna-se muito mais complexa com aspectos extremamente preocupantes, em uma sociedade que vive de aparências, sufocando uma verdade que deveria estar sendo tratada e não camuflada.

FICHA TÉCNICA
 
 
Título original: American Beauty

Lançamento: 1999 (EUA)

Direção: Sam Mendes

Atores: Kevin Spacey, Annette Bening, Thora Birch, Wes Bentley.

Duração: 121 min

segunda-feira, 9 de maio de 2011

IRONIAS DO AMOR



“Ironias do Amor” é um belíssimo filme, com uma excelente produção, em uma perfeita sintonia entre as imagens e o discurso lingüístico, recursos intertextuais e uma infinidade de elementos que criam uma ótima composição na obra.
Mas vamos focar em dois elementos, os mais importantes, os que cultivam sentimentos e fazem com que pensemos sobre nossas vidas. O espectador cria esperanças de ainda reencontrar aquele grande amor não realizado e assim chegar ao final, um final feliz. 
Não falemos ainda de final, pois temos muita coisa a dizer sobre Charlie, um cara introspectivo e correto, e Jordan a garota sexy, misteriosa, intensa, possivelmente bipolar, violenta, bêbada, arrogante e rude, ou apenas uma garota que sofre e usa de toda a loucura possível para tentar esconder o sofrimento de si mesma.
Em certo momento da diegese o protagonista nos diz que o relacionamento iniciou do jeito que o amor verdadeiro sempre começa: bebedeira, prisão e a destruição do sonho de uma vida inteira. Podemos entender o discurso como uma ironia as mudanças e transformações que um verdadeiro e intenso amor faz em nossas vidas, digo em nosso interior, já que quando amamos nos sentimos sonsos e entusiasmados, como quando estamos bêbados, presos a pessoa amada, como se fosse impossível fugir e já não temos certeza se nossos sonhos são os mesmos de antes ou se queremos sonhar novos sonhos.
Charlie também nos diz que algumas vezes começamos relacionamentos, outras vezes começam por nós, dizendo-nos que muitas vezes passamos a vida atrás de um romance e quando menos esperamos o romance nos encontra de maneira tão absurda, inesperada que se torna ainda mais compensador.
Jordan diz a Charlie que os seres humanos existem para salvar um ao outro de si mesmos em um momento que ela julga estar salvando ele de si mesmo, mas o que ainda não sabemos é que Jordan o está usando para a própria salvação. E a socialização, as amizades, os familiares desempenham exatamente essa função em nossas vidas, eles nos salvam de nós o tempo todo.
Em determinada ocasião, quando o casal encontra-se separado, Charlie filosofa com o amigo sobre a dicotomia Romance X Ilusão. Ele questiona se vivemos em um mundo físico, palpável ou em um mundo que criamos em nossas mentes. É possível que vivamos entre esses dois mundos, tornando possível suportar a realidade entediante que equilibra nossa fascinação pelo desconhecido e fabuloso mundo idealizado.
Há uma grande reflexão sobre o destino, aquele que nós buscamos e o que nos busca. Eles acabam se encontrando e tornando-se um só, sem que seja possível distinguir em que momento de nossas vidas houve essa mistura benéfica. E sobre isso nada mais perfeito para ilustrar do que a reflexão de Charlie, “Quando o destino quer mesmo cumprir alguma coisa, ele não pode fazer isso sozinho, você vai ter que aparecer num restaurante, você tem que aparecer, você ainda tem que construir a ponte até aquela pessoa que você ama.” Ou seja, acredite em destino, mas o ajude, senão pode ser que ele não tenha a oportunidade de contribuir para a sua felicidade.


"Essa é a história da primeira e última vez que me apaixonei, pela linda, complicada e fascinante mulher que habita a minha alma. Tenho certeza que você vai me deixar amanhã, então … vou dizer isso enquanto ainda tenho chance.
Estando juntos ou não, você sempre vai ser a mulher da minha vida. O único homem que eu vou sempre invejar, vai ser aquele que tiver o seu coração, pois sempre acreditei que é meu destino ser este homem. Se nunca nos virmos de novo, e você estiver andando … e sentir uma certa presença ao seu lado, serei eu, amando você onde quer que eu esteja." (trecho da carta de Charlie para Jordan)



FICHA TÉCNICA


Elenco: Elisha Cuthbert, Jesse Bradford, Austin Basis.

Direção: Yann Samuell

Gênero: Comédia Romântica

Distribuidora: Imagem Filmes

Estreia: Direto em DVD - Julho 2009

Curiosidades: Refilmagem do filme coreano 'My Sassy Girl', de 2001.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

