"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

segunda-feira, 21 de março de 2011

EDUCAÇÃO




Inicialmente, temos a representação de garotas que resumem suas vidas às aulas de postura, dança, gastronomia e algumas brincadeiras infantis, como o bambolê. Porém, existem sonhos, que são confundidos pelo deslumbre e que são praticamente perdidos por ilusões. É assim que se constitui a história da obra cinematográfica “Educação”, adaptação de uma obra literária autobiográfica.
Jenny é uma garota que vive na conservadora Inglaterra do inicio da década de 60, que sonha com a liberdade francesa, por meio do movimento beatniks (rebeldes que protestavam contra os impactos da Segunda Guerra Mundial). Constatamos que ela deseja participar do movimento quando diz que depois da universidade se tornará francesa, irá para Paris, vai fumar e se vestir de preto. Porém, a jovem se contradiz em querer tanto fazer parte desse grupo, mas não seguir a ideologia, deixando-se influenciar, por exemplo, pelo preconceito contra os negros e exaltação do materialismo, seduzindo-se pelo glamour que David lhe apresentava.                                                         
Ingressar na universidade significa libertar-se do autoritarismo imposto pelo contexto em que vive. Mas quando David aparece em sua vida ela percebe que poderia ler e ouvir o que quisesse, olhar os quadros, assistir filmes franceses e conversar com pessoas que lhe trariam novos conhecimentos por um caminho contrário ao da universidade, que até então era a sua única saída.
Vemos uma cena em que se exalta o existencialismo, filosofia esta que considera o homem mestre dos seus próprios atos e destino. Tudo que Jenny almeja. Diante de tudo isso, percebemos que a jovem é uma intelectual, que adora arte, filosofia e movimentos culturais. Mais um exemplo é a adoração pelos pré-rafaelistas e pelo violoncelo. Mas, tudo isso vai se perdendo na medida em que se prende a um homem, imaginando estar se libertando.                                              
As criticas que Jenny faz ao país são gritantes. Sua revolta aos padrões vitorianos faz com que ela veja apenas beleza na França e sua capital. Um dos diálogos em que ela critica o país inglês e também resume o talento de viver é no seguinte discurso: “Ação é caráter. (...) se nunca fizermos nada, nunca seremos alguém. (...) Às vezes penso que nunca ninguém fez nada neste país bobo além de você”. Existe outra passagem que critica a vida vitoriana, quando uma de suas amigas ao se referir sobre o fato de Jenny e David ainda não terem mantido relações sexuais diz que eles têm pensamento vitoriano em relação ao sexo, censurando os ideais puritanos.
Outra ilustração sobre o pensamento inglês surge em relação ao preconceito com os judeus, vestígios da Segunda Guerra Mundial. Uma das passagens que representa esse aspecto é quando em uma discussão entre Jenny e a diretora, a superior culpa os judeus de terem matado o Senhor e a garota retruca dizendo que o Senhor era judeu, ganhando a discussão.
O debate com a diretora se prolonga e é nesse momento que, realmente, temos a ampla percepção do que Jenny busca em David, a fuga do seu destino, que ela visualiza em suas professoras, elas estudaram, enfim foram para a universidade e voltaram para o mesmo lugar que tanto se esforçaram para sair. O discurso em que diz, “Estudar é difícil e chato. Ensinar é difícil e chato”, representa o ciclo que a faz sentir pânico de percorrer. Então, ela se dá duas alternativas, fazer algo difícil e chato ou se casar com um judeu, ir para Paris e Roma, ouvir jazz, ler, comer uma boa comida em restaurantes agradáveis e se divertir.
Diante da obra em questão podemos fazer muitas análises, principalmente, histórico – sócio – cultural: a situação da mulher, como as poucas opções de trabalho; os londrinos, franceses, judeus e até mesmo russos em um mesmo contexto, porém de lados opostos; a construção do autoritarismo; o interesse e conforto financeiro; os interesses familiares em fazer um “bom casamento”; a pedofilia que na época não era debatida, etc. No entanto, este é um breve resumo do que se pode esperar da obra “Educação”, que é rica em seu roteiro, tem uma linda produção de arte e um elenco plausível.
Nessa obra podemos conhecer a Inglaterra pouco antes dos Beatles e tudo mais que estava por vir para ajudar a amenizar tantas angústias sofridas pelos jovens londrinos no período pós guerra.


