"A NOSSA LINGUAGEM CRIA O MUNDO."

sábado, 31 de julho de 2010

MUSICAL: OS HOMENS PREFEREM AS LOIRAS


Marilyn Monroe fez grandes musicais entre eles há o chamado “Os Homens Preferem as Loiras” (Howard Hawks, 1953). O musical ilustra a década de cinqüenta liderada pelo consumismo.
A América detinha de 75% dos carros e eletrodomésticos produzidos no mundo. A modernidade vinha para fazer que a sociedade esquecesse o terror da Segunda Guerra Mundial. A fabricação de eletrodomésticos tinha o intuito de chamar as mulheres que haviam ido trabalhar nas fabricas, durante Guerra, de volta para seus lares. Por isso, a propaganda de pinups, que antes serviam de calendário para os soldados se distraírem, agora com eletrodomésticos e com a mesma sensualidade de antes. Ou seja, a mulher devia dar conta da casa e da beleza. A publicidade pregava que isso era possível com a ajuda da maquina de lavar, do aspirador de pó, etc., apoiando o consumismo.
No musical Os Homens Preferem as Loiras, vemos uma tentativa de recuperação do glamour perdido na Guerra.
Marilyn Monroe é uma dançarina de cabaré e o que vemos é uma tentativa de resgate freudiana, onde o homem deseja resgatar a mulher imoral para um caminho virtuoso. Também, podemos analisar esse resgate como o “resgate da nação” personificado na personagem.
Superficialmente pode-se pensar que o musical defende o feminismo, pois no inicio as personagens são independentes, no entanto, isso é um equivoco. Pois, as dançarinas se rendem ao poder patriarcal por meio do casamento e se mostram fúteis, vejamos isso muito bem expressado na letra da musica que é explorada no musical:

“Os franceses adoram morrer por amor
Eles se divertem em duelos
Mas eu prefiro um homem que viva e me dê jóias caras
Um beijo na mão pode ser sofisticado
Mas os diamantes são os melhores amigos de uma garota.
Um beijo pode ser grandioso
Mas não pagará o aluguel do nosso humilde apartamento
Os homens se tornam frios
Ao passo que as garotas envelhecem
E todos nós perdemos nosso charme no final das contas
Mas quadradas ou como peras recortadas
Essas pedras não perdem a forma
Os diamantes são os melhores amigos de uma garota.”

Depois que as mulheres conquistaram o trabalho fora de casa, ao voltarem da Guerra, os homens ficaram inseguros e com medo de perderem o poder patriarcal. Na realidade, os homens eram dependentes dos diamantes, já que na sociedade consumista que se moldava eles necessitavam de status.

Referência Bibliografica:
SMITH, Cristiane Busato, O lugar do corpo feminino na comédia musical dos anos cinqüenta.



sexta-feira, 30 de julho de 2010

A VIDA DE NORMA BAKER X MARILYN MONROE


Marilyn Monroe filha de pai desconhecido e da editora de filmes Gladys Pearl Monroe, cresceu em orfanatos, pois devido a problemas psíquicos a mãe foi internada.
aos dezesseis anos
Norma Jeane Baker, nome verdadeiro da estrela de cinema, aos dezesseis, foi tirada do orfanato por uma amiga de sua mãe, porém, mais tarde, a família não poderia permanecer com ela. Então, ela foi levada a escolher entre voltar para o orfanato ou casar-se. A jovem decide unir-se a Jimmy Dougherty, então seu namorado de 21 anos.
Baker vive uma vida matrimonial durante dois anos, adquirindo uma postura feminina do lar, segundo o modelo da época. Porém, sua vida que até então parecia estável é surpreendida pela convocação de seu marido a marinha.

Como todas as mulheres da época, que tiveram que se distanciar dos maridos por causa da Segunda Guerra Mundial, Norma foi trabalhar em uma fábrica, onde foi descoberta pela revista Yank, que fazia uma matéria sobre o trabalho feminino nas fábricas. Assim, em pouco tempo ela estava trabalhando como modelo.

A então modelo se apaixona pelo cinema e ingressa em um curso de teatro. Até que em 1946 seu marido retorna a casa e ela tem que deixar o casamento de lado pela carreira, já que era insuportável conciliar o casamento e a carreira na época.

Depois de ser contratada pela Twentieth Century Fox, Norma passa a usar o nome artistico Marilyn Monroe e muda o visual.  A partir daí ela ganha a imagem das pin ups, sensuais e inocentes. A carreira chega ao auge na década de cinqüenta, os anos mais intensos da história.

Em 1854 a atriz casa-se novamente, mas o casamento fracassa devido à carreira, mesmo motivo que levará o primeiro casamento a acabar.

Em 1955, Marilyn ingressa na escola de Lee Strasberg e um ano depois abre sua produtora, Marilyn Monroe Productions. Antes da década de 50 acabar, em 1959, Monroe ainda atinge mais uma conquista, o Globo de Ouro, por sua performance em Some Like it Hot.

O fim da década também foi marcado para Marilyn Monroe pelo casamento com o dramaturgo Arthur Miller. Dois anos depois viria à tona o fim do terceiro casamento da atriz. Provavelmente, um dos fatores que contribuíram para a separação seria o caso que Marilyn Monroe e John Kennedy mantinham desde o fim do segundo casamento da diva e manteve-se após a união com Miller.

Em 1962, aos 32 anos, Norma Jeane Baker, é encontrada morta com vários comprimidos ao seu lado. O caso não foi investigado já que os materiais investigações foram roubados do FBI, como gravações do telefone de Monroe, e um ponto final foi colocado, afirmando-se que a estrela havia se suicidado.

A atriz estava sendo pressionada por causa do caso com Kennedy, pois existiam riscos de um escândalo político. Realmente, a sua morte ocorreu em um momento oportuno para alguns interessados. Porém, afirma-se que suicídio foi a causa verdadeira da morte do ícone do cinema americano.


CINEMA FRANCÊS & JEAN VIGO

O cinema francês passa por uma renovação no período pós-primeira Guerra Mundial. A história do cinema é recente e tem ligação com as artes, principalmente com as vanguardas européias, dadaísmo, surrealismo, etc. As vanguardas expressam uma nova realidade, por meio da linguagem composta por novas configurações.