CHICAGO



Impossível falar de musicais contemporâneos sem citar “Moulin Rouge – O Amor em Vermelho”. Um filme que não peca por excessos, nem por atuações fracas ou mais ou menos. Infelizmente, não podemos dizer que Chicago teve a mesma felicidade, apesar de ter tido o pontapé inicial dado pelo sucesso de Moulin Rouge, que fez renascer o interesse pelo gênero na indústria, não consegue atingir o mesmo patamar artístico. Um grande erro são as músicas excessivas e às vezes cansativas dentro da diegese. Porém, temos a Catherine Zeta-Jones que rouba todas as cenas em que aparece, mais um erro não ter usado seu desempenho em mais cenas e performances musicais, que com ela não torceríamos pelo termino, como ocorre com as performances de Renée Zellweger.
A direção de arte está em perfeita sintonia com o enredo, os figurinos são ótimos e as mulheres criminosas que são transformadas em divas, deixam a obra sensual no ponto certo.
A adaptação da peça homônima ganha força nas criticas existentes no enredo, por exemplo, o poder da mídia - como constrói e desconstrói personas (os famosos quinze minutos de fama), influenciando assuntos de caráter social; o poder do discurso - como conseguir o que se quer usando enunciados bem escolhidos. O advogado faz do uso das palavras algo espetacular, conseguindo o fascínio de todos que, logo, se distanciam da realidade para identificar-se com o que ele diz e como dizer é fazer...
Mais uma escolha feliz na obra é o olhar de Roxie Hart. No inicio somos guiados a ver o que está acontecendo pela percepção da personagem. Isso continua nas performances musicais, como se ela estivesse vendo o espetáculo e víssemos com seus olhos, nos levando ao seu imaginário.
Enfim, Chicago é uma obra a ser assistida, analisada e debatida, pois é rica em pontos positivos e também negativos. O que não é ruim. Já que faz com que nossa capacidade critica seja ativada e crie diversas percepções com seus prós e contras.

FICHA TÉCNICA

  
Direção: Rob Marshall

Roteiro: Maurine Dallas Watkins (peça), Bob Fosse (musical Chicago), Fred Ebb (musical Chicago) e Bill Condon (roteiro)

Elenco: Renée Zellweger, Catherine Zeta-Jones, Richard Gere, Queen Latifah, John C. Reilly, Taye Diggs, Lucy Liu, Christine Baranski, Colm Feore

País: EUA

Ano: 2002

Gênero: Musical

segunda-feira, 2 de maio de 2011

EM BUSCA DE UMA NOVA CHANCE



Geralmente os títulos de filmes traduzidos para o português ganham adaptações vergonhosas, pouco criativas, clichês e sem dizer muito sobre o que estamos prestes a assistir. Porém, "The Greatest" ganhou um título que resume muito bem o enredo do filme. “Em Busca de Uma Nova Chance” é o nome que os brasileiros lêem ao se depararem com o cartaz do filme ou com a embalagem do DVD.
Mas porque dizer que a escolha foi bem sucedida se parece um tanto previsível um título que sugere superação? Poderíamos dizer que foi uma boa sacada da indústria, já que esse é um tema que atrai o público. A diferença é que isso realmente acontece na diegese (diferente de títulos que não refletem a obra). Os personagens sofrem pelo mesmo motivo, porém, cada um a sua maneira e também encontram a superação no meio desse caminho.
Todos choram pela morte de um amado garoto. Seu irmão mesmo diz, que todas queriam namorar com ele, até mesmo a própria mãe deveria desejar isso algumas vezes, deixando claro o carisma do rapaz que perdeu a vida tão cedo.
Ainda, falando do irmão do garoto morto, ele é um típico filho esquecido pela mãe, que escolhe o seu preferido e não esconde. Talvez tenha escolhido errado, já que terá que aprender a amar o filho vivo, ou seja, dar valor ao que tem.
O menino, então, sente falta do irmão, pelo o que vemos o único que lhe dava atenção na casa. Pois, percebemos que o garoto fica deslocado como se fosse um estranho em sua própria família. Mas, também, não sabemos se as coisas eram diferentes antes da morte do irmão, já que sobre isso não temos nenhum flashback que nos dê pistas.
Já com a namorada, talvez ela ainda nem fosse sua namorada, pois haviam conversado pela primeira vez e  tido a primeira noite de amor no dia do acidente (resultado de quatro anos de amor platônico), os flashbacks comprovam o que a garota diz sobre a relação dos dois, eles se amavam.
Prosseguindo a análise referente à namorada, podemos dizer que ela lida melhor com o drama, encarando a realidade e seguindo em frente. Talvez a herança deixada pelo namorado a tenha fortalecido, uma gravidez aos 18 anos, sem expor dúvidas sobre o desejo de ter o filho, mostrando que realmente amava o garoto e, consequentemente, o filho dele.
O pai acredita que deve manter-se firme, mostrar-se forte, enquanto está caminhando para o abismo, não dorme, não consegue comentar sobre o filho perdido e se cala diante da loucura da esposa. Até que o corpo pede socorro e ele vai para o hospital.
Entre todos os personagens a mãe é aquela que quer sofrer, não aceita outra possível condição, pois considera a sua dor a maior, a sua perda a maior, seu amor o maior... Passa a acreditar que só o filho tinha sentido para ela, ignorando o resto da família e contribuindo para a destruição da mesma. Já que enquanto “curte” o luto de um, todos estão morrendo, metaforicamente.
É nítido que a mãe é o pilar da família. Quando ela descobre que não era o centro do mundo, a razão da vida do filho, mas que ele amava outras pessoas, inclusive a namorada, ela passa a amar os outros também, é como se tivesse se libertado de um amor obsessivo para um que sabe compartilhar, dividir e valorizar. É justamente nesse momento que o filho e o marido criam vida, ganhando mais nitidez com o nascimento do bebê, simbolizando que a família voltará a viver, ou seja, renasceram em busca de uma nova chance para todos.

FICHA TÉCNICA


Gênero: Drama

Duração: 99 min

Origem: EUA

Distribuidora: Paris Filmes

Direção: Shana Feste

Roteiro: Shana Feste

Produção: Lynette Howell, Beau St. Clair

Estréia: 18/06/2010 (Brasil)