FICHA TÉCNICA


Diretor: Lone Scherfig

Elenco: Carey Mulligan, Olivia Williams, Alfred Molina, Cara Seymour, William Melling, Connor Catchpole, Matthew Beard, Peter Sarsgaard.

Produção: Finola Dwyer, Amanda Posey

Roteiro: Lynn Barber, Nick Hornby

Fotografia: John de Borman

Trilha Sonora: Paul Englishby

Duração: 100 min.

Ano: 2009

País: Reino Unido

Gênero: Drama

Cor: Colorido

Distribuidora: Sony Pictures

domingo, 20 de março de 2011

O AMOR EM VERMELHO


Moulin Rouge além de ser um clássico cabaret do bairro boêmio de Paris, Montmartre, também é o cenário que dá vida ao romance do musical homônimo. O drama se dá por meio dos protagonistas Satine e Christian, que desenrola uma verdadeira tragédia ao tom de Shakespeare, pois vemos o patético (que leva a comédia), o amor, o sofrimento e a catarse, explicitamente, na obra, de modo elegante e sensível, exaltando a arte, a liberdade, a beleza, a verdade e acima de tudo o amor.
A história se passa há pouco mais de cem anos após a Revolução Francesa, e demonstra todo o clima artístico do movimento regado ao ambiente boêmio das noites da cidade luz, luz essa que é incrivelmente trabalhada pela direção de arte. Assim, também, todo o cenário é fascinante aos olhos do espectador, tornando-se impossível a descrição do mesmo por palavras.
A obra mostra o preconceito que os artistas da época sofriam. Podemos ver isso quando Christian lembra-se de seu pai reprovando o Moulin Rouge e tudo que o cercava. Também, percebemos que os próprios artistas se diminuíam diante da sociedade, quando o dono do cabaret diz a Satine que ela não poderia amar, pois a posição deles impedia o cultivo de tal sentimento.
É nos apresentado um universo de personagens sensíveis, que vivem pela arte, mesmo que isso possa sacrificá-los. É impossível não se sensibilizar com um amor que modifica, constrói e deixa marcas irreversíveis, amor pela arte, pelo próximo, pela boemia... Tudo isso no clima elegante de paixão, musica e teatro, que contribuem para a intensificação da obra.                                        
Mesmo diante dos obstáculos causados pelo homem o casal consegue ficar junto no ato final. Porém, a tuberculose consegue ser mais forte do que os sentimentos que são amargurados e até mesmo mortos pela doença de Satine.
Além do clima vibrante do “vermelho paixão”, ainda, podemos analisar a peça de teatro que é introduzida na obra a ponto da história vivida fora do palco tornar-se parte da que está sendo interpretada e vice-versa. Também, a intertextualidade, com a obra cinematográfica, “Os Homens Preferem as Loiras”, estrelado por Marilyn Monroe, na canção onde se diz que os diamantes são os melhores amigos das mulheres enriquece a obra. No entanto, a personagem percebe que a canção não condiz com os sentimentos que são maiores do que o dinheiro, que pode lhe trazer conforto, mas não lhe tornará a heroína de si mesma.
Assim, somos levados as profundas reflexões sobre o jogo do amor versus o jogo do poder. Além da introspecção mais importante, “como aprender a amar e ser amado?”. A arte existe para nos auxiliar a descobrir a resposta que, supostamente, seria simples, mas acaba tornando-se o mais complexo de todos os questionamentos que fazemos durante nossa existência.