"Entende-se, com este termo - vanguarda - um movimento que investe um interesse ideológico na arte, preparando e anunciando deliberadamente uma subversão radical da cultura e até dos costumes sociais, negando em bloco todo o passado e substituindo a pesquisa metódica por uma ousada experimentação na ordem estilística e técnica" (Giulio Carlo Argan)
A década de 20 apresenta produções cinematográficas experimentais influenciadas pelas vanguardas. Louis Delluc, escritor e cineasta, critica o cinema industrial, produzindo um cinema intelectual e de protesto.
Jean Vigo teve forte importância para o cinema. O cineasta viveu em Paris na efervescência surrealista, filho de ativistas anarquistas, identifica-se com a proposta de Un Chien Andalou e pelos ideais de liberdade, anti-autoritarismo e repúdio ao academicismo sobre influência do surrealismo.
Na passagem do cinema mudo para o sonoro evidencia-se o Realismo Poético, fazendo com que os vanguardistas livrassem-se do experimentalismo, passando a terem uma visão naturalista de critica social. Jean Renoir, realista poético, usa em suas produções a ironia e a compaixão, usando temas como a decepção, fracasso, tristeza e fúria, por meio de uma humanidade instável de sentimentos bons e ruins.
Assim, como a literatura teve seu momento naturalista, o cinema também. Podíamos ver nas telas os tipos humanos que os personagens refletiam, por meio de uma aparência feia e suja, sempre referentes às classes populares.
Vigo foi o primeiro a fazer um cinema social, lírico e verdadeiro. Sua atuação foi curta, mas o suficiente para mostrar uma produção autoral de critica social. A França dos anos 30 pode vivenciar um cinema em que Jean Vigo expressa uma realidade crua, sem efeitos e artifícios, criticando uma sociedade hipócrita.




sábado, 24 de julho de 2010

DRAMATURGIA BRASILEIRA



Nos anos 40 estrangeiros ligados ao trabalho dramatúrgico chegam ao Brasil, como a companhia “Os comediantes”. É nesse contexto que o Brasil amplia seu contato com a cena internacional, além de recuperar a autonomia e o texto como líder e guia do espetáculo.
Nélson Rodrigues é uma figura importante no teatro inspirado na intenção freudiana e fórmula impressionista (1912-1980). O texto que destaca Rodrigues perante o público é “Vestido de Noiva” – 1943, representado pela companhia já citada “Os Comediantes”, dirigido por Ziembinski e estimulada pela realidade, alucinação e memória, renovando as novidades cênicas.
Com a aposta certa Nélson Rodrigues continua seguindo a mesma temática com linguagem cada vez mais crua e motivos mais escabrosos, onde a obscura existência do drama psicanalítico atenua-se em comédia. O autor, também, produziu obras literárias que insultavam setores bem intencionados, porém, ineficientes.
No aspecto renovador do teatro podemos comentar sobre as correntes sociais, destacando o nome de Jorge Andrade e seu texto que tinha como foco a decadência da aristocracia do café (1929), intitulado de “A moratória”, construindo a imagem perdida de um Brasil rural. Jorge Andrade produziu obras que abordaram os operários, os proprietários, um passado mítico e bandeirante, a industrialização e urbanização, por um quarto do século, totalizando dez dramas.
O estilo brasileiro se formava tanto na percepção dos teatros europeus de vanguarda quanto a consciência nacional, que em 1977 com a obra “Milagre na cela” sofre perseguição da ditadura.
Nos anos 60 o Brasil começou a ser conhecido pelos aspectos folclóricos, distanciando-se do tédio existencial do desencantamento europeu. Em 1959, o cinema valoriza o nordeste mostrado nos romances regionalistas da década de 30. Nessa perspectiva destaca-se Ariano Suassuna, entre suas obras podemos destacar o Auto da compadecida (1955), onde o sacro e o profano são combinados no contexto católico nordestino. Essa idéia, ainda, é trabalhada nas obras do autor como: “O casamento suspeitoso” (1958), “O santo e a porca” (1958) e “A pena e a lei” (1959). Hermilo Borba Filho, Alfredo Dias Gomes, Rachel de Queiroz, João Cabral de Melo Neto, são outros nomes importantes da dramaturgia nordestina.
Para rebater o humanismo cristão e o regionalismo nordestino (1960 e 1970) tínhamos em São Paulo o socialismo de Gianfrancesco Guarnieri. Em uma de suas peças, apresentada no Teatro Arena São Paulo, reentitulada, em 1967 de “Arena conta Tirantes”, o autor trabalha com problemas da industrialização e a luta de classes, baseado em aspectos intimistas com compromisso neo-realista. A obra com sucesso internacional (apresentada em Paris e Roma), de Guarnieri, foi “Gimba” (1959), pois ao contrário das outras que mostravam um Brasil hard-boiled, essa ilustrava o ancestral e pitoresco de bandidos, carnaval, negros e cristianismo folclórico.
Na dramaturgia dos anos 70 aparecem Augusto Boal, Chico Buarque e Plínio Marcos. Boal se destaca perante o público e a crítica internacional, com a Revolução na América do Sul (1960), populista, porém, com corte cênico. Com a influência de Brecht, Boal constrói um teatro “pobre”, suprimindo o estrelismo, assim, confiando a vários autores a mesma parte.
Seguindo o mesmo caminho, o músico Chico Buarque de Holanda trabalha com dança e canto em suas peças com mensagens políticas.
A influência de Plínio Marcos (1935-1999) é circense, pois foi palhaço e encontramos respingos disso na alucinação e nos personagens-clows de suas peças, que na época sofreram censura
Para finalizar, temos Mauro Rasi (1944-2003), um dos nomes de destaques, na comédia de costumes. Já em 2003, o teatro está muito próximo da aldeia global de teatros.