FICHA TÉCNICA


Título original: (Moulin Rouge)

Lançamento: 2001 (EUA)

Direção: Bazmark Luhrmann

Atores: Ewan McGregor, Nicole Kidman, John Leguizamo, Jim Broadbent.

Duração: 126 min

Gênero: Musical

domingo, 13 de março de 2011

CORPOS CELESTES


“Corpos Celestes” é um filme dirigido por Fernando Severo e Marcos Jorge. A obra é uma adaptação de dois curtas-metragens, “O Telescópio” e “O astrônomo e a Prostituta”. As duas histórias adaptadas para o longa ganham maior intensidade, já que podemos entender a constituição da personalidade de Francisco pelo seu passado.
Não é nenhuma surpresa que o garoto tenha se tornado um homem, profissionalmente, bem sucedido, já que sempre demonstrou interesse, curiosidade e esperteza no que diz respeito a sua paixão pela astronomia. Preste atenção que a motivação pelo trabalho tem como responsável o amor pelo espaço em uma dicotomia entre o grandioso e o que de pequeno ele abriga.
A história também passa por uma transição entre o interior (do Paraná) e a Capital (Curitiba), onde podemos perceber a diferença do personagem ao viver uma vida simples em uma cidade pequena e depois sua postura diante da figura reconhecida da cidade grande. Podemos entender como uma metáfora, em que a mensagem é valorizar as coisas simples da vida. Isso, ainda, fica mais nítido quando o enredo aproxima-se do fim e Francisco afirma que quem se deu bem na vida é o seu irmão, homem simples, dono de uma borracharia e pai de família. Aparentemente, quem conseguiu se tornar um grande homem foi Francisco, porém verifica-se que tudo não passa de percepções distintas do que seria “se dar bem na vida”.
“Diana” é a única pessoa com quem Francisco consegue interagir realmente, mas mesmo assim ele parece um pouco indiferente, já que não se importa com os mistérios de sua vida. Talvez esse aspecto demonstre a fragilidade existente no homem que prefere não saber todas as verdades, já que elas podem ser cruéis.
A fotografia e a Direção de Arte fazem um grande trabalho, criando um clima fascinante, juntamente, com a história que encanta e sensibiliza o público. O interior do Paraná e a Capital Curitibana ganham um tratamento especial que contribui para que possamos ver um grande cenário real que enriquece a ficção.
Para os paranaenses em especial o filme vai causar grande emoção, já que não é comum vermos os espaços que fazem parte de nossas vidas na tela do cinema, como por exemplo, a escadaria da Universidade Federal do Paraná, lugar onde todo curitibano, certamente, deve ter vivido um episódio de sua vida e no momento em que a vê na tela tem um rápido flashback. A viagem de táxi também deixa o espectador curioso olhando pela janela do carro tentando reconhecer cada lugar por onde passa.
O final da obra deixa um ponto de interrogação no espectador. Porém, não há motivo algum para tal feito, pois o que vemos é uma volta ao passado para que o personagem possa destruir as lembranças que o atormentaram durante toda sua vida até então. Podemos interpretar a quebra do telescópio e o surgimento do espaço como a representação de que a partir dali aqueles problemas sofridos por Francisco se tornariam invisíveis diante do que ele ainda tinha a explorar na imensidão do universo.
Enfim, Corpos Celestes, é uma grande obra cinematográfica nacional, que nos lembra muito as produções européias. Não é em vão que o filme levou o prêmio de Melhor Fotografia no Festival de Gramado e mais cinco premiações no Festival de Goiânia, Trilha Sonora, Direção de Arte, Fotografia e Ator Revelação. Certamente, sua riqueza artística não para por aí, já que a sua maior função é a de fazer o espectador refletir sobre o que é ser alguém, qual o verdadeiro objetivo de ser um pouco mais que nada em um universo e tão significativo em uma sociedade. Será a inteligência uma maneira de fugir do simples? Será tão importante saber algo teórico ou praticar a vida que nos cerca? O que realmente vale à pena? As ciências exatas podem tornar-se parte das ciências humanas? Eis, que essas reflexões são indispensaveis diante da obra Corpos Celestes.

FICHA TÉCNICA


Gênero:Drama

Duração: 91 min

Ano de lançamento: 2011

Site oficial: http://www.corposcelestes.com.br/

Distribuidora: Panda Filmes

Direção: Marcos Jorge e Fernando Severo

Roteiro: Carlos Eduardo Magalhães, Mário Lopes, Fernando Severo e Marcos Jorge, baseado em argumento de Marcos Jorge.

Produção: Cláudia da Natividade

Música: Ruriá Duprat

Fotografia: Kátia Coelho

Direção de arte: Daniel Marques

figurino: Zenor Ribas

Edição: Caio Cobra e Mark Robin

quinta-feira, 10 de março de 2011

GRETA


Quando nos deparamos com uma obra cinematográfica estrelada pela atriz Hilary Duff, logo pensamos: deve ser mais um filme produzido pela Disney, com mais um daqueles enredos onde os personagens passam por conflitos que só mesmo o Mickey e o Pato Donald poderiam se emocionar. Porém, According to Greta, é um filme alternativo e co-dirigido pela atriz. Sim, não podemos pensar que uma estrela teen vai permanecer por toda a vida no mundo encantado das princesas e príncipes enfeitiçados, ela cresce, escreve livro e dirigi filmes independentes.
Deixando o preconceito de lado, iniciemos a reflexão sobre a obra. Podemos dizer que Greta é uma garota forte, mas que se mascara, por meio do drama que ela insiste em produzir em sua vida. Porém, a perturbação da personagem não é em vão, já que sua mãe acha melhor se livrar dela junto com seus problemas do que eliminá-los e permanecer ao lado da filha.
É nesse contexto que a jovem vai morar com a avó e o avô e em certo momento percebe que há algo melhor na vida do que reclamar e perder tempo planejando a própria morte.
Greta é vista com bons olhos pelas pessoas, mesmo ela tentando construir uma imagem insuportável, o seu lado bom é percebido pelos indivíduos que ali convivem, como por exemplo, os clientes do restaurante, que mesmo ela tratando mal insistem em serem atendidos por ela.
O rapaz por quem ela se apaixona abre os olhos da garota para que ela perceba como está sendo ingrata com a sua vida, mostrando que podem haver finais muito tristes para as pessoas que se fecham em um mundo melodramático, como o seu amigo que cometerá suicídio, afetando as pessoas que estão a sua volta.
O fato do garoto não passar a mão em sua cabeça e dizer que apenas ela pode encontrar a cura de sua mente e que ela somente o procure quando as coisas melhorarem, também, é um ponto forte para a sua recuperação. Já que era isso que ela queria o tempo todo, levar um sermão, ouvir algumas verdades cruéis para sentir que alguém se importou com seus dramas.
Finalmente, ela percebe que não deveria chorar pelo o que havia perdido (no caso o seu pai), mas sim valorizar o que tinha. Percebeu que envelhecer não era ruim e que ela não estava no auge da vida e sim só poderia atingir esse ponto quando tivesse vivido muito.
Podemos dizer que Greta aprendeu a viver, percebeu que a vida que levava e o seu mundo interior eram a mesma coisa. Então, jogou todos os seus planos autodestrutivos no fundo do mar e seguiu em frente.
O mais importante do filme é que ele não tem como temática central o amor entre um homem e uma mulher, mas ele é inserido como parte de um conjunto de sentimentos, onde um precisa do outro para haver a harmonia, tão necessária na essência humana.
O final feliz, também, não mostra um casal que termina sorridente para sempre, mas sim alguém que encontrou a paz dentro de si mesma.
Em síntese, According to Greta, é uma obra bem produzida, apresentada no Festival de Cannes e muito bem recebida pelos espectadores. A trilha sonora funciona como parte do enredo, sempre com letras relacionadas ao que está acontecendo na história, ausentando-se o cenário do conflito, dando lugar somente ao som. O cenário tem um clima Cult e o elenco encara bem as propostas de seus personagens. Ou seja, vale a pena dar uma conferida e tirar suas próprias conclusões.