domingo, 18 de julho de 2010

A MEGERA DOMADA X DEZ COISAS QUE ODEIO EM VOCÊ - ANOS 90


Na década de 90 temos outro diálogo intertextual com a obra de Willian Shakespeare, o filme “10 Things I Hate About You”, comédia romântica norte-americana de 1999, escrita por Karen McCullah Lutz e Kirsten Smith.
O filme se apropria da idéia central do livro contextualizando com a época e público alvo (adolescentes) da produção cinematográfica. Nos anos 90 a mulher é independente, tem “voz social” e o patriarcalismo já não é tão forte. A figura feminina não é mais dependente do homem, como em décadas passadas.
Assim, a personagem principal, Kat, não sofre opressão, não é obrigada a ficar com Patrick por causa de uma convenção cultural, ela tem independência, suficiente, para escolher entre ficar com ele ou não.
Diferente do que ocorria nos anos 20 e que é retratado na novela da Rede Globo, O Cravo e a Rosa, a mulher na década de 90 casa e continua com suas atividades. Catarina na novela não queria se casar, pois, pertencia ao movimento feminista, e sendo assim não poderia se tornar uma dona de casa, já que o casamento a levaria a esse destino a fazendo abandonar o movimento para se dedicar ao casamento. Nos dias atuais, a mulher não precisa ser somente uma dona do lar, apenas, porque se casou, ela trabalha fora, tem vida social própria, entretenimentos, não precisando se dedicar integralmente ao marido como “figura sagrada”, como observamos no discurso final de Katherine em “A Megera Domada”.

A MEGERA DOMADA X KISS ME KATE - ANOS 50



A década de cinqüenta também se apropriou da obra de Shakespeare para adaptar ao que a mulher significava na época, as intertextualidades são vistas no musical da Broadway, “Kiss me Kate”.
Enquanto o musical era produzido, o mundo passava por mudanças sociais e culturais gritantes. A Guerra Fria, travada entre os Estados Unidos e a, então, União Soviética ficou marcada, durante os anos 50, pelo início da corrida espacial, uma verdadeira competição entre os dois países pela liderança na exploração do espaço. A ficção científica e todos os temas espaciais passaram a ser associados a modernidade e foram muito usados. Até os carros americanos ganharam um visual inspirado em foguetes. Eles eram grandes, baixos e compridos, além de luxuosos e confortáveis. Os Estados Unidos estavam vivendo um momento de prosperidade e confiança, já que haviam se transformado em fiadores econômicos e políticos do mundo ocidental após a vitória dos aliados na guerra. Isso fez surgir, durante esse período, uma juventude abastada e consumista, que vivia com o conforto que a modernidade lhes oferecia.
 

É importante saber qual era a representação da figura feminina na época para entendermos a adaptação da obra de Shakespeare feita no musical. A mulher nos anos dourados era vista como símbolo de beleza, tudo era baseado na valorização da aparência, dos penteados, dos vestidos, dos acessórios fazendo aflorar a sexualidade. Dois estilos de beleza feminina marcaram os anos 50, o das ingênuas chiques, encarnado por Grace Kelly e Audrey Hepburn, que se caracterizavam pela naturalidade e jovialidade e o estilo sensual e fatal, como o das atrizes Rita Hayworth e Ava Gardner, como também o das pin-ups (“garotas penduradas”), com cinturas marcadas e seios fartos, que surgiram na Segunda Guerra Mundial para estampar calendários que os soldados levavam com eles. Entretanto, os dois grandes símbolos de beleza da década de 50 foram Marilyn Monroe e Brigitte Bardot, que eram uma mistura dos dois estilos, a devastadora combinação de ingenuidade e sensualidade.
A tradição e os valores conservadores estavam de volta. As pessoas casavam cedo e tinham filhos. Nesse contexto, a mulher dos anos 50, além de bela e bem cuidada, devia ser boa dona-de-casa, esposa e mãe. Vários aparelhos eletrodomésticos foram criados para ajudá-la nessa tarefa difícil, como o aspirador de pó e a máquina de lavar roupas.
O autor do musical Kiss me Kate se apropria das brigas entre Katherina e Petrucchio no relacionamento dos protagonistas do musical, usando o recurso metateatral.

Os musicais estavam em alta, por isso, nada mais lógico para expressão artística usada para dialogar com a obra de Shakespeare. Mais uma vez relacionando tempo, espaço com o enredo. “Kiss me Kate”, mostra todo o glamour da década de 50, qual era a posição da mulher e como ela convivia com a situação imposta no inconsciente feminino e, também, masculino.


A MEGERA DOMADA X O CRAVO E A ROSA - ANOS 20



Em 2000, foi produzida a novela “O Cravo e a Rosa” escrita por Walcyr Carrasco. A trama baseada na peça teatral de Willian Shakespeare mostra uma Katherina feminista que luta por igualdade entre os sexos, ela acaba por se render ao amor. Porém, o autor mostra na figura da protagonista as mudanças que ocorriam na época referente a mulher.
Nos anos 20, que se passa a novela, a mulher começa a trabalhar fora de casa. O uso dos eletrodomésticos permite as mulheres mais tempo livre. A “nova mulher” passa a usar um novo tipo de vestuário: as saias sobem, as cintas descem, livra-se dos espartilhos, corta o cabelo à “garçonete” e usa brilhantina. Exagera na maquiagem e na bijuteria, passa a andar de bicicleta, a dançar o tango, a conduzir o automóvel, a fumar e a freqüentar piscinas mistas. Esta época faz despontar um novo tipo de mulher solteira - liberta, independente e aventureira - que vai ascender socialmente. A Primeira Guerra contribuiu para as novas oportunidades de emprego. Começam, então, a exigir novas liberdades e recusam o modelo de educação das suas mães e avós. Reivindicam igualdade de oportunidades na educação, de direitos no acesso às profissões e salário nas fábricas.
Na trama de Walcyr Carrasco o visual de Catarina é fiel a época, ela dirige, pertence ao movimento feminista, não se cala diante dos fatos e não é prendada. A mulher passava por essas mudanças e isso foi apresentado de uma forma romantizada adaptando a TV o enredo de “A Megera Domada” e nos aspectos sociais da década de 20.