FICHA TÉCNICA


Título original – According to Greta

Gênero – romance / drama

Ano de lançamento – 2009

País de origem – EUA

Direção – Nancy Bardawil

Elenco:

Hilary Duff … Greta

Ellen Burstyn … Katherine

Melissa Leo … Karen

Evan Ross … Julie

Michael Murphy … Joseph

Tsianina Joelson … Stacy

Oren Skoog … Steve

Vivan Dugré … Donna

John Farrer … Homeless Street Drunk

Maury Ginsberg … Lou

quarta-feira, 9 de março de 2011

ESPOSA DE MENTIRINHA


Adam Sandler é sempre visto de maneira negativa pela crítica, mas o que ela se esquece de citar é o seu carisma em frente às câmeras. Os enredos podem ser clichês, mas de forma descontraída e “sem querer querendo” o ator consegue encantar o público feminino com a desconstrução do estereótipo “certinho” de beleza e o público masculino que se identifica com a figura anti-galã, mas sim engraçada, o que na verdade é mais importante em uma conquista.
O novo filme de Sandler, Esposa de Mentirinha, tem o objetivo de chamar a atenção do espectador de que muitas vezes passamos muito tempo de nossas vidas nos empenhando para conquistar um amor, lutando por uma pessoa que nos parece ser a certa, mas que na verdade não passa de um equivoco. Pois, o verdadeiro amor encontra-se mais perto e mais simples do que geralmente pensamos.
Uma das críticas da obra é referente às cirurgias plásticas e o descontrole das pessoas ao fazer uso desse recurso, que nunca sabem a hora que devem parar. Também, sugere-se que as pessoas escolham clínicas confiáveis, pois uma das clientes de Danny está lá justamente para concertar uma cirurgia que não deu certo em outro estabelecimento.
A personagem de Jennifer Aniston apresenta o preconceito da mulher mais velha contra a mais jovem, isso mesmo, diferente do que acontece (que é ao contrário). Ela julga a namorada de Sandler como sendo mais uma típica patricinha americana, o que a gente acredita em muitos momentos que não será comprovado, mas seu fanatismo por N' sing constata que Katherine não estava, totalmente, errada.
O primo de Danny caberia muito bem a Rob Schneider, já que o ator tornou-se recorrente nos filmes de Sandler e o personagem segue a mesma linha dos que ele vinha interpretando.
Outro aspecto recorrente, nas obras protagonizadas por Sandler, é o cenário, o Havaí, o que é muito bom para o público, já que o clima praiano combina muito bem com o ator e suas histórias.
A trilha sonora do filme é boa e o elenco desempenha bem o roteiro, assim como os elementos que o compõe. O que a crítica tem que levar em conta é o gênero da obra, o que é esquecido na hora de julgar os filmes de Sandler e, por isso, tantos apontamentos negativos.

FICHA TÉCNICA
 
 
Título no Brasil: Esposa de Mentirinha

Título Original: Just Go with It

País de Origem: EUA

Gênero: Comédia / Romance

Tempo de Duração: 117 minutos

Ano de Lançamento: 2011

Estréia no Brasil: 04/03/2011

terça-feira, 8 de março de 2011

BONEQUINHA DE LUXO


Audrey Hepburn estrela o filme “Bonequinha de Luxo”, dando à personagem um ar requintado. A obra que é inspirada na obra literária de Truman Capote sofreu diversas modificações, para que tivesse aceitação do público e da censura. Assim, tornando-se um filme sem choques sociais, mas sim ressaltando a sensibilidade da personagem, que ao contrário do livro não é bissexual e ao invés de ser uma prostituta é apenas uma acompanhante de bate papo, chegando a criticar muitas vezes o vizinho por receber dinheiro de uma mulher em troca de lhe dar prazer.
A obra cinematográfica valoriza o luxo durante toda a história, exceto em seu desfecho, onde os sentimentos se sobrepõem a qualquer necessidade de consumo.
Até então, Holly, que demonstra não querer se prender a nada nem a ninguém, se mantem aprisionada em seu desejo pelo dinheiro. Primeiramente, ela usa o amor pelo irmão como desculpa para correr atrás de melhores condições de vida, mas depois que ele morre ela continua focada em conseguir um marido rico.
É quando ela pensa estar se aprisionando é que se liberta. Dá vazão aos sentimentos e se entrega, realmente, a si mesma. Pois, somos o que sentimos, o que ela passa muito tempo sufocando e se sufocando em uma vida superficial de luxo e glamour, porém, sem essência alguma, convivendo com o que ela chama de ratos e super ratos.
Desse modo, cria-se um filme de bom gosto, com uma fotografia belíssima, usando NY como cenário, mas que nos lembra Paris pela forma tranqüila, encantadora e apaixonante que nos é revelada. Bonequinha de Luxo tornou-se um clássico dos anos 60. Vale a pena o espectador contemporâneo apreciar e até mesmo pensar como seria se Monroe tivesse ganhado o papel, já que inicialmente foi cotada para dar vida a Holly.


FICHA TÉCNICA


Título original: Breakfast at Tiffany's

Gênero:Drama

Duração: 115 min

Ano de lançamento: 1961

Estúdio: Paramount Pictures / Jurow-Shepherd

Distribuidora: Paramount Pictures

Direção: Blake Edwards

Roteiro: George Axelrod, baseado em livro de Truman Capote

Produção: Martin Jurow e Richard Shepherd

Música: Henry Mancini

Fotografia: Franz Planer e Philip H. Lathrop

Direção de arte: Roland Anderson e Hal Pereira

Figurino: Hubert de Givenchy e Pauline Trigere

Edição: Howard A. Smith

domingo, 6 de março de 2011

NOUVELLE VAGUE


 

Alexandre Astruc, em 1948, disse ao mundo que o cinema não era apenas um entretenimento, mas uma expressão de pensamento. Ou seja, o cineasta é um escritor, que usa no lugar da caneta a câmera.
Na década de 50 novas tecnologias no ramo cinematográfico contribuíram para o aprimoramento das produções. Porém, muitos cineastas foram limitados, já que o custo dos novos equipamentos era muito alto. Para que pudessem concorrer com a alta indústria tiveram que sair nas ruas, contratar atores não profissionais ou desconhecidos e passaram a ter como tema de suas obras a vida cotidiana. E foi nesse contexto que surgiu a Nouvelle Vague, caracterizada no improviso e espontaneidade das obras.
Em 1959, a expressão Nouvelle Vague foi usada pela primeira vez no Festival de Cannes. Embora, Jean Douchet diga que o termo tenha surgido em 1956, juntamente, com o curta-metragem dirigido por Jacques Rivette, entitulado de Coup du Berger. Jean Douchet, também, considerou o curta, Une Histoire d’Eau, 1957, dirigido por Truffaut, a obra que mais explorou a NV.
No entanto, a Nouvelle Vague, logo começou a perder força na sétima arte, devida a propaganda da mídia que começou a divulgar o movimento como uma linguagem intelectual e chata. Podemos dizer que o testamento da NV encontra-se na obra Paris Vu par..., produzida na primeira produtora independente francesa, de Barbet Schroeder. Pois Shroeder tinha o desejo de criar grandes obras cinematográficas e via a arte de produzir filmes atrelada a de aprender a fazê-los.
Esse período do cinema ofereceu à sétima arte grande riqueza cultural, constituída pela arte moderna, pela descontinuidade, incorporação do acaso e da realidade documental, valorização da montagem, e pela estética fragmentada. E assim, os jovens turcos, amadurecidos no clima da Guerra-Fria, massificados e rodeados de publicidade influenciaram a esfera do cinema, ultrapassando os limites da França, chegando à Bertolucci e Pasolini, na Itália, Roman Polanski, na Polônia, Glauber Rocha, no Brasil, tendo ainda, como filho temporão, Wenders, Fassbinder e Herzog, na Alemanha.