A FIGURA DA MULHER EM “A MEGERA DOMADA” DE WILLIAN SHAKESPEARE



Podemos verificar que a obra “A Megera Domada” de Willian Shakespeare, foi inspiração para que outras obras surgissem e uma grande vertente disso é o cinema e a TV, essas adaptações, se contextualizam com a figura da mulher e com o poder patriarcal como soberano em sua época. Assim, criando um diálogo intertextual com o contexto sócio-cultural do século XVII.
Segundo Beauvoir, a mulher assimila o fato de que ela é objeto e, através da “não-autenticidade” e da “má-fé”, colabora na fabricação dos estereótipos que embasam a sua “inferioridade”. Os homens concedem a mulher como uma ameaça à vida masculina de transcendência, liberdade e autonomia. Por outro lado, ela é fadada a permanecer na imanência, ou seja, sua vida direciona-se a finalidades especificas: ela se envolve em produzir e cuidar de coisas que são apenas meios, tais como comida, roupa e abrigo. Essas coisas são objetos intermediários entre a vida animal e a existência livre.
Verificamos esse conceito de Beauvoir aplicado no discurso final de Katherina:

“... Seu marido é senhor, é vida, é guarda;

Seu chefe e soberano, ele é que a cuida.

Ele a sustenta; seu corpo ele dedica

Ao mais árduo labor, em terra e mar,

Na noite horrenda e no frio do dia,

Pra deixá-la no lar segura e quente.

E só pede a você, por recompensa,

Amor, beleza, e doce obediência –

“Pouca paga pra dívida tão grande...”
Katherina é uma vitima da opressão e do patriarcalismo muito comum na história da mulher. No inicio ela tenta discordar da doutrina patriarcal, mas a obra mostra que é inútil lutar contra a figura masculina, fato que acaba por inferiorizar a mulher. Isso talvez ocorra na obra, para que o autor não rompa com a corrente dos seres, onde cada ser ocupa um lugar na sociedade não podendo haver violação.

 

sábado, 17 de julho de 2010

SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS – UMA ANÁLISE REFLEXIVA


O filme Sociedade dos Poetas Mortos tem como personagem decisivo no enredo o ex - aluno que volta para o colégio conservador anos depois como professor. O professor com novas idéias, vivido por Robin Williams, pertenceu a um clube de leitura formado por alunos que se reuniam para ler poemas, cujo nome era “Sociedade dos poetas mortos”, quando foram descobertos então o colégio reprimiu o grupo. Quando o ex-aluno volta para o colégio como professor, os atuais alunos descobrem esse acontecimento no histórico escolar do professor e reabrem a sociedade.

Podemos verificar que o novo professor vai contra os valores distorcidos da instituição ortodoxa, formada pelos quatro pilares, tradição, honra, disciplina e mérito, e diante disso é possível levantar alguns pontos reflexivos na obra cinematográfica.

Primeiramente, o professor tenta contextualizar suas aulas com a vida dos alunos, trabalhando com a expressão ‘carpe diem”. Dizendo para os alunos aproveitarem seus dias ele está dizendo que há um mundo a ser explorado, que deve-se penetrar no conhecimento não esquecendo o que ele pode nos proporcionar, que devemos inserir os saberes no cotidiano aproveitando cada momento da vida e não apenas perdendo horas de estudo sem adequar a realidade, ao mundo, as vivências. Ao pedir para um aluno fazer a leitura de um poema “Colha logo esta rosa; Esta flor que hoje sorri cheirosa; amanhã estará morrendo”, podemos interpretar que logo o conhecimento que hoje detemos se não aplicado poderá ser esquecido caindo na inutilidade.

Depois dessa introdução feita na primeira aula o professor parte para outra etapa, que não deixa de estar atrelada a primeira, pois o trabalho do professor é continuo e não apenas aulas aleatórias. O outro ponto a ser observado nas aulas do arrojado mestre é que ele mostra aos alunos que eles devem desenvolver suas próprias idéias, seus próprios pensamentos, isso é observado em alguns momentos do filme, por exemplo, quando ele diz que está formando pensadores livres e faz a seguinte pergunta a turma: Qual seria o seu verso? Então, os alunos são levados a produzir poemas e apresentá-los. Outro momento que trabalha a capacidade crítica do aluno é demonstrado, claramente, quando aparece o seguinte discurso no personagem “palavras e idéias podem mudar o mundo, aprender a pensar sozinhos, apreciar a linguagem”. Ainda há outras cenas que fazem o telespectador enxergar essa proposta: quando ao pedir que os alunos subam na mesa e olhem o mundo constantemente de modos diferentes fazendo uma comparação com a leitura que não deve ser feita de uma só maneira.

Os poetas mortos são destinados a sugar a essência da vida e com isso podemos fazer uma relação com o conhecimento, devemos sugar tudo o que ele tem a nos oferecer e não apenas conhecer e não aplicá-lo. Devemos aproveitar o dia usando de todo nosso aprendizado.

A VOLTA DO PARAFUSO


Na obra "A volta do parafuso", o autor Henry James elimina o autor da narrativa e confere ao leitor a ilusão de estar presente na cena da ação, por meio de uma apresentação dos eventos e dos personagens diretamente sem comentários.
O modo de apresentar o romance muda pelo deslocamento do centro da ação para aspectos psicológicos e fantasticos. As circunstancias externas perdem significado diante dos acontecimentos internos que ocorrem na mente humana.
O sobrenatural é determinante na história. Partindo do mundo estranho a história toma sentido fantasmagorico. James teria provado do próprio veneno, pois sentiu "parte do horror que estava tentando evocar".
O autor brinca com a luz na escuridão, como por exemplo, as aparições do fantasma durante o crepusculo e a morte da preceptora em pleno meio-dia.
Podemos classificar o romance como gótico, já que esse tipo de romance lida com uma experiencia intensa, em um espaço isolado das condições do dia a dia, como percebemos em "A volta do parafuso". Também, a narrativa é permeada de um ar de mistério e horror com grande sugestão de sexualidade e sadismo. O motivo de crianças serem encantadas por um outro mundo  - ou pelos mortos - sustentam o tom gótico, além de não lidar tanto com os fantasmas, mas com o efeito que provocam naqueles que vêm.
O tom de diário causa o efeito de verossimilhança que faz com que o leitor acredite no que a preceptora viu.
Henry James não trabalha com questões sociais, mas sim psicológicas. Segundo Teodorov, o leitor tem que pairar entre a desrazão e a razão, não sabendo direito o que acontece, pois a história não tem solução. A fórmula de James percorre entre a certeza e incerteza, ou seja, a fórmula da narrativa fantastica.
A volta do parafuso é uma história de loucura e neurose, por meio de uma busca de sentido psicológico para vivências incomuns pela preceptora.
Ainda há uma explicação freudiana sobre as visões da preceptora ligadas as alusões sexuais da mesma.
Da obra de Henry James nasceu o filme de grande sucesso "Os inocentes". Por meio da obra literaria e cinematografia pode ser feito um estudo comparado "fantastico".

DOM CASMURRO

Nos trechos a seguir podemos verificar a bisbilhotice do narrador, ele conversa com o leitor em situação bem humorada, levando a reflexão e até mesmo a digressões, ou seja, o leitor é convidado a participar da obra, pois o narrador deixa em aberto para que haja a colaboração de quem o lê. Machado de Assis, realista, adianta características referentes ao movimento modernista.
“(...) Tive outras muitas, melhores, e piores, mas aquela nunca se me apagou do espírito. É o que vais entender, lendo.”

“Eu, leitor amigo, aceito a teoria do meu velho Marcolini, não só pela verossimilhança, que é muita vez toda a verdade, mas porque a minha vida se casa bem à definição. (...)”

“Tudo o que contei no fim do outro capítulo foi obra de um instante. (...)”

“Abane a cabeça, leitor, faça todos os gestos de incredulidade. Deixe a deitar fora este livro, se o tédio já no não obrigou a isso antes; tudo é possível. Mas, se não o fez antes e só agora, fio que torne a pegar do livro e que abra na mesma página, sem crer por isso na veracidade do autor. (...)”

A crítica de Machado é mascarada pelo humor negro, pela ironia, pela interpretação além do explicito, pois, sua criticidade é marcada pela ironia, podendo ser até mesmo sarcástico.

“A casa era a da Rua Matacavalos, o mês novembro, o ano é que é um tanto remoto, mas eu não hei de trocar as datas à minha vida só para agradar às pessoas que não amam histórias velhas; o ano era de 1857.”

Nesse trecho Machado ironiza as atitudes de pessoas que fazem algo para agradar o outro, que se preocupam mais com a opinião alheia do que com a própria vontade.

A narrativa segue uma ordem cronológica levando em conta a memória do narrador, pois a medida que as lembranças surgem são inseridas na história.Vejamos trechos, para que verifiquemos a veracidade da afirmação acima descrita:
“Minha mãe era boa criatura. Quando lhe morreu o marido, Pedro de Albuquerque Santiago, contava trinta e um anos de idade, e podia voltar a Itaguaí. Não quis; preferiu ficar perto da igreja em que meu pai fora sepultado. Vendeu a fazendola e os escravos, comprou alguns que pôs ao ganho ou alugou, uma dúzia de prédios, certo número de apólices, e deixou-se estar na casa de Matacavalos, onde vivera os dois últimos anos de casada.”

“Mas é tempo de tornar àquela tarde de novembro, uma tarde clara e fresca, sossegada como a nossa casa e o trecho da rua em que morávamos. Verdadeiramente foi o princípio da minha vida; tudo o que sucedera antes foi como o pintar e vestir das pessoas que tinham de entrar em cena, o acender das luzes, o preparo das rabecas, a sinfonia... Agora é que eu ia começar a minha ópera. “A vida é uma ópera”, dizia-me um velho tenor italiano que aqui viveu e morreu... E explicou-me um dia a definição, em tal maneira que me fez crer nela. Talvez valha a pena dá-la; é só um capítulo.”
Bentinho em sua paranóia e seu sentimento obsessivo de que estava sendo traído, descreve todos seus sentimentos perturbados. Ele faz de pequenos detalhes uma tempestade em copo d’água, talvez por ter tido uma infância com várias falhas. A falta da figura paterna, por exemplo, e também a pressão da mãe para que ele fosse para o seminário. Sendo assim, não ter ao foi preparado para um relacionamento amoroso.

A narração lenta nos mostra o apego ao passado que o Dom Casmurro tinha com o tempo que ele relembra em sua narração. Encontramos uma citação no livro que mostra o pensamento freudiano em relação ao relacionamento com os pais, que de fato, é o canal infantil por excelência por onde flui de volta a libido ao encontrar obstáculos na vida posterior e por meio do qual revive conteúdos psíquicos da infância, já de há muito esquecidos.
"... Tenho ali na parede o retrato dela, ao lado do marido, tais quais na outra casa. A pintura escureceu muito, mais ainda da idéia de ambos . Não me lembra nada dele , a não ser vagamente que era alto e usava cabeleira grande; o retrato mostra uns olhos redondos , que me acompanham para todos os lados , efeito da pintura que me assombrava em pequeno. O pescoço sai de uma gravata preta de muitas voltas , a cara é toda rapada , salvo um trechozinho pegado às orelhas. O de minha mãe mostra que era linda. Contava então vinte anos , e tinha uma flor entre os dedos. No painel parece oferecer a flor ao marido... Se padeceram moléstias , não sei , como não sei se tiveram desgostos: era criança e comecei por não ser nascido".

A escritura de Dom Casmurro retoma, por sua vez, a linha temática de Otelo - amor, casamento, traição. No romance, surge um novo Otelo que, de posse da palavra, conta ao leitor o seu idílio de adolescência que, apesar das dificuldades, evolui até o casamento, quando se julga traído e resolve vingar-se da mulher (Capitu) e do filho (Ezequiel), que supõe não ser seu, enviando-os para a Europa, onde morrem. Dom Casmurro é Otelo metamorfoseado, que maldiz Desdêmona e apresenta a punição aplicada à mulher e ao filho como sendo justa. O gesto intertextual de Machado repete, de maneira inovadora, o passado no presente, dando continuidade ao eco trágico. Pode-se dizer, portanto, que se ouvem, em Dom Casmurro, ecos de Otelo que ressoam aqui e ali, em novo tom.

Na escritura de Dom Casmurro, a obra fonte, ao ser recontextualizada, ajusta-se à realidade nacional. A síntese bitextual origina um novo texto que veicula, metaforicamente, a crítica às convenções sociais, vigentes no período de transição da Monarquia para a República. O discurso machadiano, tecendo pelo avesso a História, lanceta a aparência bem composta do mundo aristocrático e desvela, na sua estrutura mais profunda, o lado fútil, opressor e injusto da classe dominante, dedicada a manter o poder patriarcal e seu absolutismo.

NARRATIVA DE CAPITU


"Só agora, ocorrido tanto tempo humano, posso, finalmente, contestar as acusações contra mim feitas pelo meu ex-marido, o Dr. Bento Santiago. E fazê-lo, porque, nestas paragens que ora habito, aprendi, com meu irmão Brás Cubas, as artes da narrativa além-tumular. Ficamos amigos, ele, eu e o senhor Quincas Borba, o filósofo, um homem extraordinário, não tão louco como alguns pensam e escreveram. Afinal, somos criaturas da mesma pessoa, diante de quem, confesso, fico dividida, talvez por força da ambigüidade do seu texto: ao mesmo tempo que o admiro, há um lado meu que rejeita. Ele é o grande responsável por tudo o que me aconteceu. Devo-lhe minhas tristezas, minhas alegrias; devo-lhe a fama que, modéstia à parte, acabei granjeando. Mas a ele coube também a construção da imagem negativa que me foi atribuida. A ele e, a bem da verdade, a uns tantos críticos que se debruçaram sobre a minha história; alguns dentre eles me tiveram por frívola, outros, felizmente, nunca aceitaram a palavra do filho de D. Glória. Sou-lhes grata, ao fim e ao cabo, do fundo do meu coração.
Não guardo rancor do meu ex-marido. Nunca abriguei em mim tal sentimento. Nem mesmo quando fingia que me havia visitado nas suas viagens à Europa. Ele precisava disso. Apenas lamento o seu equívoco e a sua incapacidade de se comunicar. E, onde quer que ele esteja que nunca o encontrei por aqui, se souber desta minha narrativa, por certo, ao lê-la, poderá cuidar até, quem sabe, que a obra é dele. Não me importo. O texto é a morte do autor. Eu e você sabemos quem escreveu o livro. É o que conta."



In: Capitu Memórias Póstumas - Domício Proença Filho

CINEMA: REALIDADE E ILUSÃO


Toda linguagem é forma de expressão e a linguagem cinematográfica não é uma exceção. Exprimem-se idéias e sentimentos através de planos, ângulos de tomada e movimentos de câmara que são complementados pelos elementos técnico – artísticos (fotografia, vestuário e truques).

Podemos dizer que o cinema apropria-se dos elementos da literatura e do teatro, sendo que o primeiro refere-se à palavra e o segundo além do texto também à presença física de atores. Porém, o cinema se diferencia pela variação de ângulo visual, dando ao espectador a visão que a câmera se propõe a transparecer no momento em que captura a cena, ou seja, a câmera é o olho do espectador. A variação do ângulo visual determina-se, por exemplo, pelo corte, pela panorâmica e pelo travelling, cujo primeiro é responsável pela mudança de plano. O segundo movimento citado é referente à câmara fixada em uma base e que gira sobre si mesma na horizontal ou na vertical. O terceiro movimento é o suave deslizamento da câmera em uma direção. Também há uma variação de angulação que seriam: normal, câmara alta e câmara baixa.

Antes de o filme criar vida nas telas é necessário que o autor tenha a idéia e que essa seja passada para o papel, portanto, a criação inicia-se pelo roteiro que guiará todo o processo de criação, dividindo o filme em planos e mostrando os ângulos de tomada e os movimentos que a câmera deve adotar em cada plano, alguns deles são: o plano geral (o ator aparece de longe e de corpo inteiro) que localiza a ação; plano médio (vemos vários atores de pé e alguns detalhes do cenário) que tem função descritiva; plano americano (o personagem aparece dos joelhos para cima) que define melhor a situação; primeiro plano (mostra o rosto do autor em toda tela) que tem função dramática; e primeiríssimo plano ou detalhe (ressalta apenas uma parte do objeto ou personagem como olho, boca, etc.).

A gravação de um filme é constituída por planos que formam uma cena. Várias cenas formam uma seqüência e várias da mesma formam o filme propriamente dito. Vale frisar que a ordem de gravação não é a mesma que a ordem do roteiro, a montagem ou edição é responsável por organizar as partes na ordem estabelecida no roteiro e de dar ritmo ao filme. Esse ritmo nasce de três fatores, duração das tomadas, montagem e pontuação cinematográfica (trucagem).

Diferente do roteiro que é um elemento exclusivo do cinema o diálogo de um filme pode ser escrito por um roteirista como também por um escritor especializado. Toda a essência do filme está no roteiro, o sucesso ou fracasso do filme dependem dele, mas uma filmagem nunca expressa na integra o que o roteiro propõe, sempre há improviso e adaptações necessárias no decorrer do caminho.

Outro aspecto importante são os efeitos especiais dentro de um filme. Esses efeitos proporcionam ilusão ao espectador e são determinados pela trucagem.

Alguns dos efeitos especiais são: inversão de ordem (efeitos cômicos); superposição (dupla-exposição fotográfica); máscara (mostra o ator conversando com ele mesmo); tomada interrompida (substituições de objetos ou aparições); tela transparente (impressão de movimento em exteriores); miniaturas (maquetes dos cenários ao invés de ambientes reais); e cenários desproporcionais (as pessoas aparecem em tamanhos desproporcionais).

Os filmes tratam da realidade, pois como iniciamos este trabalho, ele trabalha com a expressão através de uma linguagem própria, no entanto, ele trabalha com a fantasia e cabe ao expectador ter discernimento para identificar o que é ilusão e o que é real.

UMA VISÃO DOS ESTUDOS DA LITERATURA COMPARADA

A história da disciplina de Literatura Comparada surge no século XIX, causando uma inquietação na Teoria da Literatura que até então pensava dar conta dos estudos literários.
No século XIX até a metade do século XX a metodologia francesa foi que guiou os estudos da Comparada. Essa metodologia trabalhava com questões como a cultura nacional, identificação, comparação ideológica – cultural, contexto das nações e comparação entre elas para se auto afirmar.
Nos anos 50 junto a Segunda Guerra Mundial surge a metodologia americana que possibilita que os estudos da Literatura Comparada sejam feitos entre autores de uma mesma escola ao contrário da metodologia francesa que comparavam apenas autores de escolas diferentes.
Gérard Genètte, teórico estruturalista, nos apresenta a transtextualidade, constituído pelos seguintes conceitos: intertextualidade (epígrafe, citação, paráfrase, paródia, referência, pastiche e tradução), paratextualidade (outros elementos do livro – sumário, orelha, sinopse, resenha e rascunhos do autor), metatextualidade (crítica literária), hipertextualidade (hipotexto e hipertexto) e arquitextualidade (quando há recuperação do gênero)
O estudo contemporâneo da Literatura Comparada está atrelado às questões anteriormente debatidas, porém, também, trabalha com os estudos culturais, relação do texto com o contexto sociocultural relacionado à época e lugar em que a obra foi produzida junto à construção de identidade e ao conceito de alteridade.



EMILY DICKINSON (1830-1886)


Solteira  convicta e auto-exilada dentro de casa por mais de vinte anos, Emily Dickinson não chegou a publicar sua obra, por não se submeter as convenções de seu tempo. Após a morte de Emily, sua irmã Lavinia encontrou no quarto da poetisa uma gaveta cheia de papéis em desordem que eram na realidade poemas que Emily havia passado a vida escrevendo.
Seus poemas não seguiam os padrões definidos pela época, por isso sofreu preconceito dizendo-se que estavam errados, quanto no entanto ela antecedia o Modernismo (que só viria a surgir muito tempo depois), já que podemos ver muitas das caracteristicas em seus poemas.

Much Madness is divinest Sense --
To a discerning Eye --
Much Sense -- the starkest Madness --
'Tis the Majority
In this, as All, prevail --
Assent -- and you are sane --
Demur -- you're straightway dangerous --
And handled with a Chain --

Muita loucura é o mais divino Sentido –
Para um Olho que sabe perceber –
Muito sentido é a mais inflexível Loucura –
É a Maioria
Nisto, como em tudo, triunfa –
Concorde – e você é são –
Discorde – e você é perigoso –
E é acorrentado -

O poema aqui exposto traduz um sentimento de sofrimento. O olho que sabe perceber representa aquele que não se deixa levar pelas convenções. O eu lirico quer alertar o apreciador do poema que ele só terá uma vida completa se suas escolhas se basearem em seus próprios valores, porém, será considerado louco, um divino estado emocional. Já o sensato terá uma vida vazia. Existe uma critica social, já que a sociedade prefere alguém vazio para que se possa molda-lo de acordo com as necessidades.
Há uma gradação de sentimentos, vejamos que o poema inicia falando do divino e termina com revolta, assim, iniciando com o pessoal e terminando com o social.

INTERTEXTUALIDADE

A literatura é um jogo sociocultural onde não se termina uma leitura apenas na história em si, mas a partir do texto o leitor busca outras informações que penetram na obra, de forma sutil ou não.
Na atualidade pensamos que um texto não se basta nele próprio. Porém, a crítica romântica literária privilegiava a originalidade, descartando a intertextualidade positiva na literatura.
O pensador russo Mikhail Bakhtin mostra-nos o texto como um diálogo sociocultural conduzido pelo texto. Nenhum texto surge do nada, ele é embasado por situações sociais da época em que foi escrita e, também, pela época em que está sendo lida.
Julia Kristeva cria o conceito de intertextualidade que como o termo nos diz um texto dentro de outro (o prefixo inter significa dentro).
Em outra época o diálogo entre textos causava polemica sendo acusado de plágio. Porém, a literatura não é imune, não é neutra, pois, o conhecimento de mundo é que embasa a criação das obras. Para que a acusação de plágio não fosse estabelecida erroneamente criaram-se alguns conceitos para se organizar as apropriações de textos, pois sem as apropriações não há como fazer literatura, é preciso ter um ponto de partida, uma inspiração. Vejamos as práticas intertextuais:


Citação: É um recorte explícito de um texto em outro, geralmente, marcado com aspas ou outros recursos gráficos. É muito comum essa prática intertextual no meio acadêmico.

Referência e Alusão: É quando o autor cita direta ou indiretamente um tema, um personagem, um contexto ou uma idéia já elaborada. Por exemplo, o nome dos personagens Esaú e Jacó, na obra de Machado de Assis.

Paráfrase: É a reescrita de um texto na concepção do autor. Não é plágio pelo fato de que a fonte é deixada clara a fonte.

Paródia: É a apropriação de um texto que rompe com o original, muitas vezes de forma cômica ou para prestar uma homenagem.

Essa criação textual rompe o bom comportamento da escrita conservadora tendo um tom satírico.

Pastiche: É a imitação grosseira de um estilo ou obra. Está muito próximo da paródia, no entanto, caracteriza-se mais pelo rompimento do texto original do que com a imitação satírica da paródia.

Tradução: Essa apropriação textual vai além de traduzir textos de uma língua para outra, mas é um processo de criação.

Podemos aproximar essa prática da paráfrase. Pois, o tradutor pode atribuir significados não pensados pelo autor e/ou que na outra língua não se tem a mesma carga semântica. Além disso, o tradutor pode buscar outros textos nesse processo de produção.

A tradução vai além de traduzir as palavras. As línguas são diferentes, as culturas são diferentes e a percepção de quem traduz também.
Epígrafe: É um texto introdutório de outro, é sempre um fragmento de outro que em contato com o novo ganha novos sentidos, pois dele nasce uma nova leitura, um novo contexto.

O CONTEXTO MODERNISTA


O contexto em que a literatura se insere é que dá vida as produções artisticas. Vejamos o que ocorria na época em que a literatura modernista se alastrava pelo mundo, para que possamos entender melhor o que os modernistas representavam através da percepção histórica.
No plano mundial, os problemas econômicos advindos da queda na Bolsa de Nova Iorque, a Segunda Guerra Mundial, o nazi-facismo, as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, enfim, a desintegração da sociedade mundial norteavam a população. Um dos reflexos na arte são as pin-ups, pois a arte dos pôsteres influenciou artistas até as primeiras décadas do início do século 20, quando os calendários também passaram a trazer desenhos de mulheres com silhuetas idealizadas pela imaginação masculina da época. E é justamente a partir do ato de pendurar ilustrações nas paredes que o nome pin-up surgiu.
Foi na década de 40, contudo, que as pin-up girls (ou “garotas penduradas”) viveram o auge do sucesso. Numa época em que mostrar as pernas era atitude subversiva e ser fotografada nua, atentado ao pudor, lápis e tinta davam forma a essas mulheres, carinhosamente chamadas de “armas secretas” pelos soldados americanos – na Segunda Guerra Mundial, elas serviam de alívio para os pracinhas que arriscavam a vida nos campos de batalha.
Durante a segunda guerra mundial, de 1939 a 1945, o Brasil procura manter-se neutro. Porém o ataque-surpresa dos nazistas a cinco navios mercantes brasileiros, em agosto de 1942, obriga o Brasil a abandonar a neutralidade e posicionar-se em face do conflito. Há o rompimento das relações diplomáticas e comerciais do Brasil com a Alemanha, a Itália e o Japão. Em meados de 1949, sob o comando de Mascarenhas de Morais, parte para a Itália a Força Expedicionária Brasileira. Ao fim da guerra, o país perde 2 mil soldados e 37 navios. Mas, com os Aliados, é vitorioso contra a opressão e a violência. Em 1945, volta a reinar a paz mundial.
Com a vitória dos Aliados ao fim da segunda grande guerra, a permanência da ditadura de Getúlio Vargas torna-se insustentável. Em 1945, o ditador renuncia e retira-se para a sua estância em São Borja (RS). A chefia da Nação é entregue ao presidente do Supremo Tribunal Eleitoral, o ministro José Linhares, até que um novo presidente fosse eleito: Eurico Gaspar Dutra. Uma ampla anistia política assinala a redemocratização do país e formam-se, então, novos partidos.
Ecos da grande guerra e da ditadura nacional manifestam-se nos poemas de Carlos Drummond de Andrade, "A Rosa do Povo", e no livro de João Cabral de Melo Neto, "O Engenheiro", ambos publicados em 1945.




SEMANA DE ARTE MODERNA


Em São Paulo, no ano de 1922, no Teatro Municipal, ocorreu a Semana de Arte Moderna, também chamada de Semana de 22, com o objetivo de renovar o ambiente artístico e cultural da cidade, demonstrando o que estava sendo feito nas diversas áreas da arte da época, por meio de esculturas, pintura, arquitetura, música, literatura, etc. Grandes nomes estavam presentes, como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Víctor Brecheret, Plínio Salgado, Anita Malfatti, Menotti Del Pichia, Sérgio Milliet, Heitor Villa-Lobos, Tarsila do Amaral entre outros.
Em síntese podemos dizer que a Semana de 22 representou uma ebulição de novas idéias totalmente libertadas e nacionalista que buscavam uma identidade própria sobre uma forma de expressão totalmente livre.

PROGRAMAÇÃO:

No dia 13 de fevereiro, segunda-feira, foi a abertura oficial do evento e a Casa estava cheia. Espalhadas pelo saguão do Teatro Municipal de São Paulo, várias pinturas e esculturas provocam reações de espanto e repúdio por parte do público. A conferência de Graça Aranha, intitulada "A emoção estética da Arte Moderna", que deu início ao evento causou uma certa confusão,mas tudo transcorreu com certa calma neste dia.



O dia 15 de fevereiro, quarta-feira, ficou marcado pela palestra de Menotti del Picchia sobre a arte estética. Menotti apresenta os novos escritores dos novos tempos e surgem vaias e barulhos diversos (miados, latidos, grunhidos, relinchos...) que se alternam e confundem com aplausos. O poema “Os Sapos” de Manoel Bandeira foi declamado por Ronald de Carvalho, pois Bandeira passava por uma crise de tuberculose e não pode comparecer. O poema criticando abertamente o parnasianismo e seus adeptos sofreu o repudio do público que fez coro atrapalhando a leitura e a noite acaba em algazarra.



No último dia da semana de Arte Moderna, dia 17 de fevereiro, sexta-feira, as apresentações musicais de Villa-Lobos, com participação de vários músicos foram tranquilas, até que Villa-Lobos entra de casaca, mas com um pé calçado com um sapato, e outro com chinelo e o público interpreta a atitude como futurista e desrespeitosa e vaia o artista impiedosamente. Mais tarde, o maestro explicaria que não se tratava de modismo e, sim, de um calo inflamado.

MODERNISMO

A literatura modernista nasceu subversiva e impulsionada por vanguardas artísticas que lançaram vários manifestos. Um dos primeiros foi o manifesto Futurista, escrito pelo poeta italiano Filippo Marinetti e publicado em 1909. Coragem, audácia e revolta deveriam ser os elementos essenciais da poesia futurista e seus seguidores devotariam o amor à velocidade, ao perigo, à pátria e à guerra. O futurismo identificou-se nas décadas seguintes com o fascismo. Em 1916, para protestar contra a loucura da Primeira Guerra Mundial, um grupo de artistas refugiados em Zurique (Suiça) lança o manifesto Dadá, um dos mais importantes do Modernismo, que daria origem ao Dadaísmo, um movimento contra tudo. Versos nonsense declamados em várias línguas, obscenos e agressivos eram um das formas do Dadaísmo escandalizar e denunciar um mundo sem sentido. Em 1924, o escritor francês André Breton lançou o manifesto Surrealista, um dos mais famosos do movimento modernista. Nele propunha uma arte feita a partir do inconsciente, que escapasse ao controle da consciência, e que possibilitasse uma livre associação entre os sonhos, as alucinações e a realidade.
A primeira metade do século 20 assistiu a ascensão do universo literário modernista, autores como Virginia Woolf (“Orlando”, 1928), T. S. Eliot (“The Waste Land”, 1922), William Faulkner (“O Som e a Fúria”, 1929), Ernest Hemingway (“Por Quem os Sinos Dobram, 1940), Franz Kafka (“A Metamorfose”, 1915) foram alguns dos representantes do período.
No Brasil, o nacionalismo deu uma particularidade a mais no movimento literário. A partir dos manifestos da Poesia Pau-Brasil, Antropofágico e Verde-Amarelismo procurou-se trazer as novidades da vanguarda da arte internacional incluindo elementos nacionais. Mário de Andrade (“Macunaíma”, 1928), Oswald de Andrade (“Pau Brasil”, 1925), Manuel Bandeira (“Libertinagem”, 1930), Érico Veríssimo (“O Tempo e o Vento”, 1949-1962), Graciliano Ramos (“Vidas Secas”, 1938) e Raquel de Queiroz (“O Quinze”, 1930) foram alguns dos autores que se destacaram no modernismo literário brasileiro.