quinta-feira, 3 de março de 2011

UM LUGAR QUALQUER


“Um Lugar Qualquer” é o novo filme de Sofia Coppola, que trata do vazio existencial e do tédio causado pela futilidade, como reflexo do esquecimento das coisas simples da vida.
Percebemos que Johnny Marco, protagonista, esquece de sua tristeza quando encontra a simplicidade, coisas que ele poderia conquistar com pouco dinheiro e sem ser um ator de Hollywood, como por exemplo, jogar Nintendo wii. Já quando está cercado do glamour passa a desempenhar o papel de uma pessoa calada, desmotivada, nitidamente, insatisfeita.
A maioria das críticas diz que a filha de Marco é a criatura que surge para salvá-lo. Porém, ela desempenha o mesmo papel que o vídeo game, já que depois ela vai embora e ele continua com o ar melancólico. Funcionando, talvez, como uma metáfora ao estado de espírito de toda a sociedade. Pois, temos momentos que parecemos satisfeitos e em outros percebemos que estamos frustrados.
Os poucos diálogos ajudam a percepção do espectador se construir com maior intensidade em detalhes, já que ficamos atentos a todos os sinais, tentando entender a representação de cada movimento de câmera, de cada expressão do personagem, etc.
O personagem participa de festas, tem relações com todas as mulheres que deseja e é atendido ao estalo de dedos. Mas não se dá conta de que conseguir tudo sem o menor esforço torna entediante todas suas atividades. Motivo de tantas pessoas ricas cultivarem a depressão.
A câmera focada em uma imagem se movendo, lentamente, dá tempo para que o público possa refletir sobre a obra e a rotina existencial. Além de mostrar como o interior do personagem se move, lentamente, sem ansiar a busca pela felicidade.
O enredo não tem um final surpreendente ou um feliz para sempre. Marco termina, justamente como iniciou. O espectador sabe desde o inicio que  o desfecho vai ser desse modo, já que o personagem não busca uma cura para o que sente, apenas sente. Por esse motivo trabalha-se com a Ferrari andando em círculos no início da obra e no fim, estando no mesmo lugar de antes, como se o personagem sempre voltasse ao mesmo ponto.
Ainda, Coppola usa muitos elementos para enriquecer uma obra que, inicialmente, não tem um enredo impressionante, mas que junto a todos os recursos torna-se elegante, encantador e reflexivo. Temos as strippers que dançam pole dance ao som de rock’n’roll, com a câmera funcionando como os olhos do protagonista. A apresentação de patinação no gelo, que é dada de presente ao público, ao som de Gwen Stefani, encanta nossos olhos. Sofia, também, recorre ao popular, com o intertexto, incluindo na fala da adolescente, interpretada por Elle Fanning, a narração da história de Crepúsculo, para seu pai, sem citar o nome do livro, mas que logo identificamos e por algum motivo torna-se cômico. Além da premiação em que Marco participa e você é tão surpreendido quanto ele.
Assim, se dá mais um belíssimo filme em que Sofia Coppola, consegue usar o mal do século para construir uma grande obra de arte. Porém, é importante advertir que algumas pessoas podem achar o filme chato e maçante, encontrando o tédio antes que a obra alcance seu fim.

FICHA TÉCNICA


Gênero: Comédia Dramática

País / Ano: EUA / 2010

Duração: 97 minutos

Direção: Sofia Coppola

Elenco: Stephen Dorff, Elle Fanning, Michelle Monaghan, Laura Ramsey

Censura: 14 anos

Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza.